Governo de Sergipe estuda a revitalização do Centro de Aracaju
Em julho de 2024, o Governo do Estado de Sergipe, por meio da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Inovação (Seplan), da Agência Sergipe de Desenvolvimento (Desenvolve-SE) e do Instituto Banese, organizou o seminário ‘Aracaju no Centro’, com a finalidade de discutir propostas e projetos voltados à revitalização do Centro da capital sergipana.
O seminário contou com a participação de representantes do Estado, de diversas instituições, incluindo as áreas de Educação e Economia, além de membros de movimentos de moradia e convidados externos, que apresentaram ideias, estudos e exemplos bem-sucedidos de projetos implementados em outros centros urbanos, tanto nacionais quanto internacionais.
Esvaziamento do Centro de Aracaju
Uma das grandes questões debatidas durante o evento foi o esvaziamento do Centro de Aracaju. De acordo com o Prof. Dr. César Henriques Matos e Silva, da Universidade Federal de Sergipe, a partir dos anos 1990, observou-se a saída das moradias, órgãos públicos, cinemas, atividades de lazer e cultura do centro.

Crédito: Envato
“As elites abandonaram a região central, que passou a ser ocupada pelas camadas populares. Portanto, o centro nunca esteve literalmente vazio; o que ocorreu foi um esvaziamento simbólico e cultural, à medida que as elites migraram para outras áreas. O centro se transformou em um espaço monofuncional, dedicado quase exclusivamente ao comércio e aos serviços. É fundamental recuperar o caráter público do centro da cidade, garantindo que ele seja um espaço para todos, e não apenas para grupos sociais de menor poder aquisitivo”, pontua Silva.
Para Alex Rosa, coordenador de programas da ONU-HABITAT, não se deve focar apenas nas áreas que estão sofrendo esse esvaziamento. É preciso compreender a dinâmica das regiões em expansão urbana e como a cidade está se desenvolvendo, seja dentro ou fora do centro. “É essencial analisar como esse crescimento está ocorrendo para entendermos o fenômeno do esvaziamento”, comenta.
Outra participação no evento foi a do engenheiro Enric Truñó, que foi Conselheiro de Esportes na Prefeitura de Barcelona entre 1981 e 1995 e, como tal, foi o principal responsável municipal na área de esportes durante todo o processo de organização dos Jogos Olímpicos de Barcelona 92. Truñó sugeriu a reabertura da Prefeitura na região como um primeiro passo para a revitalização. “Aprendi que cada cidade possui sua própria personalidade, história e realidade, o que torna difícil simplesmente importar ideias de outros lugares. Em Barcelona, por exemplo, as instituições públicas nunca abandonaram o centro da cidade. Quando vi a imagem da prefeitura fechada, pensei: por que a prefeitura não retorna? Claro, isso deveria fazer parte de um plano abrangente. Com certeza, após 20 anos fechado, o prédio se tornou uma ruína, não é moderno nem seguro. No entanto, apostar nessa revitalização seria um desafio significativo e talvez uma excelente mensagem para a cidade”, declara.
Recife como referência
Durante o evento, também houve a participação de João Paulo da Silva, secretário executivo do Gabinete do Centro de Recife, que falou sobre o processo de revitalização do centro da capital pernambucana.
"O debate sobre a revitalização do centro do Recife não é recente. Desde a década de 1970, houve importantes iniciativas, incluindo a criação do Porto Digital, que realmente transformou o paradigma, especialmente no bairro do Recife, o mais turístico da cidade. O Porto Digital já reabilitou mais de 130 mil metros quadrados de imóveis históricos no centro, sendo um agente fundamental, com expertise na revitalização de áreas históricas. Em 2021, foi criado o Centro do Recife, fruto de um movimento que envolveu a sociedade, o legislativo e a criação de uma frente parlamentar local dedicada à discussão sobre a reabilitação do centro", pontua João Paulo da Silva.
Claudio Marinho, cofundador do Porto Digital, gosta de chamar essa iniciativa de arranjo produtivo inovador. “Outras pessoas preferem chamá-la de parque tecnológico urbano. Fica no centro da cidade, o lugar onde Recife nasceu. Nos anos 2.000, quando começamos o projeto, eu era secretário de Ciência e Tecnologia do Estado. Naquela época, tínhamos duas empresas de tecnologia no bairro. Hoje, são 415. São 18 mil pessoas que criam demanda por serviços. E, mais do que isso, essas empresas e demandas revitalizam o Centro Histórico do Recife. Já impactamos mais de 150 mil metros quadrados de edificações históricas protegidas por lei. Estamos trazendo essa experiência para compartilhar aqui em Aracaju com o Governo do Estado, que está promovendo este evento, com os funcionários das secretarias e com os convidados em geral, para trocarmos experiências", conclui Marinho.
Plano Diretor
O prefeito de Aracaju, Luiz Roberto, anunciou no início de setembro que possui projetos que se associam ao propósito de revitalização do Centro, oferecendo alternativas de capacitação e inovação, através do Caju Hub, microcrédito, e Jovem Start (para os jovens sem experiência profissional), através de parcerias com a iniciativa privada, visando a inserção no mercado de trabalho. No entanto, a prefeitura também destacou que para dar início ao projeto de revitalização é necessário aguardar os encaminhamentos do Plano Diretor, que está sob análise do Poder Judiciário Federal, e será o balizador de várias iniciativas conectadas com a reurbanização. No site da Prefeitura de Aracaju, é possível fazer sugestões para o Plano Diretor.
O Anteprojeto de Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Aracaju já prevê requalificar o centro da cidade, estimulando o uso misto, com a convivência de residências, atividades econômicas e de lazer. Além disso, o Anteprojeto também sugere a redução de ociosidade no Centro Histórico fora dos horários comerciais, admitindo o licenciamento de novas edificações, ou a reforma ou a regularização das existentes, sem a previsão de vagas para estacionamentos.
Fontes
Claudio Marinho é cofundador do Porto Digital.
João Paulo da Silva é secretário executivo do Gabinete do Centro de Recife.
Enric Truño é engenheiro químico.
Alex Rosa é coordenador de programas da ONU-HABITAT.
Prof. Dr. César Henriques Matos e Silva, da Universidade Federal de Sergipe.
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Centro de Inovação em Construção Sustentável da USP vai criar banco de dados nacional para reduzir emissões de CO₂
Diante do desafio de buscar mitigar a emissão de CO2 na construção civil e contribuir para a sustentabilidade global, uma nova abordagem está surgindo no Brasil com o objetivo de transformar a maneira como os projetos estruturais são desenvolvidos e mensurados.
