Engenhão é exemplo de como não se deve construir estádio
Inaugurado há seis anos, complexo esportivo encontra-se interditado, com problemas de projeto e de execução das obras.
Inaugurado há seis anos, complexo esportivo encontra-se interditado, apresentando tanto problemas de projeto quanto de execução das obras
Por: Altair Santos
Desde 26 de março de 2013, o estádio olímpico João Havelange – popularmente conhecido como Engenhão – está sob interdição decretada pela prefeitura do Rio de Janeiro. O complexo esportivo foi fechado depois que estudos realizados pela empresa alemã SBP (Schlaich, Bergermann und Partner) concluíram que a estrutura da cobertura do estádio extrapolava os níveis de segurança recomendados pelas normas técnicas, principalmente a NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações.
No relatório da SBP, a resistência ao vento da estrutura metálica que sustenta a cobertura do Engenhão caiu de 115 km/h, como previa o projeto original, para 63 km/h. Esse deslocamento de 54% surpreendeu até o consórcio que assumiu a construção do estádio em sua reta final. A princípio, a obra estava sob o comando das construtoras Delta, Racional e Recoma. Depois deste grupo admitir que não tinha capacidade técnica para instalar a cobertura, a prefeitura do Rio de Janeiro assinou contrato emergencial com a Odebrecht e a OAS, formando o consórcio Engenhão, que também será responsável por recuperar a cobertura do estádio, o qual irá precisar de reforço estrutural.
O projeto da cobertura do Engenhão foi assinado pelo engenheiro civil Flávio D’Alambert, da empresa Alpha. Na época da interdição, o profissional admitiu que o cronograma apertado exigiu mudanças nos processos construtivos, mas negou, em nota oficial, que o prazo curto tenha afetado a qualidade da obra. “O projeto previa a construção total da estrutura em forma de anel, com quatro grandes arcos, e ela seria escorada até o final da obra. Depois seriam retiradas essas escoras e ela entraria em trabalho uniformemente. Essa era a ideia inicial. Mas, infelizmente, devido ao prazo que se tornou muito curto, teve que se desenvolver uma série de outros estudos para adaptar esse modelo, ou seja, para se atingir o prazo de entrega da obra a retirada das escoras foi feita por trechos, mudando as concepções iniciais”, justificou.
Os reparos no estádio, que custou R$ 380 milhões e foi inaugurado há seis anos, só devem ficar prontos em novembro de 2014. Até lá, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) espera ter concluído as investigações para determinar responsabilidades e possíveis falhas no exercício profissional em relação à obra do estádio olímpico João Havelange. O organismo formou uma comissão integrada por especialistas e já está de posse das Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) para avaliá-las. “No que diz respeito aos profissionais com registro no Crea-RJ, vamos apurar responsabilidades. Quanto aos que são de outros estados, isso implicará em ações de outros conselhos regionais”, diz o presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro.
Quem também acompanha as investigações sobre o que ocorreu no Engenhão é a comissão do legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro, criada no Congresso Nacional e presidida pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ). “Nossa preocupação é que o mau exemplo dado pelo Engenhão não se repita em outros estádios. É um absurdo que uma obra com seis anos de vida, e que custou quatro vezes mais aos cofres públicos, tenha que ser interditada”, afirma o parlamentar, que integra a comissão do Crea-RJ e revela outros problemas já detectados no estádio carioca. “As falhas não estão só na cobertura. Verificamos erros nos projetos de abastecimento de energia e de água do estádio, além de infiltrações que estão causando a queda de placas da fachada da obra”, revela. O Engenhão precisa estar 100% recuperado até os jogos olímpicos de 2016, quando receberá as provas de atletismo.
Entrevistados
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) (via assessoria de imprensa)
Deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) presidente da Comissão do Legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro
Currículo
– Alessandro Molon é graduado em direito e mestre em história pela Universidade Federal Fluminense. É professor em direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
– Eleito com mandato até dezembro de 2014, é deputado federal e membro titular da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, além de relator do Marco Civil da Internet e da Reforma do Código Penal, que tramita na Câmara.
– Preside a Comissão do Legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Contatos: atendimento@crea-rj.org.br / dep.alessandromolon@camara.leg.br
Crédito: Crea-RJ / Wilson Dias / Abr / Divulgação
Jornalista responsável: Altair santos – MTB 2330
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