Como o metaverso pode ser utilizado na construção civil?

BIM é uma porta de entrada para criação do metaverso da construção civil
Crédito: Envato

Recentemente, o Facebook anunciou uma mudança no nome da empresa, que passou a se chamar Meta. Essa alteração veio acompanhada de um anúncio de que, a partir de agora, a companhia será cada vez mais focada em metaverso, um ambiente virtual imersivo, coletivo e hiper-realista, onde as pessoas poderão conviver, trabalhar e se relacionar. 

“Trata-se da união do mundo físico e digital, permitindo a combinação da realidade virtual (VR) e aumentada (AR) em uma realidade estendida (XR), em ambientes colaborativos mediados por interface 3D, com transações descentralizadas em blockchain”, explica Guilherme Rosa, head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP).

E como essa tecnologia poderia impactar no setor de construção civil? Já existem iniciativas nesse sentido? “Tudo relacionado ao metaverso é ainda muito incipiente. Não obstante, o hype que tem gerado entre os mais antenados às tendências. Trata-se de um conceito idealizado há anos, mas que vem ganhando viabilidade por conta do estágio de desenvolvimento de tecnologias - aplicativos, dispositivos, ferramentas, infraestrutura - que estão sendo combinadas para criar as experiências imersivas do metaverso”, afirma Rosa.

Para Diego Faria, gerente de serviços profissionais da FF Solutions, se tomarmos um conceito de ambiente virtual focado na interação dos usuários, é possível dizer que a criação de modelos tridimensionais que viabilizem a aproximação de stakeholders para discussão de soluções técnicas, já pode ser considerado um metaverso. “Esse conceito pode ser escalado para além de um empreendimento único, podendo-se criar uma rede de ativos virtuais interconectados representando áreas cada vez maiores dentro de uma cidade ou país. A virtualização da construção já vem sendo aplicada amplamente em diversos tipos de empreendimento, industriais, de infraestrutura e imobiliários, sendo possível até criar salas digitais, com uso de óculos de realidade virtual, para uma discussão imersiva e colaborativa”, opina Faria. 

Vantagens do metaverso na construção civil

Em primeiro lugar, a virtualização do empreendimento a ser construído permite que os stakeholders compreendam melhor a intenção do projeto, antecipem e corrijam potenciais problemas, além de analisar e simular as melhores condições para sua operação

“Isso tudo pode ser realizado nesse metaverso do empreendimento, nas diferentes fases do ciclo de vida. Contudo, acredito que as maiores vantagens virão da ampliação do uso de gêmeos digitais em níveis mais aprofundados, que permitam análise de todo o histórico de operação do empreendimento para otimização do seu uso, manutenção preditiva, criação de alertas, entre outros”, aponta Faria. 

Metaverso em diferentes fases da construção civil

O conceito de metaverso pode impactar diversos momentos do ciclo da construção civil:

Fase conceitual e de projeto

Em um primeiro momento, numa fase conceitual, é possível estudar e comunicar melhor a intenção de projeto, segundo Faria. Em seguida, na fase de projeto, é possível melhorar a compatibilização multidisciplinar e produzir entregáveis precisos

Ainda, o uso de dispositivos 3D permitirá acessar e construir em tempo real os modelos, visualizar dados e gerir o projeto em um ambiente de interação colaborativa e remota

“Imagine que equipes espalhadas pelo mundo poderão realizar uma prototipação imersiva, fazendo revisões do projeto e interagindo com as próprias mãos, tornando o processo muito mais rápido e barato. A visualização das camadas do projeto em BIM, que também ganharão suas versões imersivas, enquanto as opções de acabamento podem ser muito mais facilmente testadas e escolhidas pelo cliente em um ambiente simulando o real. Tudo isso muda as expectativas para a apresentação dos projetos, que passam a ser também imersivas”, comenta Rosa. 

Experiência do cliente

Para Rosa, é neste ponto que fica evidente o potencial desta tecnologia para a experiência do cliente em marketing e vendas, pois permite a criação de uma experiência imersiva para o lançamento, venda e personalização dos empreendimentos. 