Trata-se do desenvolvimento de um banco de dados nacional de emissões de CO2 para edificações, voltado para a otimização interativa dos projetos de estrutura. A proposta é uma iniciativa do Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) da Escola Politécnica da USP em conjunto com alguns engenheiros do escritório França & Associados Projetos Estruturais.
O banco de dados reunirá informações de obras reais em um benchmarking público da pegada de CO2 do mercado brasileiro, que será continuamente atualizado. Segundo o engenheiro e prof. Ricardo Leopoldo França, integrante do projeto, a base de dados é imprescindível para estabelecer metas de mitigação factíveis e acompanhar ao longo do tempo a evolução da descarbonização do setor.

Crédito: Envato
A ferramenta permitirá que cada projetista compare de forma instantânea e a custo zero a pegada de CO2 do projeto que está realizando com os edifícios similares do benchmarking. Se for o caso, é possível introduzir melhorias e repetir o ciclo de avaliação até que o projeto atenda suas metas de mitigação da pegada de carbono. Os dados do projeto finalizado passarão a integrar o benchmarking brasileiro.
O banco de dados vai reunir informações detalhadas sobre as emissões das estruturas de edifícios de concreto e aço, permitindo não só a melhoria dos projetos, mas também orientando a pesquisa e a normalização, acelerando a transição para uma construção de baixo carbono. “A estruturação do banco de dados explora a digitalização das ferramentas de projeto, que tornam possível analisar as informações e readequar a proposta, estabelecer metas para que novos edifícios emitam menos CO2 do que os anteriores e acompanhar a evolução ao longo do tempo”, assinala.
Assim, os profissionais poderão cadastrar seus projetos reais, incluindo dados sobre o consumo de materiais, como concreto e aço, e receberão a faixa esperada da pegada de CO2, bem como a classificação do edifício dentro do universo de empreendimentos similares.
A previsão é de que o banco de dados esteja disponível para uso até final de 2025. “Atualmente, a equipe responsável está desenvolvendo a infraestrutura necessária para armazenar e processar os dados, além de buscar financiamento e parcerias que garantam a expansão da plataforma”, informa. A equipe também colabora em âmbito internacional, buscando interoperabilidade que permitiria comparações a nível global.
Extração automática de informações dos projetos
A participação no banco de dados será aberta a todos os profissionais do setor de construção, incluindo engenheiros estruturais, arquitetos e construtoras, que terão acesso às informações e poderão efetuar comparações das obras, desde que contribuam com dados de seus projetos. “Dessa forma, o sistema funcionará como uma troca colaborativa de informações: quanto mais dados os usuários fornecerem, maior será a riqueza e a precisão do banco de dados”, aponta França.
O software utilizado para o cadastro e extração das informações será integrado digitalmente aos programas de modelagem estrutural mais usados no mercado brasileiro, como o TQS e o Eberick. Segundo França, os softwares de projeto irão incorporar rotinas de extração automática das informações dos projetos, como o consumo de concreto por área construída, geometria de pilares, vigas e aço, e enviar para o app do banco de dados de estruturas de forma digital, facilitando a entrada de dados e garantindo maior precisão nas informações fornecidas.
O app do benchmarking de estruturas terá acesso aos dados detalhados sobre as emissões de diferentes tipos de concreto, com base no banco de dados SIDAC (Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção), que já reúne informações sobre a emissão de CO2 de diversos tipos de cimento e concreto produzidos no Brasil.
Desmaterialização e materiais ecoeficientes
Com a criação do banco de dados, uma das principais estratégias para a redução de CO2 nas construções será a desmaterialização. Esse conceito refere-se ao uso otimizado de materiais, o que significa construir reduzindo as seções de estruturas, utilizando menos concreto e aço por m2 sem comprometer a segurança e a funcionalidade da estrutura. “Além de buscar soluções estruturais que consomem menos recursos, o sistema incentiva o uso de concretos ecoeficientes. Toda indústria cimenteira está focada em produzir materiais mais sustentáveis”, observa ele.
O projeto representa uma mudança de paradigma na construção civil brasileira. Ao permitir que construtoras e projetistas comparem suas obras com projetos anteriores, a iniciativa visa reduzir significativamente a pegada de carbono do setor, promovendo uma construção mais sustentável e alinhada com os desafios globais das mudanças climáticas. “Quanto menor a emissão de CO2, menor será o custo da obra e a tendência é de que os produtos que insistam em ficar à margem da sustentabilidade sejam mais caros, o que deve incentivar o uso de materiais ecoeficientes”, conclui.
Entrevistado
Ricardo Leopoldo e Silva França é engenheiro, Mestre e Doutor pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), professor sênior da Escola Politécnica da USP, titular da Cátedra Construindo o Amanhã do convênio USP-Arcelor, membro do Conselho da ABECE, membro do ACI, CEB/FIB, IABSE e IBRACON e titular da França & Associados Projetos Estruturais.
Contato:
ricardo.franca@fa.eng.br
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Ana Carvalho
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Concurso arquitetônico vencedor para nova sede do governo de São Paulo busca revitalizar região dos Campos Elíseos
O concurso organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP) para escolher o projeto arquitetônico da nova sede administrativa do governo estadual, situado no coração de São Paulo, já tem um vencedor. A competição foi acirrada, com um total de 44 propostas apresentadas por alguns dos mais renomados escritórios de arquitetura do país.

Crédito: Divulgação/Ópera Quatro
A proposta do escritório Ópera Quatro Arquitetura, liderado por Fernanda Ferreira e Pablo Chakur, foi a grande vencedora, escolhida por unanimidade por sete jurados, destacando-se pela abordagem inovadora na integração da nova sede ao entorno urbano. O objetivo é revitalizar a região central da cidade, em especial a área dos Campos Elíseos, situada próxima a um local social crítico da cidade, conhecida como Cracolândia.
“Estamos muito felizes com essa conquista, porque foi o resultado de três meses intensos de trabalho com uma equipe de 14 pessoas dedicadas a esse projeto”, afirmou Fernanda Ferreira, sócia da Ópera Quatro.
O escritório Ópera Quatro possui um histórico respeitável em concursos públicos de arquitetura. Desde a sua fundação, participou de 11 concursos nacionais, sendo premiado em 9 e vencedor em 3.
