Demanda global de areia pode aumentar em 45% e levar à escassez do material

Dentre as soluções para evitar esta situação estão o uso de fontes sustentáveis ​​de areia e monitoramento global

Crescimento da demanda por areia provavelmente será mais significativo em regiões de baixa renda, de acordo com estudo.
Crédito: Envato

Um estudo da Leiden University, na Holanda, apontou que a demanda global por areia pode aumentar em 45% até 2060. Consequentemente, este alto consumo poderá resultar na escassez do material. Atualmente, a areia é umas das principais matérias-primas da construção civil. Cerca de 32 bilhões a 50 bilhões de toneladas de areia são usadas globalmente a cada ano, principalmente para fazer concreto, vidro e eletrônicos, segundo o estudo “Impacts of Sand Mining on Ecosystem Structure, Process and Biodiversity in Rivers”. 

De acordo com os pesquisadores, o crescimento provavelmente será mais significativo em regiões de baixa renda, como a África Ocidental e Oriental, onde mais de 500% da demanda atual de areia para construção é esperada até 2060, seguida pela região sul da África (419%), Índia (294%) e áreas do sul da Ásia (269%).

Embora pareça um material abundante no planeta, o estudo alerta para o fato de que nem todo o tipo de areia é adequado para construção. É o caso, por exemplo, da areia do deserto, cujos grãos são considerados lisos demais para fazer concreto. Já a areia do mar possui níveis de cloreto muito altos para a maioria dos propósitos de construção. Com isso, a maior parte da areia adequada para a indústria vem de rios. Essa extração de areia e cascalho tem impactos de longo alcance na ecologia, infraestrutura e nos meios de subsistência das pessoas que vivem ao longo dos rios.

Um exemplo disso é a mineração de areia no Rio das Pérolas (Zhujiang), na China. Essa atividade na região baixou os lençóis freáticos, tornou mais difícil a extração de água potável e acelerou a erosão do leito do rio, danificando pontes e aterros.

Situação no Brasil

Para Fernando Mendes Valverde, presidente executivo da Associação Nacional de Produtores de Agregados para Construção (ANEPAC), não haverá uma escassez pura e simples, já que o país tem areia em abundância. Em 2020, segundo dados da ANEPAC, houve um consumo de 605 milhões de toneladas de agregados (areia + brita). Em 2021, esse número subiu para 659 milhões. E, segundo Valverde, a expectativa é de um crescimento de 5% em 2022.  

“O grande problema é o quanto a sociedade permite tirar. A questão é que vivemos numa situação de paradoxo. De um lado, há uma sociedade que cria uma demanda cada vez maior. Ao mesmo tempo, ela tenta restringir a atividade”, pontua Valverde.

Para Fernando Mendes Valverde, presidente executivo da ANEPAC, no Brasil não haverá uma escassez pura e simples, já que o país tem areia em abundância.
Crédito: Envato

No entanto, Valverde acredita que é preciso preservar para o futuro, algo que não tem sido feito. “Se levarmos em consideração a Região Metropolitana de São Paulo na década de 1970, tinha cerca de 140 portos de areia. Hoje se tiver 10 é muito. Foi feito um trabalho pelo Governo do Estado de São Paulo e o Departamento de Produção mineral para tratar da disponibilidade futura de minerais usados para construção. E, dentre eles, notou-se que a areia tinha maior probabilidade de escassez. Não a escassez física, mas limitação de exploração a curto prazo”, explica Valverde.

Na opinião de Valverde, no Brasil, o ideal seria colocar a produção de agregados dentro dos planos diretores municipais como bens de uso e ocupação do solo. “Nas décadas de 70, 80, 90, não foi feito praticamente nada para preservar esses recursos. Seria importante termos um ordenamento territorial do setor. A disponibilidade de recursos e agregados vem decrescendo por falta de planejamento – que é o ordenamento territorial. É preciso criar condições e proteger as áreas atualmente, dentro de uma legislação adequada”, pontua.

Soluções

O estudo da Leiden University propõe algumas soluções para tentar evitar a escassez de areia:

  • Fontes sustentáveis ​​de areia: devem ser identificadas novas fontes passivas de areia que não danifiquem os rios. Estes podem incluir depósitos bloqueados em sedimentos de planície de inundação que podem ser extraídos. Ou a areia presa atrás das barragens pode ser extraída com menos impacto ecológico do que a mineração.
  • Substituição: os governos locais e nacionais e as autoridades de planejamento devem incentivar um maior uso de alternativas à areia, como brita, escória e resíduos industriais (incluindo cobre, cinzas volantes e areia de fundição) e plástico reciclado. 
  • Reuso: materiais à base de areia devem ser reutilizados quando possível. É o caso, por exemplo, de resíduos de demolição e concreto que podem ser triturados e misturados ao cimento. 
  • Redução: cortar a quantidade de concreto necessária em novas estruturas também diminuiria a demanda por areia. Isso poderia ser alcançado usando materiais mais eficientes (como blocos de concreto e painéis de construção impressos com núcleos ocos). 
  • Governo: uma estrutura internacional ou multilateral para regular e controlar a extração de areia deve ser forjada entre as partes interessadas locais, organizações não governamentais, indústria, agentes da lei e governos. Órgãos internacionais devem estabelecer diretrizes globais de boas práticas para extração de areia, identificando onde a extração é e não é sustentável.
  • Educação: governos, cientistas e indústria devem divulgar informações sobre as questões da mineração de areia, incluindo aquelas relacionadas à equidade social, inclusão e gênero. 
  • Monitoramento: um programa global para coletar e compartilhar dados é imperativo para quantificar a localização e a extensão da mineração de sedimentos, bem como as variações naturais do fluxo de areia nos rios do mundo. 

Entrevistado/ Fonte

Fernando Mendes Valverde é geólogo, graduado em 1972 pela Universidade de São Paulo, com especialização em Economia Mineral pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e Mc Gill University do Canadá. Ocupou os cargos de Diretor do 2º Distrito do Departamento Nacional de Produção Mineral em São Paulo e Secretário Executivo do Pró-Minério – Programa de Apoio ao Setor Mineral da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Foi coordenador do Plano Diretor de Mineração para a Região Metropolitana de São Paulo e do Plano Plurianual para o Desenvolvimento da Mineração Brasileira, relativo às rochas de revestimento. Presta serviços desde 1997 para a ANEPAC – Associação Nacional de Produtores de Agregados para Construção, na qual ocupa o cargo de presidente executivo. 

Contato
anepac@anepac.org.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP



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