Produtividade da construção esbarra em gargalos históricos
Com ampla experiência na engenharia civil e na execução de projetos, Luiz Henrique Ceotto foi o palestrante escolhido para fechar os debates que marcaram o Conecti CBIC 2019 (Congresso Nacional de Engenharia, Construção, Tecnologia e Inovação), que aconteceu nos dias 21 e 22 de novembro, na cidade de Maringá-PR. Ceotto fez uma abordagem sobre os gargalos que impedem a construção civil brasileira de alcançar níveis de produtividade semelhantes aos de países mais desenvolvidos. Ele também fez questão de ressaltar que se tratam de barreiras históricas. “Há 50 anos a construção civil brasileira discute sua baixa produtividade”, lembra.
Professor-titular da Universidade Federal do São Carlos (UFSCar) e professor-visitante da Universidade de São Paulo (USP), Ceotto cita que entre os gargalos que prejudicam a produtividade da construção civil alguns são de ordem governamental. Como os tributos, por exemplo, que atrapalham o uso de processos industrializados nos canteiros de obras. “No Brasil, um processo construtivo industrializado paga de 18% a 20% a mais de tributos”, diz. O engenheiro reforça ainda que o formato de financiamento no país também contribui para que obras atrasem. “O cliente não se prepara para a compra de um imóvel. Com isso, as empresas dão prazo. Prazo para iniciar a obra e prazo ao longo da construção, a fim de dar tempo do comprador se preparar para pagar a unidade. Isso desestimula a visão industrial do setor”, completa.
Não existem parâmetros para medir a produtividade da construção civil brasileira
Luiz Henrique Ceotto ressalta que o setor também se acostumou a não adotar parâmetros de produtividade. “Existe uma negligência com o tempo, que é um dos únicos recursos que não se recuperam. É comum um projeto demorar de 5 anos a 10 anos para ser aprovado. Além disso, um negócio imobiliário no Brasil dura, em média, de 5 anos a 8 anos para a conclusão da obra. Isso resulta em aumento de custo e risco, sem contar que o produto é entregue envelhecido. O resultado de tudo isso é o afastamento do investidor”, destaca. O engenheiro civil complementa alertando para a falta de dados sobre a produtividade da construção civil brasileira, lembrando que há raros estudos sobre o tema.
Ceotto cita que a pesquisa mais recente sobre o assunto foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 2002 e 2006. Os levantamentos apontaram que a produtividade brasileira no setor era 1/3 da norte-americana e que o prazo para a construção de um empreendimento era duas vezes e meia maior. “Estamos em um ciclo vicioso, onde prazos longos na realização do negócio refletem na redução da rentabilidade e no aumento de custos e riscos”, afirma. Para finalizar, o engenheiro frisa que para mudar o atual cenário deve ser feito um trabalho conjunto. “Temos que falar com o governo, com o setor financeiro, apontar caminhos e ter visão de soluções de curto, médio e longo prazo. Estamos cometendo falha de gestão estratégica no setor da construção civil há mais de 50 anos”, conclui.
Veja a palestra do engenheiro civil Luiz Henrique Ceotto, no Conecti CBIC 2019
Entrevistado
Reportagem com base na palestra concedida dentro do painel “A Inovação e o Futuro da Construção”, proferida pelo engenheiro civil Luiz Henrique Ceotto, no Conecti CBIC 2019
Contato: comunica@cbic.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Indústria de material de construção conjuga o verbo investir
Segundo o termômetro da indústria de material de construção, divulgado pela ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), 81% das empresas do setor têm pretensão de aumentar os investimentos nos próximos 12 meses (novembro de 2019 a outubro de 2020), seja na expansão de sua capacidade atual, seja na modernização de seus meios de produção. No ano passado, essa pretensão de investir abrangia 57% das companhias. "Continuamos buscando caminhos para um desenvolvimento sustentável da indústria de material de construção”, explica Rodrigo Navarro, presidente da ABRAMAT.
