Índice de confiança da construção sobe 4,8 pontos em abril
Ao mesmo tempo Índice Nacional de Custo da Construção registra inflação de 0,87%
Em abril de 2022, o Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas (FGV), cresceu 4,8 pontos comparado com março do mesmo ano. Com isso, o indicador chegou a 97,7 pontos, o maior patamar desde janeiro de 2014 (97,8 pontos). O ICST varia de 0 a 200 pontos.
Ao mesmo tempo, em médias móveis trimestrais, o índice registra a primeira alta no ano ao avançar 1,6 ponto. Outra questão a ser levada em consideração é que o Índice de Situação Atual, que avalia a confiança dos empresários da construção no presente, subiu 2,4 pontos e chegou a 94,4 pontos. Este é o maior nível desde junho de 2014, quando atingiu 95,2 pontos.
Entretanto, o Índice Nacional de Custo da Construção – (INCC-M), também calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou inflação de 0,87% em abril deste ano. A taxa é superior ao índice 0,73% de março, mas ficou abaixo do 0,95% de abril de 2021.
O que gerou este otimismo? De acordo com Ana Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV IBRE, a sondagem da construção foi a primeira a ser divulgada em abril. Depois, foram liberadas as informações de outras áreas. “Sobretudo, observamos que, com exceção do segmento de comércio, todos os outros setores empresariais – serviços e indústrias – também tiveram um aumento da confiança. Então, há esse componente que vai além da questão setorial e diz respeito a uma melhora em função da retração da pandemia e da recuperação – ainda que muito gradativa – das atividades de maneira geral”, pontua.
Por outro lado, Ana acredita que o aumento das taxas de juros vai afetar a demanda. “Não teria como não afetar. A própria postura dos bancos já começa a mudar. No resultado do último crédito habitacional, é possível ver claramente a mudança de ritmo de concessão. Isso tem a ver com o fato de que os bancos costumam ficar mais rigorosos. É um quadro que exige maior comprometimento de renda em relação ao que você tinha no início de 2021, por exemplo. O cenário mudou. A perspectiva é de que você não terá um ano tão favorável para o setor imobiliário como foram nos dois últimos anos em termos de vendas”, opina Ana.
No entanto, segundo Ana, esse otimismo reportado em abril pode refletir um cenário que não está tão ruim assim. “Estamos falando ainda muito de curto prazo e precisamos verificar a evolução nos próximos meses das pesquisas de mercado imobiliário. Mas, a minha opinião é de que principalmente a média renda deve sofrer mais. Isso porque na baixa renda você tem o Casa Verde e Amarela, enquanto para a alta renda isso interfere pouco. Então, o segmento de média renda deve padecer com essa conjuntura que engloba um crescimento da taxa de juros junto com o aumento do preço dos imóveis”, explica Ana.
Obras públicas
Um outro fator que pode pesar neste otimismo dos empresários é o fato de ser um ano eleitoral, que é quando muitas obras públicas e de infraestrutura são realizadas. “Este é um ponto que está atuando positivamente no setor. “As finanças estaduais estão em uma situação bastante favorável. Em função da inflação, que tem um efeito positivo sobre a arrecadação, e das medidas mitigadoras que foram anunciadas para postergar pagamento de dívidas nos estados. Tudo isso gerou um efeito positivo sobre a finança dos estados, que realmente estão com orçamentos bastante robustos e de posição bastante favorável de investimento”, justifica.
No entanto, ao olhar para os empregos, de acordo com o CAGED, essa infraestrutura acaba frustrando um pouco essa expectativa. “O grande crescimento de emprego está vindo do mercado imobiliário e do segmento de serviços auxiliares – preparação do terreno, obras de acabamento, de instalações. O que pode estar por trás dessa frustração? Ele está crescendo, de fato, mas menos do que imaginamos. Tem uma questão que a sondagem traz que é a do aumento dos preços dos insumos muito forte que ocorreu nesse último ano e que a tendência de desaceleração é maior agora e em função do novo contexto da guerra da Ucrânia, do aumento do preço das commodities e dos combustíveis. Tem aumentos em cima de uma base muito alta e isso está gerando um comprometimento dos contratos. Uma coisa é o mercado imobiliário, que você tem na entrega do imóvel a indexação das parcelas do INCC. No caso dos contratos de obras públicas, na hora que é feito o leilão de concessão você já põe ali a expectativa de inflação esperada no período. Se há movimentos muito fortes, isso quebra completamente essas expectativas e projeções e acaba atingindo muito as empresas do setor, no sentido de diminuir o ritmo dos investimentos”, afirma Ana.
Índice Nacional de Custo da Construção
No indicador de abril, segundo Ana, um dos principais itens que influenciou na inflação foi o grupo de materiais e equipamentos, que passou de 0,37% de inflação em março para 1,24% em abril. “Houve uma aceleração neste sentido. Na frente, tem o cimento, elevador, argamassa, concreto e aço. Foram os principais componentes da cesta de materiais que pressionaram, contribuindo para a aceleração do mês de abril. Isso pode ajudar a entender porque o ritmo de obras públicas está aquém do que imaginávamos”, destaca Ana.
Por outro lado, os serviços e mão de obra tiveram queda na taxa. Os serviços passaram de 0,79% para 0,73%, enquanto a mão de obra recuou de 1,12% para 0,46%.
“No caso dos serviços, os itens mais importantes da cesta têm reajustes mais fortes no início do ano que estão atrelados às taxas de licenciamento e dos cartórios. Ou seja, prefeitura e cartório que indexam pela inflação. Outro componente são as tarifas de ônibus. Mas poucas capitais que compõem o INCC tiveram reajuste neste início de ano. Então não houve esse efeito tão forte. Passado esse movimento no início do ano, a tendência é ter aumentos menores no segmento de serviços, porque a maior parte já ocorreu. No caso da mão de obra, boa parte dos acordos coletivos das capitais que fazem parte do INCC ocorrem no primeiro semestre. A que tem maior peso é São Paulo, que é no mês de maio. Talvez só em junho a gente sinta os efeitos. Então, a mão de obra deve voltar a subir com o fechamento do acordo coletivo de São Paulo e Brasília”, conclui Ana.
Entrevistada
Ana Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV IBRE.
Contato
Assessoria de imprensa – assessoria.fgv@insightnet.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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