Brasil deve priorizar construção de barragens e reservatórios
País deixou de lado as políticas de estoque de água e agora enfrenta a pior crise hídrica em mais de 90 anos
A última grande usina hidrelétrica brasileira projetada para ter reservatório foi inaugurada em 1998. Trata-se da Serra da Mesa, entre Goiás e Tocantins. Depois dessa obra, o país deu prioridade para as usinas que utilizam o modelo conhecido como fio d’água. Os governos, tanto federal quanto estaduais, também reduziram sensivelmente o investimento em barragens e açudes. “De certa forma, isso explica o porquê de estarmos enfrentando essa crise hídrica”, diz Domingos Romeu Andreatta, secretário-adjunto de energia elétrica do ministério de Minas e Energia.
Domingos Andreatta, juntamente com Christianne Dias, presidente da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico do Brasil), participou do seminário “Crise hídrica e energética: qual o risco e como enfrentá-la?”, que aconteceu no 4º dia do 93º ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção). Os debatedores lembraram que a escassez hídrica deve levar a uma reflexão sobre a construção de hidrelétricas a fio d’água. Eles citaram como exemplo Belo Monte, construída no rio Xingu, no Pará. Entre o 2º semestre de 2020 e o 1º semestre de 2021, na maior parte do tempo apenas uma das 18 turbinas da usina ficou em operação por causa da seca.
Christianne Dias lembrou no debate que, apesar do Brasil ter 12% das reservas de toda a água doce do planeta, o recurso é finito. “A crise hídrica nos mostrou que é necessário termos um plano para reservar água, seja para gerar energia seja para outras finalidades. No auge do período de seca, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) precisou administrar muitos conflitos entre setor elétrico e irrigação, setor elétrico e turismo e setor elétrico e navegação”, revela. A presidente da agência também alerta que é necessário dar prioridade na agenda para as obras de saneamento básico, pois são elas que ajudam a preservar a qualidade dos rios.
Plano é reduzir dependência das hidrelétricas para menos de 50% até 2030
O secretário-adjunto de energia elétrica do ministério de Minas e Energia também anunciou no debate que está em andamento um plano para reduzir a dependência das hidrelétricas. “Vivemos a pior seca em 91 anos e precisamos estimular outras matrizes energéticas renováveis. Isso já está ocorrendo, mas pretendemos acelerar o processo. Em 2001, o sistema era 85% dependente das hidrelétricas. Hoje, é 61%. Em 2030, o objetivo é que seja menor que 50%. De que forma? Substituindo esse tipo de geração de energia por outras fontes renováveis, como a eólica e a solar”, afirma.
Outra ação do governo é estimular a entrada da iniciativa privada no setor de construção de hidrelétricas de pequeno e médio porte, a fim de abastecer o consumo das empresas e de quem vive no entorno. Hoje esse segmento já ocupa 25% da geração de energia no país. Segundo os debatedores, é necessário que sejam tomadas medidas políticas que destravem o setor de energia no país para dar protagonismo ao livre mercado. O seminário alertou ainda para o desperdício que acontece – principalmente nas grandes metrópoles -, por causa de tubulações que não recebem a manutenção correta e acabam gerando perda de água antes de chegar ao consumidor final.
Entrevistado
Reportagem com base no seminário “Crise hídrica e energética: qual o risco e como enfrentá-la?”, realizado no 4º dia do 93º ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção)
Contato
enic@cbic.org.br
Jornalista responsável:
Altair Santos MTB 2330
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