Para 73% dos empresários ouvidos para o termômetro da indústria, a intenção de expandir a produção independe das ações governamentais. Já 23% declaram estar otimistas com o governo para 2020. Para esses, além do desejo de utilizar mais da capacidade atual de produção há também a vontade de expandi-la com a aquisição de novos equipamentos. Dos entrevistados, apenas 4% se declararam pessimistas para os próximos 12 meses. Para o presidente da ABRAMAT, se o governo não atrapalhar já estará ajudando o setor. Porém, o dirigente considera que existem ações importantes para impulsionar a construção civil.
De acordo com Rodrigo Navarro, a ABRAMAT aguarda a retomada de investimentos em obras de infraestrutura, além de uma atuação propositiva que estabeleça canais de diálogo transparentes entre o setor público e a indústria de material de construção. “Questões como o apoio à modernização do marco regulatório do saneamento básico, às reformas estruturais, eliminação de burocracias, engajamento do setor no âmbito da Indústria 4.0 e combate à falta de conformidade técnica e fiscal são temas que terão continuidade e fazem parte desse contexto de crescimento sustentável”, afirma.
Varejo da construção civil está entre os setores que mais crescem em 2019
Independentemente dos impulsos que a macroeconomia pode dar à construção civil, sinais de que o setor retoma seu crescimento - ainda que lento e gradual - são cada vez mais evidentes. A ABRAMAT apurou que a indústria de materiais de construção cresceu 1,9% no período que compreende de novembro de 2018 a outubro de 2019. Comparativamente, de novembro de 2017 a outubro de 2018 a elevação chegou a 1,2%. O crescimento maior ocorreu no segmento de materiais de acabamento, que registraram alta de 4,7%. O aumento de demanda na indústria é reflexo do volume das vendas no varejo da construção, que em 12 meses cresceu 3,5%, aponta o IBGE.
O varejo da construção civil só está crescendo menos que veículos, motos e peças (11,2% no acumulado de 12 meses), produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,6% no acumulado de 12 meses) e artigos de uso pessoal e doméstico (6,3% no acumulado de 12 meses). Para Navarro, um crescimento mais uniforme em todos os setores abrangidos pela ABRAMAT depende da modernização da produtividade de alguns segmentos. “Entendemos como fundamentais para sustentar o crescimento, o incentivo à modernização dos parques fabris dos nossos associados e o intercâmbio de boas práticas internacionais e domésticas”, afirma.
Entrevistado
Reportagem com base no termômetro da indústria de material de construção, da ABRAMAT, e no índice de vendas do varejo, do IBGE
Contatos
abramat@abramat.org.br
comunica@ibge.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Caixa vai retirar indexadores do crédito imobiliário
A Caixa Econômica Federal vai adotar o crédito habitacional pré-fixado a partir de 2020. Significa que o banco quer eliminar indexadores das prestações da casa própria, tornando-as fixas desde a primeira até a última parcela. A mudança deve ocorrer ainda no primeiro semestre do próximo ano, provavelmente a partir de março. “No ano que vem queremos lançar o crédito imobiliário sem IPCA e sem TR. Ou seja, sem nenhum tipo de correção. Quando você lança este tipo de financiamento é o mais fácil para poder securitizar e o mais fácil de poder, como cliente, comparar. Quando você tem uma taxa fixa, é muito mais claro para a sociedade”, diz o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
O anúncio ocorreu em palestra do dirigente na FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças), no final do mês de outubro. Para mudar o formato de financiamento imobiliário é necessário atrelá-lo à securitização da carteira de créditos imobiliários e manter um quadro de inflação controlada por longo prazo. Na securitização, o banco repassa o risco de calote para investidores, através de títulos lançados no mercado financeiro. A Caixa estima que com essa modalidade poderá alavancar até R$ 300 bilhões para sua carteira imobiliária. Para os demais bancos, no entanto, o governo federal primeiro deveria regulamentar o financiamento pré-fixado.
Para aderir à modalidade, as instituições financeiras privadas também sugerem que os contratos com prestações pré-fixadas sejam no máximo de 5 anos ou que possam ser revistos de 5 anos em 5 anos. Pedro Guimarães, porém, entende que, quando a Caixa lançar seu modelo, os demais bancos irão segui-la. “A minha impressão é que os demais bancos virão também para este sistema”, avalia. Segundo Guimarães, o momento econômico do país é propício a quem deseja adquirir a casa própria. Ele justifica dizendo que o crédito imobiliário está aquecido e que os preços dos imóveis estão convidativos. “Temos redução de taxa de juros, estamos retomando o crescimento, existe crédito imobiliário disponível e os preços dos imóveis ainda não tiveram alta significativa”, diagnostica.
