Empreendedorismo no Brasil
Pesquisas revelam a alta capacidade de empreendedorismo do brasileiro, mas em termos de educação empreendedora ainda há muito chão pela frente
Pesquisas revelam a alta capacidade de empreendedorismo do brasileiro, mas em termos de educação empreendedora ainda há muito chão pela frente
Por que tantas empresas brasileiras fecham antes de completarem cinco anos? Quais são as maiores dificuldades? O que é preciso fazer para que o empreendimento dê certo? Essas são algumas questões que vem à mente quando se fala em empreendedorismo no Brasil. Para o administrador e consultor de empresas, Jerônimo Mendes, é preciso considerar os dois tipos de empreendedores: o que abre o negócio por necessidade e o que abre por iniciativa. Geralmente quem empreende por necessidade toma uma atitude precipitada quando a pressão financeira vem. E nesse caso, a falta de planejamento e de estratégias contribui para aumentar ainda mais o índice de mortalidade das empresas.
No entanto, nesta entrevista o consultor organizacional diz que com apoio, incentivo e crédito por parte do governo e com planejamento, foco, determinação e persistência por parte dos empreendedores, o Brasil tem tudo para se tornar o país do empreendedorismo.
O Brasil é, de fato, o país do empreendedorismo?
Ainda não, mas tem tudo para se transformar no maior de todos. Temos tecnologia, demanda, força de vontade, escolas, gente para trabalhar. O que falta é apoio, incentivo e acesso ao crédito. A Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas, conhecida como Super Simples, reduziu em parte a burocracia, mas não facilitou o acesso ao crédito, conforme anunciado com toda pompa pelo Governo. O crédito continua restrito e, assim como nos Estados Unidos, creio que menos de 3% dos interessados consegue dinheiro para empreender. Você pode ter um bom plano de negócio, mas, como empreendedor iniciante, ainda não tem credibilidade e isso só se conquista depois de não precisar mais do crédito. É meio contraditório. Contudo, acredito muito no Brasil e boa parte dos nossos problemas só será resolvida com muita educação e empreendedorismo.
Há uma cultura, que é a do empregado, que se vê demitido e então decide usar seus recursos em um empreendimento, mas sem muito planejamento. Essa é a regra geral do empreendedor brasileiro ou isso está mudando?
Isso ainda existe, em menor proporção, entretanto, de uma forma ou de outra, ex-empregados continuam tentados a empenhar todos os recursos no seu negócio, muitas vezes sem o mínimo de planejamento. O fato é que planejamento demanda tempo, dinheiro e dedicação e, como regra geral, o brasileiro prefere arriscar sem planejar, imaginando que a experiência é suficiente para decolar no empreendimento e pode eliminar essa etapa. Não há nada que sobreviva sem planejamento, foco, determinação e persistência. Esses são pressupostos básicos para quem deseja empreender.
A informalidade pode ser vista como uma forma de empreendedorismo? Qual a diferença?
As pesquisas conduzidas pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor), coordenador mundial sobre a questão do empreendedorismo no mundo, consideram a informalidade também, dividindo os negócios em empreendedorismo por iniciativa e empreendedorismo por necessidade. Particularmente, como defendi no meu livro, considero empreendedor todo aquele cidadão que, independentemente das condições, tomou a iniciativa e empreendeu por conta própria e risco. A única diferença está na classificação. Empreender por iniciativa demonstra vontade de empreender e de seguir o próprio caminho, de maneira formal ou informal, e empreender por necessidade significa que você faz o que faz por uma questão de sobrevivência.
Em termos de números, a crise atual afetou o empreendedorismo no Brasil ou ela causou efeito contrário, e estimulou o empreendedorismo no país?
Os números do empreendedorismo variam de acordo com a situação econômica de cada país. Em tempos de crise, as pessoas tendem a empreender mais, pois a oferta de empregos no mercado formal de trabalho diminui. De acordo com as pesquisas do GEM, iniciadas em 1999, a relação entre iniciativa e necessidade vem se equilibrando, ou seja, as pessoas já estão empreendendo mais por iniciativa, diferente dos números obtidos no início da pesquisa quando os empreendimentos surgiam muito mais por necessidade. Nesse sentido, devemos reconhecer o trabalho do SEBRAE que tem contribuído muito para melhorar essa estatística. Acredito que existe uma consciência mundial em torno da importância do empreendedorismo e os governos sabem que não existe outra saída. Penso que ainda voltaremos aos índices anteriores da Revolução Industrial onde mais de 80% das pessoas atuavam como empreendedores nas profissões passadas de pai para filho: ferreiros, escultores, pintores, marceneiros etc. Daí a importância cada vez maior da especialização.
Em recente artigo seu, o empreendedor do futuro, o senhor afirma: o grande desafio será o empreendedorismo sustentável, integrado ao ritmo da natureza, incapaz de comprometer a sobrevivência das próximas gerações. Como conseguir isso?
Não imagino que seja possível obter essa consciência coletiva na nossa geração. Como eu sempre digo, acredito mais nos netos dos meus netos. Apesar do esforço das ONGs e de alguns países, é difícil criar uma consciência em torno da necessidade de preservação. O desequilíbrio entre consumo e a necessidade de preservação é grande. Enquanto uma minoria trabalha para estimular o consumo consciente, a grande maioria trabalha para vender mais aparelhos de TV, carros, telefones celulares, computadores etc., portanto, a única alternativa é a educação pelo exemplo que vem de casa. Se os pais não derem o exemplo, dificilmente livrarão os filhos da influência da mídia e a mídia é impiedosa, ela precisa desse desequilíbrio para sobreviver. Infelizmente, ela tem mais influência sobre o meio do que nós, entretanto, não se deve perder a esperança. Por mínimo que seja, cada um deve fazer a sua parte. E o empreendedor não pode se furtar a isso.
