BRT na Zona Leste de SP vai dobrar velocidade do transporte de passageiros

Perspectiva do novo BRT Aricanduva - Imagens Ilustrativas.
Crédito: Assessoria de Comunicação - SPObras

A Prefeitura de São Paulo vai implementar dois BRTs (Bus Rapid Transit, ou Ônibus de Trânsito Rápido) na Zona Leste da cidade, com o objetivo de dobrar a velocidade do transporte de passageiros na região. O BRT Aricanduva está atualmente em fase de licitação, enquanto o BRT Radial Leste (Trecho 1), está em fase de tratativas para contratação. 

O BRT Aricanduva será um componente essencial da malha de transporte público de São Paulo, com 13,6 km de extensão e previsão de atender 290 mil passageiros por dia. Já o trecho 1 do corredor de ônibus BRT Radial Leste, terá 9,8 km de extensão, e a previsão é de que 400 mil pessoas por dia sejam beneficiadas.

O empreendimento irá interligar os diversos modais da região, com conexões às linhas Vermelha do Metrô, 11 e 12 da CPTM, com a futura extensão da linha 2 (Verde) do Metrô e a linha 15 do Monotrilho, além de corredores de ônibus Radial Leste e Itaquera.

O corredor terá paradas com cobrança desembarcada, pista no canteiro central com pavimento rígido (concreto), faixas de ultrapassagem nas paradas, ciclovia e passeios acessíveis.

Segundo o projeto, serão implantadas 46 paradas (estações de embarque), com distâncias de 600 metros entre elas. As estações serão fechadas para viabilizar a cobrança desembarcada, com portas automáticas, banheiros, sistema contra incêndio com rotas de fuga e acesso à internet. As plataformas contarão com acessibilidade, piso tátil e rampas, e estarão no nível dos ônibus, facilitando o embarque e desembarque de todos os passageiros. 

“Comparado aos corredores de ônibus que existem hoje, o BRT traz algumas melhorias significativas para os passageiros. Serão estações de embarque mais protegidas e confortáveis, com cobrança nas próprias estações, ou seja, fora dos ônibus, com embarque e desembarque mais rápido, entre outras mudanças que irão modernizar todo o sistema”, afirmou Marcos Monteiro, Secretário Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo. Segundo ele, o tempo das viagens será reduzido pela metade. Monteiro ainda destacou que mais de 1 milhão de paulistanos serão beneficiados pelo empreendimento.

Pensando também na qualidade de vida dos usuários e moradores da região, em ambos os lados do Rio Aricanduva, entre as pistas sentido bairro e sentido centro, o projeto prevê a construção de ciclovia e passeio ao longo de todo BRT, atendendo as normas de acessibilidade vigentes. O empreendimento inclui ainda um completo tratamento paisagístico e urbanístico, revitalizando a paisagem urbana da região.

ENTREVISTADO 

Marcos Monteiro, secretário Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo, é engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie (1988). Obteve prêmios concedidos pelo Instituto de Engenharia e Fundação Maria Luíza e Oscar Americano. É pós-graduado em Engenharia de Estruturas pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1992). Concluiu um MBA pela Escola de Administração Mauá (1999). Foi professor de Estruturas de Concreto Armado e da pós-graduação em Gerenciamento de Canteiros da Escola de Engenharia Mauá e do curso de pós-graduação em estruturas de concreto armado do Mackenzie. Foi presidente da ABECE - Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural no biênio 2008-2010 e atualmente mantém o cargo de conselheiro.

Contato: 
comunicacaospobras@spobras.sp.gov.br

Jornalista responsável:
Fabiane Prohmann - DRT 3591/PR
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Cinpar 2024: soluções digitais ajudam a reduzir vulnerabilidade em áreas urbanas

Utilização de ambientes imersivos de Realidade Virtual para a visualização de resultados de risco.
Crédito: Envato

Durante a 20ª Edição do Congresso Internacional sobre Patologia e Reabilitação das Construções (CINPAR), que ocorreu de 29 a 31 de maio em Fortaleza (CE), diversos conferencistas trouxeram suas contribuições em torno de pesquisas sobre novos materiais, reabilitação sustentável e reforço de estruturas.

Um dos palestrantes do encontro foi o engenheiro Tiago Miguel Ferreira, professor sênior em Cidades e Estruturas Inteligentes e Resilientes na University of the West of England (UWE Bristol), no Reino Unido, que abordou o tema “Soluções digitais inovadoras para avaliação de vulnerabilidade urbana e mitigação de riscos”.

Tendo como foco de atuação estudos sobre a vulnerabilidade estrutural de edifícios históricos e áreas urbanas diante de riscos, como terremotos, incêndios, inundações e deslizamentos de terra, ele aponta ser importante o enquadramento de cada tipo de perigo, bem como a coleta de dados e correta gestão.

Análise de riscos e seus múltiplos fatores

Em entrevista exclusiva ao Massa Cinzenta, Ferreira aponta que a análise dos riscos depende de vários fatores, entre eles a vulnerabilidade física das estruturas e a infraestrutura em áreas urbanas. “Como técnicos, a nossa missão passa por quantificar essa vulnerabilidade física e, em caso de necessidade, isto é, caso essas estruturas e infraestruturas não tenham resistência suficiente para resistir a esses perigos (seja um sismo, uma inundação ou um incêndio), conferir essa resistência através da implementação de soluções de reforço adequadas”, informa.

Realidade virtual para avaliação de vulnerabilidade

Ambiente virtual para visualização de cenários de inundação na cidade de Bristol, no Reino Unido.
Crédito: Arquivo pessoal/Tiago Ferreira

Defensor do uso de soluções digitais no processo de avaliação e mitigação de risco em áreas urbanas, o professor destaca que esses facilitadores estão presentes no dia a dia da construção civil. No processo de avaliação, a tecnologia exerce um papel importante na coleta e organização da informação necessária para alimentar as metodologias a serem utilizadas para análise de vulnerabilidade.

Ele cita como referência os aplicativos para coleta de dados em campo e transferência em tempo real para Sistemas de Informação Geográfica (SIG). “Outro exemplo é a utilização de ambientes imersivos de Realidade Virtual (VR) ou Realidade Aumentada (AR) para a visualização de resultados de vulnerabilidade e de risco em modelos digitais que replicam ambientes reais”, enumera.