Características do projeto
O projeto compreende a construção de cinco edifícios distribuídos em quatro quadras vizinhas à Praça Princesa Isabel, no bairro dos Campos Elíseos. As quadras 34, 46 e 52 devem abrigar um edifício corporativo composto por dois blocos cada um, enquanto a quadra 48, a maior de todas, contará com dois edifícios corporativos, também com dois blocos cada um. No total, serão dez blocos, todos projetados para promover a interação com o entorno por meio de fachadas ativas no térreo e espaços de uso público, ou seja, áreas abertas à comunidade local que funcionam como uma extensão da Praça Princesa Isabel.

Crédito: Divulgação/Ópera Quatro
“Acreditamos que o diferencial do nosso projeto foi a capacidade de trabalhar bem a escala urbana e aplicar conceitos consagrados pelos maiores urbanistas do mundo. Nossa proposta busca fomentar a urbanidade do território, promovendo diversidade urbana e espaços públicos de qualidade”, explicou Pablo Chakur.
O material escolhido para a estrutura do projeto é o concreto, amplamente utilizado em combinação com a estrutura metálica. As áreas do subsolo, térreo, mezanino e embasamento dos edifícios serão construídos com estrutura de concreto, enquanto as torres contarão com estrutura metálica, mantendo o core das torres em concreto armado. Essa combinação oferece durabilidade, flexibilidade e eficiência, características essenciais para um empreendimento desse porte.
Revitalização urbana e impacto social
Localizada próxima de uma área conhecida pelos desafios sociais, a nova sede do governo de São Paulo foi projetada com o objetivo de promover uma revitalização significativa do local. O projeto não apenas visa melhorar a segurança e a acessibilidade da região, mas também atuar como catalisador para a reocupação do centro da cidade. “Acreditamos que o empreendimento será o início de uma nova fase para a região, trazendo mais serviços, comércio, moradia e, consequentemente, mais vida e segurança ao território”, comentou Fernanda Ferreira.
Além disso, o projeto foi concebido para tratar de questões sociais sensíveis, como a situação da Cracolândia de forma integrada. "Vemos essa oportunidade como uma maneira de abordar os problemas sociais como um todo, não apenas revitalizando o espaço, mas também tratando de questões de saúde pública e moradia", acrescentou Pablo Chakur.
O projeto não busca apenas ser um marco arquitetônico, mas um marco urbanístico que impulsione a revitalização da região e do centro de São Paulo. Os arquitetos optaram por minimizar o impacto das novas construções na paisagem, evitando a monumentalidade arquitetônica que poderia ofuscar construções históricas importantes, como o Palácio dos Campos Elíseos. "Nossa proposta é deixar um legado dinâmico e flexível, respeitando o patrimônio histórico e cultural do entorno", destacou Fernanda Ferreira.
Prazos e próximos passos
Com a homologação do concurso, os próximos passos incluem a elaboração de um orçamento, que servirá de base para o modelo econômico da Parceria Público-Privada (PPP) que será implementada para a construção. A previsão é que a licitação ocorra em 2025 para definir a empresa construtora, seguida do início dos projetos executivos e da aprovação nos órgãos públicos.
A nova sede do governo de São Paulo promete não apenas modernizar a administração estadual, mas também reescrever a história urbana e social de uma das regiões mais desafiadoras da cidade.
Entrevistados
Pablo Chakur é arquiteto graduado pela Universidade Mackenzie, mestre pela mesma Universidade e sócio do escritório Ópera Quatro.
Fernanda Ferreira é arquiteto graduada pela Universidade Mackenzie, mestre pela mesma Universidade e sócia do escritório Ópera Quatro.
Contatos:
pablo@operaquatro.com.br
fernanda@operaquatro.com.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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Empresa de estruturas pré-moldadas consegue chegar ao resíduo zero na construção civil
No Brasil, são geradas cerca de 48 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição (RCD) anualmente, o que equivale a aproximadamente 227 quilos de entulho por habitante, conforme o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Dentre esses resíduos, cerca de 30% provêm da construção civil, tornando urgente a necessidade de iniciativas sustentáveis para mitigar esse impacto. Em resposta a essa necessidade, a Projepar, empresa que produz estruturas pré-fabricadas em concreto e metal, desenvolveu uma iniciativa inovadora que visa alcançar a meta de resíduo zero em sua produção.
Com mais de 35 anos de experiência, a empresa, localizada em São José dos Pinhais, no Paraná, destaca-se por suas soluções construtivas para diversos segmentos, contando com um portfólio de 5 milhões de metros quadrados construídos, distribuídos por todo país. A empresa produz mensalmente mais de 15.000,00 m2 de estruturas pré-fabricadas e metálicas, executadas pelos seus mais de 150 colaboradores. A empresa constrói estruturas pré-fabricadas de concreto armado e protendido em uma planta fabril e as transportam para o canteiro de obras, onde são montadas.
Compromisso com a sustentabilidade

O diretor da Projepar, Fábio Luiz Cé, destaca a importância da sustentabilidade em todos os processos. “Desde o início, sempre tivemos a preocupação com o impacto ambiental de nossas operações e o projeto de resíduo zero é uma extensão natural desse compromisso”, afirma.
A Projepar, cliente da Cimento Itambé, produz mensalmente mais de 15 mil m2 de estruturas pré-fabricadas, conta com uma planta industrial moderna e tecnologia de ponta, alinhada aos princípios da Indústria 4.0. Essa infraestrutura avançada permite à empresa implementar rigorosos controles de qualidade e rastreamento em seus processos produtivos, garantindo eficiência e sustentabilidade em todas as etapas.
Projeto Resíduo Zero
O projeto de resíduo zero da Projepar é fruto de uma parceria com a Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Instituto Água e Terra (IAT). Juntos, esses órgãos e a empresa desenvolveram um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) com o objetivo de eliminar a geração de resíduos na produção de pré-moldados.
Fábio Luiz Cé explica que foram desenvolvidas etapas de gerenciamento, otimização e controle executivo que permitem planejar quantitativos exatos de matéria-prima, minimizar o excedente e, o mais importante, reciclar os resíduos gerados.
“Cerca de 40% desse material é reutilizado em outras demandas externas da construção civil, enquanto os 60% restantes são reciclados internamente, tornando-se reutilizáveis na própria planta fabril. Com isso, conseguimos um processo 100% sustentável, onde nenhum material é descartado na natureza”, assinala.
