Gestão de obras
Confira a entrevista do professor da Fundação Getúlio Vargas, Pedro Seixas Corrêa, e saiba como gerir uma obra com excelência.
O profissional responsável pelo gerenciamento de uma obra deve possuir características específicas e saber prever dificuldades
Por: Lilian Júlio
A qualidade final da obra depende de muitas variáveis: orçamento, prazos, planejamento e mão de obra são apenas alguns dos pontos a serem avaliados durante a execução de um projeto. Com tantos pontos a serem levados em conta, é importante que um profissional capacitado em Gestão de Obras se responsabilize por todas as etapas do processo, garantindo assim o bom andamento da operação.
Na construção civil, várias atividades estão entrelaçadas e muitas vezes opiniões diferentes são expressas no canteiro de obras. Para evitar problemas é necessário que o gestor da obra tenha conhecimento de todas as atividades a serem desenvolvidas e também saiba montar um planejamento adequado. Algumas habilidades são fundamentais para o gestor poder fazer um bom trabalho, como organização, liderança, habilidades gerenciais e capacidade de planejamento.
Em resposta à necessidade do mercado de contar com profissionais especializados em gestão de obras várias instituições lançaram cursos de MBA voltados para esta questão. Um deles é o MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil do Instituto Superior de Administração de Negócios da Fundação Getúlio Vargas (ISAN-FGV), cujo coordenador é Pedro de Seixas Corrêa. Em entrevista exclusiva ao Massa Cinzenta, o professor dá dicas de como gerir uma obra com excelência.
Do início ao final da obra, qual é o papel do gestor?
Entendo que o principal papel do gestor da obra é garantir que a construção seja realizada dentro do prazo, respeitando os custos previstos na viabilidade econômico-financeira do empreendimento ou do contrato e atendendo aos padrões de qualidade e desempenho desejados pelo cliente. Prazo, custo e qualidade são, portanto, as principais variáveis a serem controladas pelo gestor. E cada uma delas tem enorme influência sobre as demais, ou seja, são interdependentes. Por exemplo: o eventual atraso em uma das etapas da obra exigirá a recuperação do prazo nas etapas seguintes, o que poderá comprometer os custos e também a qualidade final dos serviços.
Qual é a pessoa mais indicada para se responsabilizar pela obra?
A responsabilidade do gestor da obra não se restringe às questões técnicas. Em um empreendimento imobiliário, dependendo de seu padrão, os custos de construção variam entre 30% e 60% do valor geral de vendas. Este percentual é maior nos empreendimentos destinados ao segmento econômico, como os que se enquadram no programa Minha Casa, Minha Vida. Apesar da maior parcela dos custos incorrer na construção, as definições de produto e projeto que influenciam estes custos não estão nas mãos do gestor da obra. Este profissional deve ter não apenas conhecimentos técnicos, mas também um amplo conhecimento do negócio como um todo. Precisa dominar custos, contratos, prazos e ser um bom gestor de equipes.
Quais são as recomendações de postura para o gestor da obra?
Planejamento e criatividade são fundamentais. Antecipar-se aos problemas, evitando que eles apareçam, ajuda a eliminar futuras dificuldades com prazo e custo – por consequência, também com qualidade. Estamos passando por um momento muito positivo para o setor de construção, que está bastante aquecido, e uma das maiores preocupações hoje dos gestores de obras é com relação à disponibilidade de recursos. Felizmente hoje a questão não é mais a falta de recursos financeiros, mas sim a escassez de mão de obra, materiais e equipamentos. Usei a palavra “felizmente” pois, por cerca de duas décadas, o setor permaneceu estagnado, sem capacidade para atrair investidores, mas isso não significa que podemos relaxar e comemorar o bom momento. O desafio é muito grande, os gargalos a serem superados (mão de obra, material, equipamentos) exigirão do gestor muito planejamento e também criatividade. Planejamento para evitar sustos e criatividade para buscar formas diferentes de fazer, de contratar, de comprar, de realizar a construção.
Quais são os problemas mais comuns em gestão de obras que podem ser evitados?
Um dos principais problemas diz respeito à administração de equipes, sejam elas equipes próprias ou de terceiros. A construção envolve um grande número de atividades, com muitas interfaces entre elas. Planejar adequadamente as atividades ajuda não apenas a eliminar os gargalos, garantindo a realização dos serviços dentro do prazo, mas também contribui para a redução do desperdício de tempo e de material. Outro problema diz respeito à contratação de serviços e aquisição de materiais. Um Cronograma de Suprimentos bem elaborado é uma importante ferramenta de gestão, pois permite antever dificuldades e indicar a adoção de medidas que, mesmo que não garantam a eliminação dos problemas, possibilitem reduzi-los a ponto de não comprometer os prazos e custos assumidos.
