Falta de planejamento é a principal causa de acidentes com guindastes, diz especialista
Engenheiro mecânico Carlos Gabos diz ser necessário antecipar perigos e ações para manter a segurança
No final de julho, um acidente com um guindaste que despencou do topo de um prédio de 45 andares no centro de Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos, chamou a atenção do mundo inteiro.
Uma parte do equipamento pegou fogo, se chocou contra um prédio vizinho e caiu na rua – por sorte, o local não estava tão cheio no momento, e uma tragédia maior foi evitada. Onze pessoas sofreram ferimentos leves. O laudo técnico ainda não foi confirmado, mas investigadores do Corpo de Bombeiros disseram que o incêndio pode ter sido causado por uma ruptura em uma linha hidráulica da máquina.
Fato é que acidentes com guindastes vêm se tornando mais frequentes, não só ao redor do mundo, mas também no Brasil. É o que diz o engenheiro mecânico Carlos Gabos, que atua há 38 anos na área de Movimentação de Carga, em empresas fabricantes de guindastes locadores e em construtoras. “O Ministério do Trabalho e Emprego mantém estatísticas de acidentes, mas não conseguimos filtrar [os que ocorrem] com esses equipamentos. Com o aumento das atividades com guindastes, temos visto com muita apreensão o crescente número de acidentes com esses equipamentos”, explica.
“Tão grave quanto o acidente é o quase acidente ou aqueles sem danos a pessoas, esses não fazem parte das estatísticas e passam despercebidos até mesmo dos gestores”, complementa o especialista, que ressalta o fato de que muitos desses casos, que nem entram nos registros, têm alto grau de gravidade e poderiam ser fatais ou até mesmo catastróficos.
O Massa Cinzenta conversou com o engenheiro mecânico Carlos Gabos sobre outros assuntos relacionados ao tema. Confira a seguir.
Quais as principais causas relacionadas aos acidentes?
Carlos Gabos – A falta de planejamento é a principal causa de acidentes e incidentes. Todas as operações com guindastes necessitam de um planejamento, pois o risco é intrínseco e sempre alto. Identificar os perigos e tomar ações antecipadas para controlá-los é o que leva o nível de segurança a um patamar aceitável. Exemplo: o solo onde a operação vai ser realizada foi verificado? Existe um laudo comprovando que o solo vai suportar a pressão exercida pelo guindaste com a carga içada?
Há uma série de medidas de segurança que devem ser levadas em conta na hora do uso de guindastes, mas quais, em sua opinião, são as fundamentais?
Carlos Gabos – Antes de definirmos as medidas de segurança, temos que definir quais os perigos que envolvem a operação, em cima deles é que tomamos as medidas de segurança. Cada caso demanda medidas de segurança diferentes, mas o índice ou porcentagem de utilização do guindaste deve ser sempre o ponto forte a ser analisado.
Exemplo: em uma operação onde está sendo feita uma desmontagem, um índice de utilização de 70% é indicado. Nesse caso, mesmo que o LMI (sistema de monitoramento de carga e momento) acione, bloqueie, não tem nada mais a ser feito. Índice de utilização é quanto foi consumido da capacidade do guindaste na configuração que foi montada.
A ABNT NBR 16463-1 Guindastes seria a principal norma que aborda a montagem e operação de guindastes? Ou há outras?
Carlos Gabos – A norma ABNT 16463-1 não trata dos perigos que envolvem as operações. Ainda não temos uma norma brasileira específica para esse assunto. O Comitê de Estudos CE 099:010.001 da ABNT está estudando uma norma específica para confecção de um plano de rigging, que vai ajudar bastante no planejamento das operações de movimentação de cargas.
A norma ASME P30.1 de 2014 Planning for Load Handling Activities é bem completa e traz parâmetros para análise dos perigos envolvidos.
O que a tecnologia desenvolvida ao longo do tempo contribuiu para a maior segurança na utilização de guindastes?
Carlos Gabos – A tecnologia embarcada nos guindastes vem sendo atualizada ano a ano, sempre com uma visão que, se o operador falhar, o equipamento não permite a operação. Mas fica bem claro em todos os manuais que os sistemas não substituem o operador, não o isenta da responsabilidade da operação. Os sistemas estão preparados para auxiliá-los, e não para comandá-los. Outro auxílio que os sistemas trazem é a possibilidade de gravar os parâmetros das operações e, com isso, uma análise completa pode ser feita, se necessário, e assim prevenir novas ocorrências.
Os cursos para qualificação de operadores são muito demorados? Há muita procura? Ou há menos profissionais especializados do que o necessário?
Carlos Gabos – Sim, a procura por novos operadores é grande e necessária. O Comitê de Estudos CE 099:010.001 da ABNT está preparando uma norma para certificação de terceira parte de operadores de guindastes. A Sobratema e a Abendi já têm neste site o processo para certificação de operadores, rigger planejador, supervisores e sinaleiros.
Os treinamentos para formação de um operador de guindaste conforme NR-18 do Ministério do Trabalho e Emprego devem ser de 120 h, sendo 80 h de prática. A maioria dos novos operadores são integrantes de alguma empresa que terceiriza ou desenvolve seus próprios treinamentos.
Fontes
Carlos Gabos, engenheiro mecânico, diretor da Hoist Engenharia Ltda., coordenador na Abendi do Bureau de Certificação de Pessoas, coordenador na ABNT da Comissão de Estudo de Qualificação de Pessoas para Movimentação de Cargas com Equipamentos de Guindar, do Comitê de Qualificação e Certificação de Pessoas
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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