Engenharia de manutenção: sempre ou de vez em quando?

Uso de recursos para recuperar obras degradadas seria minimizado com prevenção e projetos bem executados

Debate no Secovi-SP, reunindo os experientes engenheiros civis Eduardo Lafraia, presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, e João Crestana, diretor e ex-presidente do Secovi-SP, colocou em xeque a forma como se pratica engenharia de manutenção no Brasil. Os dois concluíram que o país desperdiça muitos recursos financeiros para recuperar obras públicas degradadas, quando a manutenção sistemática dessas estruturas permitiria grande economia aos cofres públicos e não submeteria a população a riscos. “Obras de engenharia não são perpétuas e necessitam de manutenção”, diz Crestana.

O debate também lembrou que as obras de grande impacto construídas no Brasil raramente possuem seguro. “Obras de engenharia não são perpétuas. Por isso, deve haver um modelo de manutenção. Atualmente, existem modelos securitários, em que as seguradoras preveem planos de manutenção para obras seguradas”, reforça João Crestana, para quem a manutenção deve ser prevista desde o projeto. “Com os anos, as tecnologias vão mudando. Então, o projeto determina diretrizes do que vai acontecer na obra, inclusive com a manutenção”, completa.

Eduardo Lafraia reforça o argumento do diretor do Secovi-SP dizendo que a função da engenharia é minimizar ao máximo os riscos. “Em Brumadinho, por exemplo, não se aplicou a engenharia como se deve. O Brasil precisa mudar a cultura de manutenção, principalmente em obras de infraestrutura”, cita o presidente do Instituto de Engenharia, que aborda também a questão das obras paradas. “A guarda das obras paralisadas, bem como a deterioração desses empreendimentos, gera um desperdício de dinheiro que permitiria não só concluí-las, mas viabilizar outras obras”, diz.

Engenheiros e arquitetos perderam autonomia de decidir pela qualidade da obra

Lafraia também abordou a questão dos projetos. “Quem decide o melhor jeito de fazer a obra é o corpo técnico, formado por engenheiros e arquitetos. Atualmente, a engenharia não é mais controlada por engenheiros, mas por advogados, promotores públicos e pelos tribunais de contas. Esses organismos priorizam o menor preço, mas nem sempre o menor preço representa a melhor obra. O projeto mais barato é o que gera melhor custo-benefício no longo prazo. Um bom projeto representa de 3% a 4% do orçamento de uma obra. Economia no projeto é comprometer os outros 97% do empreendimento”, lembra.

João Crestana ainda alerta que os governos municipais, estaduais e federal desmontaram seus corpos técnicos e perderam seus melhores engenheiros. Ao mesmo tempo, as escolas de engenharia deixaram de investir em conhecimento prático e priorizaram a teoria. “O país vive um arcabouço político que não se preocupa com a manutenção de obras. Isso deve ser permanente, e não de acordo com o secretário ou o político de plantão no cargo”, complementa Eduardo Lafraia.

No dia 21 de maio de 2019, o Instituto de Engenharia volta a debater o assunto, com o seminário Manutenção do Patrimônio Público. Serão abordados os seguintes tópicos: aspectos institucionais do ambiente construído, a gestão de manutenção, impactos econômicos e sociais, aspectos jurídicos, procedimentos de contratação de serviços e responsabilidades jurídicas. O evento terá transmissão online pelo site do Instituto de Engenharia.

Assista o debate

Entrevistado
Reportagem com base em debate promovido pelo Secovi-SP, entre engenheiros civis Eduardo Lafraia, presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, e João Crestana, diretor e ex-presidente do Secovi-SP.

Contato: aspress@secovi.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

 



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