Crise fará surgir novas lideranças

Armelino Girardi acredita que as empresas passarão por mudanças internas no próximo ano.

Armelino Girardi
Armelino Girardi

Consultor em gestão e desenvolvimento de talentos humanos, e ex-presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), seção Paraná, o administrador de empresas Armelino Girardi acredita que as empresas passarão por mudanças internas no próximo ano. Segundo ele, a expressão “vestir a camisa da empresa” voltará a ser valorizada e a tendência é que surja um novo tipo de liderança dentro das corporações. Confira a entrevista:

Em sua avaliação, em cima de quais profissões as empresas vão estar mais focadas em 2009?

As áreas de gestão e de controle, assim como as de pesquisa, tendem a ser as mais bem-sucedidas no ano que vem. Tudo que lidar com reorganização e engenharia vai ganhar destaque. Como vivemos um momento de crise, as empresas precisarão investir nessas áreas. Também aposto que as profissões ligadas à construção civil e à infra-estrutura devem se manter bem ativas. Por certo, para manter a economia aquecida, o governo federal vai estimular o crescimento dessas áreas.

No que a crise deflagrada em 2008 vai alterar o comportamento das empresas na busca de profissionais?

Acho que as empresas vão contratar menos e prestar mais atenção nos recursos internos que elas têm. Não haverá muito espaço para contratações, mas em contrapartida deve haver mais investimento em talentos revelados pelas próprias empresas. A tendência é a valorização dos profissionais acima da média, até para evitar que eles sejam contratados pela concorrência.

Sob o ponto de vista de competitividade entre empresas e evolução do nível profissional dos colaboradores, no que a crise pode ser benéfica?

A crise pode ser benéfica porque as empresas vão ter, com certeza, uma redução da margem de lucro e elas vão precisar de um comprometimento maior de seus quadros. Vão precisar que as pessoas se envolvam mais com a empresa, com os objetivos da empresa, com o negócio específico, para que juntos, empresa e colaboradores, obtenham formas de fazer com que os obstáculos sejam superados. O trabalho em equipe estará valorizado. Aquela história do autoritarismo, para que as pessoas produzam mais, pode ser substituída pelo “vestir a camisa”. A crise deve fazer surgir um novo tipo de liderança dentro das empresas.

Uma das metas recentes das empresas tem sido registrar um baixo turn over (índice de rotatividade de pessoal). No quadro atual será possível perseguir essas metas?

Acredito que no próximo ano vamos ter um turn over maior. A crise, infelizmente, levará a cortes, e isso aumenta o turn over. Também há uma expectativa de que o número de pedido de aposentadorias cresça em 2009, o que também acarretará num aumento do turn over.

Como é vista uma empresa com baixo turn over pelo mercado de trabalho?

É muito bem vista. O turn over não é positivo na visão do mercado de trabalho, porque normalmente ele é provocado pela empresa. Quando se fala em turn over maior, as pessoas são mais demitidas do que pedem demissão. Então, turn over maior quer dizer que as empresas estão dispensando. Assim, quanto menor o turn over da empresa, mais ela chama a atenção do mercado de trabalho.

Qual o percentual de economia que uma empresa pode ter com um baixo nível de turn over?

Percentual eu não saberia dizer. Não sei especificar o impacto disso na economia da empresa. Mas a alta rotatividade de colaboradores gera custos. Há encargos, multas rescisórias, e isto custa caro. Com certeza, uma empresa com menor turn over gera economia para ela mesma.

Saber recrutar, selecionar, treinar e motivar ficam, então, mais realçados para as empresas no atual momento da economia?

Com certeza. Toda vez que se contrata alguém, tem de se contratar uma solução e não um problema. Então, tem que contratar certo. Por isso, precisa ser cada vez mais criterioso o papel de quem recruta, de quem faz a seleção. Quem treina, idem. O problema é que se investe muito pouco em treinamento no Brasil. Talvez a crise desperte as empresas a se voltarem para essa área do desenvolvimento. Não é só negócio, business, tem de investir no desenvolvimento das relações interpessoais. A pessoa tem de se sentir bem e motivada. E esse estímulo passa pelo bom treinamento.

Sobre programas de incentivo, como bolsas de estudos, eles tendem a crescer nas empresas a partir do momento em que elas vão buscar mais competitividade?

Sempre. As empresas precisam de pessoas preparadas e estimular uma graduação melhor de seus colaboradores é função da empresa. Eu cito recente reportagem da revista Exame, que destaca o desenvolvimento do interior de São Paulo, onde estão os grandes centros de pesquisa. A região produz 26% da riqueza do país e isso se deve ao fato de ter havido um forte investimento em educação. Então, é vital para as empresas investirem nisso. Essas pessoas estarão criando o futuro da corporação.



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