O palestrante apresentou alguns casos de estudo reais para exemplificar os resultados de vulnerabilidade e risco em áreas urbanas, incluindo estimativas sobre o colapso de edifícios e perdas materiais e humanas. “Usando ambientes imersivos e realidade virtual, demonstrei as situações de evacuação de pessoas em cenários de catástrofe, que podem ser utilizados para a sensibilização de decisores e populações”, aponta.

Para o professor, essas inovações tecnológicas também criam condições para gerar maior envolvimento das comunidades, possibilitando o repasse de orientações para que os moradores locais saibam como reagir de forma adequada a diversos fenômenos.

Rio Grande do Sul e a necessidade de reduzir riscos à população

Indagado sobre a previsibilidade da enchente que assolou o Estado do Rio Grande do Sul, Ferreira acredita que sempre é possível reduzir a vulnerabilidade das populações. Porém, ele condiciona essa capacidade a vários fatores, como a capacidade econômica para reduzir o nível de vulnerabilidade física e o reforço dos edifícios. “No caso específico dos fenômenos meteorológicos, sabemos que a frequência e a magnitude desses acontecimentos têm se agravado devido às alterações climáticas”, observa.

Por esse motivo, a perspectiva é de que as populações mais expostas, localizadas em zonas ribeirinhas ou costeiras, sejam afetadas de forma mais frequente e severa por situações como as vivenciadas no Rio Grande do Sul. “Por isso, é fundamental reduzir o seu nível de risco e, se isso não for possível, deslocar essas populações para buscar a diminuição do nível de vulnerabilidade física, adaptando as estruturas e infraestruturas para estes fenômenos”, assinala.

Professor do Reino Unido avalia que teria sido possível reduzir a vulnerabilidade das populações nas enchentes do Rio Grande do Sul.
Crédito: Divulgação/Cinpar

Ferreira aconselha também os gestores públicos a capacitar essas populações, através de campanhas e sensibilização, para tornar as comunidades mais preparadas para reagir de forma adequada e ágil quando atingidas por este tipo de situação.

ENTREVISTADO

Tiago Miguel Ferreira é engenheiro civil, pós-graduado em Reabilitação do Patrimônio Construído pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade de Aveiro. Atualmente, é professor sênior em Cidades e Estruturas Inteligentes e Resilientes na University of the West of England (UWE Bristol), no Reino Unido, vice-líder do programa de Mestrado em Engenharia Civil na mesma universidade, e professor associado convidado na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Contato: tiago.Ferreira@uwe.ac.uk

Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Sustentabilidade na construção civil é um dos temas de evento da CBIC e Sinduscon-PR

Rio Bonito Soluções Ambientais deu início à operação do novo triturador no mês de junho.
Crédito: Cimento Itambé

Como parte das comemorações dos 80 anos do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) realizou nos dias 6 e 7 de junho um evento focado em três grandes pilares do setor, com foco em sustentabilidade em obras industriais e corporativas, bem como temáticas envolvendo infraestrutura e mercado imobiliário.

Na temática sobre sustentabilidade, a Comissão de Obras Industriais e Corporativas (Coic) e a Comissão de Meio Ambiente (CMA) da CBIC trouxeram painelistas que abordaram processos sustentáveis e inovação na construção civil. 

“Discutimos um projeto inovador, que substitui o carvão mineral e o combustível fóssil por combustíveis renováveis. Também tratamos de construção de baixo carbono e saneamento como fonte de saúde e sustentabilidade”, afirma Ilso Oliveira, vice-presidente de Obras Industriais e Corporativas da CBIC.

Ele relata que os debates do encontro desdobram-se em novas ações, como a troca de experiências em torno da gestão hídrica nos próximos meses. O objetivo é utilizar os conhecimentos de engenharia em benefício da redução dos impactos advindos de eventos climáticos extremos. “Os principais ganhos do evento foram o compartilhamento de conhecimentos e a oportunidade de comprovar avanços importantes com cases reais”, aponta.

Coprocessamento para reduzir a pegada de carbono

Quando se fala em iniciativas para reduzir a chamada “pegada ecológica” na construção civil, a Rio Bonito Soluções Ambientais, empresa do Grupo Itambé, tem se destacado por soluções ambientais e tratamento de resíduos, em especial na atuação com coprocessamento.

O coprocessamento é uma técnica que reduz o consumo de combustíveis fósseis, através da utilização de resíduos como fonte de energia térmica nos fornos de clinquer, reduzindo assim a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Esta redução é obtida pela redução do consumo, extração e transporte dos combustíveis fósseis, assim como com a eliminação da exposição destes resíduos à atmosfera.

A importância do coprocessamento na planta cimenteira é mais evidente considerando a prática como uma das iniciativas de aceleração Net Zero, divulgada pela Global Cement and Concrete Association (GCCA), como um compromisso do setor para o processo de descarbonização.

O engenheiro ambiental Leandro Menezes Gomes, analista comercial da Rio Bonito, relata a importância do coprocessamento para toda cadeia cimenteira, que envolve desde a extração da matéria-prima até o transporte e queima nos fornos de clínquer. “Com 11 anos de atuação, a Rio Bonito é uma das principais empresas do Brasil no serviço de coprocessamento, técnica que utiliza os resíduos industriais e urbanos na fabricação de cimento, substituindo a queima dos combustíveis fósseis tradicionais dos fornos de clínquer”, informa.

Para isso ocorrer, é necessário preparar os resíduos para a queima, ou seja, triturá-los e/ou misturá-los antes de dosar no forno. A etapa da mistura, conhecida como blendagem, é analisada para atender diversos parâmetros técnicos e legais. Desde a fundação da Rio Bonito, já foram coprocessadas 737 milhões de quilos de resíduos.

Investimento nas estruturas de coprocessamento

No início da empresa, em 2013, foram coprocessadas cerca de 24 mil toneladas de resíduos, saltando para mais de 108 mil toneladas em 2023. “Em 2024, estamos com a previsão de consumir aproximadamente 150 mil toneladas de resíduos. Com isso, devemos evitar o consumo de 48 mil toneladas de coque de petróleo e reduziremos cerca de 600 mil toneladas de carbono equivalente que iriam para a atmosfera”, assinala.

Atualmente, a Rio Bonito está investindo nas estruturas de coprocessamento, aumentando a média histórica de coprocessamento, com previsão de dobrar em 2024. “Percebemos que, desde 2023, o mercado vem buscando o ‘aterro zero’ e muitos gestores públicos estão vendo no coprocessamento uma saída econômica e ambientalmente sustentável. Esperamos que este engajamento gere uma oferta ainda maior de resíduos para coprocessamento no Estado do Paraná”, avalia.