Qual o perfil do empreendedor brasileiro?
De acordo com o último relatório do GEM (2008), a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) foi de 12,02%. Isso significa que, de cada 100 brasileiros, 12 realizavam alguma atividade empreendedora, pelo menos até o momento da pesquisa. Dentre os 43 países pesquisados, o Brasil ficou em 13º lugar no ranking de empreendedorismo, com aproximadamente 15 milhões de empreendedores. Isso confirma a alta capacidade de empreendedorismo do brasileiro, entretanto, apesar de apresentar características positivas para empreender, como força de vontade, iniciativa, ousadia, predisposição para o risco moderado e persistência, o brasileiro atua muito na informalidade, pensa que não precisa pagar impostos, oscila muito entre a vontade de empreender e a vontade de ser empregado, continua avesso à tecnologia e não aceita ou não entende o planejamento como ferramenta de crescimento e de sustentabilidade. Em termos de educação empreendedora, temos ainda muito chão pela frente.
Há quem defenda a tese de que nossas escolas não preparam as novas gerações para o empreendedorismo, ou seja, prega-se ainda a cultura do emprego. É isso mesmo, o que precisa mudar?
De fato, não preparam. Existem poucas iniciativas nesse sentido. Somos filhos da Revolução Industrial e ainda carregamos a sina de que o emprego formal e a carteira profissional assinada são sinônimos de segurança. Os dois lados têm vantagens e desvantagens, portanto, o que importa é o foco de atuação. Ser empregado exige postura diferente de ser empreendedor. O fato é que não dá para ser empregado pensando o tempo todo em ser empreendedor e vice-versa. Primeiro, decida o que você quer, depois, empenhe toda a sua energia para fazer bem feito aquilo que, com muito trabalho e persistência, lhe dará dinheiro algum dia. Dependendo do seu posicionamento, você consegue ser feliz em qualquer um dos lados, mas precisa decidir corretamente o que quer para evitar desperdício de energia. Se dependesse de mim, o empreendedorismo seria difundido nas escolas desde a idade pré-escolar.
Quando é que o empreendedor percebe que fez a opção certa?
Não existe opção certa, existe aquela que dá certo. O tempo dirá se a opção foi correta ou não, entretanto, quanto mais o empreendimento estiver alinhado com a sua profissão, experiência e, principalmente, vocação, maior a chance de prosperar. Tudo na vida é uma questão de escolhas e quanto mais acertada a escolha, menor a dor. Por essas e outras razões é que somente 60% das empresas sobrevivem ao primeiro ano de funcionamento. Empreender e prosperar é coisa para pessoas fortes de espírito, cujo único lema é vencer ou vencer.
Qual a avaliação que o senhor faz do empreendedor que monta um negócio com a seguinte ideia: abrir um empreendimento, trabalhar por 10 anos, ganhar dinheiro, passar o negócio para frente e ir curtir a vida?
Não é tão simples assim. Qualquer negócio exige, no mínimo, de 10 a 20 anos para se consolidar. O tempo médio de vida das empresas ao redor do mundo é de 40 anos. Conta-se nos dedos quantas empresas têm mais de 40 anos. Se isto for possível e esse for o desejo do empreendedor, não vejo nada de mais. Como disse anteriormente, tudo é uma questão de escolha. Aliás, essa é a opção de muitos executivos que conheço, entretanto, quando pensam em curtir a vida, a energia não é mais a mesma e eles acabam voltando para a ativa. A essência do ser humano está no trabalho, na contribuição, na valorização e no reconhecimento. O segredo está no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Existe uma receita de sucesso para quem deseja empreender?
Penso que sim. No meu livro MANUAL DO EMPREENDEDOR (Atlas) – explorei o conhecimento de alguns pesquisadores sobre o assunto e também me baseei na minha própria pesquisa realizada com pequenos e médios empreendedores da Região Metropolitana de Curitiba e batizei de A Receita de Sucesso nos Negócios. Antes de empreender, a leitura deve ajudar na decisão, portanto, divido aqui a experiência sobre o assunto:
* Desenvolva uma estratégia convincente e clara.
* Comunique a essência da visão e da missão; não perca o principal objetivo de vista; mantenha o foco.
* Crie um diferencial nos seus produtos e serviços; é a sua vantagem competitiva.
* Não há segredos; somente o trabalho duro dará resultados.
* Nada é mais importante do que um fluxo de caixa positivo.
* Se você ensina uma pessoa a trabalhar para outras, você a alimenta por um ano; se você a estimula a ser empreendedor, você a alimenta, e a muitas outras, durante toda a vida.
* Um negócio bem-sucedido, antes de ser técnico ou financeiro, é fundamentalmente um processo humano; as pessoas são importantes.
* Realizar com o sentido de contribuir é mais importante do que ganhar dinheiro.
* A sorte favorece os que são persistentes; enquanto a sorte não vem, continue caminhando.
* A felicidade é um fluxo de caixa positivo.
Entrevistado: Jerônimo Mendes: jeronimo.mendes@consult.com.br
Administrador, Consultor e Professor Universitário
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE Curitiba/PR
Autor dos livros:
* Manual do Empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso
* Oh, Mundo Cãoporativo! Lições e Reflexões
* Benditas Muletas
Vogg Branded Content Jornalista responsável Caroline Veiga DRT/PR 04882
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