Em 2019, Caixa já reduziu três vezes as taxas para aquisição da casa própria
Só em 2019, a Caixa já reduziu três vezes as taxas para aquisição da casa própria. Nos financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), a menor taxa passou de 8,5% ao ano para 7,5% ao ano e a maior de 9,75% ao ano para 9,5% ao ano. Antes, o banco havia criado a linha de financiamento imobiliário com saldo corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nesse modelo, a taxa mínima é o IPCA mais 2,95% ao ano e a máxima o IPCA mais 4,95% ao ano. Também tiveram quedas as cobranças de juros do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Nas duas modalidades, a taxa efetiva mínima será a soma da Taxa Referencial (TR) mais juros que variam de 6,75% ao ano a 8,5% ao ano.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, na FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças)
Contato: imprensa@caixa.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Queda de prédio em Fortaleza-CE é alerta para condomínios
Para o coordenador-técnico da COSEDI (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), o engenheiro civil Marcelo Solera, a lição que o desabamento do edifício Andrea, em Fortaleza-CE, deixa é de que os condomínios precisam se preocupar com a manutenção das edificações pelas quais são responsáveis. “Houve uma clara negligência do condomínio daquele prédio para com a manutenção. A ponto de comprometer totalmente a estrutura do prédio”, diz o engenheiro, que palestrou recentemente na Habitacon, em Curitiba-PR.
Solera alerta que a melhor forma de evitar acidentes e problemas com a estrutura em imóveis, que podem causar desabamentos e provocar vítimas, é fazer a manutenção periódica da edificação. A orientação é que, uma vez por ano, o dono do imóvel contrate um engenheiro civil para fazer uma avaliação e verificar se há necessidade de manutenção da edificação. “A responsabilidade legal pela manutenção é do proprietário do imóvel e, no caso de um prédio, do síndico”, alerta o coordenador da COSEDI, organismo ligado à prefeitura de Curitiba.
O engenheiro civil explica que situações preocupantes ocorrem quando o aço de pilares e vigas começa a ficar visível em meio ao concreto - a chamada armadura exposta. “Se isso acontecer, é preciso acionar os organismos competentes. Esse tipo de situação acontece quando a umidade infiltra no concreto, enferruja e oxida o aço, fazendo com que ele se expanda e estoure o concreto. Esse processo deteriora a resistência do concreto e cresce a possibilidade de toda a estrutura desabar”, diz Marcelo Solera.
Síndicos devem sempre observar pilares, vigas e lajes de concreto dos prédios que administram
O coordenador da COSEDI recomenda sempre que os síndicos observem pilares, vigas e lajes de concreto. “Uma fissura capilar nesses pontos é mais preocupante que uma rachadura em uma parede de alvenaria não-estrutural”, orienta. “Afundamento no imóvel é outra situação preocupante, por indicar problemas na fundação ou desestabilização do solo. Telhado também requer cuidados, pois uma infiltração de água de chuva pode apodrecer o madeiramento e causar a queda da cobertura”, completa.
O coordenador da COSEDI recomenda que o revestimento das fachadas e a pintura estejam sempre bem conservadas, pois contribuem para minimizar a entrada de umidade nas estruturas da edificação. Esse tipo de manutenção foi negligenciada no prédio que desabou em Fortaleza-CE, no dia 15 de outubro de 2019. Havia 14 anos que a edificação começou a revelar problemas estruturais, o que foi confirmado pelo CREA-CE. A tragédia deixou um saldo de 9 mortes.
