Há 20 anos, uma nova construção civil nascia no país
Plano Real, lançado em 1994, teve o mérito de fazer com que produtos do setor, como materiais e habitações, coubessem no bolso do consumidor
Plano Real, lançado em 1994, teve o mérito de fazer com que produtos do setor, como materiais e habitações, coubessem no bolso do consumidor
Por: Altair Santos
O Plano Real completa 20 anos em 2014. Em fevereiro daquele ano foi dado o primeiro passo do programa de estabilização monetária que, ao longo de duas décadas, permitiu que entrasse em cena uma nova classe de consumidores. São esses cidadãos que vieram a lotar aeroportos, passaram a adquirir veículos populares, deram números astronômicos à venda de aparelhos celulares, transformaram o varejo de material de construção e fizeram nascer programas como o Minha Casa Minha Vida.
Estima-se que o poder de compra desta chamada nova classe C chegue hoje a 600 bilhões de dólares por ano – aproximadamente R$ 1,45 trilhão. Ela fez nascer um índice denominado de Poder de Compra do Consumidor Popular (PCCP) o qual baliza vários setores da economia nacional, incluindo o da cadeia produtiva da construção civil. Até 2016, a influência destes consumidores estará ainda maior. Estima-se que representarão, daqui a dois anos, 75% de toda a população com poder de compra no país.
Seriam 90 milhões de brasileiros. E, segundo Marco Roza, diretor da Agência Consumidor Popular, os setores da economia que melhor têm se conectado a esses consumidores são aqueles que criaram uma interface financeira para seus produtos. “São os setores que conseguiram embutir juros a conta-gotas nas prestações cobradas por suas mercadorias. Por exemplo, móveis, eletrodomésticos, materiais de construção, sapatos, roupas, automóveis e motocicletas. Ao “financeirizar” as prestações, grandes redes passaram a atender às necessidades represadas desses consumidores fazendo com que as prestações, mesmo com os juros embutidos, coubessem em seus bolsos”, explica.
Especificamente sobre o setor da construção civil voltado ao varejo, Marco Roza destaca que quem melhor se adaptou foram as grandes distribuidoras de material de construção e de acabamento, que atraíram os consumidores através de oferta direta de crédito e ajuste das prestações aos bolsos dos clientes e donos de imóveis populares. Porém, ele ressalta que falta isso chegar com mais intensidade ao Minha Casa Minha Vida. Motivo: as grandes construtoras do país não se interessaram pela chamada faixa 1 do programa, deixando esse segmento apenas para pequenas construtoras e para o poder público (Cohabs). “Isso impede uma escala produtiva que atenda as necessidades represadas e a pressa dos consumidores populares”, avalia.
A alternativa encontrada pelo cidadão que deveria ser beneficiado pela faixa 1 do MCMV foi aderir ao comércio formiguinha (compra mensal de pequenos volumes de material de construção) para transformar barracos de favelas em casas de alvenaria. “O comércio formiguinha deveria se transformar em alerta máximo para as imensas oportunidades que existem para a construção civil neste segmento de consumo. Normalmente, o comércio formiguinha paga uma taxa extra de acesso aos produtos. É um pedágio que poderia ser eliminado ou dividido entre as partes, se as construtoras começassem a investir no relacionamento direto com esses consumidores populares”, finaliza Marco Roza.
Entrevistado
Marco Roza, diretor da Agência Consumidor Popular
Contato: marcoroza@mdm.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Paulo Bastos/Prefeitura do Rio
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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