Brasil terá 1º parque tecnológico para pesquisas da construção civil
Projeto vai custar R$ 25 milhões e conta com o apoio da CBIC, SindusCon-DF, Ademi, governo do Distrito Federal e a britânica Building Research Establishment.
Projeto vai custar R$ 25 milhões e conta com o apoio da CBIC, SindusCon-DF, Ademi, governo do Distrito Federal e a britânica Building Research Establishment
Por: Altair Santos
Foi no 83º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), ocorrido em agosto de 2011, que a construção civil brasileira recebeu uma boa notícia: a de que será erguido em Brasília o primeiro parque tecnológico voltado exclusivamente para pesquisas no setor. Batizado de Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (Pisac), o novo centro de desenvolvimento nasce de uma parceria entre o setor produtivo (representado pela CBIC, SindusCon-DF e Ademi-DF), o governo do Distrito Federal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a empresa inglesa Building Research Establishment (BRE) que tem 94 anos de experiência em desenvolvimento de pesquisa e inovação na área da construção.
O parque tecnológico vai abranger uma área de 20 mil m², dentro do campus da UnB (Universidade de Brasília) na cidade satélite do Gama, e as obras começam em 2012. O investimento inicial será de R$ 25 milhões. A ideia é que as pesquisas desenvolvidas no Pisac orientem a indústria para construções com materiais pouco poluentes, custo reduzido de água e energia e com geração de menos carbono na atmosfera. O projeto, que estará atrelado ao Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis) da UnB, prevê também a necessidade de identificar fragilidades e gargalos na cadeia produtiva, além de prospectar novos métodos de engenharia e tecnologia para a construção civil.
O Pisac terá como modelo o parque tecnológico que a Building Research Establishment (BRE) mantém em Londres, na Inglaterra. Lá existe uma pequena vila, com dez casas, onde são feitas simulações de tecnologias de adaptação para os efeitos das mudanças climáticas, a fim de testar a resistência dos mais variados materiais. Também há experiências com diferentes modelos construtivos que contemplem os conceitos de sustentabilidade e inovação. No dia da assinatura do acordo, em 10 de agosto de 2011, o presidente da BRE, Peter Bonfield, esteve em Brasília para visitar a área em que será o Parque Tecnológico (PqT) voltado exclusivamente para a construção civil.
O Brasil atualmente tem 25 parques tecnológicos em operação, 17 em fase de implantação e 32 no papel, segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). Por regiões do país, a Sudeste abriga 64% dos PqTs, enquanto Nordeste e Sul têm respectivamente, 32% e 13%. No Centro-Oeste, o primeiro a ser implantado será o Pisac, enquanto no Norte está em fase final de conclusão o Parque de Ciência e Tecnologia de Guamá, que vai ocupar uma área de 72 hectares dentro da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Belém. Os estudos deste PqT vão se concentrar em TI, energia, tecnologia do alumínio e biotecnologia.
No Brasil, o mais antigo parque tecnológico é o da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) em Campina Grande. Fundado em 1984, sua especialidade é Ciência, Tecnologia e Informação (CT&I). Atualmente, estima-se que hoje os PqTs em operação no país abriguem quase 550 empresas incubadas, gerando faturamento médio de R$ 1,687 bilhão, R$ 116 milhões em exportação e R$ 119 milhões de geração de impostos para os cofres públicos, além de 26.233 postos de trabalho. Mesmo assim, o Brasil comparece com nem 1% dos parques tecnológicos existentes no mundo, que hoje ultrapassam a marca de 1.400.
Há muito a ser fazer no Brasil, diz Anprotec
A vice-presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), Francilene Garcia, avalia que o Brasil ainda tem muito a avançar na construção de parques tecnológicos. Segundo ela, há ainda muita dependência de recursos públicos. No entanto, reconhece que houve evolução a partir da década passada, principalmente com a entrada da iniciativa privada. É o que avalia na entrevista a seguir. Confira:
A maioria dos parques tecnológicos em operação no Brasil se concentra em que tipo de pesquisa?
Há uma grande sinergia deles nas áreas de tecnologia da informação, energia, eletroeletrônica, biotecnologia, mídia e audiovisual, tecnologias limpas, petróleo e derivados, nanotecnologia e químico farmacêutica.
Boa parte dos parques tecnológicos no Brasil tem vínculos com universidades públicas. Por que isso ocorre?