O presidente do CREA-CE, Emanuel Maia Mota, acrescenta que contribuiu para o desabamento o fato da lei de inspeção predial da capital cearense não ser respeitada. “Temos registrado repetidos acidentes causados pela falta de manutenção das construções. E mesmo quando essas edificações tinham alvará, o poder público não tinha detalhes sobre o plano de manutenção da estrutura predial”, afirma. O edifício Andrea foi construído há 40 anos, mas a prefeitura de Fortaleza só tinha registro da obra a partir de 15 de setembro de 1995.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “Riscos estruturais iminentes e obrigatoriedade de manutenção em condomínios”, do engenheiro civil Marcelo Solera, coordenador-técnico da COSEDI (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), na Habitacon
Contato: cosed@smds.curitiba.pr.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construtoras voltam a se valorizar no mercado de ações
As construtoras e incorporadoras que estão listadas na Bolsa de Valores experimentam nova valorização de suas ações. Levantamento da consultoria Alvarez&Marsal mostra que algumas empresas já alcançaram altas significativas em seus papéis, no período de 12 meses (novembro de 2018 a outubro de 2019). São os casos da Trisul (301,2%), da Helbor (105,63%), da Eztec (95,59%), da Even (78,23%), da Cyrela (65,97%), da Direcional (49,76%) e da Tenda (44,45%) - todas com sede na cidade de São Paulo-SP -, além da MRV (39%), de Belo Horizonte-MG. Só em 2019, essas empresas, somadas, já captaram 4,4 bilhões de reais na Bolsa.
As construtoras e incorporadoras mais bem avaliadas no mercado de ações se dividem entre as que atuam no segmento de edifícios de luxo e superluxo e as que têm suas marcas atreladas ao programa Minha Casa Minha Vida. Destas, apenas a Tecnisa não teve valorização de suas ações no recente período de 12 meses. A empresa registrou desvalorização de 18,54%, porém não afetou a percepção positiva do mercado. A análise é de que a construção civil está iniciando um novo ciclo, fruto da inflação controlada e dos juros baixos.
Otimistas, as empresas estão indo ao mercado de ações para captar mais recursos para seus empreendimentos. “O setor entendeu que o governo não irá mais subsidiá-lo e está buscando investidores. Isso demonstra maturidade”, revela relatório da Alvarez&Marsal. Dados da consultoria Economatica comprovam isso. A Trisul, por exemplo, viu seu valor de mercado saltar de 599 milhões de reais para 2 bilhões de reais. Capitalizada, a construtora espera fechar 2019 com 10 lançamentos e um VGV (Valor-Geral de Vendas) entre 900 milhões de reais e 1 bilhão de reais, contra 664 milhões de reais em 2018.
Empresas ligadas ao mercado imobiliário contrastam das que atuam na construção pesada
Já a Eztec é a que mais captou com ofertas de ações em 2019, entre as empresas da construção civil que operam na Bolsa. Foram 979 milhões de reais. Para o presidente da ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras), Luiz França, a percepção do investidor é de que as ações dessas empresas estão relativamente baratas e podem se valorizar com os sinais de que o setor da construção civil está, finalmente, voltando a crescer. “O que tem sustentado as captações é a mudança do ponto de vista dos investidores institucionais, inclusive de estrangeiros, sobre o quadro econômico do Brasil. O ambiente está melhor no país e o mercado imobiliário vai tirar proveito disso”, afirma.
O sucesso das construtoras ligadas ao mercado imobiliário contrasta com os constantes prejuízos das empresas que atuam na construção pesada. Em três anos, as receitas do grupo que inclui Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, UTC e Constran diminuíram 85%. O principal motivo para essa contração é o envolvimento das construtoras no escândalo de corrupção trazido à tona pela operação Lava Jato. A receita das empresas citadas caiu de 71 bilhões de reais para 10,6 bilhões de reais, entre 2015 e 2018.
Entrevistado
Reportagem com base em relatório da consultoria Alvarez&Marsal, sobre o desempenho das empresas da construção civil no mercado de ações
Contato: info@amcapitalre.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Distratos despencam e vendas na planta voltam a crescer
Perto de completar um ano (foi sancionada em 27 de dezembro de 2018), a Lei dos Distratos já apresenta resultados positivos para o mercado imobiliário. No balanço parcial de 2019, os contratos rompidos despencaram 34,1%, segundo dados trazidos pelas incorporadoras e apresentados pela ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras e Imobiliárias). Comparativamente, em 2015 - no auge dos distratos no Brasil -, a agência de risco Fitch detectou que, de cada 100 apartamentos comprados na planta, 41 foram devolvidos. Atualmente, de cada 100, 27 são alvos de distratos.
