Eficiência térmica é a maior virtude do CCA

Concreto celular autoclavado foi submetido a testes pelo Cefet-MG e mostrou desempenho acima da média comparado a outros materiais.

Concreto celular autoclavado foi submetido a testes pelo Cefet-MG e mostrou desempenho acima da média comparado a outros materiais

Por: Altair Santos

Estudo realizado pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) revelou que o concreto celular autoclavado (CCA) apresentou o melhor desempenho térmico em comparação a outros materiais com características semelhantes. O teste usou blocos com a medida de 60 cm x 30 cm x 20 cm e painéis de 3 metros de comprimento, 0,55 metro de altura e 20 cm de espessura.

Conrado de Souza Rodrigues: Belo Horizonte/MG é a capital do país que mais usa o CCA em construções.

Na medição, a diferença para o ambiente externo foi de 8 graus Celsius. Além disso, o material mostrou-se uma das soluções da construção civil que apresenta melhor resistência ao fogo, podendo suportar altas temperaturas por até seis horas. Em contrapartida, o CCA equivale a 1/5 do peso do concreto armado e é, segundo a pesquisa, 30% mais leve do que a alvenaria em bloco cerâmico.

A pesquisa teve entre seus coordenadores o engenheiro civil Conrado de Souza Rodrigues, do departamento de engenharia civil do Cefet-MG.  Na entrevista a seguir, ele explica os resultados do estudo e quais as vantagens do concreto celular autoclavado, principalmente quando aplicado em construções habitacionais e empreendimentos como shopping centers. Confira:

Estudo do Cefet-MG revelou que o concreto celular autoclavado (CCA) apresentou o melhor desempenho termoacústico entre outros materiais com características semelhantes. Por que isso ocorre?
Na verdade, nossa pesquisa priorizou o desempenho térmico do CCA. Entretanto, é muito vinculado o termo conforto termoacústico porque as características que influenciam num e noutro são as mesmas. Neste caso, verificamos que o CCA tem um desempenho térmico mais adequado do que outros materiais de construção, como blocos de concreto e blocos cerâmicos. Isso ocorre por que o CCA possui um volume muito grande de poros. Em alguns casos, essa porosidade chega a 80%. Isso oferece maior dificuldade na produção de calor, o que permite construir ambientes que demandam menos energia pelo condicionamento térmico. Tanto em regiões frias, para calefação, quanto em regiões quentes, no caso do ar-condicionado.

Na pesquisa do Cefet-MG, o concreto autoclavado foi comparado com quais outros materiais?
No ponto de vista de conforto térmico, fizemos ensaios comparando CCA com blocos de concreto e elementos de alvenaria de cerâmica vermelha, conhecido como bloco cerâmico.

Para a produção de um concreto autoclavado, se exige alguma modalidade especial de cimento?
O CCA tem uma química bem diferente de um concreto convencional e do cimento convencional. Então, no processo de produção do CCA,  utilizamos como uma das matérias primas o cimento, mas ele não é o único aglomerante. Usamos também cal e gesso como parte dos aglomerantes.

Em termos de resistência, o concreto autoclavado também é um material eficiente?
A resistência do CCA está vinculada à função que ele vai cumprir. É possível produzir CCA tanto para alvenaria de vedação quanto para alvenaria estrutural. A variável principal envolvida nesta escolha da classe de resistência está relacionada à quantidade de bolhas será criada no interior do material. O material estrutural, que precisa ter uma resistência mecânica mais elevada, é produzido com um teor menor de bolhas. Consequentemente, ele terá uma densidade maior e terá reduzido eu desempenho térmico. E isso é regra: quando se busca ganho de resistência mecânica, se perde no aspecto de conforto térmico.

O concreto autoclavado é mais recomendável para áreas de vedação ou pode também ser usado em lajes?
No Brasil, ele é usado basicamente em vedação. Em outros países, ele tem múltiplas  funções. É usado para vedação horizontal, pisos, e até em sistemas de cobertura. Então, grosseiramente falando, ele pode ser utilizado em vários sistemas dentro da construção civil, e não só alvenaria de vedação estrutural.

