Fibra de carbono aguarda norma técnica brasileira
Material tem eficiência comprovada no reforço de estruturas de concreto armado, mas seu uso ainda enfrenta resistência no país
Material tem eficiência comprovada no reforço de estruturas de concreto armado, mas seu uso ainda enfrenta resistência no país
Por: Altair Santos
O uso de fibra de carbono para reforçar estruturas de concreto armado não é novidade. O que impressiona é o quanto a tecnologia demorou a chegar ao Brasil. Desenvolvida nos anos 1980, na Suíça, ela levou pelo menos 20 anos para sair dos laboratórios de pesquisa e ganhar o mercado. No entanto, hoje está consolidada nos canteiros de obras europeus e dos Estados Unidos. Por aqui, ainda é usado timidamente. Sobretudo, pela falta de uma norma técnica nacional.
Quando a tecnologia é usada no Brasil, as referências são as normas técnicas norte-americanas (ACI 440 2R:02 (2008)) e o boletim 14XX da fib (Federação Internacional do Concreto). No entanto, a tendência é de que o país em breve tenha sua própria norma técnica. Estimulado pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), foi criado um comitê na ABNT para estudar a criação de uma NBR sobre aplicação de fibra de carbono em estruturas de concreto armado.
No VIII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, realizado em maio de 2015, e promovido pela ABECE, a tecnologia esteve entre os temas centrais. O engenheiro civil Gustavo Pérez, graduado pelo ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto, em Portugal), e consultor técnico da Sika Brasil, palestrou sobre o uso de compósitos de fibra de carbono em recuperação e reforço estrutural do concreto armado.
Segundo o engenheiro, dificilmente o material é usado em fases construtivas ou tem sua utilização prevista em projetos. No entanto, avança em reforços de estruturas. “Sua aplicação não se limita a estruturas de pontes e viadutos, mas a quase tudo que se refere a estruturas de concreto armado, como pilares, lajes e pisos de edifícios, e até paredes”, explica Gustavo Pérez.
Mitos
O engenheiro comenta que no Brasil ainda existe o conceito de que compósitos de fibra de carbono só podem ser usados em reforços de pontes e viadutos. Seu trabalho no país é para desmistificar isso. “Falta divulgação técnica deste assunto, ainda que a comunidade de projetistas interessados no assunto esteja crescendo”, diz. Para Gustavo Pérez, a criação de uma norma técnica nacional tende a impulsionar a tecnologia. “Ainda que as normas técnicas internacionais sirvam de referência, há particularidades entre um ambiente e outro que só uma norma do próprio país ajuda a resolver”, afirma.
Um dos falsos mitos que uma NBR ajudaria a eliminar é o de que compósitos de fibra de carbono são suscetíveis às condições climáticas, principalmente à incidência dos raios solares. “A fibra de carbono é uma matéria inerte. Portanto, indiferente às condições climáticas. O que pode ser suscetível é o epóxi que vai aderir à fibra. Se ele não for de boa qualidade, pode responder negativamente ao calor ou à umidade. Mas a fibra de carbono, em si, não é afetada por fenômenos meteorológicos. É mais um mito que precisamos combater”, ressalta.
Entrevistado
Engenheiro civil Gustavo Pérez, especialista que trabalha na área de reforço estrutural de concreto armado com compósitos de fibra de carbono. Atua pela Sika Brasil, como consultor técnico.
Contatos
perez.gustavo@br.sika.com
abece@abece.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/ABECE/Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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