Como consequência desta mudança de cenário, o volume de vendas de unidades recém-lançadas, ou seja, compradas na planta, cresceu 11% no balanço parcial de 2019. De acordo com relatório de outra agência de risco, a J.P. Morgan, o percentual de vendas tende a crescer e o de distratos continuará caindo. “Os distratos devem seguir em queda, os preços dos imóveis estão acomodados há mais ou menos dois anos e o índice de desemprego começa a cair. Com isso, financiar volta a ser uma meta de quem conseguiu se manter no mercado de trabalho. Some-se a isso a demanda reprimida por casa própria que existe no país”, cita.
Para o economista do Fipe-Zap e FGV, Eduardo Zylberstajn, o distrato, antes da aprovação da lei, era uma anomalia do mercado imobiliário brasileiro. “Ao adquirir um imóvel na planta, o dinheiro dado pelo comprador vai para a obra. Assim, o custo do distrato, quando reconhecido pela Justiça, sai do bolso da incorporadora. Com isso, vimos algumas empresas quebrarem, e isso virou um problema para o mercado e para os consumidores também”, avalia. No entender do Secovi-SP, a lei ajudou a mudar esse cenário. “O maior mérito da lei é o reforço do vínculo contratual e o estímulo à compra responsável”, diz nota do sindicato.
Juristas entendem que legislação tem pontos polêmicos e precisará de ajustes
Mesmo com os avanços, alguns juristas entendem que a Lei dos Distratos ainda suscita controvérsias. Os pontos polêmicos da legislação foram debatidos no 7º Congresso Jurídico do SindusCon-SP, realizado recentemente. Entre eles, o fato da lei não ser aplicada aos contratos anteriores à sua promulgação. Outra questão mal resolvida é que a legislação não diferencia o investidor que desiste do contrato do consumidor que ficou sem condições financeiras de cumpri-lo. Por isso, o advogado Olivar Vitale, membro do conselho-jurídico do SindusCon-SP considera a lei tecnicamente ruim. “Ela ainda gera insegurança e ficou longe de afastar todos os pontos polêmicos”, diz.
Uma recomendação que os advogados têm passado para as incorporadoras é que os corretores sejam treinados e que os contratos possuam uma redação clara, contendo quadros-resumo completos e assinatura dos adquirentes ao lado das cláusulas mais relevantes. No 7º Congresso Jurídico do SindusCon-SP, os especialistas também recomendaram que as empresas estipulem em seus contratos cláusulas com penalidades escalonadas de acordo com o valor da entrada paga pelos consumidores. No entender deles, a Lei dos Distratos, apesar de já impactar positivamente o mercado imobiliário, precisará de pelo menos mais três anos para se consolidar e ter seus pontos frágeis corrigidos.
Entrevistados
ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras e Imobiliárias), SindusCon-SP e Secovi-SP (via assessoria de imprensa)
Contatos
aspress@secovi.com.br
sindusconsp@sindusconsp.com.br
comunicacao@abrainc.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Casamento e divórcio movimentam mercado imobiliário
Os dados mais recentes do IBGE mostram que o Brasil superou a taxa de 1 milhão de casamentos por ano (1,178 milhão) e que, anualmente, ocorrem quase 400 mil divórcios (390 mil) no país. Segundo Marcelo Luís Gonçalves, sócio-diretor da Brain Bureau de Inteligência Corporativa, as uniões e as separações são como “injeção na veia” para o mercado imobiliário. “As pessoas que casam precisam morar e as que se divorciam também. Anualmente, há pelos menos 1,5 milhão de pessoas buscando novas moradias”, avalia.
Casamentos e divórcios, cita o analista, respondem por 45% da movimentação do mercado imobiliário - 30% representados pelos que se casam e 15% pelos que voltam a morar sozinhos ou se unem a outra pessoa. Segundo Marcelo Luís Gonçalves, trata-se de uma fatia muito grande para ser ignorada por construtoras, incorporadoras e imobiliárias. “Esse é um segmento que independe do momento econômico do país é responsável por um volume significativo de compra, venda e locação do mercado”, diz.
