Como a arquitetura de Londres mudou ao longo do reinado de Elizabeth II?
Do brutalismo ao high-tech, a capital da Inglaterra foi marcada pela diversidade de estilos nos últimos anos
Ao longo dos seus 70 anos de reinado, a Rainha Elizabeth II viu a paisagem de Londres mudar. A monarca nasceu numa Londres marcada pela arquitetura gótica muito comum na Era Vitoriana, como é o caso do Palácio de Westminster. Ao mesmo tempo, na década de seu nascimento, 1920, o modernismo estava em alta no país, inclusive como uma forma de reconstruir a Inglaterra após a 1ª Guerra Mundial. Em 2022, um dos seus últimos feitos foi a inauguração da Linha Elizabeth de metrô, em Londres, que teve uma grande preocupação com inclusão e sustentabilidade.
Veja os estilos arquitetônicos que marcaram as construções relacionadas à realeza britânica, bem como a mudança de estilos enfrentadas pela Inglaterra ao longo dos últimos 90 anos.
Década de 1950: Elizabeth assume o trono
Em 1952, com a morte do Rei George VI, a Rainha Elizabeth assumiu o poder. Este era um período pós Segunda Guerra Mundial e foi marcado, na Europa, pela reconstrução das cidades em função da destruição deixada pelos conflitos de escala mundial.
“Na Inglaterra em especial, a construção das New Towns experimentava as recentes teorias urbanas através da construção de novas cidades nos arredores de Londres, apostando em uma estrutura de organização urbana descentralizada e no controle mais ativo do desenvolvimento da cidade. É durante os anos 1950 que vemos o desenvolvimento, na Inglaterra, do que seria conhecido como brutalismo – movimento arquitetônico caracterizado pela racionalidade e funcionalidade, pela aposta na industrialização da construção e pelo uso do concreto aparente com edificações marcantes como a Hobin Hood Gardens Complex Housing, de Alison e Peter Smithson, e o Barbican Center, de Chamberlin, Powell and Bon Architects”, aponta Juliane Bellot Rolemberg Lessa, coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo na Universidade São Judas, em São Paulo.
Arquitetura plural
De acordo com Juliane, se tem uma coisa que se pode afirmar sobre o último século da arquitetura e urbanismo britânico é que se trata de um período sem predomínio de uma linguagem ou mesmo sucessão de movimentos que tenham tido algum domínio efetivo. “Durante o reinado de Elizabeth II, a arquitetura e urbanismo ingleses são marcados pelo pluralismo, dando espaço para o desenvolvimento de uma série de linguagens e propostas de diversas linhas de pensamento e crítica”, destaca Juliane.
Além do Brutalismo inglês, alguns outros movimentos se destacaram um pouco mais. “Em 1961 é fundado na Inglaterra o grupo Archigram, com Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, David Greene, Mike Webb e Dennis Crompton. Eles entendiam que a profissão estava desconexa do contexto cultural daquele momento, e propunham que a tecnologia fundamentasse a prática e a expressão arquitetônica. Os anos 1960 foram marcados pelo grande desenvolvimento tecnológico e econômico (década da corrida espacial) e pela cultura de massa (que começa a se delinerar e ganhar força), e o Archigram propunha associar esse contexto à prática arquitetônica e urbanística, levando a propostas muito ousadas e avançadas, nunca construídas, mas que tensionaram o campo disciplinar, abrindo espaço para novas formas de pensar e fazer a arquitetura”, explica Juliane
O pós-modernismo também se desenvolveu na Inglaterra – como no projeto da Ala Sainsbury na National Gallery, de Denise Scott Brown e Robert Venturi. “Mas o movimento High-tech, provavelmente por conta do caminho aberto pelo Archigram, ganhou força no Reino Unido, especialmente com a consagração de Sir Richard Rogers no cenário mundial com a construção do Centre Pompidou em Paris, resultado da vitória em concurso com projeto (1971) desenvolvido em parceria com Renzo Piano”, lembra Juliane.
Na opinião de Juliane, o que se vê na Inglaterra, em especial em Londres, reforça a citada ausência de uma a linearidade sucessória de movimentos dominantes, com estéticas que vão sendo substituídas por outras. “Apesar de o Imperial War Museum North (projeto desconstrutivista de Daniel Libeskind) poder ser considerado inspirado no movimento High Tech, esses novos monumentos contemporâneos, como o The Gherkin de Normam Foster ou mesmo The Shard de Renzo Piano, não têm conexão clara com a tradição inglesa. Essas grandes edificações de vidro e aço são decorrentes de uma certa linguagem apátrida, de escala global, que estão mais para uma prática de estímulo ao crescimento econômico local do que de fato para alguma proposta arquitetônica com fundamentação no próprio campo disciplinar”, comenta Juliane.
Futuro da arquitetura na Inglaterra
Para Juliane, o Reino Unido sempre esteve ligado ao desenvolvimento do campo disciplinar em escala ampliada. E, como potência mundial que é, deve continuar a desenvolver nomes de destaque na crítica e na proposição arquitetônica e urbanística. “A Rainha Elizabeth II foi uma monarca pouco atuante nesse sentido se comparada com seus antepassados, que deixaram cidades, palácios, catedrais, etc, como legado de suas passagens. Já o rei Charles III parece-nos que será mais atuante, uma vez que, mesmo enquanto ainda era príncipe, já demonstrava interesse na arquitetura. Porém, sua predileção por estéticas que são reproduções de movimentos de outros tempos gera debates acalorados no campo profissional, sempre crítico a esse tipo de prática. De qualquer forma, parece pouco provável que a arquitetura e urbanismo britânicos se afastem de sua tendência à inovação, de sua histórica capacidade de crítica e proposição conectadas ao contexto do momento presente”, conclui Juliane.
Entrevistada
Juliane Bellot Rolemberg Lessa é coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo na aponta Juliane Bellot Rolemberg Lessa, coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo na Universidade São Judas, em São Paulo.
Contato
Assessoria de imprensa – diogocruz@textual.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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