Brasil se prepara para a Copa do Mundo de 2014
O Massa Cinzenta inicia, em junho, uma série especial sobre as reformas e construções dos novos estádios nas 12 cidades brasileiras que irão sediar a Copa do Mundo de 2014. Acompanhe a entrevista com Marcos Monteiro, presidente da ABECE.
Doze cidades irão sediar os jogos e o setor da construção civil começa a planejar a recuperação dos estádios
Por: Vanessa Bordin – Vogg Branded Content
A partir deste mês, o Massa Cinzenta vai apresentar uma série de reportagens sobre as reformas nos estádios e a preparação do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014. Esta é a primeira matéria, abrindo a rede de informações sobre concreto e curiosidades nos estádios brasileiros. A próxima irá abordar o novo estádio de Natal (RN).
No mês de junho começam os jogos da Copa do Mundo na África do Sul, mas em quatro anos será a vez do Brasil receber as delegações internacionais. Em algumas cidades que vão sediar os jogos da Copa de 2014 os estádios já começaram a passar por reformas e em outras a FIFA determinou que fossem construídos novos prédios. E o concreto armado é um dos elementos mais sugeridos para ser utilizado nas obras.
A reforma e a construção de novos estádios no Brasil começaram em janeiro deste ano. Segundo informações da FIFA, a conclusão dos empreendimentos está prevista até dezembro de 2012, sendo que no ano seguinte o país deverá sediar a Copa das Confederações. Os estádios do Morumbi, em São Paulo, e do Mineirão, em Minas Gerais, são os alvos das grandes reformas.
Patologias do concreto
As duas primeiras etapas de reforma do Estádio Governador Magalhães Pinto – Mineirão – somam R$ 11,6 milhões, oriundos tanto do setor público como do privado, pois assim como o Maracanã, a arena é pública. No Mineirão, no entanto, estão previstos reforços estruturais, correção de patologias no concreto, rebaixamento do gramado e demolição do anel inferior da arquibancada.
Muitas foram as obras de concreto armado realizadas no país, a partir da década de 50, e o Mineirão é um exemplo. A falta de manutenção destas estruturas neste longo período causou um quadro de deteriorização que, em certos casos, tem como única solução a demolição total e a reconstrução. O fenômeno da carbonatação é um dos principais agentes nestas patologias de longo prazo. Seu aparecimento se deve principalmente à falta de cuidados na fase de construção, que tem como consequência o surgimento de porosidades, trincas e fissuras, porta aberta para a penetração de agentes agressivos como o CO2 mais presente nos grandes centros. A consequência mais grave para o concreto armado provocado pela carbonatação é a perda da proteção das armaduras e a inevitável corrosão.
Hoje em dia, porém, as tecnologias da construção civil permitem e oferecem mais durabilidade aos materiais empregados em obras de grande natureza como estádios. Pode-se reduzir ou até interromper a evolução da carbonatação, por exemplo, por meio de impermeabilização. Porém, todos os cuidados do processo de concretagem devem ser observados para garantir a necessária vida útil das estruturas.
Reformas do Mineirão
A reforma do estádio será feita em três etapas:
– A primeira será feito um reforço na estrutura das bases de sustentação e na cobertura do estádio.
– A segunda, que deve começar agora em junho, serão a modernização da arquibancada e a instalação de cadeiras.
– Por último, o rebaixamento do campo e a criação do Memorial do Esporte – espaço que irá reunir a história de todas as modalidades esportivas praticadas no estado de Minas Gerais.
O projeto vai preservar a fachada original e, além disso, vai ser construída uma área multiuso no acesso ao estádio ligando o Mineirão ao ginásio do Mineirinho para facilitar o fluxo do público.
Capacidade atual do Mineirão: Pouco mais de 75 mil torcedores, sendo o 2º maior estádio do Brasil, ficando atrás apenas do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Após reforma para a Copa de 2014: Previsão de pouco mais de 69 mil torcedores. Redução do número de assentos devido à construção das novas salas e a implementação das novas estruturas de concreto no projeto exterior.
Cidades sedes
O Brasil vai receber os jogos da Copa em 12 cidades:
– Belo Horizonte (MG)
– Brasília (DF)
– Cuiabá (MT)
– Curitiba (PR)
– Fortaleza (CE)
– Manaus (AM)
– Natal (RN)
– Porto Alegre (RS)
– Recife (PE)
– Rio de Janeiro (RJ)
– Salvador (BA)
– São Paulo (SP)
Exigências da FIFA na recuperação dos estádios
Abertura da Copa do Mundo de 2014: a previsão é que aconteça em São Paulo, no estádio do Morumbi, que deverá ter, pelo menos, 60.000 assentos.
Encerramento da Copa do Mundo de 2014: a previsão é que aconteça no Maracanã, no Rio de Janeiro, e o estádio deverá contar com mais de 80.000 lugares.
Demais estádios: precisam ter pelo menos 40.000 assentos.
Assentos nos estádios: a recomendação da FIFA é de que todos os espectadores tenham cadeiras individuais numeradas, com encosto de pelo menos 30 centímetros de altura.
Acessos: os corredores de entrada e saída devem ser largos para facilitar o acesso dos espectadores.
