Como será a reconstrução de moradias após as enchentes no Rio Grande do Sul?
Entre as soluções apontadas, é preciso mapear os riscos, usar tecnologias avançadas e financiamento diferenciado
As tempestades que assolaram o Rio Grande do Sul devastaram 92,7% dos municípios, afetando 461 municípios. De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, as enchentes atingiram cerca de 2 milhões de pessoas, sendo que muitas delas se viram obrigadas a deixar suas casas. Até o momento, aproximadamente 37.328 pessoas ainda encontram-se em abrigos temporários.
O maior desafio depois que os rios retornarem a níveis aceitáveis, será a reconstrução das moradias, muitas delas inutilizadas por se encontrarem em áreas de risco ou até mesmo condenadas segundo aspectos estruturais. O geólogo e geotécnico Abdel Hach, especialista internacional em gestão e prevenção de desastres naturais, informa que as cidades atingidas por desastres naturais no Rio Grande do Sul apresentam algumas características comuns, como vulnerabilidade a inundações, deslizamentos de terra e ventos fortes.
Segundo ele, essas cidades muitas vezes possuem infraestruturas antigas, planejamento urbano inadequado e localizações em áreas de risco. De acordo com ele, muitas cidades estão situadas em áreas ribeirinhas e planícies aluviais (áreas praticamente planas), o que as torna suscetíveis a enchentes. “Além disso, parte das populações mais afetadas estão concentradas em áreas de risco devido à falta de planejamento urbano adequado”, observa.
Reconstruir as moradias exige uma abordagem multifacetada
“A abordagem ideal combina planejamento estratégico, uso de tecnologias avançadas, engajamento comunitário e colaboração entre diferentes setores da sociedade para criar comunidades mais seguras, resilientes e sustentáveis”, aponta o geólogo. Por isso, reconstruir as moradias no Rio Grande do Sul após os desastres naturais é um desafio complexo que exige uma abordagem multifacetada.
Para o especialista, que também atua com foco em mapeamento e monitoramento de áreas de risco geológico no Brasil, é importante criar um novo padrão construtivo, com utilização de materiais duráveis, técnicas de construção modernas e a integração de infraestrutura verde. Tudo isso para minimizar o impacto de futuros desastres naturais e garantir a segurança das comunidades locais.
O novo padrão construtivo deve prever a realocação de moradias de áreas de risco para locais mais seguros, evitando zonas propensas a inundações, deslizamentos e outros desastres naturais. Também é preciso integrar soluções baseadas na natureza, como parques alagáveis, telhados verdes e áreas de retenção de água, para mitigar o impacto de futuras enchentes e eventos climáticos extremos.
O geólogo, que também é conselheiro do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), afirma que a realidade impõe um novo padrão construtivo, com elevação das estruturas. “Sugiro a construção de moradias elevadas sobre plataformas, especialmente em áreas propensas a inundações, usando fundações elevadas para proteger contra eventuais enchentes”, alerta.
Uso do concreto armado e soluções modulares
Abdel Hach também defende o uso do concreto armado para as estruturas principais, devido à sua resistência e durabilidade, bem como uso do aço galvanizado para suportes estruturais, por sua resistência à corrosão e durabilidade.
“Importante também pensar em edifícios multifuncionais, cuja estrutura pode servir como abrigos de emergência durante desastres, e edifícios modulares para que possam ser facilmente montados e desmontados em casos de reconstrução”, enumera.
Exemplos bem-sucedidos no Brasil
Alguns exemplos bem-sucedidos foram citados pelo especialista, como a implantação de um amplo programa de realocação e desenvolvimento de infraestrutura resiliente em Santa Catarina, incluindo a construção de novas moradias em áreas seguras e a criação de parques alagáveis, implantados após as enchentes de 2008.
Uma das cidades beneficiadas pelo programa foi Blumenau (SC), que implantou um programa de realocação de famílias de áreas de alto risco para novas áreas desenvolvidas com infraestrutura adequada.
O pesquisador também ressalta a situação do Chile que, após o terremoto de 2010, adotou novos códigos de construção e iniciou programas de reconstrução que incluíram habitações elevadas e infraestruturas resistentes a sismos.
Outro exemplo para se inspirar é o da cidade de Teresópolis (RJ) que, após a experiência com deslizamentos de terra devastadores, criou novos conjuntos habitacionais em áreas seguras para a população que vivia em áreas de risco. “Afastar as infraestruturas dos ambientes de maior risco é uma estratégia fundamental para reduzir a vulnerabilidade a desastres naturais, o que pode ser alcançado por meio de uma combinação de planejamento urbano cuidadoso, políticas de realocação, uso de tecnologia de mapeamento e engajamento comunitário”.
Ele também afirma ser necessário incluir a comunidade no processo de planejamento e reconstrução para garantir que as soluções atendam às necessidades e desejos dos moradores, promovendo programas de educação sobre construção resiliente e preparação para desastres, capacitando a população local para lidar melhor com eventos futuros.
CBIC propõe medidas para facilitar acesso a linhas de crédito
Outra necessidade durante o processo de reconstrução das moradias será a criação de linhas de crédito e subsídios para financiamentos na reconstrução das casas. Nesse sentido, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou à Caixa Econômica Federal um conjunto de propostas com medidas emergenciais para facilitar o provimento de moradia à população e a reconstrução do Estado.
O objetivo é fomentar a construção e recuperação de moradias, apoiar a recomposição do tecido empresarial e econômico do Estado, e acelerar o retorno à normalidade social e econômica com geração de emprego e renda.
Entre as 16 medidas voltadas especialmente para o acesso ao crédito para aquisição da casa própria, a CBIC propõe a redução de juros para aquisição, construção ou recuperação de imóveis, financiamento facilitado e ágil, além de carência de seis meses em contratos ativos e novas contratações.
ENTREVISTADO
Abdel Hach é geólogo e geotécnico. Graduado em Geologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Engenharia (Geotecnia) pela Universidade de São Paulo (USP). Doutorando em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP-SP. É professor das disciplinas de Geotecnia e Geologia Aplicada junto ao Departamento de Engenharia Civil do Centro Universitário UNICURITIBA. É conselheiro do Conselho Regional de Engenharia do Estado do Paraná (Crea-PR). Tem forte atuação na área de Geologia aplicada à engenharia, com foco em prevenção de desastres naturais, segurança de barragens, mapeamento e monitoramento de áreas de risco geológico e estabilidade de taludes no Brasil e no exterior. Especialista internacional em Paleoclimatologia e Gestão e prevenção de Desastres naturais.
Contato: abdel.hach@gmail.com
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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