Uma obra mal gerida sofre quais dificuldades?
Uma obra sem um gestor competente é uma fábrica de problemas, que tendem a crescer cada vez mais, como uma bola de neve. Sem um gestor que indique a direção a ser seguida, cada equipe passa a atuar buscando resolver o seu próprio problema, mesmo que isso represente uma dificuldade para as demais equipes. Outro exemplo de dificuldade é o provocado pela falta de planejamento na aquisição de materiais, que pode gerar atrasos e desperdícios irrecuperáveis. Há materiais que precisam ser comprados com meses de antecedência, sob pena de não tê-los disponíveis, ou de ter que se pagar um preço bem acima do previsto no orçamento.
Como o gestor deve comandar a obra?
O bom gestor de obra procura antecipar-se aos problemas, evitando que aconteçam. O bom gestor nunca perde a visão do todo, mesmo quando está envolvido na solução de um pequeno problema. Ter a visão do todo significa ter completo domínio dos custos e prazos, conhecer muito bem o orçamento e o planejamento da obra. É fundamental também dimensionar adequadamente as equipes, capacitando seus integrantes e mantendo todos comprometidos com suas metas de qualidade e produtividade.
Que conhecimentos o responsável pela obra precisa ter?
O conhecimento técnico é essencial, mas não é suficiente para qualificar um profissional para se tornar um bom gestor de obras. Habilidades gerenciais, capacidade de planejamento, organização, liderança, noções de custos, ser um bom negociador, entre outros conhecimentos, são também muito importantes.
Qual é o passo a passo para gerir uma obra?
Entendo que para se capacitar para assumir a gestão de uma obra, antes de tudo, o profissional precisa ter conhecimento total do projeto. É como um executivo que assume a direção de uma empresa e que precisa ter domínio completo sobre a atividade desta empresa. Somente após ter completo conhecimento sobre o que vai gerenciar é que o gestor tem condições de iniciar o planejamento da obra. Como elementos fundamentais para a boa gestão de uma obra, em ordem cronológica, acho importante citar:
– Planejamento Físico-Financeiro Detalhado da obra (com base no orçamento e compromissos de prazo assumidos)
– Programação de Aquisição de Materiais e Serviços
– Planejamento Operacional e Logístico da obra (incluindo o planejamento do canteiro, dimensionamento das instalações provisórias, fluxo de tráfego de pessoas e materiais, escolha e dimensionamento de equipamentos de transporte etc)
– Controle e Acompanhamento das Atividades (com medições de indicadores de produtividade, verificação da qualidade dos serviços, eliminação de desperdícios de tempo e materiais)
– Retroalimentação do Planejamento Físico-Financeiro (com a adoção de medidas corretivas visando o cumprimento das premissas de custo e prazo)
Planejamento e controle são muito importantes, mas o controle praticamente não tem valor sem um planejamento adequado. O conselho que dou ao gestor de obras é que, se por acaso estiver em dúvida sobre o quanto investir em planejamento e controle, não hesite em destinar a maior parte de seus recursos (de tempo e material) ao planejamento. Controlar algo que foi mal planejado é como se limitar contabilizar os problemas, sem se permitir resolvê-los ou, o que seria melhor, evitá-los.
O Massa Cinzenta já publicou outras matérias sobre Gestão de Obras. Saiba mais sobre esse tema nos links abaixo:
Gerenciamento e fiscalização de obras (http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/gerenciamento-e-fiscalizacao-de-obras/)
Improviso é o grande vilão das obras (http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/improviso-e-o-grande-vilao-das-obras/?email=arci53%40gmail.com)
Comunicação vira alicerce da boa construção (http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/comunicacao-vira-alicerce-da-boa-construcao/)
FRASE FINAL: VOCÊ CONCORDA QUE UMA OBRA MAL GERIDA É UMA FÁBRICA DE PROBLEMAS? PARTICIPE E DEIXE SUA OPINIÃO NOS COMENTÁRIOS.
Entrevistado
Pedro de Seixas Corrêa
– Mestre em Sistemas de Gestão pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ) e Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
– Entre 1991 e 2000 atuou no município do Rio de Janeiro nos setores de orçamento, planejamento e obras da AC Lobato Engenharia, mais tarde Atlântica Empreendimentos Imobiliários.
– Atualmente é sócio-diretor da SEICOR Projetos e Obras Ltda, empresa especializada na coordenação e desenvolvimento de projetos de engenharia e arquitetura, com mais de 20 anos de prestação de serviço para construtoras e incorporadoras de atuação nacional.
– Coordenador acadêmico do MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil na Fundação Getulio Vargas, atua como professor nos cursos de pós-graduação da FGV desde 2001.
Email: pedro.seixas@fgv.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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