Embalagens: problema ou solução?
Toda a cadeia de produção e consumo deve se unir para tornar o uso das embalagens cada vez mais sustentável
Toda a cadeia de produção e consumo deve se unir para tornar o uso das embalagens cada vez mais sustentável
Você já parou para pensar em como seria o mundo sem embalagens? Basta olhar ao redor para perceber que as embalagens nos proporcionam tantos benefícios que é praticamente impossível imaginar nosso dia a dia sem elas.
Guilherme de Castilho Queiroz, pesquisador do Centro de Tecnologia de Embalagem CETEA, do Instituto de Tecnologia de Alimentos, órgão ligado ao governo do Estado de São Paulo, explica que, devido ao rápido crescimento da população, à industrialização e à urbanização, surgiu a necessidade de se criar embalagens capazes de dar uma vida útil maior aos produtos, prezando pela sua qualidade e facilitando o seu transporte e distribuição.
Para Luciana Pellegrino, diretora da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), as embalagens são essenciais para sustentar o modo como a sociedade está organizada. Segundo ela, as embalagens possuem diversas funções econômicas, sociais e ambientais. A função primordial é a de proteger o produto diz. Mas além da proteção, Luciana ressalta que as embalagens são importantes, pois ampliam o prazo de validade; garantem a qualidade do produto até o consumo; viabilizam a distribuição; funcionam como canal de comunicação, pois levam ao consumidor informações sobre componentes, modo de consumo e restrições do produto; reduzem o desperdício; entre tantos outros aspectos.
Embalagens degradáveis ou embalagens inertes. Qual a melhor opção?
Para o pesquisador do CETEA o foco na embalagem como vilã contra o meio ambiente não é justificável. Mas como ela é o que sobra nas mãos do consumidor ao final da cadeia produtiva, a impressão que fica muitas vezes é esta.
A atual polêmica acerca das sacolas plásticas abriu espaço para discussões sobre o uso sustentável das embalagens. Criou-se uma ilusão, por parte do consumidor, de que ele deve sempre optar por embalagens degradáveis (bio, oxi ou fotodegradáveis) diz Guilherme Queiroz. Essas pessoas acreditam que, ao retornarem à natureza, estas embalagens serão menos prejudiciais ao meio ambiente em relação às embalagens inertes (plástico, vidro, borracha, etc.). Mas isso, de acordo com Guilherme, não é uma verdade absoluta. Ele explica que, ao se decompor, esse material degradável pode causar muitos males como a poluição do ar, do solo e dos rios.
Como se costuma dizer, é preciso pensar do berço ao túmulo. É bom lembrar que, para ser produzida, a embalagem passou por todo um processo de industrialização que envolveu o uso de recursos naturais, de matérias-primas, de energia, transporte, enfim, passou por diversas etapas que, de alguma maneira, afetaram o meio ambiente. E, portanto essa embalagem deve ser descartada corretamente/seletivamente e nunca pensar na opção de jogar no meio ambiente para ser degradada diz o pesquisador. Por isso, embalagens duráveis, ou inertes, que podem ser recicladas e reutilizadas, ou que tenham seu uso prolongado, são mais benéficas. Em geral, quanto mais durável for, melhor.
Para Luciana Pellegrino o mais importante não é saber de que material é feita a embalagem, pois cada uma deve ser produzida para atender da melhor maneira possível às necessidades do produto e do próprio consumidor. O principal é saber o destino que será dado a esta embalagem, sendo ela degradável ou não.
Guilherme concorda que não há uma embalagem melhor ou pior, é preciso considerar toda a cadeia produtiva para se chegar a uma conclusão de qual embalagem é a mais adequada ao fim a que se destina. Para ele, a embalagem ideal é aquela que minimiza o desperdício (de matéria-prima, de energia, de recursos naturais, de resíduos etc.), protege o produto, e leva qualidade ao consumidor.
Segundo o pesquisador, a embalagem deve ser vista mais como uma solução do que como um problema: se não tivéssemos as embalagens que utilizamos hoje, aí sim o desperdício seria insustentável para o planeta. Ela é fundamental para o desenvolvimento econômico e social de um país. Para ele a busca constante pela otimização de todo o processo, desde a utilização dos recursos naturais até a reciclagem etc., é a melhor forma de tornar o uso das embalagens cada vez mais sustentável.
Em meio a essa discussão, os especialistas afirmam que a coleta seletiva e a reciclagem do material pós-consumo continuam sendo as melhores opções, pois mantém as matérias primas como a bauxita do alumínio, o minério de ferro do aço, a areia do vidro, o petróleo dos plásticos etc. por mais tempo à disposição da sociedade e, por isso, ser durável e não degradável é uma opção mais sustentável, inclusive em materiais renováveis como os celulósicos, pois a reciclagem como os 80% das caixas de papelão ondulado além de preservarem recursos naturais, energia etc. ainda evitam o efeito estufa devido à biodegradação em aterros que transformam a celulose em dióxido de carbono e metano.
Inovações nas embalagens
Novos hábitos exigem novos produtos e, consequentemente, novas embalagens. Quesitos como praticidade, sustentabilidade, conservação do produto e design estão em alta e a inovação desses itens é cada vez mais exigida pelos consumidores.
De acordo com a diretora da Abre, prazo de validade estendido e sistemas de abertura mais eficientes estão entre os temas mais pesquisados em relação às embalagens. As propriedades físicas e químicas da embalagem também são alvos de várias pesquisas. O objetivo é tornar as embalagens mais práticas e resistentes, impedindo o contato do produto com o meio e evitando os impactos durante a estocagem e transporte.
Os materiais utilizados atualmente, como vidro, aço, alumínio, papel, polietileno, são considerados nobres e, de acordo com os especialistas, vêm cumprindo muito bem a função a que se destinam. Mas como a busca por melhorias em todo o processo deve ser contínua, o pesquisador do CETEA cita algumas tendências:
– Utilização de matérias-primas renováveis em lugar das fontes não renováveis (como o uso da cana em substituição ao petróleo, como os plásticos de cana-de-açúcar inertes não biodegradáveis que ainda fixam carbono contribuindo contra o efeito estufa).
– Uso em menor quantidade de matérias-primas, sem que para isso se perca a qualidade da embalagem. Por exemplo, as latinhas de alumínio que estão cada vez mais finas.
– Uso de embalagens flexíveis, ou seja, que utilizam mais de um componente em sua produção, aproveitando as diferentes propriedades de cada material.
Há que se ressaltar que sustentabilidade tem tudo a ver com economia, e não só com preservação ambiental. Pois, otimizando os processos, se gasta menos com energia, consomem-se menos recursos etc. avalia Guilherme Queiroz.
Governo, indústria e consumidor devem fazer sua parte
Há mais de 15 anos o país discute uma legislação que defina os papéis de cada um em relação ao destino das embalagens. Enquanto isso está claro que o consumidor deve continuar fazendo o seu papel de consumir com responsabilidade e separar o que é reciclável. Os municípios fazendo a coleta seletiva. E a indústria investindo em melhorias no processo de fabricação e reciclagem das embalagens avalia Queiroz.
Mais informações:
www.cetea.ital.sp.gov.br
www.abre.org.br
Vogg Branded Content Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330
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