“A decoração do imóvel pode ser realizada no tour virtual em que o piso, os móveis e os acabamentos podem ser visualizados, escolhidos e comprados na hora”, pontua Rosa. 

Obras & Pós-obras

Na fase de obras, é possível simular o processo executivo para evitar gargalos e acompanhar o andamento das atividades, segundo Faria. 

Finalmente, na fase de pós-obra, é possível criar um gêmeo digital do ativo construído. “Ele deve conter todas as informações necessárias para sua operação e manutenção, incluindo o uso de dispositivos IoT (Internet of Things, ou internet das coisas) e até AI (Artificial Intelligence, ou inteligência artificial)”, destaca Faria.

Criação de ativos

Um outro aspecto a ser explorado é o da criação de ativos - os assets - que são elementos que podem ser vendidos dentro dos metaversos, como móveis, imóveis, terrenos e lojas. 

“Aqui é importante que se diga que não há um único metaverso, mas metaversos. Dentro das plataformas de cada metaverso, é possível criar e transacionar esses ativos. Entre os mais comentados estão os terrenos, ou seja, um mercado imobiliário dentro do metaverso. Esses pedaços de solo virtual ficam dispostos em mapas digitais divididos em lotes e custam dinheiro criptomoedas, têm registro de propriedade e estão sujeitos à valorização ou desvalorização com o tempo. Cada terreno do metaverso é negociado como um token não fungível (NFT), que representa um item exclusivo, que pode ou não ser digital. Em princípio, os negócios do mercado de terrenos do metaverso não têm relação direta com o mercado imobiliário do mundo real, a não ser quando utilizado para os objetivos promocionais de marketing e vendas, mencionados anteriormente”, pontua Rosa. 

Transações

Há ainda algumas aplicações de blockchain como uma das chaves habilitadoras do metaverso. “Trata-se de uma tecnologia descentralizada que permite fazer transações sem que haja uma instituição ou unidade central fazendo o intermédio desses valores. Nessas transações, são utilizadas as criptomoedas, como o bitcoin, por exemplo, que podem representar itens como roupas, objetos de valor, ingressos, ações de participação em empresas, terrenos, dentre muitas outras possibilidades. Também pode ser utilizado na gestão financeira e comercial, como para o rastreamento de materiais e suprimentos desde a origem até a chegada, e nas transações de compra e venda de apartamentos, com a redução de custos e maior agilidade na transferência de propriedade”, expõe Rosa. 

Metaverso e a metodologia BIM

Todos os pontos comentados acima passam pela premissa da criação de modelos virtuais do empreendimento, que podem ser criados com processos e ferramentas baseadas na metodologia BIM

“Sendo assim, o BIM é uma porta de entrada para criação do metaverso da construção civil. Naturalmente, é necessário que o nível de maturidade BIM do mercado como um todo continue avançando para que aplicações mais complexas sejam possíveis. Por exemplo, é preciso estabelecer diretrizes claras para produção desses modelos inteligentes para que atinjam seus objetivos, visto que existe uma gama muito grande de potenciais aplicações”, conclui Faria.

Entrevistado
Guilherme Rosa é head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP)

Diego Faria é gerente de serviços profissionais da FF Solutions, empresa que oferece soluções Inovadoras atuando em parceria com os maiores desenvolvedores de softwares e hardwares: Autodesk, Google, Oracle, ESRI e Adobe. Atua nos mercados de Arquitetura, Engenharia, Construção, GIS e Plantas Industriais

Contatos
guilherme@iconhub.com.
brdiego.faria@ff.solutions

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Indústria de cimento e concreto lança aceleradores de "net zero" no mundo

Primeira onda de aceleração será lançada no Egito, que ainda este ano será o país anfitrião da COP27
Crédito: Envato

A Global Cement and Concrete Association (GCCA) lançou recentemente uma série de iniciativas de aceleração Net Zero para ajudar as indústrias de cimento e concreto a se descarbonizarem.

