Desafios e soluções da engenharia civil na Infraestrutura de São Paulo

Drenagem urbana e infraestrutura de pontes, viadutos e túneis, além de obras do metrô estão em pauta

Gestão atual desenvolveu Plano Diretor para mitigação de alagamentos com base em estudos de Bacias Hidrográficas.
Crédito: Marina Pastore

Mudanças climáticas, aumento da densidade populacional e necessidade por infraestrutura que atendam requisitos de sustentabilidade e demandas específicas são alguns dos desafios enfrentados pela Engenharia Civil em todo o mundo. Em se tratando de Infraestrutura Urbana, grandes metrópoles buscam constantemente formas de coleta de dados e tratativas para melhoria de desempenho das estruturas, como o case da cidade de São Paulo, abordado no painel “Engenharia Civil na Infraestrutura Urbana: Desafios e Soluções”, apresentado durante a última edição do Concrete Show. Na ocasião, os palestrantes abordaram temas como foco em drenagem urbana e infraestrutura de pontes, viadutos e túneis, além de obras do metrô.

Planejamento de Drenagem

De acordo com Marcos Monteiro, da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras – Prefeitura de São Paulo (SIURB), a cidade de São Paulo desenvolveu um Plano Diretor de Drenagem (PDD) para mitigar alagamentos, com base em estudos de bacias hidrográficas. “Existem cadernos específicos para cada bacia, dos quais 24 já foram publicados, cobrindo cerca de 60% do território da cidade, especialmente áreas críticas. O PDD prioriza obras com base em critérios como vulnerabilidade social, população atingida, custo, e impacto das obras”, destaca.

Inspeção e Recuperação de Infraestruturas

Durante a palestra, Monteiro destacou também o programa de manutenção de viadutos. “Era uma demanda antiga do setor de engenharia, que começou em 2007 com o estudo do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), evidenciando a degradação das estruturas da cidade de São Paulo, muitas construídas nas décadas de 1940 e 1950, sem manutenção adequada. O Ministério Público firmou um acordo com a SIURB para priorizar 50 obras, mas as primeiras inspeções visuais só começaram cinco anos depois, em 2012.

Desde 2021, houve um aumento significativo nas atividades de inspeção e recuperação, com 773 inspeções visuais em 2021, 150 em 2022 e 206 em 2023, além da execução de 300 obras planejadas até o final da gestão. A SP Obras, empresa vinculada à SIURB, desenvolveu um sistema próprio para catalogar todas as estruturas, mantendo um histórico completo das inspeções e obras realizadas.

“Hoje, contamos com uma norma específica para a recuperação de pontes e viadutos, e com um sistema de gestão que permite o acompanhamento detalhado de cada unidade estrutural. Além disso, estamos desenvolvendo diretrizes para a inspeção de túneis, adaptando o texto das normas existentes e complementando com informações sobre ventilação, geotecnia e outros sistemas essenciais”, afirma Monteiro.

Distrito de Inovação e Tecnologia

Monteiro pontuou que o SIURB está desenvolvendo um distrito de inovação, liderado pela Secretaria de Inovação e Tecnologia, que contará com a participação de instituições como a USP, IPT e IPEM, fortalecendo a sinergia entre universidades, academia e gestão pública.

Com o Distrito, além do plano de recuperação de pontes e viadutos, também está sendo feito um trabalho de monitoramento das estruturas. “Realizamos uma licitação para instalar sistemas de monitoramento em grande parte das nossas estruturas. Hoje, muitas pontes e viadutos estão equipados com câmeras e sensores. Caso ocorra um incidente, como uma colisão, os sensores ativam automaticamente as câmeras, permitindo que possamos identificar o veículo responsável e buscar ressarcimento. Isso é fundamental, pois as pontes são devidamente sinalizadas com os gabaritos de passagem, mas, infelizmente, alguns motoristas ignoram essas sinalizações. Estamos também implementando um trabalho integrado com o Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH) e o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGE) para melhorar os sistemas de alerta, redes telemétricas, radares e modelos de previsão de inundação. Nosso objetivo é garantir um acompanhamento preciso e emitir alertas eficazes em situações de eventos extremos, oferecendo um atendimento rápido à população afetada e recuperando as áreas atingidas no menor tempo possível”, relata Monteiro.

Mauro Periquito, Diretor e Especialista de Prática na Kyndryl, destacou a importância da coleta de dados precisos e no uso da tecnologia adequada no contexto de Smart Cities. ”A sensorização, por exemplo, é altamente específica: um sensor para medir a elevação de um viaduto é diferente de um sensor que monitora a temperatura do asfalto ou de um aviário. A transmissão desses dados também é crucial, exigindo o uso de redes seguras e confiáveis, e a análise precisa, onde entra a inteligência artificial. Imagine usar IA para prever o afundamento de uma estrutura com base em dados históricos de 30 anos. Enquanto um engenheiro levaria horas para fazer essa análise, a IA pode fornecer resultados em segundos. No entanto, é fundamental que essas ferramentas operem em ambientes controlados, protegendo informações estratégicas”, comenta.

Além disso, Periquito pontua que o armazenamento de dados históricos é essencial para prever tendências e conservar as infraestruturas. “A tecnologia nos permite avançar de uma manutenção corretiva ou preventiva para uma manutenção baseada em condição e predição, maximizando a eficiência e prolongando a vida útil dos ativos”, defende.

Obra na Estação da Luz

Durante a palestra, Edgar Fressato Carneiro, assessor executivo da diretoria de Engenharia, Meio Ambiente e Obras da CPTM, também compartilhou informações a respeito de uma obra no metrô, na Estação da Luz. “Nos horários de pico, a estação enfrenta um grande fluxo de passageiros, com desembarques massivos de mais de 2.000 pessoas de uma só vez. Para resolver essa situação, estamos construindo um novo túnel de interligação para aliviar o congestionamento na área de transferência entre as linhas do metrô. O projeto inclui a criação de um segundo túnel, que oferecerá duas opções de direcionamento para os passageiros: uma para a linha 4-Amarela e outra para a linha 1-Azul”, afirmou.

A nova interligação, que tem 135 metros de extensão, está sendo construída parcialmente a céu aberto e, na seção que chega à linha 4-Amarela, utilizando a técnica NATM (Novo Método Austríaco de Tunelamento). Segundo Carneiro, esse é um grande desafio, mas é uma obra que, quando concluída, proporcionará maior conforto e segurança aos passageiros. 

Fontes
Marcos Monteiro, da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras – Prefeitura de São Paulo (SIURB).
Mauro Periquito, Diretor e Especialista de Prática na Kyndryl.
Edgar Fressato Carneiro, assessor executivo da diretoria de Engenharia, Meio Ambiente e Obras da CPTM.

Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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