Para contratar o coprocessamento, a Rio Bonito faz inicialmente uma análise de viabilidade de coprocessamento do resíduo, com avaliação do processo de geração e coleta de uma amostra.

Uma vez aprovado o projeto, o cliente deve solicitar um laudo conforme Resolução CEMA 76/09 e, após esta fase, a Rio Bonito precifica o resíduo e dá sequência na documentação para emissão de uma Autorização Ambiental, conforme prevê a Portaria 212/19. “Este processo é utilizado para resíduos gerados ou destinados no Estado do Paraná, enquanto para os demais Estados é preciso consultar a autarquia estadual sobre o procedimento adequado”, orienta Gomes.

Entrevistados

Ilso José de Oliveira é engenheiro civil formado na Escola de Engenharia do Triângulo
Mineiro (EETM), pós-graduado em Administração Mercadológica pela Fundação Dom Cabral e possui MBA em Gestão de Negócios de Engenharia pelo IBMEC. É fundador da Reta Engenharia, sendo atualmente presidente do Conselho de Administração. É vice-presidente de Obras Industriais e Corporativas da CBIC.

Leandro Menezes Gomes é engenheiro sanitarista e ambiental formado pela FAE Centro Universitário, pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Faculdade Estácio e possui MBA em Gestão Ambiental pela Université de Rennes 2, na França. É Analista Comercial de Coprocessamento da Rio Bonito.

Contatos:
coic@cbic.org.br
leandro.gomes@riobonito.eco.br

Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


NBR 15696 passa por revisão e consulta pública

Novo texto da norma deve abordar a temperatura de lançamento de concreto e as exigências para uma empresa ser autorizada a operar.
Crédito: Envato

A ABNT NBR 15696 - Dimensionamento, Ensaios e Aplicabilidade de Fôrmas e Cimbramentos para Estruturas de Concreto está em processo de revisão e o texto final deve ser publicado até o final de 2024. 

Histórico da norma

Antes da criação da ABRASFE (Associação Brasileira de Fôrmas, Escoramentos e Acesso), já havia uma necessidade evidente de uma norma que orientasse a execução de projetos no setor de fôrmas e escoramentos. O setor estava em rápida ascensão e carecia de diretrizes normativas adequadas. Com esse objetivo em mente e organizados como associação, a ideia ganhou força e foi concretizada.

"A criação da norma ABNT NBR 15696:2009 permitiu que os projetos e premissas seguissem padrões de qualidade, evitando conflitos e garantindo maior segurança e eficiência no setor", comenta Jefferson Carlos da Silva, consultor de engenharia na ABRASFE e responsável pela gestão dos comitês de engenharia e subcomitê BIM da entidade.

Mudanças na NBR 15696

De acordo com Silva, alguns anos após a primeira edição, verificou-se a necessidade de atualização, adequação e modificação de alguns itens para melhor atender às necessidades do setor de fôrmas e escoramento, nicho no qual a inovação tecnológica ocorre de forma exponencialmente acelerada.

"Em 26 de outubro de 2021, reativamos a comissão de estudos para revisão da norma. Atualmente, foi concluída a revisão da NBR 15696 junto à ABNT na comissão de estudos CE-002:124.025 - Comissão de Estudo de Fôrmas e Escoramentos. A última reunião aconteceu em 28/03/24 e a próxima etapa será realizar ajustes no texto junto à ABNT para que possa ser enviada para consulta pública. Uma norma que não se atualiza cai no esquecimento; por isso, nós da ABRASFE nos sentimos responsáveis por manter a NBR 15696 viva", contou Silva durante o evento M&T Expo – Part of bauma network.

Entre os temas a serem contemplados no novo texto da norma estão as categorias de concreto, a temperatura de lançamento de concreto e as exigências para uma empresa ser autorizada a operar. Segundo Silva, é necessário ter cuidado com o escoramento, uma vez que situações como o acúmulo de concreto podem prejudicar o apoio e até mesmo a resistência.

Fonte
Jefferson Carlos da Silva é consultor de engenharia na ABRASFE e responsável pela gestão dos comitês de engenharia e subcomitê BIM desta entidade, e secretário da Comissão de Estudos CB-002.124.25.001, para revisão da ABNT NBR 15696.

Contato: Jef.csilva1@gmail.com

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Como será a reconstrução de moradias após as enchentes no Rio Grande do Sul?

Mais de 2 milhões de pessoas foram atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Crédito: Mauricio Tonetto/Secom

As tempestades que assolaram o Rio Grande do Sul devastaram 92,7% dos municípios, afetando 461 municípios. De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, as enchentes atingiram cerca de 2 milhões de pessoas, sendo que muitas delas se viram obrigadas a deixar suas casas. Até o momento, aproximadamente 37.328 pessoas ainda encontram-se em abrigos temporários.

O maior desafio depois que os rios retornarem a níveis aceitáveis, será a reconstrução das moradias, muitas delas inutilizadas por se encontrarem em áreas de risco ou até mesmo condenadas segundo aspectos estruturais. O geólogo e geotécnico Abdel Hach, especialista internacional em gestão e prevenção de desastres naturais, informa que as cidades atingidas por desastres naturais no Rio Grande do Sul apresentam algumas características comuns, como vulnerabilidade a inundações, deslizamentos de terra e ventos fortes.

Segundo ele, essas cidades muitas vezes possuem infraestruturas antigas, planejamento urbano inadequado e localizações em áreas de risco. De acordo com ele, muitas cidades estão situadas em áreas ribeirinhas e planícies aluviais (áreas praticamente planas), o que as torna suscetíveis a enchentes. “Além disso, parte das populações mais afetadas estão concentradas em áreas de risco devido à falta de planejamento urbano adequado”, observa.

Reconstruir as moradias exige uma abordagem multifacetada

A abordagem ideal combina planejamento estratégico, uso de tecnologias avançadas, engajamento comunitário e colaboração entre diferentes setores da sociedade para criar comunidades mais seguras, resilientes e sustentáveis”, aponta o geólogo. Por isso, reconstruir as moradias no Rio Grande do Sul após os desastres naturais é um desafio complexo que exige uma abordagem multifacetada.

