Custo da mão de obra pressiona construção civil
Falta de trabalhadores faz com que reajustes salariais ocorram bem acima da inflação. Para economista da FGV, cenário não muda a médio prazo.
Por: Altair Santos
Há pelo menos quatro anos a demanda por mão de obra na construção civil tem exercido peso cada vez maior no custo dos empreendimentos. Hoje, descontado o desembolso para a aquisição do terreno, mais de 50% do preço de um imóvel está relacionado ao gasto com trabalhadores do setor. “O peso da mão de obra nos custos da construção civil têm crescido substancialmente. Nos últimos doze meses (de maio de 2011 a maio de 2012) a força de trabalho obteve reajuste superior a 10%. Isso impacta em todo o setor”, explica Ana Maria Castelo, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas.
Na avaliação da especialista, que se dedica a analisar a conjuntura da construção civil no Brasil, os gargalos causados pela carência de trabalhadores não irão se resolver a médio prazo. “A situação hoje é clara: falta mão de obra. E a falta de mão de obra encarece a mão de obra que existe. Então, a saída é massificar a qualificação dos trabalhadores e investir em industrialização. Mas isso demanda tempo. Observa-se a preocupação do setor em investir em processos produtivos, mas isso também exige mão de obra mais qualificada”, afirma Ana Maria Castelo.
A carência de trabalhadores para a construção civil não se reflete apenas nos preços dos imóveis, mas se propaga por toda a cadeia produtiva do setor. A ponto de ela hoje ter um peso maior na medição do Índice de Confiança da Construção, da FGV. “Nas sondagens, esse item é citado pelos empresários como um empecilho na melhoria dos negócios”, diz a economista do Ibre. A maior reclamação do setor refere-se aos recorrentes atrasos nos cronogramas das obras, causados, algumas vezes, pela pressão das reivindicações e pelas consequentes greves. “Isso está diretamente ligado aos problemas com a mão de obra”, completa Ana Maria Castelo.
Na análise da especialista, não se pode culpar o setor da construção civil por não ter investido em qualificação da mão de obra quando a demanda era menor. “É difícil exigir investimento em qualificação, ou até mesmo em novos processos tecnológicos, num contexto em que não há crescimento. O cenário era outro e o impulso que a construção civil ganhou de 2008 para cá foi muito rápido. Agora, o que se percebe, é o esforço das empresas em investir para recuperar o terreno perdido. Mas isso não ocorre no ritmo necessário, pois para formar mão de obra exige tempo”, avalia.
Diante desse dilema, e do cenário de aquecimento contínuo da construção civil, Ana Maria Castelo considera que os setores representativos da mão de obra no setor continuarão a exercer pressão por mais reajustes. “Na medida em que o setor estiver aquecido, exigindo mais trabalhadores, o mercado certamente sofrerá mais demandas salariais. Nos últimos quatro anos temos visto o salário subir acima da inflação, e a tendência é que isto se mantenha”, destaca a economista, lembrando que trata-se de um cenário nacional. “Todas as regiões do país têm acusado aumento substancial nos salários dos trabalhadores da construção”, conclui.
Entrevistada
Ana Maria Castel, economista-coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) vinculado à Fundação Getúlio Vargas
Currículo
– Graduada em economia, ocupa o cargo de coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)
– Especialista na área de construção civil, é responsável pelo INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção para o Mercado) e pela Sondagem da Construção, além de coeditora da revista Conjuntura da Construção
Contato: ana.castelo@fgv.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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