Controle de picos térmicos e lançamento do concreto foram desafios na concretagem do edifício One Tower

Um dos desafios construtivos de um prédio alto é o deslocamento vertical de materiais ao longo da torre

Edifício possui 290 metros de altura e 84 pavimentos, com quatro andares com áreas de lazer.
Crédito: Fernando Willadino

Com 290 metros de altura, quase rompendo a barreira dos supertalls, o edifício One Tower, localizado em Balneário Camboriú (SC), é um empreendimento que surpreende por todos os seus números. Entregue em dezembro de 2022, o prédio conta com 52.785,06 m² construídos, onde foram utilizados 30.909,50 m³ de concreto – o equivalente a mais de três mil e quinhentos caminhões betoneiras –, além de nove mil toneladas de aço, mais de cinco mil toneladas de contrapiso e reboco, contando ainda com a participação de mais de dois mil trabalhadores de forma direta e indireta.

A gerente de Engenharia Aplicada da FG Empreendimentos, Stephane Domeneghini, afirma que a obra começa muito antes da primeira intervenção no terreno, adquirido em 2007. “Um projeto sendo desenhado, cada nova curva, cada novo cálculo que se materializa, isso é fantástico. O que realmente pulsa é muito mais do que a gente vê”.

O One Tower é formado por 84 pavimentos, sendo 70 habitáveis. O edifício conta com dois apartamentos por andar, apresentando quatro andares com áreas de lazer com mais de 20 ambientes – sendo duas nos andares 56 e 57, figurando também com o lazer mais alto das Américas. 

Logística é o maior desafio construtivo de um prédio alto

Para a construção de imponentes estruturas de concreto, aço e vidro ao redor do mundo, é grande a demanda de sistemas construtivos arrojados e com a melhor tecnologia existente. Na fase de projeto, o cálculo estrutural e arquitetônico devem levar em consideração a área edificável do terreno bem como características do solo, para que possam garantir a resistência às milhares de toneladas de peso da própria estrutura do edifício.

O maior desafio construtivo de um prédio alto é a logística da obra, atrelada ao deslocamento vertical de colaboradores e materiais ao longo da torre. “Isso inclui elevadores de alta performance, sistema de inteligência do edifício, com bombas, válvulas, controle de acesso, para que todos os sistemas possam operar e dar segurança aos processos”, assinala.

Desafios da concretagem

Um dos desafios da construção foi, sem dúvida, a aplicação do concreto em um prédio desse porte. A Concrebras, empresa do Grupo Itambé, forneceu o concreto usinado na obra e, em relação à quantidade de caminhões, foram aplicados cerca de 4.000 caminhões de concreto.

O coordenador de Desenvolvimento Técnico da Concrebras, Jair Schwanck Esteves, afirma que, em relação aos traços, foram usados cerca de 30 tipos de traços do fck 20,0 ao 50,0, argamassa para estacas raiz, concretos especiais fluidos e autoadensáveis, sendo aplicados aditivos de última geração, sílica ativa e gelo em escamas. “Em relação ao bloco de fundação, tivemos aplicação de 2.104 m³ de concreto e foram aplicadas aproximadamente 210 toneladas de gelo, divididos em três dias de aplicação”, relata.

Para a aplicação deste concreto, estudos prévios foram realizados de forma a garantir o controle dos picos térmicos. Isso porque já se sabe que peças de grande volume de concreto estão sujeitas à geração de calor, resultante das reações de hidratação do cimento na sua fase inicial de endurecimento. “O calor gerado dentro do concreto pode ser calculado através do método de elementos finitos, utilizando as propriedades térmicas dos materiais constitutivos do concreto e as dimensões da peça”, esclarece.

Outro cuidado em relação ao projeto foi com um subproduto da geração do calor, que é a formação da “etringita tardia”, um composto secundário da hidratação do cimento e que possui capacidade potencial de expansibilidade volumétrica. “Em condições específicas, essa expansão pode causar danos na integridade da estrutura interna do concreto e, como consequência, a redução da capacidade de suporte e vida útil da estrutura”, assinala Esteves.

Crédito: Fernando Willadino

Vários estudos para atender às solicitações do projeto

Além disso, em função do período de aplicação do concreto, sendo restritivo em relação aos horários de lançamento, o concreto foi estabilizado nas três camadas, sendo feitas as camadas de ligação em concreto autoadensável, o que permite a execução de grandes volumes, obtendo uma peça final monolítica sem juntas de concretagem.

Esteves afirma que outro desafio para a estrutura de grande porte foram as solicitações de concreto de elevada resistência característica à compressão e módulo de elasticidade. Conforme a NBR 6118, o trecho inicial do diagrama de tensão-deformação do concreto pode ser considerado linear e dentro do regime elástico, onde a deformação desaparece quando cessada a carga. “Em função destas solicitações, foram realizados vários estudos com agregados da região e fora dela, para garantir as solicitações de projeto”.

Esteves afirma que outro desafio para a estrutura de grande porte foram as solicitações de concreto de elevada resistência característica à compressão e módulo de elasticidade. Conforme conceito matemático, que descreve o crescimento linear das deformações sob carregamento, a deformação desaparece quando cessada a carga. Não havendo deformações permanentes, quando a carga é retirada, o material é considerado elástico. “Em função destas solicitações, foram realizados vários estudos com agregados da região e fora dela, para garantir as solicitações de projeto”.

Leia também: Concretagem do Yachthouse é finalizada pela Concrebras

Outro know-how já adquirido pela Concrebras foi o lançamento do concreto a 290 metros de altura. Neste caso, o concreto foi previamente estudado em laboratório em relação à reologia do concreto para reduzir a tensão de cisalhamento e viscosidade, garantindo aplicação em elevadas alturas. “Ainda em relação a este concreto, foram empregados aditivos inibidores de hidratação para garantir a manutenção de trabalhabilidade do concreto durante a sua aplicação”, complementa.

Entrevistados
Stéphane Domeneghini é engenheira civil formada pela Universidade Vale do Itajaí, com MBA em Gestão de Projetos pela mesma Universidade, gerente de Engenharia Aplicada e Supertalls na FG Empreendimentos. Também integra o Instituto +BC, na área de projetos contratados pela entidade, sendo responsável pelo equilíbrio dos interesses públicos e privados para ideias de interesse urbano, com a finalidade de prover projetos de alta qualidade aos órgãos públicos.

Jair Schwanck Esteves é engenheiro civil formado pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), pós-graduado em Auditoria, Avaliações e Perícias em Engenharia (IPOG) e coordenador de Desenvolvimento Técnico da Concrebras.

Contatos:
stephane.domeneghini@fgempreendimentos.com.br
jair.esteves@concrebras.com.br

Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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