Para o especialista, que também atua com foco em mapeamento e monitoramento de áreas de risco geológico no Brasil, é importante criar um novo padrão construtivo, com utilização de materiais duráveis, técnicas de construção modernas e a integração de infraestrutura verde. Tudo isso para minimizar o impacto de futuros desastres naturais e garantir a segurança das comunidades locais. 

O novo padrão construtivo deve prever a realocação de moradias de áreas de risco para locais mais seguros, evitando zonas propensas a inundações, deslizamentos e outros desastres naturais. Também é preciso integrar soluções baseadas na natureza, como parques alagáveis, telhados verdes e áreas de retenção de água, para mitigar o impacto de futuras enchentes e eventos climáticos extremos.

O geólogo, que também é conselheiro do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), afirma que a realidade impõe um novo padrão construtivo, com elevação das estruturas. “Sugiro a construção de moradias elevadas sobre plataformas, especialmente em áreas propensas a inundações, usando fundações elevadas para proteger contra eventuais enchentes”, alerta.

Uso do concreto armado e soluções modulares

Abdel Hach também defende o uso do concreto armado para as estruturas principais, devido à sua resistência e durabilidade, bem como uso do aço galvanizado para suportes estruturais, por sua resistência à corrosão e durabilidade.

“Importante também pensar em edifícios multifuncionais, cuja estrutura pode servir como abrigos de emergência durante desastres, e edifícios modulares para que possam ser facilmente montados e desmontados em casos de reconstrução”, enumera.

Exemplos bem-sucedidos no Brasil

Alguns exemplos bem-sucedidos foram citados pelo especialista, como a implantação de um amplo programa de realocação e desenvolvimento de infraestrutura resiliente em Santa Catarina, incluindo a construção de novas moradias em áreas seguras e a criação de parques alagáveis, implantados após as enchentes de 2008.

Uma das cidades beneficiadas pelo programa foi Blumenau (SC), que implantou um programa de realocação de famílias de áreas de alto risco para novas áreas desenvolvidas com infraestrutura adequada.

O pesquisador também ressalta a situação do Chile que, após o terremoto de 2010, adotou novos códigos de construção e iniciou programas de reconstrução que incluíram habitações elevadas e infraestruturas resistentes a sismos.

Outro exemplo para se inspirar é o da cidade de Teresópolis (RJ) que, após a experiência com deslizamentos de terra devastadores, criou novos conjuntos habitacionais em áreas seguras para a população que vivia em áreas de risco. “Afastar as infraestruturas dos ambientes de maior risco é uma estratégia fundamental para reduzir a vulnerabilidade a desastres naturais, o que pode ser alcançado por meio de uma combinação de planejamento urbano cuidadoso, políticas de realocação, uso de tecnologia de mapeamento e engajamento comunitário”. 

Ele também afirma ser necessário incluir a comunidade no processo de planejamento e reconstrução para garantir que as soluções atendam às necessidades e desejos dos moradores, promovendo programas de educação sobre construção resiliente e preparação para desastres, capacitando a população local para lidar melhor com eventos futuros.

CBIC propõe medidas para facilitar acesso a linhas de crédito

Outra necessidade durante o processo de reconstrução das moradias será a criação de linhas de crédito e subsídios para financiamentos na reconstrução das casas. Nesse sentido, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou à Caixa Econômica Federal um conjunto de propostas com medidas emergenciais para facilitar o provimento de moradia à população e a reconstrução do Estado

O objetivo é fomentar a construção e recuperação de moradias, apoiar a recomposição do tecido empresarial e econômico do Estado, e acelerar o retorno à normalidade social e econômica com geração de emprego e renda. 

Entre as 16 medidas voltadas especialmente para o acesso ao crédito para aquisição da casa própria, a CBIC propõe a redução de juros para aquisição, construção ou recuperação de imóveis, financiamento facilitado e ágil, além de carência de seis meses em contratos ativos e novas contratações

ENTREVISTADO

Abdel Hach é geólogo e geotécnico. Graduado em Geologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Engenharia (Geotecnia) pela Universidade de São Paulo (USP). Doutorando em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP-SP. É professor das disciplinas de Geotecnia e Geologia Aplicada junto ao Departamento de Engenharia Civil do Centro Universitário UNICURITIBA. É conselheiro do Conselho Regional de Engenharia do Estado do Paraná (Crea-PR). Tem forte atuação na área de Geologia aplicada à engenharia, com foco em prevenção de desastres naturais, segurança de barragens, mapeamento e monitoramento de áreas de risco geológico e estabilidade de taludes no Brasil e no exterior. Especialista internacional em Paleoclimatologia e Gestão e prevenção de Desastres naturais.

Contato: abdel.hach@gmail.com

Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Passarela do Parque de Castilla é feita com impressão 3D de concreto

Passarela foi construída com uma impressora 3D, utilizando um material à base de cimento reforçado com fibras.
Crédito: IAAC

A construção com impressão 3D de concreto tem ganhado cada vez mais o mercado. Em países como a França, El Salvador e Haiti, a técnica já vem sendo utilizada como solução para habitação social. Em 2021, a Alemanha viabilizou também o primeiro projeto comercial em impressão 3D.

Durante o XX International Conference on Building Pathology and Constructions Repair, realizado entre os dias 29 e 31 de maio em Fortaleza (CE), Albert de la Fuente Antequera, professor no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), trouxe a apresentação "Do projeto à análise de sustentabilidade de uma passarela de concreto impressa em 3D”. 

Benefícios do concreto impresso em 3D

De acordo com Antequera, o concreto impresso em 3D pode ser uma alternativa sustentável às soluções tradicionais para algumas tipologias e apresenta diversos benefícios:

  • Liberdade nas geometrias;
  • Aumento da produtividade;
  • Redução do consumo de materiais e dos custos com mão de obra;
  • Redução de materiais (que podem chegar até 30%);
  • Redução de emissões de CO (estimada em até 40%).

Estudo de caso: Passarela do Parque de Castilla (Madri, Espanha)

O professor da UPC apresentou durante a palestra o caso da Passarela do Parque de Castilla (Madri, Espanha), que foi construída com uma impressora 3D, utilizando um material à base de cimento reforçado com fibras, com propriedades isotrópicas e capacidade de resistência à tração após fissuração.

Vídeo aqui.