De acordo com as Estatísticas do Registro Civil do IBGE, o tempo de duração de um casamento formal caiu de 17 anos para 14 anos, em média. O mesmo levantamento mostra que as uniões registradas em cartório diminuíram 2,3% e os divórcios aumentaram 8,3%. Este é o segundo ano consecutivo com aumento do número de divórcios e diminuição de casamentos, aponta a gerente de pesquisa do IBGE, Klívia Oliveira. “A proporção atual está em três casamentos para cada divórcio”, completa.
Estatística impacta no mercado de unidades para uma só pessoa
Para Marcelo Luís Gonçalves, essa estatística tem impactado também no mercado de unidades projetadas para uma só pessoa. “De 2018 para cá houve um crescimento de 15% no volume de vendas de apartamentos compactos”, informa o analista. Os dados coincidem com o do índice FipeZap, que desde 2012 registra crescimento nas transações de imóveis com até um dormitório. Segundo o FipeZap, as vendas desse modelo de unidade aumentaram 35% em 6 anos, enquanto as locações cresceram 33%.
A ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) qualifica que o mercado dos compactos engloba unidades que vão de 10 m2 a 40 m2. Nos grandes centros urbanos, essa modalidade de apartamento atrai os seguintes tipos de consumidores: recém-casados que optaram por não ter filhos, divorciados, solteiros, estudantes e trabalhadores de outras cidades. Também é o segmento mais procurado por investidores, por causa da rapidez na locação.
Para o arquiteto Bruno Raquena, autor do livro “Habitar Híbrido: Subjetividades e Arquitetura do Lar na Era Digital”, não é apenas o mercado imobiliário que busca se adaptar a essa transformação familiar, mas também os profissionais diretamente ligados à construção civil, como projetistas, engenheiros e arquitetos. “A onda dos compactos vem ao encontro de uma alteração de comportamento. Hoje, as pessoas trocam de casa com mais frequência e acumulam menos bens. O entendimento desse conceito é fundamental para a análise das mudanças ocorridas no espaço físico da habitação e para os futuros projetos”, comenta.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra do sócio-diretor da Brain Bureau de Inteligência Corporativa, Marcelo Luís Gonçalves, no seminário “Mercado Imobiliário em foco”, promovido pela ADEMI-PR
Contato: ademipr@ademipr.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tecnologia não vai substituir as pessoas na obra, diz estrategista
Estrategista em inovações para a construção, o norte-americano Jeff Sample tem uma visão diferente sobre a influência da tecnologia na construção civil. Para ele, robótica e Inteligência Artificial não conseguirão substituir as pessoas e nem os processos de execução nos canteiros de obras. “São pessoas, processos e depois tecnologia. É nessa ordem”, defende, admitindo, porém, que será cada vez mais importante para as empresas do setor manter as pessoas certas em posições estratégicas. “Posso treinar por realidade virtual, mas dentro do canteiro de obras preciso de seniores em construir. Não para assentar tijolos, mas para coordenar e supervisionar os mais novos e a própria tecnologia agregada à construção”, diz.
Sample palestrou recentemente no seminário “Construction Technology - Through the Looking Glass” (Tecnologia da Construção através do espelho), que aconteceu em Nashville, no Tennessee-EUA. O estrategista lembrou que a construção civil ainda retém suas informações em papel e precisa aprender a digitalizar esses dados se quiser ingressar no universo da Indústria 4.0 e da Inteligência Artificial. “Para conseguir essa migração de fase, a construção vai precisar de lideranças experientes, que saibam coletar e interpretar essas informações que vêm de anos de conhecimento acumulado”, afirma. “Os seniores vão passar seus conhecimentos para que os jovens possam aplicá-los através da tecnologia”, completa.
Para o especialista, a construção civil do futuro vai se beneficiar mais da Inteligência Artificial do que da robótica. “Os robôs humanóides podem auxiliar em uma ou outra tarefa no processo de construir, mas não substituirão o homem em trabalhos mais intrínsecos. Por outro lado, vejo a Inteligência Artificial mais presente. Ela deve trazer uma nova geração de ferramentas BIM e vai influenciar não apenas os projetos como os ambientes construídos, como já vemos com os scanners a laser, que conseguem gerar uma representação tridimensional perfeita do espaço construído”, analisa.