Quanto ao uso do concreto autoclavado, ele é bem difundido na construção civil brasileira?
Ainda não. Aqui em Belo Horizonte/MG há uma produção em alta escala de CCA. Por isso, o uso do produto é facilitado. Não é raro construções prediais, shopping centers e construções industriais  usarem o material. Só que em outras cidades brasileiras a frequência do CCA em obras não é tão intensa.

Mas o concreto autoclavado pode ser usado em qualquer tipo de construção?
Como disse, construções prediais, industriais e shopping centers são empreendimentos que recebem bem o CCA.

O uso de concreto autoclavado encarece uma obra?
Se formos comparar bloco de CCA com o bloco cerâmico, ele é mais caro.  Trata-se de um material com um desenvolvimento tecnológico maior e que tem um processo de produção diferenciado, notadamente quanto à cura. A cura do material, ou seja, o ganho de resistência do material é feito em autoclave, ou seja, uma panela de pressão industrial onde o material é submetido a temperaturas e pressão elevadas. Isso aumenta o custo inicial do material. Mas ao longo do tempo, esse custo se dilui. Por quê? Porque, no caso de uma construção habitacional, ela vai manter sua funcionalidade térmica por décadas, reduzindo o custo com consumo energético. Neste aspecto, o CCA é imbatível quando comparado com outros materiais.

Onde foi criado o concreto autoclavado, quando e qual a popularidade do material fora do país?
É uma história extremamente interessante e que tem um paralelo muito grande com a nossa realidade da construção civil. O CCA foi desenvolvido na Suécia na década de 1920, em uma crise energética tremenda. Então, o governo sueco da época estabeleceu que os materiais de construção civil tinham de ser termicamente eficientes. Foi neste ambiente que o CCA foi desenvolvido. Ele foi patenteado na década de 1920 e se difundiu primeiro pela Europa. É interessante ressaltar que os processos de fabricação utilizados em países como França, Alemanha, Canadá, EUA, Brasil, Austrália e África do Sul seguem basicamente a mesma receita. São matérias primas com as mesmas características, processos de produção muito semelhantes e o material tem um desempenho muito parecido em diferentes regiões. Ele tem uma difusão muito grande, principalmente na Europa, onde existe a preocupação com a sustentabilidade na construção. Por isso, ele tende a se popularizar mais daqui para frente.

Pelo potencial termoacústico do concreto autoclavado, ele é o material ideal para edifícios residenciais e comerciais?
Principalmente para os edifícios residenciais, e no caso dos edifícios comerciais onde haja demanda de um condicionamento térmico. A aplicabilidade dele também é interessante nas construções de shopping centers, onde o condicionamento térmico é importantíssimo.

Entrevistado
Conrado de Souza Rodrigues, pesquisador e professor adjunto III do departamento de engenharia civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Currículo

– Conrado de Souza Rodrigues é graduado em engenheiro civil pela Universidade Federal de Ouro Preto (1997)
– É mestre e doutor em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999 e 2004)
– Foi pesquisador visitante no Departamento de Engenharia Civil e Geociências da Universidade de Tecnologia de Delft, Holanda (doutorado sanduíche, 2002) e no Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (pós-doutorado, 2004-2005)
– Atualmente é pesquisador e professor adjunto III do departamento de engenharia civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, onde atua nos cursos de engenharia de produção civil e mestrado em engenharia civil
– É líder do grupo de pesquisa “Materiais para Construção Sustentável”, cujas atividades enfocam, principalmente: 1) Fibrocimentos sem amianto; 2) Concreto celular autoclavado; 3) Resíduos agroindustriais como adições minerais em cimentos e concretos e; 4) Bambu como componente estrutural
– É membro da ABMTENC (Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais) e compõe o comitê técnico-científico internacional dos congressos da série NOCMAT (Non-Conventional Materials and Technologies)
Contato: crodrigues@civil.cefetmg.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330


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