A respeito desta construção, Antequera trouxe algumas conclusões:

  • Valores característicos da resistência à compressão (fck) do material superiores a 25 MPa podem ser consistentemente alcançados na impressora de grande escala em formato 3D.
  • A espessura da camada (5 mm) e o grau de compactação revelaram-se parâmetros relevantes para garantir valores consistentes de fck > 25 MPa em toda a superfície de impressão e densidades superiores a 2.200 kg/m³.
  • A anisotropia das propriedades mecânicas deve ser levada em conta no processo de design, considerando-se as equações constitutivas do material de acordo.

Análise de sustentabilidade: comparação de desempenho

Durante a palestra, Antequera apresentou uma análise para quantificar o desempenho de sustentabilidade (SI) da passarela de concreto impressa em 3D com outras alternativas, considerando critérios econômicos, ambientais e sociais.

Para estabelecer um comparativo entre os métodos, foram consideradas as seguintes condições:

  • Mesmo vão e condição de contorno;
  • Desempenho mecânico equivalente quando submetido a cargas;
  • Durabilidade (com baixa manutenção) de 50 anos.

Diante destes critérios, foram obtidos os seguintes resultados:

    • Passarela com impressão 3D de materiais cimentícios (3DCP): Possui custos elevados (de material e equipamento), que comprometem seu desempenho de sustentabilidade. Houve redução de 40% do consumo de material, 25% das emissões de CO₂ e 35% do consumo de energia em relação à solução convencional de concreto armado (referência);
    • Passarela “UHPC” (Ultra-High Performance Fibre Reinforced Concrete - Concreto Reforçado com Fibras de Ultra Alto Desempenho): Maior desempenho de sustentabilidade em todos os cenários analisados (exceto o econômico). Houve redução de quase 70% do consumo de material, 40% das emissões de CO2 e até 70% do consumo de energia em relação ao referência;
  • Solução de concreto armado (referência): esta opção é a mais sustentável em cenários em que os custos são os principais fatores de decisão. 

Essas conclusões devem ser enquadradas dentro desta pesquisa (ou seja, geometrias, cargas, métodos de impressão 3D e materiais considerados).

Entrevistado

O Dr. Albert De la Fuente Antequera obteve seu diploma em Engenharia Civil pela Universidade Politécnica da Catalunha (UPC) em 2007 e seu título de doutorado em 2011 no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UPC. Albert é Professor Associado na UPC na área de Engenharia de Construção, sendo coordenador de disciplinas de materiais avançados de construção e projeto de concreto estrutural. Sua área de pesquisa é Engenharia Civil e Estrutural, focando principalmente em novos materiais e processos de construção, projeto estrutural avançado e otimização, e modelos para avaliação de sustentabilidade.

Antequera lidera em média 2 projetos financiados publicamente por ano e colabora intensivamente com as 5 principais empresas espanholas relacionadas à construção, que operam em todo o mundo enfrentando desafios relevantes e estratégicos. Ele lidera vários projetos de pesquisa orientados para a indústria relacionados à construção de impressão 3D estrutural, otimização de projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras e novos materiais avançados de concreto. Também publicou mais de 50 artigos revisados por pares em revistas científicas indexadas e mais de 100 contribuições em conferências internacionais, sendo membro ativo em diversos comitês técnicos internacionais. Em 2013, co-fundou a Smart Engineering (Spin-Off UPC).

Contato: albert.de.la.fuente@upc.edu

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Mediação e Arbitragem são soluções alternativas para resolver conflitos jurídicos da construção civil

Diversas situações de impasse podem ser resolvidas com mediação e arbitragem.
Crédito: Envato

A quantidade de processos que chegam à Justiça envolvendo a cadeia da construção civil e o mercado imobiliário preocupa o setor, motivando o encontro de especialistas que vão se reunir nos dias 13 e 14 de junho, em Salvador, durante o Seminário Jurídico CBIC.

O evento, que deve reunir 400 pessoas entre advogados, membros do Ministério Público e magistrados, traz como foco central a discussão sobre os diversos conflitos jurídicos que envolvem o setor e formas alternativas de reduzir os processos na Justiça.

O advogado Fernando Guedes Ferreira Filho, presidente do Conselho Jurídico da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), explica que são inúmeros os processos em trâmite no Judiciário. “Temos ações de toda natureza, com dono de construtoras, clientes, fornecedores, donos de terreno, governo e funcionários. As ações trabalhistas, por exemplo, são elevadas, porque a construção civil é um setor que usa intensiva mão de obra”, relata.

Vícios construtivos e pedidos de indenização

No tratamento das relações entre comprador e vendedor, por exemplo, existem divergências sobre a aplicação da Lei de Incorporações ou do Código de Defesa do Consumidor. “Tramitam também na Justiça processos contra o governo quando a discussão é sobre questões de ordem tributária e fundiária”, elenca Ferreira Filho.

Já a advogada Maria Amélia Garcez, assessora jurídica da Ademi-BA (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia), afirma que um dos temas recorrentes na Justiça são os vícios construtivos reclamados pelos adquirentes de unidades imobiliárias, com pedidos de indenização das construtoras. “Esse é um litígio que tem demandado uma intervenção grande do Judiciário”, assinala.

Outros temas que se transformam em processos dizem respeito à revisão de contratos da licitação pública para manter o equilíbrio financeiro, distratos por parte dos adquirentes para reaver o valor pago, entre outros.

Judicialização traz prejuízo para toda cadeia

Segundo Maria Amélia, esses conflitos acarretam prejuízo para o mercado imobiliário, causando grande impacto em toda cadeia produtiva. “Em caso de condenação, os agentes financeiros públicos e privados vão ter que assumir essa conta, não só os danos materiais quanto os morais”, alerta.

A assessora jurídica da Ademi-BA aponta que a legislação que trata dos distratos (Lei 13.786/18) levou as incorporadoras a parar de empreender. “Cada rescisão de contrato, com sua consequente devolução de valor, descapitaliza as empresas, porque tira do caixa os recursos que são aplicados na construção de determinado empreendimento imobiliário”.

Para reduzir a quantidade de conflitos na Justiça, um dos objetivos do encontro é discutir formas alternativas para solucionar essas divergências. Para isso, os especialistas vão trazer exemplos bem-sucedidos de aplicação de soluções extrajudiciais.

Mediação e Arbitragem para solucionar conflitos

O presidente do Conselho Jurídico da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) vai demonstrar que a mediação e a arbitragem são caminhos viáveis para evitar a judicialização. “Na mediação, você busca um terceiro que vai negociar o conflito em busca de uma solução. Já na Arbitragem, as partes nomeiam um árbitro que vai conduzir o processo e decidirá pela melhor solução”, orienta.

