Concreto dosado em central também é ideal para pequenas obras
O pesquisador e engenheiro civil Paulo Helene fala sobre as vantagens para as construções
Redução de custo, diminuição de mão de obra e aumento de qualidade são algumas das vantagens obtidas pela utilização de concreto dosado em central, já que a quantidade de cada material é feita de forma controlada, dentro das especificações técnicas.
Por que, então, há obras que não optam por esse sistema? “Há projetos muito grandes de elevado volume que se justificam montando uma central de concreto exclusiva, dentro do canteiro de obras, e, a meu ver, continuam sendo obras que consomem concreto dosado em central”, afirma o professor Paulo Helene, que é engenheiro civil, educador, pesquisador e diretor da PhD Engenharia.
“Outras muito específicas, como uma pequena obra de engenharia no interior de um hospital ou de uma escola onde não há acesso viável de bombas e caminhões, optam por fazer concreto no local. As pequenas obras de autoconstrução, aos poucos, também estão percebendo as vantagens do concreto dosado em central e, muitas delas, na grande São Paulo, já o consomem”, completa.
O especialista diz que o concreto dosado sem controle de umidade, sem balanças e sem ensaios são chamados concretos informais, sem participação da engenharia e destinados a obras de pequeno porte ou pouca relevância. “Porém, na verdade, esse descaso na produção representa uma economia falsa, pois os prejuízos futuros devidos à heterogeneidade, baixa qualidade, reduzida durabilidade e alta deformidade acabam comprometendo o desempenho e a sustentabilidade a médio e longo prazo.”
Para efeito de comparação, Paulo Helene conta que há mais de 30 anos o concreto das calçadas das ruas de Toronto, no Canadá, deve ter fck (resistência característica à compressão) superior a 35 MPa. “Citei Toronto como exemplo, mas poderia citar muitas outras cidades. Calçada de países desenvolvidos devem respeitar os cidadãos e dar preferência à qualidade e mobilidade. Isso só é viável com uso intensivo de concreto dosado em central”, diz o professor.
“Na indústria de artefatos de concreto e na indústria de pré-moldados, os concretos, estruturais ou não, são produzidos no canteiro, mas as exigências de controle de umidade, os limites de desvios e tolerâncias de massa, no traço, são equivalentes ao praticado nas centrais comerciais, ou seja, não se costuma fazer diferenças.”
Normas e propriedades fundamentais
Sobre as normais atuais, no caso do Brasil, o concreto estrutural deve ter fck igual ou acima de 25 MPa – e o concreto com fck acima de 20 MPa deve, necessariamente, ser produzido com controles de umidade e de massa, em balanças técnicas, além de se amassado em betoneiras de alta eficiência que garantam a uniformidade da mistura. “Em outras palavras, todos esses concretos devem ser produzidos em centrais dosadoras ou misturadoras de concreto.”
Ao optar pela dosagem em central, os responsáveis pelas obras precisam, ainda assim, ficar de olho no processo como um todo. “Em geral, as duas propriedades fundamentais são resistência à compressão do concreto endurecido, fck e trabalhabilidade do concreto fresco, expressa pela consistência ou fluidez, e limite do diâmetro máximo do agregado graúdo”, detalha o especialista.
“Além dessas propriedades básicas, é fundamental a durabilidade, que é mais complexa e pode ser expressa de várias formas: exigir certa natureza de agregados, exigir agregados não reativos, exigir cimentos com certas adições, exigir certas adições no traço, controlar relação água-aglomerantes máxima, evitar cura térmica elevada, reduzir calor de hidratação, classificar o grau de agressividade do meio, segundo a ABNT NBR 12655, indicar aditivos especiais, limitar volume máximo de água por m3 em 175 l, para reduzir risco de retração etc.”, explica Paulo Helene.
Ele completa dizendo que, em algumas ocasiões, também pode ser fundamental controlar a pega do concreto, dando mais tempo às operações de transporte e adensamento. “Em certos casos, pode ser necessário controlar e reduzir deformações, ou seja, exigir módulo de elasticidade alto, o que implica em verdadeiros desafios em certas regiões do país onde os agregados não são os ideais.”
Fonte
Paulo Helene, engenheiro civil, educador, pesquisador e diretor da PhD Engenharia
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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