Construção civil e mercado imobiliário continuam aquecidos mesmo com a manutenção da taxa Selic elevada
Relatório da FGV mostra que empresariado se mantém otimista e a perspectiva é de que o ano encerre com bom desempenho
A taxa Selic é um dos principais referenciais para a economia e pode ser considerada a mãe de todas as outras taxas de juros, dando o tom para todas as outras taxas, seja de empréstimos, financiamentos, investimentos financeiros ou câmbio. Isso, por si só, influencia todos os mercados e pessoas em geral.
Com a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manter a taxa Selic em 10,5% ao ano, o setor da construção civil e o mercado imobiliário sentem seus reflexos, aumentando o custo do dinheiro, tanto para novos investimentos quanto para obtenção de crédito e consumo.
De acordo com Guilherme Moura, professor de Economia da FAE Centro Universitário, toda vez que a Selic aumenta, os outros indicadores de juros da economia aumentam também, encarecendo o crédito para o construtor e para o consumidor. “Se não é possível financiar ou se financiar está muito caro, acabamos não comprando. Então, a Selic vai ditar diretamente os juros que tanto o construtor quanto os consumidores pagam ao pegar dinheiro emprestado. Quanto maiores esses juros, menos se constrói e menos se compra”, observa.
Nível de confiança mantém a atividade aquecida
Porém, de acordo com o relatório “Sondagem da Construção Civil”, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em julho, o nível de confiança do empresário continua elevado, mantendo-se em 97,3 pontos, maior nível desde fevereiro deste ano (97,6 pontos). De acordo com a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, esse fator é determinante para os investimentos. “É importante olhar a confiança empresarial como um todo e do consumidor, porque na hora que os empresários e as pessoas começam a ficar muito pessimistas, eles deixam de investir. Se você está pessimista, está pouco confiante no que vai acontecer e, como consequência, não vai se comprometer com um investimento de médio e longo prazos”, observa.
De acordo com o levantamento da FGV, as empresas deverão continuar contratando, e a perspectiva de aquecimento permanece no plano dos negócios, indicando que a expectativa empresarial é de que esse cenário continuará favorável. “Com a expectativa de um mercado de trabalho forte, o crescimento da renda das famílias e a expansão da oferta de crédito imobiliário, 2024 deve fechar com bons números para o mercado imobiliário”, prevê.
Embora a taxa Selic sinalize decisões importantes, ela é uma fotografia do momento. Ana Maria aponta que o setor precisa olhar atentamente também para outros indicadores, como as taxas do BNDES, que são taxas de juros a longo prazo. “Independentemente da taxa Selic, o mercado imobiliário está aquecido, alavancado principalmente pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, cuja revisão da renda máxima para R$ 8 mil e elevação do valor do imóvel trouxe uma parcela da classe média para dentro do programa”, ressalta.
Aumento do custo do dinheiro para novos financiamentos
Embora a atividade de aquecimento observada atualmente seja reflexo do que ocorreu há 24 meses, por um ciclo de vendas passadas, a taxa Selic impacta o mercado da construção civil, aumentando o custo do dinheiro, tanto para novos investimentos quanto para a obtenção de crédito e consumo. “As taxas de financiamento ficam mais elevadas tanto para quem constrói quanto para quem deseja financiar o seu imóvel”, afirma Angela Schuchovski, administradora e planejadora financeira.
Com taxas de financiamento mais elevadas e custos maiores de insumos, é possível que, no futuro, haja uma retração na demanda por imóveis, o que pode dificultar a venda e o esvaziamento dos estoques. No entanto, é importante ressaltar que o cenário empresarial está sempre sujeito a um ambiente externo (político, econômico, social, cultural) sobre o qual há pouco ou nenhum controle. “A gestão da empresa precisa entender quais fatores externos afetam ou podem influenciar o desempenho de seu negócio e, de alguma maneira, tentar se blindar a isso com um planejamento financeiro adequado e com a elaboração antecipada de cenários diferentes para compreender como se posicionar em meio a situações adversas no futuro”, assinala.
Entrevistados
Ana Maria Castelo é mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2010 é coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getúlio Vargas/IBRE, onde comanda e desenvolve estudos e análises setoriais. É responsável pela divulgação do INCC-M e da Sondagem da Construção da FGV.
Angela Schuchovski é graduada em Administração pela FAE Centro Universitário, mestre em Estratégia e Organizações pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e planejadora financeira.
Guilherme Moura é doutor em Desenvolvimento Econômico, professor de disciplinas na área de economia e coordenador do curso de Ciências Econômicas e do Global Economics Program (GEP) na FAE Centro Universitário.
Contatos:
assessoria.fgv@insightnet.com.br
angela@pensevalor.com.br
guilherme.moura@fae.edu
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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