Segundo ele, essas formas extrajudiciais de solução economizam tempo, com muito mais rapidez do que na Justiça convencional. Além de reduzir o tempo, a burocracia envolvida também é bem menor, o que traz vantagens para todas as partes.

Ferreira cita o exemplo de conflito envolvendo comprador de um terreno, que encontrou um impeditivo urbanístico de forma a não poder utilizar o terreno como previa na concretização do negócio. “Nesse caso, o comprador quer desfazer o negócio e isso leva a multas e indenizações. Esse é um conflito que pode ser levado à mediação e arbitragem sem necessidade de processo judicial”, explica.

Para Maria Amélia Garcez, o evento é um importante marco para toda cadeia da construção civil e ramo imobiliário, porque dissemina a informação sobre formas alternativas de resolver conflitos no setor. “No Brasil, ainda é tímido o uso de soluções extrajudiciais, mas com tendência de ser amplamente utilizada”, conclui ela.

ENTREVISTADOS

Fernando Guedes Ferreira Filho é advogado graduado pela Faculdade de Direito Milton Campos (MG), presidente do Conselho Jurídico da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), sócio do escritório Guedes Ferreira Advogados e atua como consultor jurídico na área imobiliária e de construção civil. 

Maria Amélia Garcez é advogada especialista em Direito Imobiliário. Professora da Pós-Graduação em Direito e Gestão Imobiliária da Faculdade Baiana de Direito, assessora jurídica da Ademi-BA, membro do Conselho Jurídico da CBIC – CONJUR, diretora de Relações Institucionais do Instituto Baiano de Direito Imobiliário – IBDI, integrante do Núcleo Jurídico e Conselheira da Associação Comercial da Bahia – ACB. Sócia-fundadora do escritório Garcez Advogados Associados.

Contatos:

ademi@ademi-ba.com.br
conjur@cbic.org.br

Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Edifício na Noruega se destaca pelas soluções sustentáveis de conforto térmico

Prédio usa poços geotérmicos, painéis fotovoltaicos, um sistema de baixa energia para aquecimento e resfriamento, e ventilação natural.
Crédito: Lars Petter Pettersen

Já pensou ter um edifício no qual nenhuma energia é adquirida para aquecimento, resfriamento ou ventilação? Na antiga área industrial de Nydalen, junto ao rio Akerselva, em Oslo, Noruega, o escritório de arquitetura Snøhetta projetou um edifício de 18 andares que traz esta possibilidade. Chamado de Vertikal Nydalen, o prédio integra dois projetos de pesquisa sobre soluções de energia sustentável e possui um sistema climático simplificado e autossuficiente, sendo o primeiro edifício de uso misto com climatização natural da Noruega.

Solução triplo zero

Conhecido como um edifício de 'solução triplo zero', nenhuma energia é comprada para aquecimento, resfriamento ou ventilação nos espaços de escritório ou nos apartamentos do Vertikal Nydalen. “Isso é alcançado usando poços geotérmicos, painéis fotovoltaicos, um sistema de baixa energia para aquecimento e resfriamento, e ventilação natural. O projeto possui mais de 50% de redução geral de emissões de CO₂ provenientes de materiais, transporte e energia em comparação com um projeto de referência”, afirma Anne Cecilie Haug, arquiteta sênior e líder de projeto.

De acordo com Snøhetta, o edifício é aquecido e resfriado com água proveniente de poços geotérmicos no solo sob o edifício. Os painéis fotovoltaicos no telhado alimentam a bomba de calor que controla o sistema de aquecimento e resfriamento. Paredes de concreto absorvem calor durante o dia e o liberam à noite, contribuindo para uma temperatura estável no edifício.

Projeto do Vertikal Nydalen

Interior do edifício tem chão e teto de concreto.
Crédito: Lars Petter Pettersen

Ao pensar na construção do Vertikal Nydalen, o escritório Snøhetta também levou em consideração a transformação do distrito onde ele está localizado em uma área residencial vibrante. Por conta disso, o edifício possui restaurantes, escritórios e apartamentos. 

Para manter algumas linhas de visão e obter uma impressão mais leve, o edifício é dividido em dois blocos de diferentes alturas. Praças e passagens foram criadas no térreo ao redor do edifício. Ao mesmo tempo, o design garante boas condições de insolação e ventilação em sua praça.

Segundo o escritório de arquitetura, o design do edifício desempenha um papel fundamental nas soluções energéticas oferecidas. O volume é projetado para criar diferenças de pressão que permitem que o ar se mova pelos ambientes sem ventiladores mecânicos. O ar entra através de válvulas ou janelas na fachada, que abrem e fecham conforme necessário. Quando duas janelas abrem em lados diferentes do edifício, promovendo a ventilação cruzada, a diferença de pressão força o ar a se mover pelos ambientes sem o uso de ventiladores, fazendo com que o ar circule.

Como os sistemas de ventilação tradicionais em edifícios de escritórios frequentemente exigem um rebaixamento do teto de até um metro a partir da laje, essa solução natural sem dutos e ventiladores economiza muito espaço, além de promover melhoria na qualidade espacial dos ambientes. 

Os ângulos e facetas proporcionam diferenças de pressão e mudanças de velocidade no vento que atinge a fachada e isso contribui para um melhor efeito de ventilação no interior, pois a velocidade do vento é otimizada. 

Uso do concreto no Vertikal Nydalen

O design do edifício desempenha um papel fundamental nas soluções energéticas oferecidas.
Crédito: Lars Petter Pettersen

No Vertikal Nydalen, a massa térmica (capacidade de um material de armazenar e liberar calor, ajudando a regular a temperatura interna de um edifício) é necessária para que os pisos liberem calor e frio de forma lenta, e as lajes e núcleos de concreto garantem isso. 

De acordo com Heidi Pettersvold Nygaard, arquiteta de interiores sênior e líder de projeto do escritório Snøhetta, a solução de ventilação natural estabelece parâmetros específicos para o interior. “Como qualquer adição de materiais diminuiria os efeitos do concreto bruto e da altura do pé direito, o concreto é exposto ao máximo possível em todo o ambiente. Os andares superiores do Vertikal Nydalen contam com 40 apartamentos, com áreas variando de 44 m² a 143 m² e layouts diversos. Cada apartamento é único devido à forma não convencional do edifício. Todos compartilham características comuns, como tetos de concreto exposto e painéis acústicos feitos de plástico reciclado, além de portas com 2,40 metros de altura. Para ajustar a sensação de calor sem reduzir significativamente a capacidade térmica, uma fina camada de parquete de carvalho foi colocada sob o piso de concreto”, comenta.