O diretor explica que são gerados mensalmente em torno de 300 toneladas de agregados reciclados, como concreto e argamassa, que são reciclados internamente e transformados novamente em matéria-prima.
O projeto de resíduo zero não se limita apenas ao gerenciamento de resíduos, mas abrange toda a operação da Projepar. Desde a otimização do uso de aço e concreto até a reciclagem e reutilização dos materiais excedentes, cada aspecto da produção é cuidadosamente planejado para evitar desperdícios.
“Investimos em organização, tecnologia e, acima de tudo, no engajamento de nossos colaboradores. Todos os envolvidos estão comprometidos com a sustentabilidade, e isso é o que faz o projeto ser bem-sucedido”, afirma Fabio Luiz Cé.
Reconhecimento e impacto
O sucesso da iniciativa de resíduo zero rendeu à Projepar reconhecimento e prêmios. A empresa recebeu uma menção honrosa e uma premiação da Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais, sendo reconhecida como a primeira indústria do município a projetar, implantar e operacionalizar um programa desse tipo.
“Essa premiação é uma honra e um incentivo para continuarmos aprimorando nossos processos. Esperamos que outras indústrias, independentemente do setor, sigam o nosso exemplo e contribuam para a sustentabilidade ambiental”, destaca.
Além disso, a empresa continua a investir em tecnologias e práticas que minimizem seu impacto ambiental, sempre buscando novos caminhos para melhorar e expandir seus projetos de resíduo zero.
“A responsabilidade, o entendimento e o comprometimento são os pilares que sustentam nosso programa de resíduo zero. Esses valores continuarão a nos guiar no futuro, à medida que aprimoramos nossos processos e estendemos essas práticas a outras áreas da empresa”, ressalta.
Em um setor onde a geração de resíduos é um dos maiores desafios, a empresa mostra que é possível combinar inovação, eficiência e responsabilidade ambiental para construir um futuro mais sustentável.
Entrevistado
Fábio Luiz Cé é engenheiro civil graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), pós-graduado em Patologias de Obras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), MBA em Gerenciamento e Administração de Empresas pela FAE-FGV, Mestrado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Carlos (SP) e diretor da Projepar.
Contato:
fabio@projepar.com.br
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Como tornar as estruturas mais resilientes para desastres naturais?
Um relatório do U.S. Green Building Council (USGBC) destaca que, entre 2000 e 2019, o número de desastres naturais aumentou em 75% em comparação com o período de 1980 a 1999. Nos primeiros seis meses de 2024, enchentes resultaram em mortes e deixaram milhares de desabrigados no Rio Grande do Sul e em regiões distantes como Indonésia, Afeganistão e Quênia. Estes eventos climáticos têm um impacto humano e econômico significativo. Somente no Brasil, entre 2013 e 2023, esses eventos custaram quase R$ 640 bilhões, afetando milhões de famílias e causando a perda de vidas.
Para diminuir ou mitigar os efeitos destes eventos climáticos e evitar que mais desastres como estes aconteçam, as construções e os métodos construtivos devem passar por mudanças e se tornar mais resilientes.
“A atualização das normativas e legislações brasileiras tem conduzido para infraestruturas mais duráveis e com maior planejamento, sendo atualmente exigidas todas as licenças ambientais, planos de manejo, de destino dos resíduos, e de manutenção. Porém, existe uma porção grande de obras implementada sob a ótica de normativas antigas, e que precisa de atualização”, pontua Lucas Vaslanv da Silva Wolff, professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura da FAE Centro Universitário.
Dentre os desafios para a adequação destas construções já existentes está o rastreio das informações pertinentes a estas obras, pois boa parte das documentações de projeto e construção é perdida com os anos, o que requer um trabalho inicial de levantamento de dados da estrutura para poder entender suas necessidades para as eventuais obras necessárias para atualização. “Vencida esta etapa inicial, que consiste em vários levantamentos de campo e ensaios de laboratório, vem a implementação das novas normativas e construção de todas as documentações de segurança atualmente necessárias para uma estrutura existente de resiliência”, explica Wolff.
Wolff também lembra que, dentre as soluções técnicas aplicadas, destacam-se concretos com aditivos e adições que conferem maior resistência, menor porosidade e menor necessidade de manutenção. “Está sendo implementado também o uso de fibras poliméricas, que melhoram as propriedades do concreto e a fissuração, com a proteção do aço em seu interior”, informa o professor da FAE.
Planejamento e gestão de riscos para estruturas mais resilientes
De acordo com Wolff, o planejamento e gestão de riscos ainda é incipiente em obras de infraestrutura de transporte. “Uma das dificuldades do uso de novas tecnologias neste ponto é a ausência de normativas que conduzam o uso para serem implementadas de forma consciente. Para as tecnologias já normatizadas, existe o dever fundamental na fiscalização do cumprimento desta. Uma vez as normativas e legislações cumpridas para a construção e manutenção das infraestruturas, ainda se faz necessário implementar um plano de inspeções rotineiras para fiscalizar o comportamento. As inspeções geram relatórios de anomalias que, ao serem classificadas por uma tabela GUT (Gravidade, Urgência e Tendência de evolução), por exemplo, orientam os prazos a serem cumpridos para as ações de mitigação e correção”, afirma o professor.
Além das inspeções rotineiras, Wolff destaca também sobre a atualização de documentação de segurança, necessitando maior frequência quanto maior o Dano Potencial Associado (DPA) e maior a Categoria de Risco (CR) que a estrutura possa apresentar.
“A atualização da documentação de segurança consiste na revisão de estudos de estabilidade e condicionantes ambientais que influenciam na durabilidade de uma estrutura, incluindo eventualmente estudos de campo, topográficos, geotécnicos, e demais ensaios para conhecimento do estado da arte das estruturas”, comenta o professor.
Contenção de chuvas

Crédito: Envato
Um dos problemas mais graves e frequentes no Brasil são as fortes chuvas, que acabam gerando desastres como o do Rio Grande do Sul. Neste caso, Wolff destaca algumas das formas de mitigar danos destes eventos climáticos extremos, como:
* A implementação de bacias de contenção e reservatórios regulatórios de vazão, por meio de barragens ou diques;
* O controle de encostas, com a criação da documentação de segurança;
* Os planos de monitoramento das encostas em rodovias, tanto por inspeção quanto por instrumentação.
