Congresso decifra preferência por ponte estaiada
Evento promovido pela ABECE e pela ABPE destaca que "arte de projetar" leva a um número significativo de obras que adotam modelo de estrutura.
Evento promovido pela ABECE e pela ABPE destaca que “arte de projetar” leva a um número significativo de obras que adotam modelo de estrutura
Por: Altair Santos
As pontes estaiadas se destacaram no VI Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, que aconteceu dias 27 e 28 de junho de 2013, em São Paulo. O evento, que é promovido anualmente pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e pela ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) reuniu conferencistas consagrados da engenharia nacional. Entre eles, Carlos Henrique Siqueira, João Luís Casagrande, Roberto Alves, Rui Oyamada, Fernando Rebouças Stucchi, Bruno Contarini, Catão Francisco Ribeiro e Ubirajara Ferreira da Silva, que em sua palestra destacou que a “arte de projetar” é que tem levado a um número significativo de construções de pontes estaiadas.
Segundo o vice-presidente da ABPE, as pontes estaiadas esbanjam técnica e visual e remetem a sociedade às obras clássicas do passado da engenharia, como as estruturas pênseis e em arco. Por isso, prevalecem hoje no modelo de construção de pontes e viadutos. Além disso, ele ressalta que a evolução das ferramentas de cálculo e o maior conhecimento da ciência dos materiais contribui para os projetos das pontes estaiadas. “O único risco é que elas sejam projetadas de forma indiscriminada. Quando é recomendável construir uma ponte estaiada? Para superar grandes rios, grandes depressões, áreas de navegação ou transposições de extensos vãos”, explica.
Ubirajara Ferreira da Silva revela que atualmente há dois projetos de pontes estaiadas que se destacam no Brasil. “Um tem 460 metros de vão e será construído em Santos, mas depende de questões jurídicas para ser liberada a construção. Tem também o projeto em Laguna, Santa Catarina, com o vão de 200 metros”, relata, observando que pontes estaiadas, apesar de permitirem estilos arquitetônicos maravilhosos, são estruturas caras que precisam de tecnologia e de projetos feitos por engenheiros experientes. “Na minha conferência no congresso, destaquei que uma ponte precisa contemplar quatro componentes: concepção estrutural adequada, realidade econômica, técnica construtiva e beleza”, diz, cujo título da palestra foi “Considerações técnicas em projetos e em execução de pontes em concreto”.
O engenheiro explica que é possível superar vãos extensos com projetos convencionais e mais econômicos do que os de pontes estaiadas. “Eu estou fazendo um projeto de uma ponte sobre o Rio Madeira, no Amazonas, que tem 1.100 metros de comprimento, com vão central de 170 metros e 8,6 metros de altura. É uma estrutura que não é estaiada, mas é mais econômica”, afirma Ubirajara Ferreira da Silva, alertando, porém, que é preciso não se ater apenas ao aspecto econômico para construir pontes e viadutos. Ele cita como exemplo as estruturas em pré-moldado. “Em Porto Alegre, tem um viaduto do qual eu sou crítico, pois ele foi construído todo em viga pré-moldada, em curva horizontal e em curva vertical, que é um verdadeiro absurdo”, avalia.
Pré-moldados e especialistas
Ubirajara Ferreira da Silva faz ressalvas também à utilização de vigas protendidas pré-moldadas em tabuleiros de pontes. “Eu projeto este tipo de ponte. Mas acontece que estão fazendo de uma forma que prejudica não só a economia como prejudica também a estética. Os engenheiros projetistas têm a obrigação de estudar soluções para uma ponte, antes de lançá-las. Por isso, elas são chamadas de estruturas especiais”, opina, completando que o custo do canteiro de obras e dos equipamentos para içar os pré-moldados ainda não é competitivo. “A utilização de vigas pré-moldadas exige aparelhos de apoio e canteiros de obras bastante sofisticados. Para se ter uma ideia, cada lançamento de uma viga, desde o canteiro de pré-fabricação até o posicionamento no tabuleiro, custa cerca de 30 mil reais. Isso onera muito a obra.”
O vice-presidente da ABPE alertou que a engenharia brasileira, que já bateu recordes em várias obras de pontes e viadutos, atualmente está precisando recorrer a tecnologias estrangeiras para se assessorar. “Os grandes engenheiros que tínhamos no passado, hoje contam-se nos dedos. O que nós temos são engenheiros muito teóricos e com pouca ou nenhuma experiência na área de pontes e edificações. Esse é um problema sério nas escolas de engenharia. Outra questão são as normas técnicas, que atualmente têm passado por revisões importantes por causa dos documentos internacionais. Há 30 anos o Brasil vivia uma realidade e hoje vive outra no setor de construção de pontes“, concluiu.
Leia conteúdo da conferência de Ubirajara Ferreira da Silva
Entrevistado
Ubirajara Ferreira da Silva, vice-presidente da ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas)
Currículo
– Ubirajara Ferreira da Silva é engenheiro civil graduado pela PUC-RJ, em 1960
– Tem diversos cursos de especialização em pontes de concreto, inclusive em Paris-França, na ASTEF, em 1965, e reciclagem, em 1975, na L´ATIME
– É membro da diretoria da ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) e ocupa atualmente o cargo de vice-presidente
– Trabalhou no DNER por cerca de 30 anos, na seção de obras de arte
– Projetou cerca de 600 pontes em concreto, sendo 16 executadas pela técnica de balanços sucessivos. As mais recentes foram sobre o rio Machado (RO) e rio Ariquindá (PE) em 2012
– É diretor-técnico da UFS Engenharia Ltda
Contato : ubirajarafs@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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