Fonte
Anne Cecilie Haug, arquiteta sênior e líder de projeto do escritório Snøhetta. 

Contato: ida@snohetta.com

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.


Ponte de Baltimore: era possível evitar o desabamento?

No dia 26 de março, o navio porta-contêineres Dali colidiu com um píer que sustentava a ponte Francis Scott Key, em Baltimore, nos Estados Unidos. Uma grande extensão da ponte de 2,6 km de comprimento desabou imediatamente no rio. Há fatores relacionados à sua construção que poderiam minimizar os impactos desta colisão?

Ponte antiga x navios novos

A ponte Francis Scott Key foi construída na década de 1970. Na época, os navios que passavam por lá eram bem menores. De acordo com a engenheira Norma Jean Mattei, membro do Conselho Consultivo Nacional de Infraestrutura da administração Biden nos Estados Unidos, em 1991, a Associação Americana de Rodovias do Estado e Funcionários de Transporte (The American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO) publicou um manual com especificações para colisões em pontes com estradas. “A ponte de Baltimore precede esta publicação. Ao olhar estas especificações, elas falam sobre características dos canais de navegação, as probabilidades de colapso e colisão do navio com o píer. Este manual prevê condições geradas por erros humanos, questões climáticas, perda de energia (que parece ser o caso do navio Dali) ou para o caso da embarcação ficar à deriva. Mas, na minha opinião, trata-se de um navio muito grande, que navegava muito rapidamente. Eu não acredito que mesmo se a ponte seguisse as novas especificações, acho que ela não aguentaria tamanho impacto”, afirma Norma. 

Benjamin Schafer, professor de engenharia civil e de sistemas na Universidade Johns Hopkins, acredita que qualquer ponte apoiada em dois pontos como essa, tendo um dos suportes completamente removido, acabaria caindo. “O vão principal (que é a parte vista desabando), é a superestrutura de aço. Cada um dos elementos que você vê são de aço apoiados em pilares de concreto, que os conectam na fundação”, explica.

Dolfins

Uma das questões apontadas que poderia ter ajudado a minimizar o impacto de acidentes de navios com pontes são os dolfins - construções circulares de concreto localizadas perto dos suportes centrais de uma ponte. Elas são projetadas para que embarcações colidam com elas se saírem da rota no canal de navegação, desviando-as de uma colisão com a ponte.

Na Ponte Rio-Niteroi, por exemplo, há oito dolfins nos quatro pilares principais do vão central, sendo cada dolfin formado por doze tubulões, interligados por um anel pré-moldado de concreto, formando um cilindro preenchido por pedra. “Para o sistema de proteção dos cinco pilares de cada lado do vão central, blocos semicirculares são apoiados em sete tubulões, com as faces externas protegidas por 3.000 defensas de borracha”, explica José Francisco Toledo Melara, professor de engenharia da Universidade São Judas Tadeu – Unidade Butantã.

No caso da Ponte de Baltimore, quatro dos dolfins permaneceram intactos – mostrando que o navio passou direto por eles. Um deles quase foi atingido pela embarcação, mas ele era muito menor em comparação com o navio, que parece ter mais de 15 vezes o seu comprimento. Para Roberto Leon, professor de engenharia estrutural na Virginia Tech, um sistema de proteção mais robusto teria dado ao Dali uma chance melhor de atingir os dolfins antes de colidir com a ponte.

“Relação entre tipologia e materiais constituintes das pontes

Melara aponta que, atualmente, na fase de projeto de qualquer ponte são consideradas ações relacionadas às cargas permanentes acidentais (como o vento e cargas móveis, por exemplo) e as excepcionais, como o impacto de uma embarcação em um pilar de uma ponte. Além disso, esta avaliação é feita considerando-se todos os materiais constituintes das pontes. 

De acordo com Melara, o impacto lateral na superestrutura de uma ponte metálica poderá levar a mesma ao colapso pelo rompimento das ligações dos seus elementos estruturais, ou pelo seu deslocamento pela deformação dos materiais. “A intensidade dos danos causados estaria associada ao sistema construtivo adotado e pela esbeltez de seus elementos metálicos estruturais da superestrutura e mesoestrutura (pilares)”, pontua.

Fontes
Benjamin Schafer é professor de engenharia civil e de sistemas na Universidade Johns Hopkins.
José Francisco Toledo Melara é professor de engenharia da Universidade São Judas Butantã.
Roberto Leon é professor de engenharia estrutural na Virginia Tech.
Norma Jean Mattei é engenheira e membro do Conselho Consultivo Nacional de Infraestrutura da administração Biden nos Estados Unidos.

Contatos
Benjamin Schafer - schafer@jhu.edu
Roberto Leon - rleon@vt.edu
José Francisco Toledo Melara - carlos@vetor.am

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé. 


Prática para “Pavimento urbano de concreto permeável moldado in loco” será lançada

Documento técnico poderá auxiliar engenheiros projetistas, arquitetos e urbanistas no desenvolvimento de projetos sustentáveis com a utilização de pavimentos de concreto permeáveis.
Crédito: Cortesia LMP-EPUSP

O Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) irá lançar a Prática Recomendada “Pavimento urbano de concreto permeável moldado in loco: prática recomendada para dosagem, projeto hidráulico, estrutural, execução e manutenção”. O projeto foi realizado pelo Comitê Técnico IBRACON CT 306 - Pavimentos de Concreto, com coordenação da engenheira Andréia Posser Cargnin. Segundo Andréia, este documento deve ser lançado dentro de um mês e será comercializado pelo IBRACON. 

“Dentro do Comitê, passamos por toda uma estruturação e convidamos membros da indústria, tecnologistas de concreto e projetistas para que participassem do comitê e que pudéssemos unificar o ambiente de pesquisa, a indústria e o ambiente de projeto e de construção na cadeia construtiva do concreto. Nossa primeira missão foi trabalhar em cima dessa prática recomendada para Pavimento Urbano de Concreto moldado in loco, que é recomendada para dosagem, projeto hidráulico e estrutural, execução e manutenção de pavimentos de concreto permeável para pavimento urbano”, conta Andréia. 