A primeira onda de aceleração será lançada no Egito, que ainda este ano será o país anfitrião da COP27. Países como a Índia, Tailândia e Colômbia também participarão. Juntos, esses países representam aproximadamente 10% da produção global de cimento e concreto

Globalmente, a fabricação de cimento e concreto é responsável por cerca de 7% das emissões de CO₂, segundo a GCCA. O plano global para eliminar essas emissões até 2050 exige que todas as partes do mundo acelerem as reduções nas emissões. O programa de aceleração identificará as barreiras à descarbonização nos países-alvo e recomendará ações-chave. Isso inclui incentivar políticas governamentais que possam ter impacto imediato, como melhor reciclagem, uso de resíduos como alternativa aos combustíveis fósseis e outras práticas de economia circular. Também incluirá a identificação de projetos que podem eliminar totalmente as emissões nas próximas décadas, como a utilização de captura de carbono e tecnologias de armazenamento.

“O concreto continuará sendo o material de construção mais usado do mundo nas próximas décadas, o que significa que a cooperação global entre governos e indústria é crucial para garantir que as metas de net zero sejam cumpridas. Nossos Aceleradores Net Zero oferecerão colaboração e suporte a vários países-alvo para ajudá-los a descarbonizar e se alinhar ao roteiro global”, afirma Thomas Guillot, executivo-chefe da GCCA. 

Para Mahmoud Mohieldin, Campeão de Alto Nível da COP 27 UNFCCC do Egito, grande parte da infraestrutura que o mundo precisa para superar os principais desafios globais – como aliviar a pobreza, a necessidade de água limpa, energia e habitação acessível – ainda está para ser construído.

“O cimento e o concreto desempenharão um papel crítico na entrega de um mundo mais saudável, mais resiliente e sem carbono, à medida que a indústria avança para uma descarbonização rápida e completa. Como tal, temos o prazer de apoiar a iniciativa Net Zero Accelerator, ajudando os países em desenvolvimento a atingir suas metas de descarbonização, pois trabalhamos para apoiar todas as indústrias e países com suas ambições climáticas para ajudar a construir um futuro mais sustentável para todos. A participação plena e voluntária de um setor que responde por 7-8% das emissões globais de CO₂ é fundamental para contribuir com a meta do Acordo de Mudança Climática de Paris de 2015 de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 °C e o mais próximo possível de 1,5 °C”, explica Mohieldin 

Como funciona o programa?

O programa de aceleração é composto por três elementos:

1. Roteiros nacionais de net zero, incluindo previsões de emissões, alavancas de redução, necessidades políticas e o compromisso da indústria; 

2. Identificação e exploração de financiamento para projetos de corte de carbono em grande escala;  

3. Diálogos políticos com governos nacionais para ajudar a acelerar a transição.

Como está a situação no Brasil?

De acordo com Paulo Camillo Penna, presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), a indústria brasileira de cimento tem as menores emissões do mundo de CO₂. “Enquanto o mundo emite, em média, 620 quilos de CO₂ por tonelada de cimento, a indústria brasileira emite 564 quilos. O nosso objetivo é trazer de 564 quilos para 375 quilos até 2050. Até 2020, evitamos cerca de 120 milhões de toneladas de CO₂ – de 2014 até 2020. E até 2050, com esse desempenho de 564 quilos para 375 quilos – vamos evitar 420 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera”, declara. 

De acordo com Penna, o Brasil é o segundo país do mundo a ter um roadmap para redução de emissão de carbono individual – o primeiro foi a Índia. Este estudo aponta que existem quatro pilares principais para chegar a estes resultados:

  • Combustíveis alternativos;
  • Adições;
  • Eficiência energética;
  • Captura e estocagem de carbono. 

Fontes
Global Cement and Concrete Association (GCCA)

Paulo Camillo Penna é presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

Contatos
GCCA - paul.adeleke@gccassociation.org
SNIC (assessoria de imprensa) - celso.souza@fsb.com.br


Smart Inspecs usa drones para inspecionar segurança em obras

Projeto integra drones e dispositivos móveis na realização de inspeção de segurança nos canteiros de obra.
Crédito: Gilberto Jr/Coperphoto/Sistema FIEB

Já pensou em utilizar drones para fiscalizar a segurança do trabalho em obras de qualquer tamanho e a qualquer momento? É isso que o projeto Smart Inspecs faz. 

