Monitoramento virtual: sinônimo de qualidade na obra
Palestra na Construsul mostra que inovações tecnológicas trazem resultados rápidos para a construção civil
No 7º Seminário de Tecnologia e Inovação da Construção Civil, que aconteceu dentro da Construsul, em Porto Alegre-RS, uma das palestras abordou o seguinte tema: “Tecnologia apoiando o gerenciamento e monitoramento de obras rápidas”. Concedida pela engenheira civil Renata Broering, a palestra mostrou as vantagens da aplicação da realidade virtual no canteiro de obras, com o uso de câmeras 360°, drones e robôs. Para a palestrante, não se trata de algo futurístico, mas de tecnologias já desenvolvidas no Brasil. Na entrevista a seguir, ela explica como essas mudanças vão impactar positivamente na construção civil. Confira:
A senhora palestrou recentemente no 7º seminário de inovação e tecnologia da construção. Como está a construção civil brasileira, comparada com outros setores, sob o ponto de vista de inovação e tecnologia?
A indústria da construção civil brasileira ainda tem uma cultura muito conservadora. Mudanças e novas tecnologias são vistas com desconfiança e resistência. Entretanto, a crise que acompanha o setor tem obrigado as empresas a repensarem seus processos e tecnologias, dando espaço para um novo ecossistema de empresas inovadoras no mercado.
Fora do Brasil, essas tecnologias estão bem difundidas?
Quando comparamos o Brasil com os Estados Unidos, China ou com a Europa, notamos bastante diferença. Um dos motivos é o baixo nível de escolaridade da mão de obra da construção no Brasil, apesar de termos profissionais extremamente criativos. Mas falta suporte para que as inovações sejam efetivas.
Quais os ganhos que uma construtora obtém ao implantar tecnologias em seu canteiro de obras?
Eu apresentei algumas tecnologias no seminário. Uma delas foi o tour virtual do BANIB, uma tecnologia que usa fotos em 360 graus, as quais auxiliam no monitoramento das obras e inspeções de engenharia. Isso facilita o acompanhamento e garante mais comunicação e qualidade para a construção. Outra tecnologia foi a desenvolvida pela empresa GSP+AR, uma plataforma de gerenciamento da construção que pode interagir com todos os elementos do projeto e faz a integração do HoloLens (software de realidade virtual) com o Project Online (gerenciador de projetos). A parte mais interessante desse sistema é que ele tem a capacidade de vincular os hologramas aos pacotes de trabalho. Isso faz com que todos saibam exatamente como está o trabalho em andamento. Além disso, com o uso do HoloLens é possível acompanhar os projetos com realidade aumentada. Tecnologias de monitoramento virtual ajudam as empresas a terem mais controle no processo construtivo, aumentam a colaboração técnica sobre o projeto, reduzem o retrabalho e as interferências no projeto e diminuem despesas com viagens e transparência.
Nessas tecnologias citadas, a transmissão de imagens e dados do canteiro de obras é enviada em tempo real tanto para quem faz a gestão do projeto quanto para o cliente?
Exatamente, o cliente tem acesso total e isso leva transparência e imparcialidade ao processo de gerenciamento.
Quais equipamentos são usados como suporte nesta tecnologia: câmeras, drones, robôs…?
Depende da tecnologia e da complexidade da obra. Pode ser desde um celular com câmera 360° até o escaneamento 3D com laser, acoplado a drones ou robôs. O mais importante é ter uma plataforma de gestão que converse com todos os elementos.
“Inteligência artificial já consegue analisar elementos construídos fora do que está desenhado no projeto. Isso parece algo muito futurístico, mas já é real.”
Como as tecnologias contribuem para a execução da obra, a segurança dos trabalhadores e a eliminação de desperdícios?
Com o monitoramento virtual é possível que mais profissionais tenham acesso às reais condições da obra, fazendo com que mesmo uma obra com baixo custo e baixa complexidade possa ser analisada por profissionais especialistas. Um exemplo bem simples e cotidiano é a análise dos tours virtuais por um engenheiro de segurança e um estrutural nas fases específicas de cada obra. Isso faz com que a obra tenha mais qualidade e com que o profissional que está em campo gerenciando a obra fique cada vez mais atento e capacitado para o trabalho. A SGP+AR já trabalha em uma solução de inteligência artificial para analisar através de câmeras de monitoramento se algum elemento é construído fora do que está desenhado no projeto. Isso parece algo muito futurístico, mas já é real e já estamos desenvolvendo tecnologia para isso no Brasil.
Em sua palestra na Construsul, a senhora focou nesses pontos ou fez outra abordagem. Caso sim, qual foi o foco da palestra?
Na palestra feita em Porto Alegre-RS falei sobre inovações no gerenciamento de obras rápidas e inspeções de engenharia. Neste mercado trabalhamos com grandes redes de varejo, shopping centers, bancos, supermercados, laboratórios e empresas que precisam de controle sobre suas obras, processos e ativos. Trabalhamos normalmente como um apoio da engenharia do cliente, gerenciando a obra, o projeto de expansão ou até mesmo aferindo a qualidade da manutenção técnica ou do serviço prestado. É um atendimento de confiança, onde as ações são repetitivas e geralmente a padronização precisa ser a nível nacional. Este é um ambiente onde a implantação de inovações (tecnológicas ou processuais) traz resultados financeiros em muito menos tempo que outras áreas da construção, pela natureza repetitiva do processo. Acredito que o principal é termos a responsabilidade de levar para o cliente tudo o que há de mais novo na indústria da construção, uma vez que geralmente a engenharia não é o seu “core business”. Temos que pensar na gestão dos ativos/serviços do cliente hoje e em como ele vai estar amanhã, para que a transformação digital e o uso de dados para a tomada de decisões deixem o cliente seguro e embasado. Na palestra, o foco foi inovação na gestão de obras rápidas. Falamos e demos exemplos de tecnologia de ponta, mas também falamos que inovação pode estar em facilitar e ter processos e elementos adequados para cada realidade. É importante ter retorno financeiro sobre cada tecnologia implantada, mas é ainda mais importante estar atualizado sobre o futuro da construção para fazer a escolha certa para a sua empresa e para o seu cliente.
O futuro do canteiro de obras caminha para essa direção, com amplo monitoramento tecnológico?
Com certeza. A realidade aumentada e a inteligência artificial são elementos-chaves para o aumento da produtividade e da qualidade da construção. Eu vejo que o futuro caminha para uma construção com melhor logística, menor desperdício e com os elementos construtivos adequados, a fim de que o monitoramento, a manutenção preditiva e a operação do ativo durante a vida útil da obra sejam melhorados e impactem positivamente no custo operacional e ambiental das edificações.
Isso vai exigir também mais qualificação de quem trabalha na construção civil, sobretudo dos operários, correto?
Com certeza, como em todos os setores que trabalham com tecnologia. A mão de obra deverá ter um treinamento mais específico para cada seguimento, a fim de que o setor possa ter ainda mais inovações.
Entrevistada
Engenheira civil Renata Broering, especialista em gerenciamento de projetos pela FGV, negociação e liderança pela Harvard Law School e MBA pela Fundação Dom Cabral
Contato: renatabroering@gmail.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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