Enchentes em São Paulo: o que fazer?

A retenção de água em empreendimentos, aliada a pisos permeáveis e mais áreas verdes, pode ser uma solução

Desde 24 de janeiro, São Paulo tem enfrentado fortes chuvas. Naquele dia, a cidade registrou o terceiro maior volume pluviométrico desde o início das medições do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 1961, com um acumulado de 125,4 mm.

Estudos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP) indicam que, entre 1933 e 2023, o volume de chuvas na capital paulista aumentou, em média, 5,5 mm por ano.

Diante desse cenário de precipitações intensas, quais medidas podem ser adotadas na cidade?

Desafios de São Paulo

De acordo com Eduardo Funari, engenheiro agrônomo com especialização em Gestão Ambiental, São Paulo não teve nenhum estudo sobre crescimento organizado ou drenagem de solo. “A cidade é abastecida e circundada pelos rios Pinheiros e Tietê, que são popularmente conhecidos como os ‘ralos da cidade’. Isso funcionava porque as margens deles eram grandes várzeas que retinham a água da chuva nas grandes precipitações e funcionavam como esponja. Mas há muitos anos foi feito um novo trajeto dos rios e eliminada toda a várzea que os circundavam. Então hoje, com as chuvas fortes, o acúmulo de água que não se infiltra, aumenta a velocidade e sobrecarrega de forma rápida os rios. O que teria que ser feito lá atrás, eram grandes áreas verdes ou parques lineares com retenções de água que funcionariam como esponja, com capacidade de segurar chuvas pesadas e não causar alagamentos com as chuvas de grandes precipitações em pouco espaço de tempo.”, explica Funari.

No entanto, Funari aponta que a solução que se adotou para resolver os grandes problemas de enchentes em São Paulo foi o aprofundamento da calha do Tietê. “Isso funcionou muito bem, aumentou a capacidade de escoamento de água do rio, eliminando as grandes enchentes das marginais”, menciona 

O engenheiro civil Giovanni Gallo, por sua vez, acredita que o sistema de drenagem da cidade de São Paulo enfrenta diversos desafios, especialmente durante períodos de chuvas intensas. “A cidade possui um Plano Diretor de Drenagem que visa orientar as principais ações para reduzir problemas de inundações, melhorar a qualidade da água, promover a saúde e o bem-estar da população, além de fomentar o desenvolvimento social, econômico e a sustentabilidade. No entanto, o sistema de drenagem atual ainda é considerado defasado e enfrenta dificuldades devido à grande quantidade de áreas impermeabilizadas, como asfalto e calçadas, que impedem a absorção da água”, afirma. 

Para Funari, hoje fica muito difícil se buscar novas alternativas de retenção de água em um cenário macro, porque não há mais espaço. “Foi tudo asfaltado, urbanizado e comercializado, gerando um problema bastante crônico de retenção de água no primeiro momento das grandes enchentes”, comenta. 

Ilha de calor em São Paulo e as chuvas

Ilha de calor no Centro de São Paulo pode potencializar as chuvas na capital. Crédito: Envato

São Paulo é um grande exemplo de ilha de calor, fenômeno em que a temperatura na cidade se mantém mais alta do que nas áreas ao redor. Esse efeito ocorre devido à grande concentração de edificações, à pavimentação extensa e à escassez de espaços verdes.

“Nós temos identificado no centro de São Paulo temperaturas que chegam a 5 graus mais altos que a área periférica da cidade. Isso realmente causa uma movimentação, deslocamento de nuvens e potencializa as chuvas que normalmente acontecem nessa época do ano. E soma-se a isso o fato de a capital estar cada vez mais impermeável e cada dia menos preparada. Não teve um plano diretor, só os grandes piscinões nas áreas críticas que foram feitos. Então não houve nenhum trabalho mais profundo sobre isso. Isso realmente potencializa e pode intensificar as grandes chuvas em determinadas áreas da cidade onde a temperatura é mais alta. As chuvas vêm com mais intensidade e com mais estrago, com mais vento e com mais velocidade”, expõe Funari. 

Funari destaca que a forma de amenizar isso é criar corredores para a circulação do ar, que começa a ficar muito difícil quando você constrói em torres que bloqueiam a passagem do ar.  “O segundo fator é você fazer bolsões com plantios de árvores de grande porte. Árvores onde você tenha copas bastante robustas, que elas sejam largas e altas. Tem algumas espécies nativas e algumas exóticas, e aí muita gente critica que tem que ser tudo nativo, mas para a situação de São Paulo nós temos, e isso é motivo hoje de muita crítica, algumas plantas exóticas de crescimento robusto, muito agressivas e que formam uma copa alta. Então você tem, por exemplo, uma planta exótica, o ficus bejamim, ou o ficus elástico, que são árvores gigantes, que formam às vezes 10, 12 metros de extensão de copas. Isso permite diminuir a velocidade da chuva que cai, formar um efeito refrigerador sobre a temperatura local e causar esse deslocamento de ar, melhorando a situação crítica dos grandes centros. Mas aí você tinha que fazer vários bolsões ao longo do entorno todo do centro de São Paulo”, afirma.

