Como usar a engenharia para contenção de tsunamis e erosão costeira?
Diques, barreiras marítimas e obras de engordamento de praias podem ajudar a proteger infraestrutura
A engenharia pode desempenhar um papel essencial na mitigação dos impactos causados por tsunamis e pela erosão costeira. Soluções como a construção de diques, barreiras marítimas e obras de engordamento de praias, ajudam a proteger infraestruturas, preservar ecossistemas e garantir a segurança das populações.
Como se formam os tsunamis?
Francisco Dourado, geólogo e professor da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica que as ondas de tsunami geralmente são geradas por terremotos de intensidade superior a sete pontos na escala Richter. “No entanto, não basta apenas a intensidade; o tipo de terremoto também é determinante. O maior risco de tsunamis ocorre nos terremotos convergentes. Quando as placas se encontram, uma se eleva enquanto a outra desce, empurrando a água para cima e gerando uma onda poderosa. Esse movimento vertical é o principal responsável pela formação de tsunamis significativos. Já nos terremotos divergentes (quando as placas se afastam), embora menos comuns, também pode haver deslocamento de água. Isso ocorre porque a separação das placas cria um ‘vazio’ que provoca o movimento da água. Por outro lado, os terremotos transcorrentes, onde as placas deslizam lateralmente, não geram tsunamis”, expõe o geólogo.
Como fazer a contenção e prevenção de ondas gigantes?
De acordo com Dourado, para fazer a prevenção e contenção de desastres, existem dois grandes eixos: sistemas de alerta precoce e obras físicas de contenção.
- Alerta precoce: Para prevenir os impactos de tsunamis, é fundamental identificar o tipo de terremoto, sua intensidade e características. “A partir dessas informações, modelamos as ondas para prever quais áreas serão afetadas e com que intensidade. Quanto maior o comprimento de onda, maior será a massa de água deslocada, amplificando o impacto nas regiões atingidas. Sistemas de alerta incluem sirenes e mensagens por celular, rádio ou TV, como acontece em países como Japão e Indonésia”, informa Dourado.
- Obras de contenção: Em sua maioria, são estruturas conhecidas como “monoblocos” ou barreiras, similares a diques, projetadas para impedir que as ondas atinjam o litoral. “Por exemplo, no entorno da usina nuclear de Fukushima, havia um muro alto construído especificamente para proteger a instalação. O problema em Fukushima foi que a altura da onda superou as expectativas, ultrapassando as barreiras. No Japão, essas barreiras são frequentemente chamadas de ‘muros de contenção’. São as principais obras físicas utilizadas para proteção contra tsunamis, projetadas para reduzir os danos causados pelas ondas. No entanto, como vimos em Fukushima, o planejamento precisa considerar cenários extremos para garantir sua eficácia”, pontua o geólogo.
- Soluções baseadas na natureza: É o caso, por exemplo, das faixas de manguezais que podem mitigar o impacto das ondas. “Isso foi observado em áreas da Indonésia durante o tsunami de 2004. No entanto, essas soluções reduzem, mas não eliminam os danos, especialmente diante de ondas de grande magnitude”, destaca Dourado.
Erosão costeira
Atualmente, o Brasil enfrenta um problema sério de erosão costeira, que está diretamente ligado à variação no nível médio do mar. Essa variação pode ocorrer tanto por processos naturais quanto por isostasia, que são movimentos verticais do litoral causados por fenômenos geológicos, segundo Dourado. Além disso, mudanças nas correntes marítimas contribuem para intensificar esse processo, como podemos observar em locais como Atafona, no Rio de Janeiro.
“Atafona, localizada na foz do Rio Paraíba do Sul, é um exemplo emblemático. O Paraíba do Sul, além de ser a principal fonte de água para o Rio de Janeiro e outras cidades do Estado, sofre uma redução significativa de vazão devido ao alto consumo de água ao longo de seu curso. Essa redução no fluxo de água e sedimentos enfraquece a capacidade do rio de compensar a ação das correntes marítimas, agravando a erosão costeira. Como resultado, Atafona já perdeu dezenas de quarteirões, engolidos pelo avanço do mar. Casos semelhantes ocorrem em outras partes do litoral brasileiro. Na Praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, dezenas de metros de calçadão foram destruídos há cerca de cinco anos devido à erosão. Na Barra da Tijuca, tentativas de conter a erosão por meio de obras de engenharia enfrentaram dificuldades devido à falta de licenças ambientais. Esses desafios não são exclusivos do Rio de Janeiro e se repetem ao longo do litoral brasileiro”, sugere o geólogo.
Dentre as obras de engenharia que têm sido aplicadas para mitigar os impactos da erosão, Dourado cita:
- Diques e moles, que ajudam a minimizar os efeitos das correntes marítimas sobre os sedimentos;
- Engordamento de praias, que consiste em adicionar sedimentos à faixa de areia para compensar a perda natural.
“No entanto, a eficácia dessas medidas varia. O sucesso depende de estudos aprofundados sobre a dinâmica do transporte de sedimentos na região. Em alguns casos, o sedimento depositado é removido rapidamente pela ação das ondas, tornando a solução temporária. Também é necessário observar o comportamento da praia ao longo de vários ciclos sazonais. Isso porque as características de uma praia podem variar significativamente entre o verão e o inverno. No campo do planejamento urbano, países como o Japão se destacam por integrarem ações de mitigação da erosão em suas estratégias. No Brasil, embora haja iniciativas para discutir o problema, a implementação prática é incipiente. A cidade de São Sebastião, em São Paulo, ilustra como as alterações costeiras podem forçar adaptações urbanas. Parte da cidade precisou ser deslocada devido à redução do território litorâneo. Já em Atafona, a perda de quarteirões aconteceu sem alternativas de realocação, demonstrando a gravidade da situação”, conclui.
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Entrevistado
Francisco Dourado é geólogo e professor da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Também é coordenador do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (Cepedes) da UERJ. Integra, ainda, o CENACID.
Contato: franciscodourado1975@gmail.com
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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