IPT aprimora concreto autoadensável usado em paredes
Material tende a ganhar cada vez mais mercado no Brasil, principalmente se for produzido dentro das especificações recomendadas pela ABNT NBR 15823
Material tende a ganhar cada vez mais mercado no Brasil, principalmente se for produzido dentro das especificações recomendadas pela ABNT NBR 15823
Por: Altair Santos
Pesquisadores do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura do IPT desenvolveram traço de referência para o concreto autoadensável utilizado em paredes moldadas no local da obra. O material desenvolvido contempla integralmente aos requisitos da ABNT NBR 15823:2010 – Concreto autoadensável – Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Para concreteiras e construtoras, é a chance de contar com um material dosado de acordo com suas especificações, e que apresenta ótima trabalhabilidade para aplicação no sistema construtivo de paredes moldadas no local. O projeto esteve a cargo de Alessandra Lorenzetti de Castro e Rafael Francisco Cardoso Santos, ambos do Laboratório de Materiais de Construção Civil do instituto. Na entrevista a seguir, o engenheiro civil Rafael Francisco explica os resultados da pesquisa e no que ela melhora a qualidade do concreto autoadensável aplicado na construção civil brasileira. Confira:
O que levou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) a desenvolver um estudo que levasse ao aprimoramento do concreto autoadensável usado em obras residenciais no Brasil?
A indústria brasileira da construção civil experimentou um período de grande demanda por obras no setor habitacional. Esta situação exigiu que as construtoras buscassem formas mais rápidas e eficazes de construir. Tecnologias que permitem a racionalização das obras, com qualidade, durabilidade, segurança estrutural e bom gosto estético ganharam espaço, destacando-se o sistema de paredes de concreto moldadas no local da obra. No entanto, a pesquisa desenvolvida no Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do CT-Obras/IPT verificou discordância entre o que determina a norma brasileira de concreto autoadensável (ABNT NBR 15823:2010) e as características dos materiais utilizados no mercado da construção. Diante desta problemática, o LMCC vislumbrou a necessidade de desenvolver concretos com propriedades diferenciadas, destinados à execução de paredes de concreto, principalmente aquelas moldadas no local. Assim nasceu o projeto intitulado “Produção e avaliação de concreto autoadensável para aplicação em sistemas construtivos de paredes de concreto moldadas na obra”.
Por que a preocupação específica com o concreto autoadensável moldado no local da obra?
Na indústria de materiais pré-moldados (onde o autoadensável também é utilizado) existe um controle de qualidade significativo. Na obra, diversos fatores interferem nesse controle, o que gera dificuldades em realizar a caracterização prevista na norma do material autoadensável. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material com granulometria muito fina e/ou aditivos modificadores de viscosidade.
Como a pesquisa desenvolvida no IPT fez para chegar a um concreto autoadensável com as características especificadas na NBR 15823:2010?
A funcionalidade do trabalho do IPT está em contar com um material que atende às propriedades fundamentais do concreto autoadensável: fluidez, habilidade passante e resistência à segregação. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material, através de granulometria muito fina ou aditivos modificadores de viscosidade. Para a composição do traço, foram utilizados aditivos encontrados no mercado. O grande diferencial é a quantidade e o tipo de materiais finos empregados. No caso do traço do IPT, esses materiais são, em boa parte, resíduos oriundos da britagem de rochas (finos de pedreira). Na pasta de cimento a proporção desses produtos chega a 40%.
A pesquisa do IPT tem reflexo sobre a aplicação do concreto autoadensável em outras estruturas, além da parede moldada no local?
A pesquisa realizada no IPT nos dá condição para desenvolver concretos para as diversas aplicações, além da aplicação em paredes moldadas no local. O concreto autoadensável tem a vantagem de ser facilmente aplicado nos mais diversos tipos de estruturas, visto que o atual prédio mais alto do mundo hoje, o Burj Khalifa, também ostenta o recorde de bombeamento de concreto, chegando a 605 metros de altura. Isso, graças às propriedades específicas do concreto autoadensável desenvolvido para aquela obra.
No Brasil, o uso do concreto autoadensável ainda está restrito a poucas obras ou ele já é bem popular?
O concreto autoadensável está relacionado com o aumento na produtividade, redução de mão de obra e melhoria da qualidade e da segurança do ambiente de trabalho, contribuindo com a tecnologia sustentável do concreto. Por essas e outras razões, esse concreto é cada vez mais empregado como material de construção, tanto nos setores de pré-moldados e pré-fabricados, quanto para aplicações de concreto moldado no local, caso das paredes de concreto. No entanto, no Brasil, a utilização do concreto autoadensável é incipiente, estando muito aquém do seu potencial devido. Principalmente, por causa do desconhecimento dos profissionais da construção brasileira a respeito do material. A grande parte do concreto autoadensável produzido no país é aplicada na indústria de elementos pré-moldados, mas já existem registros de sua aplicação em edifícios residenciais, principalmente em Goiânia e na região sul do país.
É possível construir edifícios com concreto autoadensável aplicado em paredes moldadas no local, até quantos andares?
O sistema pode ser empregado em diferentes tipos de edificações: casas térreas, casas assobradadas, edifícios de até cinco pavimentos-tipo, edifícios de oito pavimentos-tipo com limite para ter apenas esforços de compressão, edifício de até trinta pavimentos e, em casos especiais e específicos, edifícios com mais de trinta pavimentos.
Entrevistado
Engenheiro civil Rafael Francisco Cardoso dos Santos, engenheiro-pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura (CT-Obras) do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
Contato: ctobras@ipt.br
Crédito Foto: Divulgação/IPT
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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