Gallo pontua que, para diminuir o efeito de calor em São Paulo, algumas medidas podem ser adotadas, como criação de áreas permeáveis, atualização do sistema de drenagem, manutenção regular, educação e conscientização da população quanto ao descarte de lixo.

Além disso, Gallo cita o pavimento de concreto, que pode ajudar a reduzir o efeito de calor. “O pavimento de concreto, por ser mais claro, reflete mais luz solar e retém menos calor em comparação ao asfalto. Isso pode colaborar para o resfriamento das cidades e para a redução do fenômeno de ilhas de calor”, sugere.

Soluções

Para Funari, ao considerar um cenário micro, o mais viável hoje para a cidade de São Paulo é se fazer retenções de água nos empreendimentos que estão sendo construídos. “Por exemplo, ao fazer um conjunto de cinco torres, o ideal é colocar um telhado verde, pois isso ajuda a reter água. E uma retenção de água no subsolo das torres, das áreas novas estabelecidas, o que permitiria ao empreendimento utilizar água para reuso e escoamento de água de forma mais lenta, que é a solução”, comenta o engenheiro agrônomo.

Funari e Gallo também sugerem modernizar e ampliar a infraestrutura de drenagem existente para aumentar sua capacidade de escoamento. “Ao diminuir a velocidade do deslocamento de água, se beneficia o lençol freático e evita o escoamento para as áreas de bueiro para os rios Pinheiros e Tietê”, justificam.

A criação de parques-esponjas também podem ser uma opção. “Evitar ao máximo transformar as áreas verdes restantes em áreas residenciais, comerciais e assim por diante. Seria interessante a cidade desapropriar o máximo de áreas possíveis hoje, nas quais seria possível fazer esses tipos de intervenções. Pensando nos pequenos bolsões verdes ao longo das ruas, talvez seja uma grande alternativa para incentivar a população e as regionais dos bairros, a criarem alternativas locais. Buscar a permeabilidade do solo, das calçadas e asfalto, que hoje já tem técnicas disponíveis e materiais para se fazer isso, e não seria caro nas renovações desses pisos,” opina Funari.

Gallo complementa: “Sistemas integrados de drenagem, como os utilizados em Curitiba, poderiam funcionar em São Paulo e trazer benefícios significativos. Em Curitiba, o Parque Barigui é um exemplo de como áreas verdes e lagoas artificiais podem ser projetadas para receber o excesso de água da chuva e evitar inundações em áreas residenciais. Implementar soluções semelhantes em São Paulo poderia ajudar a mitigar os problemas de drenagem e inundações. Algumas das medidas que poderiam ser adotadas incluem a criação de parques e áreas verdes, jardins de chuva e lagoas artificiais”.

A construção dos piscinões EU-08 e EU-09, por exemplo, é uma parceria entre a Prefeitura e o Departamento de Águas e Energia Elétrica do governo do estado de São Paulo (DAEE). Os piscinões têm se mostrado eficazes na contenção de águas pluviais e na redução do risco de inundações”, aponta Gallo.

Tudo isso deve ser acompanhado de uma manutenção periódica dos sistemas de drenagem para evitar obstruções e garantir seu funcionamento eficiente, segundo Gallo. Ainda, ele sugere promover campanhas de conscientização para a população sobre a importância de não descartar lixo nas ruas, o que pode obstruir os sistemas de drenagem.

Piscinões: funcionam?

Segundo o prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, há oito piscinões em construção em parceria com os governos estadual e federal. No entanto, esta alternativa gera discussões entre os especialistas.

Funari acredita que essa solução funciona para grandes enchentes, pois retém a água por um período, permitindo um escoamento mais lento e ajudando o rio Tietê a dar vazão às enxurradas. No entanto, ele ressalta que é uma das alternativas mais caras e menos sustentáveis. “A tendência é que esses locais acumulem lixo. Com as grandes chuvas, a água fica retida, formando um grande depósito de resíduos, e, após a chuva, ainda há todo o processo de limpeza pós-enchente”, explica.

Ele sugere que, em vez disso, poderiam ter sido criadas ou ampliadas áreas verdes com bacias de retenção e lagos, proporcionando espaços de lazer e esportes para a comunidade. “Seria uma solução mais econômica, sustentável e integrada ao meio ambiente e à população local”, conclui.

Entrevistados

Eduardo Funari é engenheiro agrônomo com especialização em Gestão Ambiental. Entre inúmeras grandes obras, tem a revitalização do Jardim Francês do Novo Museu do Ipiranga, em SP, que contou com descarte autossustentável, e a execução do projeto de Burle Marx no Museu do Amanhã, no RJ.

Giovanni Gallo é engenheiro civil, com mais de 15 anos de atuação no mercado da construção civil. 

Contato

Eduardo Funari – Assessoria de imprensa – 

Giovanni Gallo – giovanni@sindicosp.com


Jornalista responsável: 
Marina Pastore – DRT 48378/SP 
Vogg Experience 

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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