De acordo com Isnáia Cardoso, especialista em Segurança do Trabalho (SESI BA), a operação do Smart Inspecs é feita por meio de tecnologias embarcadas em sistemas web e APP para android e IOS, integrando drones e dispositivos móveis na realização de inspeção de segurança nos canteiros de obra. “Desta forma, proporcionam melhorias na visualização das condições de segurança, realizando o mapeamento e monitoramento de grandes áreas e de difícil acesso, alcançando diferentes ângulos e perspectivas”, explica Isnáia. 

O objetivo do projeto foi desenvolver uma solução inovadora incremental, ofertando à indústria da construção um serviço com tecnologias integradas para realização de inspeções céleres. “Ainda, por meio deste projeto, podemos avaliar se as obras estão em conformidade com as exigências legais contidas nas Normas Regulamentadoras nos. 18 e 35. Com isso, queremos proporcionar uma melhor gestão de Saúde e Segurança do Trabalho e a promoção de ambientes de trabalho seguros”, afirma Isnáia.

Uma das grandes vantagens do Smart Inspecs é a obtenção dos resultados em tempo reduzido, dando celeridade nas tomadas de decisões e na realização das ações corretivas e preventivas. “Assim, contribui para o fortalecimento da gestão de Saúde e Segurança do Trabalho nas empresas, na manutenção de ambientes de trabalho adequados e redução da ocorrência de acidentes laborais”, aponta Isnáia. 

Origem do Smart Inspecs

Projeto possibilita avaliar se as obras estão em conformidade com as Normas Regulamentadoras 18 e 35
Smart Inspecs encontra-se na etapa de modelagem para a oferta comercial do produto.
Crédito: Gilberto Jr/Coperphoto/Sistema FIEB

O projeto surgiu por meio de estudos com uso de drone para segurança do trabalho nas obras de construção civil, desde 2014 na Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Inicialmente, foi criado um protótipo do sistema Smart Inspecs no âmbito da academia. O Edital de Inovação do SESI DN possibilitou o desenvolvimento de sistema completo, alinhado com as demandas de mercado. Desta forma, o SESI BA com apoio da UFBA executou o projeto e implementou os testes pilotos nos canteiros de obra das empresas parceiras no projeto”, conta Isnáia.

Aplicação do Smart Inspecs

Inicialmente, a solução foi desenvolvida para atender à indústria da construção do estado da Bahia, sendo aplicada em canteiro de obras das quatro empresas parceiras no projeto: Concreta Incorporação e Construção Ltda, Conie Empreendimentos Ltda, Gráfico Empreendimentos Ltda e MRV Engenharia e Participações S.A..

“Como resultado da aplicação do Smart Inspecs, por meio de inspeção em checklist digital, são fornecidos dados, fotos, vídeos e informações, relatórios com índices de conformidades das condições de segurança do trabalho. Assim, é possível dar celeridade ao processo de tomada de decisão para ações corretivas e preventivas pelos gestores das empresas”, destaca Isnáia. 

Sob a perspectiva dos impactos econômicos, a solução colabora com o desenvolvimento regional e nacional do segmento da Indústria da Construção. “Isso ocorre por meio da padronização e automatização do processo de inspeção das condições de segurança do trabalho no canteiro de obras, adequação às normas regulamentadoras e redução de acidentes. Por fim, tudo isso contribui para a economia de recursos financeiros e aumento da produtividade”, justifica Isnáia. 

Implantação em larga escala 

Na opinião de Isnáia, a solução permite ampliação da escalabilidade, alcançando abrangência nacional. “Com o interesse de operação por outros Departamentos Regionais do SESI, é possível realizar o atendimento às empresas que possuem unidades em diversos estados da Federação. No momento, a solução encontra-se na etapa de modelagem para a oferta comercial do produto”, relata Isnáia.

Entrevistada
Isnáia Cardoso, especialista em Segurança do Trabalho (SESI BA)

Contato
Assessoria de imprensa do projeto - patricia.carneiro@fieb.org.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Obras de contenção: como funcionam?

