Falha humana predomina nas patologias do concreto
Dados da fib (Federação Internacional do Concreto) mostram que corrigir manifestações patológicas podem custar até cinco vezes mais do que o valor da obra.
Dados da fib (Federação Internacional do Concreto) mostram que corrigir manifestações patológicas pode custar até cinco vezes mais do que o valor da obra
Por: Altair Santos
A maioria das patologias em edificações ocorre por consequência de falhas de execução e pela falta de controle dos materiais empregados na construção. São erros em que a displicência e o desconhecimento das tecnologias, causadas pelos profissionais envolvidos, acabam encarecendo a obra em até cinco vezes, como alerta a professora-doutora Sandra Maria de Lima, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).
Para melhorar os resultados, é importante que os construtores invistam em treinamento e contratação de profissionais especialistas em patologias. Caso contrário, seguirão se repetindo problemas em obras – o que não é um “privilégio” apenas do Brasil. Em países como França, Alemanha, Reino Unido e Itália, estudos mostram que quase 50% dos investimentos em construção civil são destinados às obras de recuperação estrutural.
Na construção civil brasileira não há dados precisos, mas as manifestações patológicas são igualmente preocupantes, revela Sandra Maria de Lima na entrevista a seguir:
Quando ocorrem patologias do concreto em uma obra, até quando elas podem ser atribuídas a falhas humanas?
As patologias são causadas por falhas na concepção do projeto estrutural, na escolha e uso inadequado dos materiais, na execução da obra e na falta ou ineficiência do controle tecnológico das obras. Obviamente que existem casos fortuitos, como um sinistro ocorrido por uma colisão ou um evento climático imprevisível. Com exceção desses casos, todos os outros são decorrentes de falha humana. No entanto, essas falhas humanas são ora causadas pelo pouco caso dos atores envolvidos na construção e ora causadas pela falta de preparação acadêmica, falta de conhecimentos científicos sobre o assunto e ineficiência na aplicação desses conhecimentos.
O que leva os trabalhadores que atuam em obras, incluindo aí os engenheiros, a cometerem erros que vão causar patologias?
Podemos separar duas causas: a primeira é a falta de conhecimento sobre a tecnologia do concreto; a segunda, a imprudência dos atores envolvidos.
Entre os erros humanos que resultam em patologias, quais são os mais comuns?
Os erros sempre se somam, mas erro de dimensionamento das estruturas, vícios construtivos, despreocupação com a durabilidade das estruturas e a falta de controle tecnológico são constantemente observados em obras com manifestações patológicas.
O emprego de materiais errados na fabricação do concreto também é atribuído a falhas humanas?
Sim. E existe outro agravante nessa questão, que se trata da pouca importância que se dá à especificação de materiais, ao estudo de dosagem de concreto nos cursos de engenharia civil. Acredito que esses assuntos são melhores abordados e explorados nos cursos superiores de tecnologia (CSTs) em construção de edifícios e em controle de obras.
Os edifícios são os mais sujeitos a patologias ou residências também têm alta incidência?
Penso que ambos estão igualmente sujeitos. O que acontece é que as manifestações de patologias em edifícios de múltiplos pavimentos assustam mais.
Esse retrabalho para recuperar obras com patologia tem que custo para o país?
A questão está no quanto poderíamos evitar de gastar. Há um estudo que comprova que um projeto bem feito tem custo “X”. Corrigir problemas no decorrer da execução da construção tem custo 2X. Ao findar a construção, 3X. Após dois anos de obra concluída, esse custo pula para 5X. Então, as manifestações patológicas custam muitíssimo caro para o país. Podem encarecer em cinco vezes a construção do elemento estrutural, segundo dados da fib (Federação Internacional do Concreto).
Atualmente, o estudo das patologias tem se intensificado. Com isso, a tendência é conseguir reduzir sensivelmente esse índice no país?
Acredito que tais estudos, atrelados à abertura e ao reconhecimento de cursos que deem ênfase aos processos produtivos, às tecnologias dos materiais e ao controle tecnológico, no caso dos Cursos Superiores em Tecnologia, podem levar a tecnologia aos canteiros de obras com maior celeridade.
Em outros países, as patologias do concreto também têm alta incidência?
Sim. Há estudos inclusive com dados de investimentos em manutenção e reabilitação de estruturas, como ilustra a tabela a seguir.
Gastos com manutenção e reparo em obras civis nos países desenvolvidos
Fonte: (Ueda, Takewaka (2007) apud Medeiros e Helene (2008)).
MEDEIROS, M.; HELENE, P.R.L.. Concreto armado x ambiente marítimo: por que proteger e o que considerar para especificar? Concreto e Construções, n.49, p.23-28, 2008.
O Brasil, por ser um país com regiões climáticas bem diferenciadas (umidade no Norte, calor no Nordeste, frio no Sul) precisaria construir levando a influencia meteorológica em conta. Isso ocorre ou não?
Certamente, e isso já é regulamentado e normalizado pela NBR 12655 e pela NBR 6118, nas seções que tratam das classes de agressividades do meio no qual estará inserida a edificação. Mas uma falha humana acaba por não levar a sério tais especificações.
Qual a importância do CINPAR para conseguir entender e combater as patologias?
O CINPAR (Congresso Internacional sobre Patologia e Recuperação de Estruturas) é um momento único e valiosíssimo que promove a troca de experiências entre profissionais gabaritados e divulga as novas tecnologias de reparo, reabilitação e mesmo construção de obras em estruturas. Não só de concreto, como estruturas metálicas, alvenaria estrutural, entre outras. O resultado certamente será positivo.
Entrevistada
Professora-doutora Sandra Maria de Lima, especialista em engenharia de estruturas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)
Currículo
– Sandra Maria de Lima é graduada em engenharia civil pela Escola de Engenharia de Lins (1991), com especialização em engenharia ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP (1997) e mestrado (2006) e doutorado (2008) em engenharia civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP) na área de engenharia de estruturas
– Atuou como professora de ensino básico técnico e tecnológico do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT, campus Octayde Jorge da Silva, Cuiabá).
– Atualmente exerce o mesmo cargo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (campus Natal-Central)
– Leciona nos cursos: técnico de edificações subsequente ao ensino médio e integrado ao ensino médio, e nos cursos superiores em tecnologia de controle de obras e construção de edifícios. Ministra disciplinas nas áreas de materiais de construção, sistemas construtivos, planejamento e orçamento de obras e geotecnia.
– Tem 15 anos de experiência na área de engenharia civil. Atualmente, mantém-se em contato com a construção civil por meio de consultorias na área estrutural, patologia das construções, dosagem de concretos especiais e controle tecnológico de artefatos de cimento.
Contatos: sandra.lima@ifrn.edu.br / sandramdlm@gmail.com
Créditos foto: divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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