Viabilizar obras vai ficar cada vez mais barato e mais rápido, prevê especialista
O processo de escaneamento em obras se assemelha ao da tomografia do corpo humano. O retrato tridimensional capta variações de temperatura, pontos de umidade e graus de rugosidade de lajes e pilares dos prédios, gerando tons de cores para cada caso. No Brasil, a tecnologia foi empregada pela primeira vez em 2016, no restauro arquitetônico da Casa de Vidro, construída nos anos 1950 e projetada pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi. A mesma tecnologia deverá ser empregada na restauração do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), também na cidade de São Paulo-SP.
Com todos os recursos tecnológicos que já começam a ficar disponíveis para a construção civil, Jeff Sample acredita que viabilizar obras vai ficar cada vez mais barato, conforme os novos processos construtivos forem disseminados. “A tecnologia vai baratear custos. Por duas razões: haverá mais opções de materiais para construir e a mão de obra melhor qualificada terá mais produtividade e consumirá menor tempo na obra”, conclui.
Entrevistado
Estrategista em inovações para a construção, Jeff Sample, diretor de estratégias da eSUB Construction Software
Contato: contact@esub.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Ferramenta ajuda cidades a se tornarem inteligentes
Bright Cities é o nome da plataforma que ajuda as cidades a se tornarem Smart Cities. A ferramenta auxilia os gestores públicos a adotarem procedimentos compatíveis com o das cidades inteligentes. Através de comparativos, a tecnologia analisa o potencial da cidade em 10 pontos: energia, meio ambiente, governança, mobilidade urbana, segurança pública, saúde, empreendedorismo, educação, urbanismo e tecnologia e inovação. “Bright Cities é um guia passo a passo para tornar a cidade mais inteligente a cada dia”, define Paulo Renato Oliveira, Founder & Chief Creative Officer da Action Labs, responsável pelo desenvolvimento da Bright Cities.
A plataforma agrega indicadores reconhecidos por organismos internacionais, como ONU, ISO e WCCD (World Council on City Data), e ajuda a maximizar os pontos fortes e melhorar as vulnerabilidades das cidades. Obviamente, os objetivos traçados não são atingidos da noite para o dia. É um trabalho de longo prazo, como explica Paulo Renato Oliveira. “Cada cidade deve atacar suas questões prioritárias, aproveitando seus próprios diferenciais, que podem ser localização geográfica, grau de instrução da população e disponibilidade de recursos naturais, entre outros aspectos”, diz. A plataforma criada no Brasil já desperta interesse de cidades norte-americanas, como Boston. No país, Juazeiro do Norte-CE e Aracaju-SE são as primeiras a utilizá-las.
Apresentação aconteceu na Smart City Expo World Congress, em Barcelona
A Bright Cities não é uma ferramenta exclusiva para os gestores públicos. Ela pode também ser utilizada por organizações não-governamentais, associações ligadas à gestão de uma cidade e empresas que atuam como provedoras de soluções. A plataforma oferece um mapa completo sobre as áreas em que esses agentes podem atuar, e é aberta também aos cidadãos. “Eles têm como ver as condições de sua cidade em comparação com outras municipalidades, nas 10 áreas de avaliação”, afirma Paulo Renato Oliveira. A Bright Cities atua com base em um algoritmo de recomendação de soluções, que analisa o impacto que cada proposta teve nas cidades. A ferramenta foi apresentada na Smart City Expo World Congress, em Barcelona, em novembro de 2018.
A ideia partiu do trabalho desenvolvido pela pesquisadora da UNICAMP, Raquel Cardamone, e CEO da Bright Consulting. O foco são as cidades de médio e pequeno porte, que na maioria das vezes são carentes de indicadores e recursos para contratar uma consultoria que faça o levantamento de dados e ajude-as a se tornarem cidades inteligentes. A Action Labs foi parceira da ideia no desenvolvimento tecnológico da ferramenta. “Fizemos a modelagem do negócio, estruturamos o algoritmo de diagnóstico e transformamos a metodologia em uma plataforma tecnológica que analisa centenas de dados e sugere soluções para quem utiliza a plataforma”, resume Paulo Renato Oliveira.
