Brasil tem centenas de patologias em fundações. Por quê?
Ausência de investigação do subsolo e ensaios inadequados são os fatores que mais desencadeiam esse problema na construção civil
Ausência de investigação do subsolo e ensaios inadequados são os fatores que mais desencadeiam esse problema na construção civil
Por: Altair Santos
O professor-doutor do departamento de engenharia civil da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Fernando Schnaid, começou sua palestra no Simpósio Paranaense de Patologia das Construções com a seguinte pergunta: existem problemas de patologias em fundações no Brasil? Ele mesmo deu a resposta: “Sim, às centenas”. E por quê? Segundo o especialista, por causa de falhas na investigação do subsolo para obras da construção civil e, em alguns casos, por ausência de qualquer tipo de ensaio.
No evento realizado no centro politécnico da UFPR, que aconteceu de 29 de maio a 2 de junho, Schnaid revelou que 6% das patologias que afetam as construções no país estão associadas a fundações. “Só 6%? Parece pouco, mas não é. A razão é que as consequências econômicas e de risco destes problemas são extraordinários frente a outras patologias, que geralmente são localizadas e cujas soluções são relativamente fáceis. Já os problemas com fundações podem gerar custos quase do tamanho da edificação a que elas dão suporte”, destaca.
O professor Fernando Schnaid lembrou que a qualidade das fundações está diretamente relacionada com os ensaios do subsolo. Mesmo assim, a ausência de investigação ainda ocorre no Brasil. “É uma prática inaceitável, mas há quem ainda faça isso. Quando? Normalmente, em edifícios de pequeno porte”, revela. Há casos em que ocorre a investigação, mas a interpretação dos resultados é errada. Segundo o especialista, este tipo de falha aumentou com a crise econômica no país.
Crise afeta geotecnia
Para Schnaid, os problemas pelos quais passa o Brasil, afetando diretamente o mercado da construção civil, têm causado degradação no serviço de análise geotécnica. “Isso se deve a uma cadeia de terceirização deste tipo de serviço, a fim de baratear custos. O que pode ocorrer, e ocorre, é que uma ponta faz boa investigação, mas a outra não sabe interpretar. E em geotecnia, as interpretações precisam passar confiança para que se possa praticar uma boa engenharia”, afirma.
Em sua palestra, o professor da UFRGS voltou a ressaltar que aspectos relacionados com a investigação das características do subsolo são a causa mais frequente de problemas com fundações. “Quem diz isso? O código europeu (EuroCode) diz, a norma francesa diz, enfim, a prática internacional diz isso. Na maioria das vezes em que ocorrem patologias em fundações, o problema não está no projeto, mas nas falhas de investigação das características do solo”, frisa Schnaid.
O especialista reforça ainda que não é por falta de tecnologia em geotecnia que esses erros ocorrem no país. “Existe uma variedade extraordinária de ensaios de subsolo no Brasil. Mas um grande número de projetos concentra-se na sondagem de simples reconhecimento (spt). Mesmo o DNIT e a Petrobras exigem apenas spt em grande parte de seus projetos. Então, é preciso ter em mente que investigações consolidadas ajudam a economizar milhões de reais, os quais, às vezes, são desperdiçados porque se queria economizar alguns milhares de reais”, finaliza.
Entrevistado
Engenheiro civil Fernando Schnaid, professor-doutor do programa de pós-graduação do departamento de engenharia civil da UFRGS, com especialidade em geotecnia e engenharia de fundações
Contato
ppgec@ppgec.ufrgs.br
Crédito Fotos: Fifa
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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