Para ela, pensando em mercado, a grande dificuldade quando se tem uma tecnologia nova é a questão da normalização para as Prefeituras poderem estabelecer a composição de custos para precificação do material. “Essa Prática Recomendada é um passo inicial – não é uma norma. Ela oferece recomendações de projeto e é um primeiro passo para caminharmos para uma normalização do pavimento de concreto permeável moldado in loco. A partir disso, as prefeituras poderão ter um material na sua especificação e ter toda a composição de custos para poder atender o mercado. Nós percebemos que há interesse pelo uso do material em espaços públicos, como praças. Trata-se de um material atrativo, especialmente para áreas de baixo volume de tráfego – há uma certa limitação para vias de tráfego pesado. Acho que a grande contribuição desta prática recomendada é dar um primeiro passo para ter uma normalização deste pavimento de concreto permeável moldado in loco. Hoje existe uma norma, a NBR 16416, mas ela foi desenvolvida pensando em pavimentos para blocos de concreto permeáveis e infiltração pelas juntas”, comenta Andréia.

Uso do Pavimento Urbano de Concreto moldado in loco 

No Brasil, a maior parte dos pavimentos urbanos de concreto são moldados in loco, segundo Andreia. “Neste processo construtivo, o caminhão betoneira vai chegar com o concreto e vai depositá-lo. O acabamento será todo feito no local da obra”, explica a coordenadora do Comitê Técnico IBRACON CT 306 - Pavimentos de Concreto. 

Crédito: Cortesia LMP-EPUSP

No entanto, nos Estados Unidos, ela já é utilizada desde a década de 1970. “Aqui no Brasil, os primeiros estudos foram feitos pela Poli, da Universidade de São Paulo, entre 2010 e 2013. Rapidamente, vários grupos de pesquisa do Brasil – de universidades federais, estaduais e particulares de diferentes regiões – começaram a estudar muito o material. Então tem muita bibliografia de dissertação de mestrado e tese de doutorado, além de proposições de metodologias de dosagem. Esse é um ponto que a gente ainda não tem um método universal. Num primeiro momento, quando nos reunimos no Comitê Técnico 306, víamos que havia muita pesquisa. Identificamos que nosso trabalho seria juntar boa parte do que foi produzido nesse ambiente acadêmico e trazer para uma linguagem que atenda o mercado, engenheiros e projetistas, para que a tecnologia possa começar a ser mais utilizada. No Brasil, tem muito uso do pavimento urbano de concreto permeável moldado in loco – mas é algo mais recente, cerca de 10 a 15 anos. Mas no exterior já é utilizada há mais de 50 anos. Os Estados Unidos, por exemplo, têm políticas públicas muito bem estabelecidas para o emprego e para recomendação do uso de pavimentos de concreto permeáveis – tanto órgãos rodoviários americanos, como a agência de proteção ambiental tem parâmetros muito bem estabelecidos sobre situações em que a tecnologia pode ser empregada”, afirma Andréia.

O que abrange a Prática Recomendada?

De acordo com o Ibracon, a Prática Recomendada “Pavimento Urbano de Concreto Permeável Moldado in Loco”, fornecerá informações e orientações técnicas sobre terminologia, aplicações, materiais, requisitos, procedimentos de dosagem, dimensionamento hidráulico, diretrizes de projeto estrutural, construtivas e de inspeção, além de aspectos de manutenção deste tipo de pavimento

“Tal documento técnico poderá auxiliar engenheiros projetistas, arquitetos e urbanistas no desenvolvimento de projetos sustentáveis que contemplem a utilização de pavimentos de concreto permeáveis, bem como estimular o desenvolvimento de políticas públicas para aplicação da tecnologia”, explica o IBRACON.

Os tópicos e informações presentes no documento são:

Crédito: Cortesia LMP-EPUSP

  • Breve histórico a respeito do emprego da tecnologia e as possibilidades de aplicação;
  • Notações, termos e definições relevantes para o entendimento dos procedimentos de cálculo;
  • Materiais passíveis de emprego para a produção do concreto permeável;
  • Requisitos de desempenho para agregados, limites granulométricos sugeridos e um levantamento bibliográfico com as principais conclusões de estudos desenvolvidos com emprego de agregados reciclados;
  • Requisitos em relação aos ligantes hidráulicos, aditivos que podem ser utilizados, fibras sintéticas e adições minerais (como sílica ativa, pozolana, nanossílica);
  • Métodos de dosagem desenvolvidos em pesquisas acadêmicas que podem ser utilizados como um norte para proporcionar a mistura de concreto permeável;
  • As principais características mecânicas e hidráulicas relacionadas ao concreto permeável, bem como os procedimentos de ensaios recomendados para sua determinação;
  • Questões de durabilidade do concreto permeável;
  • Comentários e considerações relevantes para a análise estrutural e dimensionamento adequados de pavimentos de concreto permeáveis empregados em vias de tráfego leve (calçadas de pedestres, ciclovias, áreas de estacionamentos);
  • Discussões a respeito do dimensionamento hidráulico da estrutura, fornecendo elementos para a estimativa da espessura necessária à camada de base de modo que a estrutura possa armazenar um volume de água suficiente para o atendimento dos critérios desejados;
  • Preparação de subleitos, bases granulares (ensaios recomendados para seleção de materiais, espalhamento e nivelamento), mantas de geotêxtil e polietileno de alta densidade (em quais situações utilizar), preparo e mistura do concreto permeável, execução de sistemas com e sem caixa coletora;
  • Execução do revestimento em concreto permeável;
  • Discussão inicial sobre a colmatação dos concretos permeáveis e bases granulares, suas causas e consequências;
  • Informações sobre condicionantes decisórios que balizam as atividades de manutenção ou a decisão pelo emprego ou não da solução em concreto permeável;
  • Aspectos relacionados à gestão de pavimentos permeáveis por meio de avaliação periódica e objetiva, requisitos sobre a periodicidade de avaliação e quais técnicas de manutenção de rotina, preventiva e corretiva podem ser empregadas.

Entrevistada

Andréia Posser Cargnin é engenheira civil pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP- EPUSP. Atualmente, é coordenadora do Comitê Técnico IBRACON CT 306 - Pavimentos de Concreto.

Contato: Andreiacargnin@usp.br 

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.