Entrevistado
Paulo Renato Oliveira, Founder & Chief Creative Officer da Action Labs, e responsável pela tecnologia da Bright Cities
Contatos
contact@brightcities.city
http://www.actionlabs.com.br/contato/
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Panamá ganha maior ponte de concreto protendido do mundo
O Panamá inaugurou há 3 meses a Ponte Atlântico, a terceira sobre o Canal do Panamá. Trata-se da maior do mundo construída em concreto protendido. A estrutura tem 4,605 quilômetros de extensão e vão central de 530 metros, sustentado por estais. A vida útil projetada da obra é de 100 anos.
A opção pelo concreto protendido se deve à sua maior resistência à tração do que o concreto armado. Normalmente, essa tecnologia é usada para pontes localizadas em regiões marítimas, e com grandes vãos, por ser menos propensa à corrosão das armaduras. O concreto protendido utiliza armadura ativa, sujeita ao pré-alongamento. A isso se dá o nome de protensão, ou seja, a compressão prévia da estrutura para minimizar ou anular as tensões de tração.
A construção da Ponte Atlântico começou em 2013 e tem execução chinesa e francesa, com projeto francês. Foi construída pela China Communications Construction Company, em parceria com a Louis Berger Group, que também construiu as pontes das Américas e Centenária. O projeto é da Vinci Construction Grands Projects, cujo portfólio inclui as pontes da Normandia, na França, e a ponte da Confederação, no Canadá.
Trabalharam na obra 1.100 pessoas e foram utilizados 175.760 m3 de concreto, 36 mil toneladas de aço reforçado, 14,2 quilômetros de pilares pré-moldados e 16 mil toneladas de cabos de protensão.
Sobre o Canal do Panamá também passam a Ponte das Américas, inaugurada em 1962, e a Ponte Centenária, de 2005, ambas localizadas no setor do Pacífico. A Ponte Atlântico é a primeira do lado do Oceano Atlântico e foi construída a um custo de 379 milhões de dólares (aproximadamente 1,5 bilhão de reais).
Ponte também é a mais longa estrutura de concreto protendido do mundo a possuir 4 pistas
O ponto mais alto do vão da ponte está a 75 metros de altura, a fim de permitir a passagem de grandes navios de carga. Acima, o tabuleiro com 4 pistas para veículos, calçada para pedestres e ciclovia está suspenso por estais conectados a dois pilares de 212 metros de altura cada um. Isso rende outro título à ponte. Trata-se da mais longa estrutura de concreto protendido do mundo a possuir quatro pistas.
A Ponte Atlântico foi projetada para receber um fluxo diário de 40 mil veículos. Estima-se que a estrutura e seu complexo de viadutos garantam a fluidez do tráfego por pelo menos 50 anos. Porém, outra ponte já está em planejamento. Essa ligará o canal diretamente à Cidade do Panamá, e por ela passará uma nova linha de metrô.
O projeto e a execução da quarta ponte sobre o Canal do Panamá será 100% de um consórcio chinês, formado pela China Communications Construction Co (CNC) e pela China Harbour Engineering Company (CHEC). O grupo venceu um contrato de 1,42 bilhão de dólares (cerca de 5,7 bilhões de reais).
As obras estão previstas para começar em 2020, com duração de 3 anos. O complexo viário terá 6,5 quilômetros de extensão, com seis faixas para veículos, além da linha de metrô. O Panamá também está prestes a inaugurar outra ponte, que ligará o país à Costa Rica. Batizada de Ponte Binacional Sixaola, a estrutura está 62% no território costarriquenho e 38% no panamenho. Sua extensão é de 260 metros de comprimento e 17 metros de largura, e será concluída no primeiro trimestre de 2020.
Veja vídeo da Ponte Atlântico
Entrevistados
China Communications Construction Company, Louis Berger Group e Vinci Construction Grands Projects (via departamentos de comunicação)
Contatos
media.relations@vinci.com
ir@ccccltd.cn
lbg@louisberger.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330