Habitação social só sairá do papel com tecnologia
Secretária nacional Inês Magalhães, e outros agentes da construção civil, defendem investimento em pesquisa e em sistemas construtivos inovadores
Secretária nacional Inês Magalhães, e outros agentes da construção civil, defendem investimento em pesquisa e em sistemas construtivos inovadores
Por: Altair Santos
O Brasil só conseguirá viabilizar a produção em massa de habitações de interesse social – hoje o maior gargalo do programa Minha Casa, Minha Vida – se desenvolver sistemas inovadores que permitam construir com alta produtividade, qualidade e custos adequados a esse modelo, cujo objetivo é atingir as famílias de baixa renda e eliminar o déficit habitacional brasileiro. Para a secretária nacional da habitação, Inês Magalhães, estes desafios levaram o governo federal a elaborar uma agenda para que os avanços saiam do papel e tornem-se realidade. “Precisamos de soluções construtivas que incorporem ciclo de vida, durabilidade e assistência aos usuários, para que eles realizem a manutenção corretamente”, diz.
Inês Magalhães tratou do tema habitação de interesse social em dois eventos que ocorreram no final de agosto na cidade de São Paulo: o 1º Fórum Executivo de Inovação IPT-Grace e o Congress Concrete, realizado paralelamente ao Concrete Show 2013. Ao lado de outros agentes importantes da construção civil, como os presidentes da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) Paulo Safady Simão e Renato Giusti, além da coordenadora geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), Maria Salette de Carvalho Weber, Inês Magalhães defendeu mais investimentos em centros de pesquisa voltados para as habitações de interesse social. “Não podemos ficar limitados aos centros que existem nas regiões sudeste e sul. É preciso expandir a pesquisa, principalmente nas regiões norte e nordeste”, afirma.
Reconhecendo que há distorções tributárias para incentivar inovações no país, ela comentou que o esforço do ministério das Cidades – a quem a Secretaria Nacional da Habitação está vinculada – é para que se disseminem os centros de pesquisa. “De toda a verba destinada ao PAC e ao Minha Casa, Minha Vida, cerca de 1,5% a 2% tem o objetivo de atender investimentos em pesquisa para a habitação de interesse social. Nosso foco, agora, é desenvolver pesquisas que estudem essas habitações após a ocupação, pelo menos no período entre seis meses e um ano. Isso dará subsídios para alterações de parâmetros, inclusive para que se obtenha avanços no sentido de alterar o modelo do produto, permitindo variações tipológicas. Escala e ganho de produtividade não podem ser justificativas para que a gente não ofereça variação de tipologia. Não é concebível, por exemplo, que em um conjunto de três mil unidades horizontais tenhamos todas as habitações com a mesma tipologia”, argumenta.
A avaliação de novos produtos usados nos processos de construção de habitações de interesse social já está em andamento no Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SiNAT), com a coordenação do IPT (Instituto de Pesquisa e Tecnologia do Estado de São Paulo) mas Maria Salette de Carvalho Weber lembra que é relevante o envolvimento de mais centros de pesquisa. “Num país de dimensões continentais como é o Brasil, tanto a questão dos materiais, com o enfoque da sustentabilidade, como a dos sistemas construtivos devem se adequar às características de cada região, principalmente levando em consideração as diferenças bioclimáticas”, avalia. Já Renato Giusti, da ABCP, lembra que além de tecnologias é preciso qualificar a mão de obra. “Talvez seja nosso grande desafio capacitar profissionais que saibam usar os sistemas que já estão disponíveis”, alerta.
Por fim, o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, analisa que o desafio é levar a inovação aos pequenos construtores. “Comparando com 10 anos atrás já aconteceram muitas evoluções, mas precisamos estimular as pequenas construtoras, que representam basicamente 80% do setor, a implementar sistemas inovadores. E há recursos para isso. O BNDES tem uma linha de crédito no valor de R$ 5 bilhões, voltada exclusivamente para a inovação tecnológica na construção civil, que não é acessada praticamente por ninguém. Nosso papel é estimular isso. É pegar aquele pequeno construtor, que tem entre dez e vinte empregados, e que empreende na construção de trinta casas no interior do país, a investir em inovação e na qualificação de sua mão de obra. Através do SindusCon da Bahia, a CBIC está implementando um projeto modelo, junto com o Sebrae, o Senai e a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e pretendemos estender isso a outros estados”, conclui.
Entrevistados
Inês Magalhães, secretária nacional da habitação
Maria Salette de Carvalho Weber, coordenadora geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)
Paulo Simão Safady, presidentes da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Renato Giusti, presidente da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículos
– Inês da Silva Magalhães é graduada em sociologia, com especialização em planejamento de gestão
– Entre as funções já exercidas, estão a de diretora de urbanização de assentamentos precários na Secretaria Nacional de Habitação
– Atuou também na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do Estado de São Paulo e nas administrações municipais de São Paulo e São Vicente
– Maria Salette de Carvalho Weber é graduada em arquitetura pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL-RS) em 1983
– Tem pós-graduação em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB) 1985
– Conta com especialização em Gestão pela Qualidade no Setor Público (ENAP/PR) 1992, além de curso de mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Brasília (UnB) 1996
– É funcionária de carreira do ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, desde 1985
– De 1985 a 1988, assessorou o Programa Especial Cidades de Porte Médio e Regiões Metropolitanas
– De 1989 a 1990 fez acompanhamento técnico aos Projetos de Lei em Tramitação no Congresso Nacional, relacionados com a questão Urbana e Habitacional da Secretaria de Desenvolvimento Habitacional do MINTER (Ministério da Terra)
– De 1990 a 1992 chefiou a divisão de Normas e Procedimentos da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério da Ação Social (SNH/MAS)
– De 1992 a 1996 chefiou a Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Coordenadora do Programa Nacional de Tecnologia da Habitação (PRONATH) da Secretaria de Habitação do Ministério do Bem-Estar Social (SH/MBE S)
– De 1996 a 1999 chefiou a Divisão da Coordenação Geral de Fundos da Secretaria de Política Urbana (SEPURB/MPO)
– De 1999 a 2002 tornou-se coordenadora técnica do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Habitação (PBQP-H)
– A partir de 2003 assumiu a coordenação geral do Programa Brasileiro de Qualidade e
– Produtividade do Habitat (PBQP-H) da Secretaria Nacional de Habitação do ministério das Cidades
– Paulo Safady Simão é graduado em engenharia civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem especialização em administração de empresa pela Fundação João Pinheiro, em conjunto com a Graduate School of Business da Columbia University de New York
– É diretor-presidente da Wady Simão-Construções e Incorporações LTDA e presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
– Renato Giusti é graduado em engenharia metalúrgica (1971) com especialização em marketing e mercado
– Exerce o cargo de Presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
– É diretor do Departamento de Construção Civil (DECONCIC) e membro do Conselho da Indústria da Construção da FIESP ( Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
– Membro do Conselho Deliberativo da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
– É conselheiro do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto)
Contatos: snh@cidades.gov.br / salette.weber@cidades.gov.br / presidencia@cbic.org.br /
renato.giusti@abcp.org.br
Créditos fotos: Divulgação/IPT, Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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