De acordo com Adriane Savi, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo Integral da FAE Centro Universitário, uma solução relevante para a redução e até mesmo mitigação dos efeitos climáticos diz respeito às cidades biofílicas, que trazem a integração de soluções baseadas na natureza. “Elas propõem a criação de corredores verdes e azuis para ajudar nas questões climáticas. Os corredores verdes são estas conexões através desses grandes hubs de vegetação. Isto inclui criar ruas arborizadas e parques lineares para fazer a conexão em diferentes pontos na cidade. Estas iniciativas contribuem na mitigação de ilhas de calor e a vegetação também ajuda na absorção de água. Além dos corredores verdes que criam essas conexões entre grandes maciços de vegetação nas cidades, outra opção são os corredores azuis. Isso vai envolver a descanalização de rios, tratamento de rios e devolução de rios para o uso da própria cidade (para esportes aquáticos, por exemplo). Isso vai contribuir para que tenhamos essa contribuição para o desenvolvimento das cidades. Esses são dois caminhos que dá para pensar quando falamos em mitigação das questões climáticas dentro dos centros urbanos, para reduzir o impacto de catástrofes como a do Rio Grande do Sul e na Bahia”, destaca Adriane.
Infraestrutura mais resiliente nas rodovias
No dia 1º de julho de 2024, o Ministério dos Transportes publicou no Diário Oficial da União a Portaria 622, que define diretrizes essenciais para a destinação de recursos em contratos de concessão rodoviária. As novas normas têm como foco o desenvolvimento de infraestrutura resiliente, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a promoção da transição energética.
De acordo com Wolff, hoje já é implementada a avaliação econômica na escolha da tecnologia de infraestrutura a ser construída ou reparada, com base na IS-214 (DNIT, 2006), em que são consideradas as variáveis referentes aos custos de manutenção das estruturas, ou seja, uma tecnologia de implementação mais cara pode acabar sendo utilizada pois sua manutenção ao longo da vida útil é menos frequente e mais barata.
“Por exemplo, está se disseminando o uso de pavimento de concreto em vez do pavimento asfáltico. Ainda, o pavimento de concreto apresenta menor manutenção e absorção de luz solar, o que reduz os gastos também com iluminação pública ao considerar a refletividade do concreto em relação ao asfalto. Essas ações já eram uma realidade antes da Portaria 622, mas tendem a se intensificar à medida que os gastos relacionados ao aproveitamento de energia e à redução de emissões de GEE passam a ser incluídos na avaliação econômica das escolhas tecnológicas.”, destaca Wolff.
Entrevistados
Lucas Vaslanv da Silva Wolff é professor dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura da FAE Centro Universitário, com mestrado na área de estruturas e geotecnia.
Adriane Savi, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo e Arquitetura e Urbanismo Integral da FAE Centro Universitário.
Contatos
lucas.wolff@fae.edu
adriane.savi@fae.edu
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Startups trazem inovação para a indústria da construção
A indústria do concreto vem se reinventando ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade – tema que ganha cada vez maior relevância com métricas de emissão CO₂. Uma das peças-chaves para esta renovação de ideias e tecnologias são as startups, que trazem inovação ao mercado. Dentro deste contexto, algumas startups brasileiras se destacam ao oferecer novas soluções para o setor de concreto que prima tanto pela sustentabilidade como pela economia de recursos.
Agregados leves

Crédito: GreenExpan
A startup GreenExpan, que teve sua origem a partir do desenvolvimento de pesquisas no Instituto Federal da Paraíba (IFPB) em parceria com Universidade Federal da Paraíba (PPCEM – UFPB), está criando um agregado leve artificial regional, que possui ampla variação de absorção de água, massa específica e unitária, resistência ao esmagamento e diferentes colorações. Logo, oferece benefícios como peso reduzido, isolamento termoacústico, controle de lixiviação de metais pesados e decoração de paisagismo. “A iniciativa da startup visa reduzir emissões de CO2, custos de transporte e o uso de argila (material frequentemente utilizado como agregado leve), incorporando até 80% de resíduos industriais para oferecer soluções mais sustentáveis. Dessa forma, busca resolver problemas locais e aumentar a aceitação entre empresas do Norte e Nordeste, sem limitar sua capacidade de produção para todo o Brasil, América do Sul e até para o mercado global”, explica José Anselmo da Silva Neto, fundador e colaborador da GreenExpan.
Atualmente, a produção ocorre em escala laboratorial, onde foi avaliada a influência das matérias-primas e o potencial de aplicação das amostras de agregados leves em obras e serviços de engenharia. Foram definidos critérios de classificação dos agregados leves com base nas propriedades exigidas por normas técnicas. Ao todo, foram identificadas mais de 200 aplicações a partir das 96 misturas desenvolvidas, incluindo concretos leves, estruturais e não estruturais, argamassas, telhados verdes, paisagismo, isolamento térmico e acústico, e aplicações geotécnicas.
Outra vantagem da tecnologia de agregados leves é que ela pode aprimorar a mobilidade do concreto no estado fresco, pois o formato esférico dos agregados melhora a fluidez devido à mobilidade das partículas facilitando o desenvolvimento de concretos autoadensáveis leves. “Esses concretos autoadensáveis leves podem favorecer e impulsionar a qualidade de paredes de concreto, por exemplo, sistema construtivo bastante difundido no Brasil, e assim obter-se-ão paredes com menores pesos sobre as fundações e menor condutividade térmica. Com um concreto leve bem dosado e executado, pode-se atingir resistências e durabilidade semelhantes a concretos de peso normal”, justifica Silva Neto.
Impressão 3D em concreto

Crédito: 3D Eco House
O sistema de impressão 3D em soluções estruturais na construção civil vem ganhando maior visibilidade nos últimos tempos, sendo a 3D Eco House uma das startups brasileiras dedicadas ao aprimoramento da solução. Originada a partir do grupo de pesquisa "3DCP IFPB" do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), a startup foi formada para atender à crescente demanda por métodos construtivos mais eficientes e ecológicos, transformando pesquisas acadêmicas em soluções de grande impacto no setor da construção civil.
