Engenharia civil requer formação mais ampla e educação continuada
Recente debate na USP concluiu que novos profissionais não podem mais parar de estudar e precisam também ter conhecimento sobre biologia, ciência dos materiais e design.
Recente debate na USP concluiu que novos profissionais não podem mais parar de estudar e precisam também ter conhecimento sobre biologia, ciência dos materiais e design
Por: Altair Santos
Para discutir os grandes temas de interesse nacional na área da engenharia, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) promoveu no final de outubro de 2011 a 1ª Conferência USP sobre Engenharia. O evento começou com o painel Engenharia para o Século XXI, no qual foram debatidos os novos rumos da profissão. Nesse tópico, o vice-diretor da Poli, José Roberto Castilho Piqueira – um dos organizadores do congresso – destacou que houve um consenso de que a formação de engenheiros requer um ensino menos cartesiano. “Nos dias de hoje, os profissionais precisam amplificar os conhecimentos, expandindo para as áreas de biologia, ciência dos materiais e design”, diz.
O professor José Roberto Castilho Piqueira destaca ainda que, no que se refere à engenharia civil, especificamente, a graduação não pode ser mais encarada pelo profissional como o ponto final da formação. Segundo ele, uma das conclusões da conferência é que o setor vai exigir cada vez mais uma educação continuada. “Além do conhecimento básico das ciências de engenharia, seguir estudando vai representar um papel cada vez mais decisivo nesta área, uma vez que as inovações em insumos e processos são quase diárias”, explica. Piqueira ressalta, porém, que as escolas brasileiras estão preparadas para esse desafio. “Do ponto de vista acadêmico, pesquisamos sobre engenharia no mesmo nível que os países desenvolvidos”, completa.
Entretanto, a 1ª Conferência USP sobre Engenharia fez um alerta: o Brasil ainda não consegue converter as pesquisas acadêmicas em produtos inovadores na velocidade que precisaria, principalmente por falta de investimentos governamentais e pela pouca participação da iniciativa privada. “Esse foi um ponto muito abordado. Ficou claro que não há uma estratégia planejada nesse sentido, embora a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) tenha demonstrado grande preocupação, tentando criar programas que incentivem projetos de ponta”, comenta o vice-diretor da Poli USP, destacando que, no caso da engenharia civil, o que o Brasil precisa é desenvolver técnicas que coíbam o desperdício de materiais e sejam menos danosas ao meio ambiente.
Neste ponto, a conferência abordou com profundidade o papel dos engenheiros na construção da sustentabilidade. “Ficou muito clara a necessidade da evolução tecnológica nas obras civis e na produção de materiais, evitando desperdício de matéria e energia, aliado à diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Os produtos, sejam bens de capital, bens de consumo ou obras, devem ter seus ciclos de vida projetados incluindo sua entrada em desuso e o possível reaproveitamento da matéria prima”, afirmou o professor José Roberto Castilho Piqueira, sobre a que conclusão chegaram os debates.
Por isso, a 1ª Conferência USP sobre Engenharia finalizou com uma resolução consensual entre os participantes: a de que a construção civil brasileira precisa investir na automação, nas novas tecnologias de construção e nas estruturas pré-fabricadas. “Sociedade civil, universidades e governo têm obrigações a cumprir, neste sentido, para que o Brasil seja um país sustentável”, disse Piqueira, considerando que a 2ª conferência, já agendada para 2012, deve aprofundar os debates sobre os novos conceitos da construção civil.
Entrevistado
José Roberto Castilho Piqueira, vice-diretor da Poli USP e organizador da 1ª Conferência USP sobre Engenharia
Currículo
– Graduado em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP) em 1974
– Obteve os títulos de mestre em engenharia elétrica também pela Escola de
Engenharia de São Carlos (USP) em 1983. Em 1987, obteve o título de Doutor
em Engenharia Elétrica pela Poli e, em 1995, o de livre docente em
controle e automação, também pela Poli.
– No setor industrial, trabalhou em vários projetos ligados à comunicação de
dados para várias empresas e órgãos governamentais, assessorando também
entidades de fomento à pesquisa. No âmbito da USP, Piqueira participa da
Comissão Permanente de Avaliação e já foi membro do Conselho Universitário
e da Comissão Especial de Regimes de Trabalho
– É presidente da Sociedade Brasileira de Automática e, atualmente, concilia as atividades da vice-diretoria da Poli USP com as de professor titular e coordenador do Laboratório de Sincronismo, iniciado por ele em 2002
– Participa ainda do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Complexos (CNPq).
Contato:jose.piqueira@poli.usp.br
Créditos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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