Praticamente todos eles possuem vínculos com universidades públicas ou privadas. A capacidade instalada de pesquisa e desenvolvimento nas universidades brasileiras é o maior atrativo para esta parceria, facilitando o acesso dos empreendimentos inovadores ao conhecimento gerado e aos ambientes, como laboratórios e equipamentos de alta complexidade. Outro fator bastante significativo é o acesso facilitado aos profissionais altamente qualificados egressos dos cursos de graduação e pós-graduação, o que é um diferencial para startups de pesquisas.
Falta ao Brasil ter o governo como um indutor maior de pesquisa e inovação?
Essa trajetória tem sido construída pelos governos, progressivamente desde a década passada, mas ainda há muito a construir. Alguns dos avanços já foram conquistados, como o marco legal com regulamentações que incentivam a inovação e a captação de recursos provenientes dos instrumentos de fomento do Sistema de CT&I (Ciência, Tecnologia e Informação) operacionalizados por agentes como FINEP, BNDES/FUNTEC e programas de investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) vinculados a legislações específicas, tais como Lei de Informática, Lei do Petróleo e Lei de P&D em Energia.
Em relação à iniciativa privada, ela participa de programas de pesquisa em um volume considerável?
Tratando-se de projetos e implantações de parques tecnológicos, percebe-se ainda uma forte dependência de recursos públicos, com poucos investimentos privados. Em alguns casos de parques tecnológicos em operação, progressivamente começamos a ver a chegada dos investimentos privados, com destaque para as áreas imobiliárias e financeiras. É importante destacar os incentivos atuais para que empresas de médio e grande porte (em termos de faturamento) passem a investir mais em P&D. Estamos ainda iniciando tal trajetória no Brasil. Neste sentido, estamos avançando no sentido de se definir uma política nacional de apoio a parques tecnológicos, estabelecendo claramente o papel dos vários atores: governo federal, governos estaduais, governos municipais, universidades e setores industriais e financeiros.
Há muitas empresas multinacionais vindo ao Brasil para fomentar a pesquisa. Isso tende a tornar sustentável a pesquisa e a inovação no Brasil?
O Brasil tem atraído em especial centros de P&D de importantes empresas multinacionais, a exemplo do Centro de P&D da GE (General Electric) que irá se instalar na Ilha do Fundão, no parque tecnológico do Rio de Janeiro. A implantação física de tais centros mobiliza outros investimentos em CT&I, acelerando o crescimento e a inserção internacional de empresas instaladas nesses ambientes, estimulando um incremento do investimento privado. Seguindo por este caminho, certamente teremos como alavancar empreendimentos inovadores mais sustentáveis.
Na América do Sul, o Brasil já é líder em volume de parques tecnológicos e pesquisas?
Sim, o movimento brasileiro de empreendedorismo inovador está bem posicionado globalmente. A Anprotec é uma das fundadoras da World Alliance for Innovation (WAINOVA). Uma importante fonte de pesquisa sobre a realidade mundial e na América do Sul é o recém lançado Atlas Mundial da Inovação (http://www.wainova.org).
A Anprotec realiza em outubro o 21º seminário nacional de parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Qual será o foco dos debates que acontecerão no encontro?
Sob o tema “Nova Competitividade dos Territórios”, o 21º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e o XIX Workshop Anprotec abrem um espaço de reflexão onde se avalia o papel de parques e incubadoras na construção de um caminho pautado pela sinergia dos mecanismos de inovação e a conjugação de estratégias para uma sociedade mais criativa. Realizado pela Anprotec em parceria com o Sebrae, contará com a organização local do Parque Científico e Tecnológico da PUC-RS (Tecnopuc) e da Rede Gaúcha de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (Reginp). Reconhecido como um dos principais eventos do setor, o Seminário reúne os líderes e especialistas do movimento de inovação e empreendedorismo. Por meio de minicursos, palestras e debates sobre como tornar as ações em âmbito local mais integradas em um contexto regional e, ao mesmo tempo, mais competitivas, os participantes têm a oportunidade de trocar experiências e contribuir para o desenvolvimento nacional em bases sustentáveis. Outros detalhes podem ser encontrados no site do seminário: http://www.seminarionacional.com.br
Entrevistada
Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
Currículo
– Graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
– Tem mestrado em Informática e doutorado em Engenharia Elétrica
– Preside a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB), em Campina Grande (PB)
– É professora da Universidade Federal de Campina Grande desde 1989
– Integra o Conselho estadual de Ciência e Tecnologia da Paraíba
– Tem mais de 20 artigos técnico publicados e já visitou parques tecnológicos nos seguintes países: Argentina, Austrália, Bélgica, China, Cingapura, Coréia do Sul, EUA, França, Hong Kong, Reino Unido, Japão, Malásia, e Taiwan
Contato: francilenegarcia@gmail.com
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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