De acordo com Vinícius Rodrigues, cofundador da 3D Eco House, a solução de impressão 3D em concreto pode gerar um impacto econômico significativo na indústria ao reduzir custos de produção e aumentar a eficiência. “A otimização no uso de materiais e a redução do tempo de construção resultam em economia de custos. Além disso, a precisão e consistência proporcionadas pela impressão 3D reduzem retrabalhos e melhoram a eficiência operacional. A flexibilidade de design permite criar estruturas complexas sem os altos custos associados as formas, enquanto a sustentabilidade da tecnologia atende às demandas por práticas ecológicas, gerando economias a longo prazo. Dessa forma, essa inovação tem o potencial de transformar a construção civil, tornando-a mais econômica e eficiente”, pontua o cofundador da startup.
Além disso, a tecnologia de impressão 3D em concreto pode melhorar a durabilidade e a qualidade do concreto produzido ao permitir um controle preciso na dosagem de materiais, garantindo misturas mais homogêneas e consistentes, segundo Rodrigues. “A automatização do processo reduz erros humanos, aumentando a uniformidade e a previsibilidade da produção, permitindo um maior manejo e alcance de propriedades físicas e mecânicas do material para atender a diferentes necessidades sem comprometer a integridade estrutural. A incorporação de aditivos e materiais avançados, como fibras e nanopartículas, também contribui para aumentar a resistência e durabilidade, enquanto práticas sustentáveis elevam a qualidade ambiental do material produzido”, assegura Rodrigues.
Entrevistados
José Anselmo da Silva Neto é fundador e colaborador da GreenExpan.
Vinícius Rodrigues é representante legal e cofundador da 3D Eco House.
Contatos
neto.anselmo00@gmail.com
3decohouse.br@gmail.com
Jornalista responsável:
Marina Pastore - DRT 48378/SP
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A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.
Como realizar a gestão de segurança de barragens?
Em agosto de 2024, a barragem da represa do condomínio de luxo Nasa Park, localizado entre Campo Grande e Jaraguari (MS), se rompeu. O desastre afetou principalmente os moradores da zona rural. O rompimento da barragem fez com que a água invadisse casas e parte da BR-163. Diante do ocorrido, como os aspectos de segurança das barragens são geridos no Brasil?
Situação das barragens brasileiras
De acordo com o banco de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), que atualmente conta com 26.609 barragens cadastradas, 15,06% delas possuem uma taxa de dano potencial associado (DPA) alta, ou seja, em caso de rompimento, vazamento ou infiltração do solo, os riscos de impactos sociais, econômicos e ambientais (com perdas de vidas humanas) são elevados. No entanto, 53,71% das barragens brasileiras não foram classificadas quanto ao DPA. Já na classificação “Categoria de Risco” (CRI), que é determinada pela probabilidade de um acidente devido às características construtivas, de projeto, integridade da estrutura e de conservação das barragens, 10,99% estão classificadas como CRI Alto, 14,11% como CRI Médio, e 58,31% não foram classificadas.
Segundo o Relatório de Segurança de Barragens de 2023, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (SEMA/RS) é o órgão fiscalizador com o maior número de barragens cadastradas no SNISB, com 10.219 (39,4% do total), seguida pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL/MS), com 1.948 (7,5%), o Instituto Água e Terra do Paraná (IAT/PR), com 1.655 (6,4%), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com 1.302 (5,0%), e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com 1.140 (4,4%).
Em relação aos 25 acidentes em barragens registrados em 2023, o Relatório de Segurança de Barragens de 2023 informa que em 23 deles (92%) houve associação com registro de chuvas intensas.
O relatório também apontou que, além do mecanismo de falha principal, em 17 registros de acidentes foram identificadas anomalias que contribuíram para a ocorrência dos acidentes e incidentes, destacando-se: erosão superficial, pipping/erosão regressiva, surgência a jusante, erosão no contato entre o maciço e a estrutura, e galgamento.
Vale lembrar que o relatório se refere ao ano de 2023, portanto ainda não inclui informações sobre as chuvas no Rio Grande do Sul em 2024.
Como fazer a segurança de barragens?
Filipe Sampaio, diretor da ANA, aponta que a segurança de barragens se caracteriza por um conjunto de ações preventivas e corretivas que visam manter a integridade estrutural e operacional da barragem, bem como a preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente. No Brasil, existe a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), regulamentada pela Lei Federal nº 12.334/2010.
De acordo com José Marques Filho, engenheiro e professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), devido às mudanças climáticas, as cheias em barragens tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Por isso, é fundamental ter um planejamento prévio. “Como o amortecimento de cheias não foi planejado juntamente com a parte energética em anos anteriores, atualmente o regime e o manejo dos empreendimentos precisam ser reanalisados no Brasil. Nos últimos anos, o país construiu barragens a fio d’água, ou seja, sem armazenamento, o que dificulta o manejo de cheias, pois toda a água afluente é conduzida quase imediatamente para jusante”, explica.
Marques Filho destaca que é essencial a implementação de estudos climatológicos e de vazões para a previsão de eventos extremos, de forma a permitir que o poder público e os representantes da sociedade civil se preparem e minimizem os efeitos sobre as populações.
“É necessário estudar as obras, realizar análises de hidrologia e meteorologia, além de um estudo das cheias, juntamente com sistemas de monitoramento e alerta efetivos para mitigar os impactos sobre as populações. Somente após isso será possível determinar se a melhor solução é rearranjar os vertedouros, aumentar as barragens ou realizar um amortecimento, de preferência construindo novos empreendimentos com reservatórios. Na China, existem diversas barragens para amortecer cheias. O Brasil nunca deu muita atenção a isso”, afirma.
Outra possibilidade levantada por Marques Filho é a reorganização de populações em conjunto com as autoridades competentes, para evitar que elas ocupem regiões sujeitas a enchentes, de forma semelhante ao que ocorre quando se auxilia populações em áreas propensas a deslizamentos de terra.
Rompimento de barragem no Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, as barragens levantaram preocupações durante o período de chuvas intensas em maio de 2024. A barragem da Usina 14 de Julho teve um rompimento parcial em seu topo no dia 2 de maio. A Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), responsável pela barragem, emitiu um comunicado informando que o rompimento parcial no topo da barragem não comprometeu sua estrutura.
“Os trabalhos de verificação continuam sendo realizados, mas até o momento os estudos indicam que a barragem é estável e segura para as vazões de projeto, e não há indicativos de risco de rompimento. A empresa está no processo de recuperação da barragem, dos acessos e das instalações, e reforça que qualquer alteração desse cenário será comunicada”, informou a Ceran.
