Concreto cumpre lado social com cisternas no nordeste
Construções são essenciais para a sobrevivência na região do semiárido e as próprias famílias são estimuladas a atuar na obra
Construções são essenciais para a sobrevivência na região do semiárido e as próprias famílias são estimuladas a atuar na obra
Por: Altair Santos
A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) elegeu no final de agosto de 2017 o Cisternas no Sertão como o mais relevante programa no combate à desertificação em todo o mundo. O prêmio é uma parceria entre a UNCCD e a ONG internacional World Future Council, que escolheu o Cisternas no Sertão pela promoção de acesso à água para o consumo humano e para a produção de alimentos por meio de tecnologias sociais simples e de baixo custo.
O programa foi implantado em 2008 pela Casa da Mulher do Nordeste, que em nove anos viabilizou 5.600 cisternas no sertão do Pajeú, no semiárido de Pernambuco. O público-alvo são famílias de agricultores de baixa renda atingidas pela seca ou pela falta regular de água, além de escolas da região. Para disseminar a construção de cisternas com placas de concreto, a associação dá cursos de cisterneiros, ensinando como projetar, moldar as placas e construir as cisternas. Em média, elas conseguem armazenar de 20 mil a 50 mil litros de água.
As cisternas mais comuns são as de captação de água da chuva e de enxurrada. Ambas coletam a água da chuva. Porém, a primeira faz o armazenamento através de um sistema de canos e calhas que direcionam a chuva que cai sobre o telhado das casas para dentro do compartimento. Já a de enxurrada fica com 2/3 dela enterrados abaixo do solo e a captação é feita através de uma calçada com declive que envolve a cisterna. Quando a chuva cai, a água escorre e fica armazenada. Os dois modelos são encontrados no semiárido nordestino.
Se as cisternas são construídas com mão de obra especializada podem custar até 1.800 reais. Quando os próprios moradores são treinados, o custo cai até pela metade deste valor. No curso de cisterneiro, as famílias aprendem a montar as armaduras de ferro, a montar as placas cimentícias, a fazer a base de concreto para sustentar a cisterna, a montar as peças e a fazer a manutenção da cisterna quando pronta. “A melhor estratégia para as famílias que vivem no semiárido é armazenar água. Aprender a fazer cisternas é uma questão de sobrevivência”, diz Espedito Brito, coordenador-geral da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) – um dos organismos que ensina a construir cisternas.
Cisternas de plástico não agradaram
Para as associações que coordenam as construções de cisternas, os cursos de cisterneiros também ajudam a gerar emprego no semiárido, já que aquele que aprende o ofício passa a construir em outras localidades. “As cisternas ajudam a movimentar a economia do semiárido, e lutamos por isso. No passado recente o governo tentou intervir nessa produção, mas não foi bem-sucedido”, recorda o coordenador da ASA.
Em 2012, para atingir mais famílias, o governo federal passou a distribuir cisternas de polietileno, que saiam ao custo de 5.090 reais aos cofres públicos. O objetivo era espalhar um milhão pelo semiárido nordestino, mas apenas 300 mil chegaram ao destino de origem. No entanto, não agradaram os moradores, por apresentarem problemas de deformação por causa da incidência do sol forte, além de não conservarem o frescor da água. A distribuição gerou protestos das comunidades e foi interrompida no final de 2014.
Entrevistados
ONG Casa da Mulher Brasileira (via assessoria de imprensa)
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) (via assessoria de imprensa)
Contatos
pajeu@casadamulherdonordeste.org.br
cmn@casadamulherdonordeste.org.br
asa@asabrasil.org.br
Crédito Fotos: Comitê Betinho e Ministério do Desenvolvimento Social
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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