Brasil persegue o conforto térmico ideal
Rede de universidades estuda a eficiência energética de sistemas construtivos e fornece soluções à construção civil
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No Brasil, a preocupação com o conforto térmico é recente. Começou a ser levada em conta pela construção civil a partir de 2005, quando entrou em vigor a norma NBR 15220 Desempenho térmico de edificações , da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Dividida em cinco partes, ela conduziu o setor a desenvolver pesquisas sobre materiais adequados para cada tipo de clima e, sobretudo, adaptar os projetos a conceitos como fator de calor solar, ventilação cruzada e resistência térmica.
Boa parte destas novas estratégias construtivas foi desenvolvida dentro das universidades brasileiras. Programas como o RePEESC (Rede de Pesquisa em Eficiência Energética de Sistemas Construtivos), criado em 2004, e ainda em atividade, têm sido decisivos para que o país agregue conforto térmico às edificações. Uma das etapas mais importantes do projeto foi realizar estudos de materiais convencionais e novos materiais, desenvolvidos por empresas ou pelos próprios pesquisadores.
Entre as novidades, o programa desenvolveu um bloco de concreto leve, com argamassa de cimento e resíduo de EPS (poliestireno expandido) reciclado, cujo desempenho mostrou-se adequado para edificações climatizadas, como shoppings, hospitais e auditórios, proporcionando significativa redução da energia consumida por condicionadores de ar. Outro estudo envolvendo cimento foi o que produziu placas de concreto celular espumoso com diferentes densidades, além de um novo material compósito para fechamento de lajes, batizado de Iso-Blok. Constituído de concreto celular espumoso e resíduo polimérico, a inovação motivou a indústria a produzi-lo em escala comercial.
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Um dos quartéis generais das pesquisas do RePEESC é o LTC (Laboratório de Transferência de Calor) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). O centro de estudo, coordenado pelo professor George Santos Marinho, contou com a adesão de outras quatro universidades: UFPI (Universidade Federal do Piauí), UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), além do INPE-CRN (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Centro Regional do Nordeste).
O RePEESC também tem o incentivo do Programa de Tecnologia de Habitação (Programa Habitare) da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e da Caixa Econômica Federal. Por isso, os sistemas construtivos pesquisados pelas universidades envolvidas podem ser aplicados no Minha Casa, Minha Vida, desde que sigam a norma 15220 da ABNT. É importante que as normas norteiem a aprovação dos projetos, principalmente se considerarmos que a Caixa Econômica Federal está diretamente envolvida com o Programa Habitare, onde atuam pesquisadores que contribuíram para elaborar as normas sobre desempenho térmico da ABNT, avalia George Santos Marinho.
Casa Eficiente
Uma das conclusões dos estudos desenvolvidos no RePEESC é de que um bom nível de conforto térmico não pode levar em conta apenas sistemas construtivos ou o microclima de uma região. São combinações de fatores que vão determinar se a edificação foi bem ou mal sucedida no item conforto térmico. A situação ideal é aquela em que a combinação das características do meio e dos materiais resulte em conforto térmico e baixo consumo de energia, explica George Santos Marinho, de cuja opinião compartilha o professor José Antônio Bellini da Cunha Neto, da UFSC. O conforto térmico não tem só a ver com o clima. Tem a ver também com a ocupação da edificação no terreno, diz.
Por isso, a fase de projeto da obra é decisiva. Inclusive, para que a busca do conforto térmico não encareça a construção. Nesta hora, os três mandamentos básicos são:
1) Posicionar a casa corretamente no terreno.
2) Dar preferência à face norte aos ambientes que devem ser mais intensamente iluminados.
3) Conhecer as características de insolação e o regime de ventos da região.
Foi perseguindo esses conceitos que a UFSC desenvolveu, junto com a Eletrosul e a Eletrobras, o projeto Casa Eficiente. Em Florianópolis, a obra hoje é considerada uma vitrine de consumo racional de energia e conforto ambiental. A construção mostrou que a combinação de vários sistemas construtivos pode coexistir numa obra. Nela, elementos como concreto, madeira de florestamento, tijolos e telhas cerâmicas estão harmoniosamente assentados na edificação, desempenhando cada um uma função, e todos em nome do conforto térmico.

Entrevistados:
George Santos Marinho é graduado em Física pela UFRN, com doutorado em Termociências pela USP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da UFRN e Coordenador do Laboratório de Transferência de Calor da UFRN.
Email: gmarinho@ct.ufrn.br
José Antônio Bellini da Cunha Neto, pesquisador do LMTP (Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofisicas) da UFSC.
Email: bellini@lmpt.ufsc.br
Jornalista Responsável Altair Santos MTB 2330 Vogg Branded Content
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