Grupos hoteleiros buscam prédios históricos para retrofit
No Brasil, burocracia ainda trava esse tipo de investimento imobiliário, que é comum em países como Portugal, Espanha e Estados Unidos
Grandes grupos hoteleiros buscam prédios que são patrimônios históricos para transformá-los em novas unidades de suas redes. A tendência é mundial, sem excluir o Brasil. Em São Paulo, o edifício que já abrigou o hospital Matarazzo vai virar um hotel seis estrelas, agregando centro cultural, cinemas, teatro e restaurantes. O projeto, chamado de Cidade Matarazzo, pretende criar o complexo hoteleiro mais luxuoso do país.
O investidor é o grupo francês Allard, que em 2011 adquiriu o prédio de 27 mil m2 – construído em 1904 -, para aplicar seu know-how em retrofit. É o primeiro investimento no Brasil e a ideia é aplicar nas edificações do hospital Matarazzo uma reforma semelhante à que ocorreu no Royal Monceau, em Paris. O prédio, inaugurado em 1928, para ser o hotel das celebridades, foi comprado pelo grupo Allard e transformado no mais luxuoso complexo hoteleiro da capital francesa.
No Brasil, o principal empecilho para o retrofit de prédios históricos está na burocracia. A maioria é tombada pelo patrimônio histórico e qualquer intervenção arquitetônica exige que se passe por um longo processo de autorização. No caso do hospital Matarazzo, a demora para que as obras começassem levou cinco anos. As intervenções de retrofit no prédio iniciaram em abril de 2016 e devem ser concluídas no final de 2018.
Outro exemplo de patrimônio histórico transformado em hotel de luxo está na Bahia. Em Salvador, o Convento do Carmo foi adquirido pelo grupo Pestana e transformado no mais requintado complexo hoteleiro da capital baiana. No coração do Pelourinho – centro histórico de Salvador -, o Pestana Convento do Carmo tem 79 leitos e a preocupação do retrofit foi preservar integralmente a arquitetura do prédio, construído no século 16.
Fora do Brasil
Em Portugal, a degradação de 30 mosteiros declarados patrimônios históricos no país levou o governo a lançar um programa de concessões para que a iniciativa privada adquirisse os prédios e pudesse preservar a arquitetura, transformando-os em pousadas e hotéis. A iniciativa rendeu 150 milhões de euros aos cofres públicos e garantiu a manutenção de estruturas que o governo não tinha mais condições de sustentá-las.
É comum na Europa, e também nos Estados Unidos, programas que incentivam a iniciativa privada a adquirir prédios para preservá-los. O governo norte-americano, através do Advisory Council on Historic Preservation, concede até 20% de créditos fiscais para quem investir na reforma de edificações históricas. Os dados mais recentes revelam que, anualmente, as obras de retrofit movimentam quase US$ 7 bilhões nos Estados Unidos.
Boa parte dos investidores em retrofit de prédios históricos pertence ao setor hoteleiro. Hoje, o país que mais dá incentivos para que esse tipo de edificação seja adquirido pela iniciativa privada é a Espanha. Um programa destinado para esse fim já conseguiu salvar 40 construções dos séculos 15, 16 e 17. Em média, este modelo de negociação imobiliária não sai por menos de 10 milhões de euros, mesmo com os incentivos fiscais ofertados pelo governo espanhol.
Entrevistados
Groupe Allard, grupo Pestana, Advisory Council on Historic Preservation e IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) (via assessorias de imprensa).
Contato
info@cidadematarazzo.com.br
comunicacao@iphan.gov.br
info@pestana.com
achp@achp.gov
Crédito Fotos: Wikimedia, Grupo Pestana, Groupe Allard.
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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