Casa de doméstica ganha prêmio mundial de arquitetura
Construída em alvenaria estrutural, com blocos de concreto aparente, residência custou R$ 150 mil e ganhou o Building of the Year 2016
Construída em alvenaria estrutural, com blocos de concreto aparente, residência custou R$ 150 mil e ganhou o Building of the Year 2016
Por: Altair Santos
Em 2012, a casa da empregada doméstica Dalvina Borges – conhecida na Vila Matilde, bairro da cidade de São Paulo, como dona Dalva – apresentava sérios problemas estruturais e ameaçava ruir. O filho Marcelo propôs um desafio ao escritório de arquitetura Terra e Tuma: reconstruir a casa, dentro de um orçamento de R$ 150 mil. Os arquitetos aceitaram a encomenda e com o projeto ganharam o prêmio internacional Building of the Year 2016.
Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano foram os arquitetos que estiveram à frente do projeto. Na entrevista a seguir, eles contam como foi o processo de construção da nova casa, que, com a participação de engenheiros civis, teve a alvenaria estrutural com blocos de concreto aparente como o sistema construtivo escolhido. O trio também revela quais foram os desafios da obra. Confira:
A casa construída na Vila Matilde ganhou o Building of the Year 2016. Quais os motivos que asseguraram essa premiação?
Nós não imaginávamos a repercussão nem as premiações da casa da Vila Matilde. Quando fomos procurados pelo filho da dona Dalva, apenas nos concentramos em fazer um bom projeto que atendesse à necessidade urgente de construir uma casa para ela. Foi uma grata surpresa.
Entre o primeiro contato com a dona da casa e o fim da execução da obra, quanto tempo levou?
Ela fez um primeiro contato em 2012. Mas só em meados de 2014 fizemos o projeto e a execução da obra, que finalizou por volta de maio de 2015.
Quais os maiores obstáculos para viabilizar a obra?
Os maiores obstáculos foram adequar a responsabilidade perante o orçamento ao programa da obra.
E qual era esse orçamento?
Ela teve o orçamento de R$ 150 mil (R$ 100 mil da Dona Dalva e R$ 50 mil do filho dela). Trata-se de um valor bem abaixo da média, para a cidade de São Paulo.
A casa pode ser qualificada como Habitação de Interesse Social? Caso sim, ela deixa que tipo de legado a programas como Minha Casa Minha Vida, por exemplo?
O projeto não foi pensado como habitação de interesse social, mas para atender a família. Porém, há diversas técnicas e processos utilizados, que poderiam servir em projetos como o MCMV. Nós também estamos desenvolvendo algo nessa linha para a cidade de Suzano, no interior do estado de São Paulo.
A casa usa blocos de concreto aparente. O sistema construtivo escolhido foi a alvenaria estrutural?
Sim. Optamos por esse sistema porque já tínhamos experiência com ele. A casa do Danilo, um dos sócios do escritório, também é em alvenaria estrutural – a Casa Maracanã (também premiada) -, além de outras duas construções que fizemos com esse sistema construtivo.
Por que a opção pelo bloco de concreto?
Porque é um sistema estrutural mais barato, e que garante rapidez na execução da obra. Também porque dispensa o acabamento em alvenaria, sem afetar a finalização da obra. Claro que o morador pode querer fazer um acabamento de alvenaria depois, mas se não quiser, já é possível habitar.
Foi aplicada a Norma de Desempenho na construção da casa?
Sim.
O Terra-Tuma projeta construir outras casas deste tipo?
A gente não considera a casa um “tipo” de construção, pois consideramos que cada projeto tem sua especificidade e necessidades únicas. Mas, se mais pessoas se interessarem pela construção de uma casa de alvenaria estrutural, não descartamos novos projetos. Adoraríamos fazer de museus a prédios, com esse sistema.
O trabalho serviu para desmistificar o serviço da arquitetura nas classes mais populares?
Não temos essa pretensão, mas a gente acredita que toda a repercussão colaborou com a discussão sobre a função e o papel do arquiteto numa obra, independentemente de qual tipo de projeto ele esteja envolvido.
Entrevistados
Arquitetos Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano, do escritório Terra e Tuma
Contatos
imprensa@terraetuma.com.br
contato@terraetuma.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Terra e Tuma
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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