Durabilidade norteia os avanços tecnológicos do pavimento de concreto
Duas referências para a pavimentação rígida na América do Sul destacam as principais inovações do setor
Pavimentos de concreto que possam suportar 50 anos sem manutenção e que tenham um ciclo de vida útil de 100 anos é o novo alvo dos pesquisadores envolvidos com essa tecnologia. Por isso, a palavra-chave é durabilidade, avaliam dois conhecidos especialistas da engenharia de pavimentos rígidos na América do Sul: o professor-doutor José Tadeu Balbo, da Escola Politécnica da USP, e Maurício Salgado Torres, do Instituto del Cemento y del Hormigón de Chile. Eles participaram recentemente do webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”, promovido pela Sociedade dos Técnicos Universitários do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul, a SUDAER, em parceria com a revista Estradas.
Em sua palestra, José Tadeu Balbo fez a defesa do pavimento de concreto com armadura contínua. Para ele, trata-se da tecnologia mais eficaz para se obter estradas altamente duráveis. Ao contrário do pavimento rígido convencional, que utiliza juntas de dilatação e barras de transferência, o PCCA (Pavimento de Concreto Continuamente Armado) reduz quase a zero o risco de fissuras. A técnica não é nova e reveste cerca de 40 mil quilômetros de rodovias nos Estados Unidos. Porém, para os padrões brasileiros, ela tornaria o projeto de uma estrada 40% mais caro. Qual seria a inovação neste caso? Segundo Balbo, o desafio é igualar o custo do PCCA ao do pavimento rígido convencional. “Em rodovias de alto tráfego, a baixa manutenção compensa o custo de projeto e de execução”, diz.
O professor-doutor da USP, que é autor do livro “Pavimentos de Concreto” (Oficina de Textos, 472 páginas), entende também que o Brasil pode ampliar a durabilidade de seus pavimentos de concreto se melhorar os processos de texturização. “O Brasil começaria inovando na pavimentação de concreto se controlasse a irregularidade. No país, existe uma dificuldade grande para atingir níveis de irregularidades aceitáveis. Uma medida simples é parar de vassourar o concreto. O correto é usar pentes para criar o gripping no concreto. Uma texturização mal feita pode responder por até 60% da irregularidade no pavimento”, alerta José Tadeu Balbo.
Pavimentos de concreto bem-sucedidos seguem os parâmetros definidos em projeto
Perguntado sobre tecnologias como pavimento de concreto permeável, uso de cimentos expansivos e a utilização de sensores que emitem ondas de baixa frequência para evitar fissuras durante o processo de cura do concreto, Balbo avalia que, por enquanto, elas estão limitadas a nichos. “O pavimento permeável é mais recomendado para ciclovias e estacionamentos. Os cimentos expansivos foram usados na Austrália e no Japão, mas o Cimento Portland e o cimento com pozolanas atendem bem projetos de pavimento rígido”, explica. Por fim, sugeriu o que se deve fazer para conseguir uma pavimentação com ciclo de vida longo. “É simples: construam pavimento em que a base dure 100 anos”, resume.
Mauricio Salgado, que é chefe da área de pavimentação do Instituto del Cemento y del Hormigón de Chile, aproveitou sua participação para expor uma tecnologia inovadora aplicada nas rodovias de baixo tráfego na região de Santiago. Trata-se da técnica das “losas cortas”. São placas cimentícias delgadas, com até 14 centímetros de espessura, e que medem 2 m x 2 m. A inovação está no fato de que não utilizam barras de transferência. “Esse projeto experimental já completou 11 anos e se mantém com bom desempenho nas rodovias secundárias de Santiago e também em trechos urbanos da capital chilena. A única vulnerabilidade que percebemos é que, em curvas acentuadas, a força exercida pelos veículos causou deslocamento das placas em alguns trechos, mas foi um problema pontual”, revela.
O engenheiro civil chileno também fez questão de destacar que o projeto de um pavimento de concreto e a execução obediente ao descritivo são decisivos para que a obra atinja a durabilidade projetada. “Existem pavimentos e pavimentos de concreto. Uns são desenhados para durar 20 anos, mas com 8 anos já exigem restauração. Outros, de fato, cumprem com o que foi definido em projeto, ou seja, duram 20 anos. Os bem-sucedidos, com certeza foram executados de acordo com os parâmetros definidos por um bom projeto. Isso é compromisso com a qualidade, com a tecnologia e com a durabilidade”, define.
Assista ao webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”
Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Avanços tecnológicos em pavimento de concreto”, promovido pela SUDAER, e com participação dos engenheiros civis José Tadeu Balbo e Maurício Salgado Torres
Contato
sudaer@daer.rs.gov.br
Jornalista responsável:
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