Gestão de risco é insipiente na construção civil
Eventuais ações preventivas, que vão além do sistema produtivo do dia a dia, são realizadas pela minoria das empresas do setor.
Eventuais ações preventivas, que vão além do sistema produtivo do dia a dia, são realizadas pela minoria das empresas do setor
Por: Altair Santos
Recente pesquisa da Deloitte revela que mais de 80% das empresas, de um universo de 54 grandes corporações multinacionais, dizem estar longe do ideal quanto aos processos de gestão de risco. Destas, 59% admitiram não ter um comitê de risco estruturado. Os dados levaram à seguinte reflexão: se Companhias que agem mundialmente são deficientes neste área, como estariam as empresas nacionais – em especial, as voltadas para a construção civil? A resposta é que elas também agem de forma insipiente em relação à gestão de risco.
Para o especialista Mozart Bezerra da Silva, que desde 2008 estuda gerenciamento de risco na construção civil, o motivo de as corporações darem pouca atenção a esta área é que trata-se de um tema intangível, quando comparado aos processos diários de operação das Companhias. “As empresas inicialmente se preparam para lidar bem com questões visíveis e comuns, inclusive para corrigir os problemas depois que eles acontecem. O gerenciamento do risco trata de ações de natureza preventiva, que muitas vezes são deixadas em segundo plano. Principalmente para quem nunca foi atingido por um prejuízo que nunca havia considerado a hipótese de ocorrer”, explica.
Mozart Bezerra da Silva, que em 2008 realizou um estudo de mestrado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) sobre gerenciamento de risco na construção civil, detectou que não existe essa cultura no setor. “A indústria da construção civil é bem menos preparada que as de produção em série. Eventuais ações preventivas que ocorrem no setor são realizadas por uma minoria”, diz, completando que a maioria das construtoras se dá por satisfeita em conseguir controlar o sistema produtivo do dia a dia.
Deveria ser o contrário, já que naturalmente toda construção tem um escopo de risco. “O risco está presente no porte do negócio, na mão de obra, no projeto, na meteorologia, nos recursos, enfim, nas indecisões que fazem da construção civil um setor extremamente arriscado”, destaca Mozart Bezerra da Silva, enfatizando que toda empresa que quer operar por longo prazo e com garantia de bom resultado deve ter aversão ao risco.
O especialista deixa claro que a gestão de risco não faz distinção entre grande e pequena empresa ou entre corporação de capital aberto ou familiar. “É uma questão de cultura da Companhia, de sua percepção e aversão ao risco, muito mais do que do porte ou do modelo que ela adota”, define, apontando os cinco passos básicos para que uma empresa implante um procedimento de gestão de risco:
1) Reunir os colaboradores mais experientes.
2) Brainstorming sobre o que pode dar errado (identificação de risco).
3) Classificação do impacto dos riscos. Quais têm mais chance de ocorrer e poder de reduzir a lucratividade da empresa.
4) Busca de respostas ao risco. O que pode ser feito hoje, dentro da viabilidade, do planejamento, do orçamento e do gerenciamento, que pode reduzir o impacto dos riscos e os problemas potenciais.
5) Monitoramento contínuo, pois sempre podem surgir novos riscos.
Fora do Brasil, os Estados Unidos são os mais avançados em procedimentos de gestão de risco. No país, os modelos tem sido aprimorados desde a década de 1960. Já no Brasil, ainda que em um universo pequeno, quem promove gestão de risco obtém ganho de produtividade. “Os problemas potenciais que pertencem a todos podem ser transformados em oportunidades por alguns que tenham percepção e criatividade. O maior ganho talvez seja a garantia de perder menos, driblando alguns problemas potenciais e tendo menores prejuízos com os problemas que aparecem”, assegura Mozart Bezerra da Silva.
Confira estudo de mestrado de Mozart Bezerra da Silva
Entrevistado
Mozart Bezerra da Silva, pesquisador de gerenciamento de risco na construção civil
Currículo
– Mozart Bezerra da Silva é engenheiro civil graduado pela PUC Campinas (1979)
– É mestre em gerenciamento de risco na construção civil, pela UFPR (2008)
– Tem 10 anos de experiência como construtor
– Possui experiência como professor, com 20 anos ministrando cursos de treinamento de curta duração
– Tem participação em cerca de 500 eventos, como 12,5 mil profissionais treinados
– Atua como consultor em empresas como Petrobrás, Sabesp, Infraero, Chesf, Cemig, Caema, Sanepar, Casan, Codebras, Odebrecht, Matec, Espaço Aberto, Ellenco, Tecmac, SindusCon-PR e Ademi-AL
– É autor do livro “Manual de BDI”, publicado pelas editoras Pini e Blucher, em 2006, e de artigos técnicos
Contatos: www.mozarnet.com / adm@mozarnet.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair santos – MTB 2330
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