Ensaios não destrutivos penetram concreto a dentro
Apesar de a tecnologia transmitir mais confiabilidade aos materiais, construção civil explora muito pouco o potencial dos chamados ENDs.
Ainda que a tecnologia transmita mais confiabilidade aos materiais, construção civil explora muito pouco o potencial dos chamados ENDs
Por: Altair Santos
Apesar de os Ensaios Não Destrutivos (ENDs) serem aplicados no Brasil desde a década de 1950 – há normas com mais de 60 anos que regem a inspeção visual, por exemplo -, a construção civil utiliza raramente as tecnologias que permitem avaliar a integridade de uma estrutura, sem danificá-la. “Ainda há poucas empresas dispostas a investir nestes métodos, mesmo com a tecnologia em estágio avançado”, comenta Thomas Gabriel Rosauro Clarke, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em engenharia de materiais.
No país, a indústria de petróleo e gás é a que mais usa Ensaios Não Destrutivos. Por estar ligado à soberania nacional, e ter alto valor agregado, o setor faz dos ENDs uma ferramenta valiosa. Primeiro, na questão da segurança, para garantir a integridade das estruturas e evitar acidentes que possam ter impacto ambiental e, consequentemente, multa para a empresa; segundo, para que a produção não seja interrompida. “O fabricante sempre ganha com Ensaios Não Destrutivos, pois a confiabilidade no material que ele produz aumenta significativamente”, diz Thomas Gabriel Rosauro Clarke.
Quando usados na construção civil, os ENDs prestam auxílio técnico ao engenheiro estrutural, fornecendo, por exemplo, dados sobre a integridade do concreto a ser usado na obra, para que ele possa verificar os coeficientes de segurança. “Como o concreto é um material mais complexo, por ter propriedades anisotrópicas, ele requer tecnologias mais avançadas”, alerta o professor da UFRGS. Entre esses métodos hoje aplicados, estão o ultrassom em 3D, o com líquidos penetrantes, o de partículas magnéticas e o de análise dimensional. “Com eles, já é possível submeter estruturas de concreto armado a análises precisas”, diz o especialista.
De maneira geral, existem duas classes de Ensaios Não Destrutivos para aplicação em estruturas de concreto. A primeira consiste em métodos usados para estimar a resistência do material, tais como o ensaio de dureza superficial (esclerometria), resistência à penetração, ensaios de arrancamento e método da maturidade. A segunda classe inclui os métodos que medem outras características e defeitos internos do concreto, por meio de propagação de ondas e termografia infravermelha. Além dessas metodologias, existem outros que fornecem informações sobre a armadura, como a localização das barras de aço, seu diâmetro e o potencial de corrosão.
Os Ensaios Não Destrutivos têm um custo maior que os ensaios tradicionais, mas por não causar danos à estrutura permitem que ela continue em operação ao mesmo tempo em que tem sua integridade avaliada. “Esta é a primeira grande vantagem. Não são necessários cortes especiais, que vão ter que ser ensaiados de forma destrutiva. Os ENDs permitem ganho de produtividade. O engenheiro pode seguir com a obra fazendo controles periódicos do material que está sendo utilizado, sem a necessidade de parar e aguardar ensaios de laboratórios”, explica Thomas Gabriel Rosauro Clarke, garantindo que as pesquisas sobre Ensaios Não Destrutivos estejam entre as que mais apresentam inovações. “Dois anos já é tempo suficiente para que o setor rompa paradigmas”, conclui o especialista.
Saiba mais sobre Ensaios Não Destrutivos
Entrevistado
Thomas Gabriel Rosauro Clarke, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Currículo
– Thomas Gabriel Rosauro Clarke é graduado em engenharia de materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (2002)
– É mestre em engenharia de materiais, com ênfase em metalurgia, pelo programa de pós-graduação em engenharia de materiais, metalúrgica e de minas, com orientação de professor-doutor Afonso Reguly (PPGEM-UFRGS) (2004)
– É Ph.D pelo departamento de engenharia mecânica da Imperial College London, na área de acústica, vibrações e Ensaios Não Destrutivos, sub-área inspeção de estruturas complexas, monitoramento de integridade estrutural e ondas guiadas
– Atualmente é professor adjunto I do departamento de metalurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
– É responsável pelo Grupo de Ensaios Não Destrutivos (GEND) do Laboratório de Metalurgia Física (LAMEF-UFRGS) cujo coordenador-geral é o professor-doutor Telmo Strohaecker
Contato: tclarke@demet.ufrgs.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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