Cada tipo de encosta pode ter um tipo diferente de contenção, mais elaborado ou mais simples.
Crédito: Envato

Com o objetivo de proporcionar maior segurança aos habitantes em Macaé, a Prefeitura do Rio de Janeiro tem realizado um trabalho de contenção da pedreira do loteamento Novo Paraíso, no bairro Aroeira. A obra consiste na execução e estabilização de talude rochoso com canaleta na parte superior do talude, além de contenção com malha de aço chumbada, grampos de aço e concreto projetado.

No final de 2021, a Prefeitura do Rio de Janeiro finalizou uma obra de contenção na comunidade da Mangueira, onde foi feito um muro de concreto armado fixado no terreno através de barras de aço e outro de concreto projetado. O escopo incluía uma contenção de concreto com perfurações para escoamento de água. Neste local, em 2020, houve um deslizamento de terra que provocou a interdição de 25 casas na localidade.

Outra cidade do Rio de Janeiro também tem investido nisso - em Volta Redonda, o Fundo Comunitário entregou um pacote de 30 obras de contenção de encostas para prevenir acidentes naturais em períodos de chuvas.

Obras de contenção: quão eficazes são?

Diante deste cenário, como funcionam estas obras? São realmente eficazes na prevenção de desastres?

Cada tipo de encosta pode ter um tipo diferente de contenção, mais elaborado ou mais simples. “A Engenharia pode desenvolver solução para qualquer tipo de encosta, que será mais econômica ou mais custosa. Os exemplos mencionados mostram diferentes tipos de encostas, com o solo acima da pedreira em Macaé e o morro da Mangueira, no Rio de Janeiro”, explica o engenheiro civil do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape/SP), Luis Otávio Rosa.

“Obras de contenção têm o objetivo de evitar deslizamentos e escorregamentos de encostas e morros. Cada tipo de terreno, seja solo argiloso (terra) ou rochoso, tem sua própria resistência de acordo com o ângulo de inclinação do talude (corte). Uma encosta em rocha, como em pedreira, pode ter o corte vertical (90 graus) e será resistente. Já um barranco de terra pode resistir apenas ao ângulo de 30 graus. A resistência do talude depende também se o solo está úmido e molhado, por exemplo. Outro aspecto importante é a altura da encosta, que define a quantidade de solo e seu peso”, explica o engenheiro civil do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape/SP), aponta Rosa.

Ainda segundo Rosa, as obras de contenção funcionam desviando o excesso de água através de canaletas e impermeabilizando a cobertura com jateamento de concreto, evitando erosão e também com estruturas adicionais que "seguram" o terreno para que este não escorregue.

Obras de contenção x desocupação

A opção entre desocupar uma área vulnerável e sujeita a desabamentos ou construir uma obra de contenção depende de muitos fatores, principalmente do custo dessa obra de contenção e do tamanho da área envolvida.

De acordo com o estudo "Diretrizes para Análise de Risco Geológico-Geotécnico em Áreas Urbanas 2020", do Ibape/SP, há a Lei Federal nº 12.340/2010, que trata da preponderância do direito de moradia e mitigação do risco preferencial à remoção. Segundo a legislação, a desocupação deve ser usada como medida excepcional e deve ser acompanhada do efetivo acolhimento das famílias atingidas em programas habitacionais. Além disso, a Lei Federal nº 12.983/14 restringe a remoção de moradores e edificações, a qual deve ser usada como último recurso, a ser implementado somente após a realização de vistoria e elaboração de laudo comprovando o risco da ocupação para a integridade física dos moradores ou de terceiros.

Ainda segundo o mesmo estudo, uma área é considerada de risco muito alto quando os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (inclinação, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de muito alta potencialidade para o desenvolvimento de processos de deslizamentos e solapamentos. Outros sinais de instabilidade podem ser trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de contenção, árvores ou postes inclinados, cicatrizes de deslizamento, feições erosivas, proximidade da moradia em relação à margem de córregos, etc.) – quando são expressivas e estão presentes em grande número ou magnitude. Especialmente quando há processo de instabilização em avançado estágio de desenvolvimento. 

