Bons e maus exemplos ajudam a evitar colapso progressivo
Caso Ronan Point, ocorrido em 1968, em Londres, foi significativo para a engenharia estrutural, assim como o atentado ao prédio do Pentágono, em 2001.
Caso Ronan Point, ocorrido em 1968, em Londres, foi significativo para a engenharia estrutural, assim como o atentado ao prédio do Pentágono, em 2001
Por: Altair Santos
Uma das sumidades nacionais em projetos estruturais, o engenheiro civil Antonio Carlos Reis Laranjeiras cita que o fenômeno conhecido como colapso progressivo é abordado pelas normas brasileiras de forma sumária e sem maiores aprofundamentos. Ele se refere à NBR 9062- estruturas pré-moldadas – e à NBR 6118 – projetos de estruturas de concreto -, que está em processo de revisão. Quando for republicada, em 2013, a nova NBR 6118 será mais abrangente para abordar os cuidados que devem se tomados para se evitar esse tipo de patologia. Porém, enquanto a norma ainda está em fase de elaboração de seu texto final, o que os engenheiros estruturais fazem é se apegar nos bons e maus exemplos para que seus projetos não passem nem perto do risco de sofrer colapso estrutural.
Recentes desabamentos ocorridos no Brasil realçaram a preocupação dos especialistas com o risco de as edificações virem a sofrer esse tipo de patologia. Por isso, atualmente, a segurança estrutural passou a ser tema de um bom número de seminários e palestras. Um dos mais recentes ocorreu no ENECE 2012 (Encontro Nacional de Engenharia Estrutural e Consultiva) onde o engenheiro Justino Vieira explicou que os riscos de colapso progressivo ocorrem, basicamente, em duas situações: na fase de execução da obra, quando o colapso pode se dar por baixa resistência do concreto, retirada prematura do escoramento ou aplicação de técnica inadequada, ou, quando o prédio já está concluído, por erros de projeto ou intervenções de terceiros na estrutura do edifício.
Justino Vieira cita um exemplo emblemático para a engenharia estrutural, que foi o caso Ronan Point. Trata-se de uma edificação construída na região oeste de Londres, que em 1968 teve parte de sua estrutura afetada por um colapso progressivo. Construído com painéis portantes pré-moldados, o prédio foi alvo de explosão de um botijão de gás localizado no 18º andar. Isso causou o desmoronamento em cadeia dos painéis portantes, trazendo abaixo uma parte do edifício. “Foi um acidente que não poderia ter atingido as proporções que atingiu, mas isso ocorreu por que os pilares e as vigas de transição falharam”, explica o engenheiro, lembrando que o colapso progressivo está ligado à desproporção entre a causa e o dano final que ela causa a uma estrutura.
A partir do caso Ronan Point, as normas britânicas vieram sofrendo revisões constantes até culminar na BS 5950-2000, que hoje é tida como referência mundial para que construções se protejam do risco de colapso progressivo. Justino Vieira cita ainda que outro bom exemplo contra esse tipo de patologia ocorreu no atentado ao Pentágono, em 2001. O fato de o prédio ter resistido a um ataque aéreo demandou estudos sobre sua estrutura, e que passaram a nortear futuros projetos. “O Pentágono tem tudo de bom que se possa imaginar. Há pilares sistemáticos, harmoniosamente distribuídos, e a estrutura é fortemente porticada. Os pilares principais contêm concreto confinado e a sobrecarga projetada é muito maior do que necessitaria”, elogia.
Outro bom exemplo, cita o especialista, está no Empire State Building, em Nova York. “É um prédio de uma robustez enorme. Por quê? Por que há redundância das estruturas. Isso se consegue projetando vigas e pilares pouco espaçados, pensando em vigas contínuas que resistam à torção, em pilares bem confinados e em lajes com armaduras anticolapso progressivo. É com uma boa conectividade horizontal e vertical que se garante a redundância das estruturas e se evita a construção de castelos de cartas”, ensina, concluindo que hoje, além de normas mais rigorosas, os engenheiros estruturais têm a tecnologia a seu favor. “Antigamente prevalecia a sensibilidade e o desconfiômetro. Hoje há softwares que avaliam esforços numa amplitude muito maior. Basta saber usá-los bem”, completa.
Entrevistado
Justino Vieira, professor na Universidade Federal Fluminense e na PUC-Rio
Currículo
– Justino Vieira é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com mestrado pela UFF
– É professor das cadeiras de sistemas isostáticos, estruturas de edifícios e complementos de concreto armado, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio e na UFF
– É associado da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) no Rio de Janeiro.
– Atua na área de projeto de edificações em concreto armado desde 1970 e é sócio da Justino Vieira Monica Aguiar Projetos Estruturais
Créditos foto: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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