Fundações rasas e profundas: escolha exige estudo geotécnico detalhado para garantir segurança e durabilidade da obra
Uso do concreto nas fundações exige cuidados específicos, em especial o controle da hidratação do cimento
Quando se trata do projeto para escolha do tipo da fundação para os empreendimentos, as opções são vastas, mas podem ser divididas principalmente em fundações rasas e profundas. Cada uma delas apresenta características, vantagens e limitações, e sua escolha depende de diversos fatores, como tipo de solo, carga da edificação e custo-benefício. Entender as especificidades dessas fundações é essencial para garantir a segurança e a durabilidade das obras.
A fundação rasa é aquela que transfere a carga da estrutura para as camadas superficiais do solo, em profundidades menores, conforme explica Alessandra Monique Weber Abdalla, professora de Engenharia Civil e Arquitetura da FAE Centro Universitário. “As sapatas e a fundação do tipo radier são os maiores exemplos de fundação rasa. Para esse elemento, a base se apoia em uma profundidade inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação”.
Essas fundações são recomendadas para obras de menor porte, onde o solo superficial apresenta uma capacidade de suporte adequada. Estruturas como residências unifamiliares e pequenas construções costumam se beneficiar desse tipo de fundação devido ao custo reduzido e à facilidade de execução. No entanto, é importante ressaltar que a escolha do tipo de fundação deve sempre considerar as características do solo e da edificação.
Segundo Alessander Korman, engenheiro e mestre em Geotecnia, a escolha entre fundação profunda e rasa depende de vários fatores. Fundações rasas tendem a ser utilizadas quando o solo superficial é adequado para suportar as cargas da estrutura. Por outro lado, fundações profundas são indicadas quando o solo superficial não possui a capacidade de suportar as cargas da edificação.
Estudo geotécnico detalhado para melhor escolha
“Fundação profunda é aquela que transfere as cargas da estrutura para porções inferiores do terreno, geralmente a uma profundidade maior que três ou quatro vezes a menor dimensão da fundação”, afirma Korman. Estacas e tubulões são os principais exemplos desse tipo de fundação, que é usado, por exemplo, em edifícios altos e outras estruturas com cargas pesadas.
As fundações profundas também são indicadas em terrenos onde o lençol freático está presente em camadas mais próximas da superfície. Segundo Alessandra, as fundações profundas podem ser uma alternativa para estruturas leves, porém o custo da execução pode não ser justificado. Portanto, a escolha entre uma fundação rasa ou profunda deve ser feita após um estudo geotécnico detalhado.
“Os critérios de escolha de um tipo ou outro vão depender do perfil geológico-geotécnico, da posição do lençol freático, da ordem de grandeza das cargas e da tolerância da estrutura a deslocamentos, que, por sinal, sempre estarão presentes”, assinala Korman. Em cada projeto, deve-se avaliar a relação custo-benefício das alternativas de fundação consideradas viáveis tecnicamente.
As fundações rasas apresentam vantagens consideráveis, especialmente em relação ao custo de execução e à simplicidade do processo. Como são utilizadas em profundidades menores, a quantidade de material utilizado é menor, o que contribui para a redução do custo da obra. Além disso, sua execução é mais rápida e menos complexa.
“Para residências unifamiliares e estruturas leves, pela característica de carregamento mais baixo, será recomendado o uso de fundações rasas em função do custo”, comenta Alessandra. Esse tipo de fundação é bastante vantajoso em solos estáveis e em obras de pequeno a médio porte, desde que o solo superficial tenha a resistência necessária para suportar as cargas da edificação.
Vantagens das fundações profundas
Por sua vez, as fundações profundas têm como principal vantagem a sua capacidade de transferir grandes cargas para camadas mais profundas do solo, garantindo a estabilidade de estruturas de grande porte. Edifícios altos, pontes e grandes galpões, por exemplo, dependem desse tipo de fundação para garantir a segurança e a durabilidade da obra.
Outro benefício das fundações profundas é a possibilidade de aplicação em terrenos com solos superficiais instáveis ou com presença de lençol freático. “Em edifícios altos e estruturas pesadas, quando não há estabilidade nas camadas superficiais do solo, será mais viável transferir as cargas para camadas mais profundas e resistentes”, destaca Alessandra.
Concretagem das fundações: cuidados essenciais
Independentemente do tipo de fundação escolhido, o concreto é o material predominante na execução de ambos os tipos de fundação. Korman explica que o concreto é amplamente utilizado em fundações devido à flexibilidade de uso, resistência e durabilidade. “O material é usado para moldar sapatas, estacas, blocos de fundação e radiers”, aponta.
No entanto, o uso do concreto nas fundações exige cuidados específicos para garantir a qualidade e a segurança da estrutura. Um dos principais desafios é o controle da hidratação do cimento, especialmente em obras de grande porte, que envolvem grandes volumes de concreto. “O controle tecnológico do concreto deve estudar uma dosagem a fim de evitar fissurações térmicas e possível formação de etringita tardia”, alerta Alessandra. Esse controle é essencial para evitar danos ao concreto durante o processo de cura.
Fundação profunda em grandes obras
Outro cuidado importante envolve a execução em terrenos com lençol freático. Em fundações profundas, é comum que a concretagem seja realizada abaixo do nível do lençol freático, o que pode exigir técnicas específicas, como o uso de tubulões preenchidos com concreto, para evitar o contato direto com a água. “O concreto é usado para moldar sapatas, estacas, blocos de fundação e radiers, muitas vezes em peças que envolvem o uso combinado com aço (concreto armado)”, assinala Korman.
Ele cita que, nos últimos anos, as maiores obras de engenharia no Brasil utilizam diferentes tipos de fundações com uso de concreto para garantir a segurança das estruturas. Diversos edifícios em Balneário Camboriú, com alturas de mais de duzentos metros, empregam fundações profundas e sistemas que conjugam características de fundações superficiais e profundas: os radiers estaqueados. “Outro bom exemplo é a nova Ponte do Guaíba, em Porto Alegre, onde foram utilizadas milhares de estacas de concreto pré-fabricadas nas fundações do empreendimento”, conclui.
Entrevistados
Alessander Korman é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Geotecnia pela PUC-Rio e doutor em Geotecnia pela EPUSP. É professor do PPGEC – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPR.
Alessandra Monique Weber Abdalla é engenheira graduada pela UTFPR de Campo Mourão, doutora em Engenharia Civil pela UTFPR de Curitiba, professora dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo da FAE Centro Universitário.
Contatos:
alessander.kormann@fugro.com
alessandra.abdalla@fae.edu
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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