Fórum Brasil África aborda sustentabilidade e gestão de resíduos

Soluções para estas questões vão além dos investimentos, também englobam mudança de mentalidade

Para Jean Pierre Elong Mbassi, secretário geral da United Cities and Local Governments of Africa (UCLG Africa), a questão da gestão de resíduos tem sido postergada.
Crédito: 
Lupércio Silva | Fórum Brasil África (Brazil Africa Forum – BAF)

Depois de dois anos sem edição presencial, o Fórum Brasil África (Brazil Africa Forum – BAF) foi realizado nos dias 29 e 30 de novembro de 2022, em São Paulo (SP).

Com o tema “Cidades Sustentáveis: Desafios globais, soluções locais”, o BAF 2022 abordou temas pertinentes para obter uma agenda urbana mais justa, democrática e sustentável.

Segundo o professor João Bosco Monte, fundador e presidente do Instituto Brasil África (IBRAF), na programação de 2022, foram explorados nove eixos com temas-chave: Infraestrutura, Saúde e Saneamento, Mobilidade Urbana, Energias Renováveis, Gestão de Resíduos, Agricultura Urbana, PPPs, Esportes e Indústria Criativa.

Sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento 

Um dos temas do evento foi com relação à sustentabilidade. Durante as apresentações, foram mostrados cases de dois locais. O primeiro deles, a cidade de Praia, capital do Cabo Verde, que criou comunidades energéticas para aumentar a penetração da energia renovável localmente e diminuir os custos que a população tem com o consumo. O presidente da Câmara Municipal de Praia, Francisco Carvalho, contou a respeito de uma iniciativa de sua cidade, na qual foram iluminados com energia solar uma escola, um campo poliesportivo, um campo de futebol, uma rua e um espaço comum de conjunto habitacional.

Do lado brasileiro, o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, falou sobre o compromisso da cidade em diminuir drasticamente até 2050 a emissão de carbono. Segundo ele, o prédio central da prefeitura já tem 426 painéis solares. Da mesma forma, o terminal de transporte público está sendo construído com essa solução, assim como a rodoferroviária. De acordo com a Prefeitura de Curitiba, o sistema funciona no Centro Cívico desde junho de 2019 e já foi responsável por evitar a emissão de mais de 70 toneladas de CO₂ para a atmosfera. “Além disso, o antigo aterro sanitário receberá uma fazenda solar que abastecerá 60% dos prédios públicos de Curitiba”, informou.

Para Guillaume Bonnard, vice-presidente da Global Sales and Services – Thomson France, há um grande desafio em alinhar sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento – mas há grandes benefícios quando estes fatores caminham juntos. “Nós enfrentamos diariamente essa mesma luta para alinhar todos os parâmetros da equação: manter progresso, ter desenvolvimento dos países, não danificar o ambiente e encontrar o financiamento para isso. É uma equação muito difícil de ser resolvida. O desenvolvimento de um país aumenta de 1% a 2% o seu PIB e isso cria valor, com financiamento do que pode ser feito. A pergunta é: quando podemos fazer a ponte com bancos privados? Os banqueiros têm que entrar nos projetos e aí vamos para o setor público novamente, porque qualquer banco privado tem que fazer algo para ter lucro.”

Para Braima Luis Cassama, vice-presidente do West African Development Bank (BOAD), é importante ter em mente os elementos que vão motivar essa atratividade de investimentos. “É preciso reforçar a capacidade para os investidores privados, o reforço da capacidade, a identificação do projeto, estudos prévios, e outro elemento é ter instituições de financiamento. É preciso uma supervisão e que investidores privados também tenham percepção dos riscos ambientais e sociais, por exemplo, com a construção de uma ponte sobre uma área habitada”, sugere Cassama.

Gestão de resíduos

A gestão de resíduos, que é um desafio mundial, também foi tema do Fórum Brasil África 2022

Na África, Jean Pierre Elong Mbassi, secretário geral da United Cities and Local Governments of Africa (UCLG Africa), acredita que este problema tem sido postergado. “A gestão de resíduos é o principal problema que enfrentamos, porque a imagem das cidades é refletida na própria cidade. Isso é visto na limpeza ou na sujeira dessa cidade. Infelizmente, no caso da África, apenas 40% dos resíduos são coletados e 60% são deixados. E como eles são geridos? Ou jogados em lugares abertos, queimados ou são colocados em rios. E isso tudo causa muitos danos à saúde, no funcionamento da infraestrutura, na percepção que amanhã será pior do que hoje”, afirmou Mbassi. 

Para Mbassi, a solução vai muito além do financeiro. “As pessoas acham que para manter uma cidade limpa precisa de bilhões de dólares, mas a primeira alternativa é diminuir a produção de lixo. Primeiro é a questão de pensamento, porque educação é a chave. Você começa educando as crianças, porque elas educam os adultos. 80% do resíduo produzido na África é orgânico e ele pode ser reutilizado. Muitos catadores fazem isso de modo informal e como podemos fazer isso nas cidades? É integrar os 60% que não fazem parte dos planos de gestão”, pontua.

Por outro lado, ele pondera que os lixões e aterros sanitários precisam de investimento. “E você consegue transformar o lixo em riqueza. Se a gente leva a economia circular a sério, devemos levar a sério também a conexão entre resíduos e energia, resíduos e agricultura, resíduos e saúde… É lidar com a questão de resíduos de forma sistemática. É uma obrigação crítica da comunidade humana lidar com a questão de resíduos, porque as consequências disso nos atingirão diretamente”, finaliza Mbassi.

Fontes
Matéria baseada no evento Fórum Brasil África (Brazil Africa Forum – BAF).

Contato
Assessoria de imprensa – carlos@vetor.am

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP



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