Energia eólica impulsiona a construção civil
Usinas que geram energia a partir dos ventos tornam-se relevantes consumidoras de concreto e despertam o interesse do setor.
Usinas que geram energia a partir dos ventos tornam-se relevantes consumidoras de concreto e despertam o interesse do setor
Por: Altair Santos
O Brasil, segundo a International Energy Agency (IEA), é o país que mais produz eletricidade a partir de fontes de energia limpa e renovável, como hidrelétricas, usinas de biomassa e eólicas. Do total da eletricidade fornecida no país, 85,9% provém deste tipo de matriz energética. É mais do que a soma do que geram os outros países do BRIC (Brasil, Rússia, índia e China) e os Estados Unidos, que juntos produzem 65,8% de energia limpa.
Dentro da matriz de eletricidade do Brasil, a energia eólica ocupa 0,8%. O país tem instalado 926 megawatts em 51 parques eólicos em operação, que vão desde o Piauí até o Rio Grande do Sul. O investimento neste tipo de fonte de energia está crescendo, ainda que lentamente. Em 2009, os ventos produziam 606 megawatts. Porém, leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre 2009 e 2010, comercializaram mais 3,8 mil megawatts, com previsão de entrega até 2013.
Segundo o estudo Sustentabilidade Ambiental no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país está atrasado na geração de energia eólica em relação a outras nações. “Até um tempo atrás, esse tipo de energia estava fora de pauta. Hoje é objeto de corrida internacional, e o Brasil está ainda bastante atrasado”, avalia o pesquisador Albino Alvarez, do Ipea. Para comparar, a Alemanha dispõe atualmente de 25.777 megawatts instalados. Os EUA, 35.159; a Espanha, 19.149; a China, 25.805, e a Índia, 10.926, segundo o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
Só que o setor de energia eólica está ganhando um parceiro importante para disseminá-lo país afora. São as construtoras brasileiras. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (AbEEólica), as novas tecnologias de construção das torres – não mais em aço, mas em concreto – é que tem atraído o interesse da construção civil. Além disso, há outras aplicações no setor eólico ligadas à área da engenharia civil. Como as fundações para cada torre eólica.
Solo fértil para o concreto
Em fevereiro de 2011, a Eletrobras Eletrosul concluiu a décima base dos aerogeradores que formarão o parque 3 do Complexo Eólico Cerro Chato, em Sant’Ana do Livramento (RS). A fase é considerada um marco para as obras do empreendimento, que terá 90 megawatts de potência instalada e está dividido em três usinas. Iniciadas há 45 dias, as fundações já consumiram 5 mil m³ de concreto e 500 toneladas de aço – o suficiente para construir dez edifícios de 12 andares -, e mais cinco bases estão em construção.
Segundo Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica, as bases que sustentam as usinas eólicas requerem, de fato, muito concreto. “Em alguns lugares, o terreno é arenoso e isso exige diferentes tecnologias. Para se ter uma ideia, da base ao centro do rotor são mais de 100 metros de altura. Cada hélice do rotor tem cumprimento acima de 40 metros. Imagine o efeito alavanca que isso gera. Por isso, a fundação precisa estar muito bem concretada”, explica.
Perrelli lembra que o mercado para o setor eólico no Brasil tem muito a crescer. Segundo ele, o primeiro passo é atualizar o atlas eólico do país. O mais recente, que mapeou as correntes de ar, saiu em 2001. “Ele está desatualizado tecnicamente, mas as duas regiões que mostram o maior potencial de geração elétrica por eólica são Sul e Nordeste. Mas é bom lembrar que só há cinco anos ela passou a ser explorada industrialmente no Brasil. Portanto, há muito por fazer no setor eólico”, diz.
Uma das iniciativas da ABEEólica, junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e do Ministério de Minas e Energia, é que seja criado no Brasil um centro de pesquisa para que o país possa dominar toda a cadeia produtiva de energia eólica. A meta também é criar usinas adaptadas aos vários tipos de ventos que predominam nas regiões brasileiras. “A intenção é que este centro gere uma situação equivalente ao que a gente tem hoje com o carro flex. Você tem um vento no Brasil que tem características diferentes. Ele é um no Nordeste e outro no extremo sul. Por isso, requer pesquisa e investimento para que se possa usar todo o potencial de geração de energia dos ventos”, afirma Perrelli.
Entrevistado
Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica)
Currículo
– MSc Production Management & Manufacturing Technology – 1978 – Univ. of Strathclyde – Glasgow – Scotland – UK
– Diploma in Production Engineering – 1976 – University of Strathclyde – Glasgow – Scotland – UK
– Graduado em Engenharia de Segurança – 1975- Escola de Engenharia Industrial – S. J. dos Campos/SP
– Graduado Engenheiro Mecânico – 1972 – Escola de Engenharia de Taubaté – Taubaté/SP
Contato: pedro@abeeolica.org.br
Crédito Fotos: Jornal Já/Cléber Dioni
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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