Fontes
José Marques Filho, engenheiro e professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Filipe Sampaio, diretor da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
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Marina Pastore - DRT 48378/SP
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Silos de concreto são a solução ideal para armazenagem de grãos em grande escala
O agronegócio brasileiro desempenha um papel importante na economia nacional e o armazenamento eficiente de grãos é um dos pilares que sustentam essa indústria. Nesse contexto, os silos de concreto surgem como uma solução robusta e eficaz para a armazenagem de grandes volumes de grãos, oferecendo vantagens que vão desde a durabilidade até a melhor conservação dos produtos.

Os silos de concreto têm se destacado principalmente pela sua capacidade de preservar a qualidade dos grãos armazenados. De acordo com Douglas Shigueo Takahara, especialista em Gestão de Projetos e Portfólio da Cooperativa Agrária Agroindustrial, a cooperativa possui cerca de 300 silos de concreto de diversos tamanhos, utilizados para armazenar mais de 500 mil toneladas de cereais como soja, milho, cevada e trigo.
Takahara explica que os silos de concreto oferecem vantagens significativas em comparação aos silos metálicos. “O concreto proporciona melhor isolamento térmico, exige menor manutenção, e permite maior flexibilidade nas dimensões, com silos que ultrapassam 30 metros de altura”, destaca.
Além disso, a estanqueidade do concreto resulta em maior eficiência no controle de pragas, o que é essencial para a preservação da qualidade dos grãos.
Projetos personalizados para necessidades específicas
Cada projeto de silo de concreto é desenvolvido considerando uma série de fatores, desde a finalidade do armazenamento até as características ambientais do local de instalação. Mauro Simão Thiesen, diretor da Ceraçá Construções, detalha o processo. “Para o projeto de silos de concreto armado e protendido, levamos em conta a finalidade do armazenamento, o espaço físico disponível e a capacidade estática desejada”, observa.
A empresa também avalia as características geológicas e ambientais da região, o que define aspectos como as fundações e a resistência da estrutura às condições climáticas.
A construção de silos de concreto emprega técnicas avançadas, como o uso de formas deslizantes, que garantem a monoliticidade da estrutura, resultando em durabilidade e robustez. “A estrutura monolítica em concreto proporciona uma série de benefícios, incluindo maior isolamento térmico, estanqueidade e menor custo de manutenção. A durabilidade dos silos de concreto faz com que o investimento inicial se justifique no médio e longo prazos”, reforça Thiesen.
Casos de sucesso no uso de silos de concreto
O sucesso do uso de silos de concreto pode ser observado em projetos recentes executados pela Ceraçá Construções. Em parceria com a Tucumann Engenharia, a empresa construiu 60 silos multicelulares para a Maltaria Campos Gerais, em Ponta Grossa (PR). O projeto, concluído em 2023, envolveu a construção de duas baterias de 30 silos, utilizados para armazenar malte e cevada. Cada etapa de construção durou cerca de 11 dias, evidenciando a eficiência do processo de construção com concreto.

Crédito: Divulgação/Ceraçá Construções
Outro exemplo é a nova planta cervejeira da Heineken em Passos (MG), onde a Ceraçá, em parceria com a Afonso França, construiu seis silos multicelulares com 32 metros de altura, em um período de 12 dias. O projeto consumiu mais de 1.750 m³ de concreto e foi finalizado com sucesso em 2024.
A importância do concreto no agronegócio
O uso do concreto em estruturas de armazenamento vai além da construção de silos. Sua aplicabilidade se estende a diversas outras obras, como centrais hidrelétricas e infraestruturas industriais, demonstrando a versatilidade e a importância desse material em setores essenciais da economia.
“O concreto é o item de maior relevância para o sucesso das operações, especialmente durante a fase de construção, onde a precisão e a qualidade são fundamentais para garantir a durabilidade e a resistência das estruturas”, conclui Thiesen.
A utilização do concreto em silos para armazenagem de grãos no agronegócio é, sem dúvida, uma escolha estratégica que combina segurança, eficiência e economia a longo prazo. Com o apoio de tecnologia avançada e engenharia de ponta, o agronegócio brasileiro continua a se modernizar, assegurando que os produtos cheguem ao mercado em perfeitas condições.
Entrevistados
Douglas Shigueo Takahara é engenheiro civil formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), pós-graduado em Gestão de Projetos pela FGV/ISAE e especialista em Gestão de Projetos e Portfólio da Cooperativa Agrária Agroindustrial.
Mauro Simão Thiesen é engenheiro civil formado pela Fundação Oswaldo Aranha, pós-graduado em Análise e Dimensionamento de Estruturas pela UFRGS e diretor da Ceraçá Construções.
Contatos:
douglast@agraria.com.br
mauro.industria@ceraca.com.br
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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4 desafios e tendências no mercado de agregados e máquinas

Crédito: Marina Pastore
Durante o Concrete Show 2024, um dos painéis de destaque foi sobre a “Indústria de Agregados na Construção: Entraves e Inovações”, onde se discutiu as tendências e desafios com relação ao uso de maquinário e de agregados.
Confira abaixo os desafios e tendências do mercado:
- Produção de agregados mais finos
De acordo com Benito Bottino, diretor técnico do Sobratema, as mineradoras enfrentam atualmente o desafio de produzir uma grande quantidade de agregado fino, essencial para a produção de concretos, facilitando o bombeamento e atendimento às exigências de estruturas mais delgadas.
Esse cenário impacta o setor de maquinário. “A qualidade do agregado exigida tem aumentado significativamente nos últimos anos. O mercado demanda agregados mais cúbicos e uma curva granulométrica mais estável. Isso requer máquinas especializadas para garantir eficiência no peneiramento e separação dos materiais. Quanto mais fino o agregado, mais precisa será a eficiência do peneiramento, o que exige mais peneiras e tecnologia especializada”, afirma Jabur Mansur, coordenador de Inteligência de Mercado da Liebherr Brasil.
- Pré-moldados de concreto com agregados de qualidade
Na opinião do diretor técnico do Sobratema, o uso de pré-moldados nas obras deve se intensificar nos próximos anos, o que também impactará a escolha dos agregados. “Há uma crescente demanda por pré-moldados em moradias, e eu vejo isso como um avanço significativo na qualidade do concreto. O agregado utilizado precisa ser de alta qualidade para produzir um concreto com características refinadas, ideal para preencher vazios e melhorar o acabamento. Esse tipo de agregado é excelente para pré-moldados aparentes, proporcionando um acabamento preciso e esteticamente agradável”, destaca.

