Crédito imobiliário precisa de alternativas no Brasil
Diretor-executivo de habitação da Caixa Econômica Federal avalia que dependência de recursos da poupança e do FGTS limita investimentos
Diretor-executivo de habitação da Caixa Econômica Federal avalia que dependência de recursos da poupança e do FGTS limita investimentos
Por: Altair Santos
Hoje, o valor contratado para financiar o crédito imobiliário no Brasil é de R$ 150 bilhões. Esses recursos vêm, basicamente, do que é arrecadado, por lei, das cadernetas de poupança e do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Para o diretor-executivo de habitação da Caixa Econômica Federal, Teotônio Costa Rezende, muito mais dinheiro poderia ser injetado no setor habitacional. “Esses 150 bilhões de reais, se comparado com o tamanho do PIB (Produto Interno Bruto) do país, é inexpressivo. Defendo que é preciso discutir o modelo de crédito imobiliário no Brasil”, disse o economista.
Modelo criado em 1964, o crédito imobiliário sustentado por recursos da poupança e do FGTS é quase um dogma, na opinião de Teotônio Costa Rezende. Só que ele vê alguns riscos nessa tradição. “No caso do FGTS, se economia recua, há demissões e seus recursos diminuem. No que se refere à poupança, o fluxo já é mais estável. Óbvio que a crise de 2008, nos Estados Unidos, nos mostrou que o ideal é que haja um regramento. Mas não podemos ficar dependendo só de crédito direcionado. Talvez o ideal é que poupança e FGTS financiem a produção e que budgets do mercado financiem a comercialização”, sugere.
O diretor da Caixa Econômica Federal palestrou recentemente no SindusCon-PR (Sindicato da Indústria da Construção do Paraná). Ele citou que só dois países no mundo sustentam seu financiamento imobiliário em cima do crédito direcionado: o Brasil e a Nigéria. “É preciso buscar budgets complementares. A Dinamarca tem um dos sistemas mais liberais e a relação crédito imobiliário/PIB é 146%, o maior do mundo. Talvez o Brasil pudesse pensar em covered bonds (títulos de dívida garantidos por financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais ou por empréstimos ao setor público) ou na securitização”, avalia.
Bolha imobiliária
Para Teotônio Costa Rezende, mudanças no modelo não implicariam em comprometer a sustentabilidade do sistema de financiamento imobiliário no Brasil, mas poderiam ajudar a combater o déficit habitacional mais rapidamente. “O déficit habitacional brasileiro é fortemente sustentado pela baixa renda. Há muito a fazer em habitação social. Quem desenvolver produtos e processos para este segmento terá muito a ganhar. Por isso, não entendo que adotar budgets complementares alimentariam o risco de uma bolha. Até porque, no Brasil, o Banco Central é muito proativo e conservador em suas ações, e nós muito prudentes na concessão de crédito imobiliário e muito atentos a riscos de bolha”, completa.
A Caixa Econômica Federal concede anualmente 1,2 milhão de financiamentos imobiliários. No país a relação crédito imobiliário/PIB é 8,8%. Outro dado passado por Teotônio Costa Rezende é que um mutuário leva, em média, 12 anos para liquidar seu financiamento. “Isso, depois do Plano Real, pois antes o mutuário financiava um valor de 100 mil e ao final devia 3,5 vezes a mais do que o financiamento que havia contraído”, recorda, citando que as mudanças econômicas no Brasil permitem que se pense em outras alternativas de financiamento imobiliário. “Mas sem tirar os pés do chão”, alerta.
Entrevistado
Economista, administrador e contabilista Teotônio Costa Rezende, diretor-executivo de habitação da Caixa Econômica Federal.
Contato
dehab@caixa.gov.br
Crédito Foto: Divulgação/CEF
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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