Custo Brasil nutre manifestação patológica em obra
Investimentos escassos em infraestrutura, junto com projetos e licitações mal-elaborados, criam ambiente para construções propensas a problemas
Investimentos escassos em infraestrutura, junto com projetos e licitações mal-elaborados, criam ambiente para construções propensas a problemas
Por: Altair Santos
Cloretos e sulfatos não são os únicos agentes capazes de desencadear manifestações patológicas em estruturas de concreto, como pontes, viadutos e edifícios. O mau uso de recursos públicos também cria um ambiente favorável para que determinadas obras – principalmente as relacionadas à infraestrutura -, se tornem propensas a apresentar problemas. Da mesma forma, a ausência de investimento em manutenção é outro fator que alimenta as patologias. É nesse cenário que se encontram as construções públicas do país atualmente, nutrindo o que se convencionou chamar de Custo Brasil.
Essa constatação aconteceu no 11º Congresso Internacional sobre Patologia e Recuperação de Estruturas (Cinpar), ocorrido de 10 a 12 de junho nas dependências da Unisinos, em São Leopoldo-RS. A abordagem sobre a correlação entre patologias do concreto e patologias da gestão pública ocorreu na palestra do presidente do Crea-RS, o engenheiro civil Melvis Barrios Júnior, e foi reforçada pela análise do ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Ambos protagonizaram a abertura do evento. “A patologia vai além das manifestações nas estruturas das obras. Começa no tipo de licitação, que aceita materiais de baixa qualidade, projetos mal-elaborados e obras mal-executadas”, disparou Rigotto.
Melvis Barrios Junior foi além. Disse que a infraestrutura do país está mergulhada no imobilismo. ”Sem recursos, só temos uma solução: prolongar a vida útil de nossas infraestruturas, cuja maioria já está com mais de 50 anos. Aí é que entra o conhecimento técnico, e a importância de especialistas em patologias. São eles que vão encontrar soluções para esse problema”, afirmou, falando para uma plateia formada em sua maioria por estudantes de engenharia civil. Melvis Barrios disse ainda que o Brasil vive o círculo vicioso de apenas recuperar estruturas, em vez de gerar obras novas de qualidade.
Infraestrutura precisaria de R$ 1,5 trilhão
O presidente do Crea-RS apresentou o Custo Brasil para a infraestrutura do país. “Hoje, se quiséssemos construir tudo o que é preciso, teríamos que investir 500 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,5 trilhão). É uma defasagem para a qual não temos dinheiro”, comentou Melvis Barrios. Germano Rigotto completou, fazendo a seguinte abordagem: “Isto retroalimenta a dificuldade do país em conseguir entrar em um ciclo industrial. Pelo contrário, os problemas de infraestrutura fazem o Brasil passar por um processo de desindustrialização. Hoje, nossos campeões de exportação são a soja e o minério de ferro. Isso também é patologia, e também é um problema para a engenharia”.
Os dois analistas afirmaram que o pacote de concessões, anunciado recentemente pelo governo federal, não deve resolver nem 10% dos gargalos na infraestrutura do país. No entanto, avaliam que a construção de obras com qualidade já será um avanço. Para isso, alertam: é preciso o envolvimento de mão de obra qualificada e o compromisso dos organismos de fiscalização e das entidades de classe dos engenheiros para evitar que haja empreendimentos se degenerando com menos de 10 anos de uso. “A pior das patologias é a má-fé na execução da obra”, finaliza Germano Rigotto.
Entrevistados
Engenheiro civil Melvis Barrios Júnior, presidente do Crea-RS
Advogado e odontólogo Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul
Contatos
crea-rs@crea-rs.org.br
melviscrea2015@gmmail.com
contato@germanorigotto.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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