- Segurança
Mansur destaca que a segurança é fundamental nas áreas de construção e mineração. “Está se investindo cada vez mais em tecnologias como câmeras e sensores de detecção de pessoas, com o objetivo de aumentar a segurança e minimizar o risco de erros humanos. A tendência clara que vejo é a de focar na segurança da operação como um todo, utilizando tecnologia para reduzir a possibilidade de acidentes causados por falhas humanas,” comenta Mansur.
- Eficiência energética e produtiva
Mansur observa que, no passado, a prioridade era encontrar máquinas produtivas, robustas e capazes de operar a qualquer custo. “Com o tempo, percebemos uma mudança significativa. Hoje, o principal requisito para qualquer empresa, seja no setor de mineração ou de concreto, é a eficiência no consumo de combustíveis em relação à produção. A abordagem evoluiu para focar em um gerenciamento de frota mais eficiente, visando um consumo de combustível mais adequado e sustentável. Estamos caminhando nessa direção”, comenta.
Fontes:
Jabur Mansur é coordenador de Inteligência de Mercado da Liebherr Brasil.
Benito Botino é diretor técnico do Sobratema.
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Marina Pastore - DRT 48378/SP
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Estudo avalia potencialidade de regiões brasileiras para desenvolvimento de atividades para captura, uso e armazenamento de carbono
Para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e o CO2 em excesso na atmosfera, a Captura, Armazenamento e Uso de Carbono (CCUS) é uma das estratégias mais promissoras. Nesse sentido, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) realizou um estudo que oferece uma visão sistêmica sobre a relevância de cada área do território nacional para o desenvolvimento de projetos de armazenamento geológico de carbono a partir do conjunto de informações disponíveis.

Dentro da perspectiva técnica, foram avaliadas as possibilidades qualitativas de sítios para armazenamento subterrâneo de CO2 em reservatórios geológicos, presentes nas bacias sedimentares brasileiras. De acordo com estudo de georreferenciamento sobre os potenciais brasileiros para o desenvolvimento das atividades de CCS (Captura e Armazenamento de Carbono), os pesquisadores verificaram que as regiões Sudeste e Nordeste são aquelas com as maiores relevâncias para a estruturação dos primeiros projetos de CCUS no Brasil.
“As regiões Sudeste e Nordeste possuem bacias sedimentares com múltiplas camadas de reservatórios geológicos, potencialmente favoráveis ao armazenamento e uma maior robustez no quadro de dados de Geologia e Geofísica disponíveis”, afirmam as pesquisadoras da EPE, Regina Freitas Fernandes, Nathália Oliveira de Castro e Camila da Mota Carvalho.
Bacias com reservatórios areníticos chamam mais atenção para o desenvolvimento dos primeiros projetos. No Brasil, destacam-se, em terra, as bacias de Alagoas, São Francisco, Sergipe, Paraná, Recôncavo e Tucano Sul. Em mar, as bacias de Campos, Espírito Santo-Mucuri, Santos e SEAL seriam aquelas com expectativas mais elevadas.
“Embora ainda pouco compreendidos, os reservatórios carbonáticos e em rochas ígneas também são possíveis e existem iniciativas ao redor do globo para entendimento do comportamento da pluma de CO2 injetado ao longo do tempo nestes sítios. Nesse sentido, no caso das rochas vulcânicas básicas, as bacias do Paraná e do Parnaíba já despertam bastante interesse de alguns grupos de estudo, e outras bacias, como Alagoas, Campos, Recôncavo, Santos, Sergipe e SEAL, mostram potencial para investigação futura”, avaliam as pesquisadoras.
Leia também: COP 28 estimula cooperação para net zero na indústria do cimento
Estudo sugere caminhos para setor cimentício
De acordo com o levantamento, 91 unidades do setor de cimento foram consideradas conforme relatório anual do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). As regiões Sudeste e Nordeste concentravam mais de 70% das unidades no Brasil, sendo os maiores destaques os Estados de Minas Gerais (15 unidades), São Paulo (12 unidades), Rio de Janeiro (8 unidades), Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco (todos com 4 unidades cada um).
“Por envolver questões múltiplas, é extremamente recomendável que a participação do setor de cimento ocorra em comunhão com outros segmentos”, assinalam. O levantamento, apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que a viabilidade econômica da captura de carbono dependerá de políticas públicas robustas e de investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento.
A engenheira Edna Possan, especialista em sustentabilidade e professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), ressalta que a captura de carbono é uma das abordagens essenciais para alcançar a descarbonização da indústria. “A remoção do carbono depende de tecnologias e de legislação. Atualmente, as tecnologias para CCUS possuem custo elevado e baixa eficiência”, explica.
Edna também destaca que, embora o Brasil esteja avançando em direção à regulamentação de um mercado de carbono, as discussões ainda estão em fase inicial, com incertezas quanto ao valor da tonelada de carbono a ser aplicado.
Indústria cimentícia brasileira é uma das menos emissoras de CO2 do mundo
A captura de carbono não é apenas uma alternativa, mas uma necessidade para a descarbonização da indústria cimentícia. A Global Cement and Concrete Association (GCCA) estima que, até 2050, cerca de 36% da redução total de emissões precisará vir de tecnologias de captura, uso e armazenamento de carbono. No entanto, o custo elevado dessas tecnologias e a falta de infraestrutura adequada em muitas regiões do mundo continuam sendo barreiras significativas para sua adoção em larga escala.
Leia também: Indústria de cimento e concreto lança aceleradores de net zero no mundo
A indústria cimentícia brasileira já demonstrou capacidade de inovar e liderar em termos de eficiência energética e redução de emissões. Com os investimentos certos e o apoio necessário, pode também ser um exemplo de como a captura de carbono pode ser integrada em um modelo de negócios sustentável e lucrativo.
Entrevistados
Edna Possan é engenheira civil e doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e coordenadora do Laboratório de Desempenho, Estruturas e Materiais.
Regina Freitas Fernandes é graduada em Geologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Sistemas Petrolíferos pela COPPE/UFRJ e consultora Técnica da EPE.
Nathália Oliveira de Castro é graduada em Oceanografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Oceanografia pelo Programa de Pós-graduação em Oceanografia da UERJ e doutora em Meio Ambiente pelo Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente da UERJ.
Camila da Mota Carvalho é graduada em Geologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Geologia pela Université Paris-Saclay (Paris-XI).
Contatos:
epossan@gmail.com
comunicacao@epe.gov.br
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