A tribuna de imprensa deve ser bem equipada; é recomendada a proximidade a hospitais; e estacionamento próximo a arena para atender a demanda dos torcedores.
A entrevista a seguir é com o presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE), Marcos Monteiro, que fala sobre o trabalho da ABECE em relação aos estádios brasileiros.
1 – Como está o andamento das obras em estádios para a Copa aqui no Brasil?
O setor da construção civil está muito preocupado. Aqueles problemas que estamos acostumados a encontrar em obras públicas, e que gostaríamos de não ver repetidos, já estão ocorrendo. Dificuldades nas licitações, recursos na justiça, falta de planejamento e de financiamento. Um bom exemplo é Belo Horizonte, que fez um planejamento sério, aprovado pela FIFA, e vem cumprindo seu cronograma rigorosamente. É um exemplo que deveria ser seguido pelas demais sedes.
2 – Qual é o trabalho da ABECE nesse caso? Qual a responsabilidade da entidade?
A ABECE, como entidade representativa do setor, vem participando das diversas discussões setoriais, com o objetivo de conscientizar os órgãos públicos da necessidade de que se faça um planejamento sério, não só das obras que envolvem a construção ou reforma dos estádios, mas, também, de toda a infraestrutura necessária para abrigar eventos desse porte. O grande benefício previsto pelos organizadores do evento são os legados na área de transportes, saneamento, reurbanização, entre outros. Mas, apenas com transparência na concepção, planejamento e execução é que poderemos ter certeza que esse legado será positivo.
3 – Há algum tipo de fiscalização das obras?
Esse é outro ponto de muita preocupação. Uma fiscalização adequada deve se basear nos planejamentos efetuados e nos projetos desenvolvidos. Se o planejamento é deficiente e os projetos são desenvolvidos “a toque de caixa”, todo o processo de fiscalização fica prejudicado, pois, a qualquer momento, pode-se alegar que as falhas durante a execução devem-se a deficiências do início do projeto (planejamento e projetos). Infelizmente, as sinalizações que já vêm do governo vão em outra direção: como o tempo começa a ficar escasso, já se começa a falar da liberação de contratações emergenciais, dispensa de licitação e outras medidas que podem gerar um grande passivo para o país, como já ocorreu em sedes anteriores (a Grécia, por exemplo).
4 – E com relação às intervenções em estádios?
Basicamente, temos suas situações: estádios que serão reformulados e os que serão demolidos para a construção de novas arenas. Na primeira situação, estão o Mineirão, Arena da Baixada (Curitiba), Castelão (Fortaleza), Beira-Rio (Porto Alegre), Maracanã (Rio de Janeiro) e Morumbi (São Paulo). Nesses estádios estão previstas intervenções de diversas naturezas para adequá-los às exigências da FIFA. Essas intervenções passam pela necessidade de demolição de estruturas e alteração de nível do gramado para melhorar as condições de visibilidade dos jogos, pela construção de novas arquibancadas e adequação das existentes, entre outras.
5 – Nas reformas do Mineirão, por exemplo, são estimados reforços na patologia do concreto. O senhor saberia dizer quais são essas patologias?
Como sabemos, as estruturas de concreto devem sofrer manutenções preventivas para evitar a sua deterioração. Os estádios brasileiros em geral e, em especial, os públicos, raramente têm passado por procedimentos de vistoria e manutenção preventiva. Assim, pequenos problemas na estrutura, que poderiam ser facilmente recuperados a custos baixos, com o avanço da degradação tornam-se problemas graves, de solução mais complexa e envolvendo grandes custos de recuperação. Essas intervenções vão desde a recuperação de fissuras até a necessidade de recuperação de estruturas cujas armaduras já se encontram em processo de corrosão e a necessidade de substituição do material de vedação de juntas.
6 – O que o senhor pode falar sobre o uso de concreto, nos estádios em geral, para a Copa de 2014?
Por suas próprias características de concepção e utilização, com grandes vãos, grande acesso ao público e carregamentos dinâmicos, as arenas esportivas precisam de estruturas robustas e funcionais. Por esse motivo, o concreto armado é o material preferencial para sua execução. Por outro lado, a necessidade de racionalização e de maior produtividade na execução dos estádios abrirá uma grande oportunidade para a utilização de sistemas em concreto pré-moldado. É importante salientar que, apesar de termos construído poucos estádios nos últimos anos, os projetistas estruturais brasileiros estão afinados com as tecnologias disponíveis e estão amplamente capacitados para enfrentar os desafios que serão impostos para execução dessas novas estruturas.
Veja mais uma matéria da série especial da preparação para a Copa de 2014: “Estádio de Brasília é inspirado em Niemeyer”
Entrevistado
Marcos Monteiro
-Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie
– Pós-Graduado pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)
– MBA em Engenharia pela Escola de Administração Mauá do Instituto Mauá de Tecnologia
– Professor da disciplina Estruturas de Concreto Armado I na Escola de Engenharia Mauá do Instituto Mauá de Tecnologia
– Sócio diretor da Planear Engenharia e presidente da ABECE na gestão 2008-2010
Emails: prefixocom@terra.com.br; abece@abece.com.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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