Entrevistado
Luis Otávio Rosa é engenheiro civil do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape/SP)

Contato
secretaria@ibape-sp.org.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Nova lei EHIS-COHAB incentiva construção de interesse social

Para Marcio Benvenutti, diretor da regional Campinas do SindusCon-SP, essa é uma lei mais transparente e traz maior agilidade de aprovação.
Crédito: Divulgação SindusCon-SP

Recentemente, a prefeitura de Campinas sancionou a Lei Empreendimento Habitacional de Interesse Social (Ehis-Cohab) que busca estabelecer normas e incentivar parcerias com a iniciativa privada, para construção de empreendimentos habitacionais de interesse social no município.

Um dos principais aspectos da legislação do Ehis-Cohab é que ela prevê que os empreendedores doem para a Cohab, na aprovação dos empreendimentos, o equivalente a 2% das unidades construídas, como forma de contrapartida social. 

Por outro lado, também existe a contrapartida comercial, onde os empreendedores podem direcionar as vendas dessas unidades ao CIM (Cadastro de Interesse em Moradia) - uma lista da Cohab com os nomes das famílias que esperam pela casa própria. Atualmente, possui mais de 40 mil nomes. Outro benefício dessa parceria também é a isenção de ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) aos clientes.

Esta nova lei acontece dentro de um cenário de incertezas na construção civil. “Eu gostaria que a expectativa para 2022 fosse melhor que a de 2021, que foi muito boa para a construção civil. No entanto, nesse começo de ano não estamos verificando o mesmo quadro do ano passado. E ainda temos a questão das eleições com muita turbulência, a elevação dos juros e da inflação e as empresas do setor com carência de mão de obra qualificada. Essas são as grandes dificuldades para esse ano, portanto ainda não temos como estimar como será esse ano, até porque estamos ainda no primeiro quadrimestre”, explica Marcio Benvenutti, diretor da regional Campinas do SindusCon-SP.

Vantagens da lei EHIS-COHAB

De acordo com nova legislação, haverá isenção de ITBI em construções de interesse social.
Crédito: Envato

Para Benvenutti, essa é uma lei mais transparente, e por esse motivo desburocratiza e proporciona maior agilidade de aprovação das obras.

“Na nossa avaliação, entendemos que a transparência na legislação é fundamental para simplificação e agilização na aprovação de empreendimentos habitacionais. No entanto, verificamos que as prefeituras em geral têm carência de mão de obra para atuar nesses setores. Enfatizamos que é fundamental que essa lei habitacional seja muito clara para que não ocorra dupla interpretação”, destaca o diretor da regional Campinas do SindusCon-SP.

Ainda, de acordo com Benvenutti, a expectativa é que com essa lei a atração de novas empresas do setor da construção civil seja maior para o município, com mais empreendimentos e consequente diminuição da carência de unidades habitacionais em Campinas.

Entrevistado
Marcio Benvenutti é diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP

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Assessoria de imprensa - rongra@terra.com.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Cinza do bagaço da cana pode ser utilizada na produção de concreto

Para obter bons resultados na produção, a cinza precisa conter um teor baixo de matéria orgânica e possuir uma granulometria fina.
Crédito: Victor Marcelo Estolano de Lima/UFPE

Um estudo elaborado por pesquisadores do Laboratório de Tecnologia dos Aglomerantes (LabTag), do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (Deciv) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), indicou a eficácia do uso das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar (CBCA) como adição no preparo do concreto. Intitulada “Assessing the pozzolanic activity of sugarcane bagasse ash using X-ray diffraction”, a pesquisa mostrou que o material melhora a qualidade da mistura, uma vez que, a partir do refinamento dos poros e redução do ataque de agentes externos, reforçando a propriedade pozolânica, aquela que favorece a aderência e o endurecimento da solução.

De acordo com Victor Marcelo Estolano de Lima, um dos autores do estudo e doutorando em Engenharia Civil da UFPE, a cinza do bagaço da cana é um resíduo gerado pela queima do bagaço como biomassa, processo que visa a geração de energia elétrica para a própria usina. “Do ponto de viabilidade técnica, parte da sílica (SiO2) presente na cinza tem condição de reagir com produtos hidratados do cimento e fortalecer a pasta endurecida, sendo ela na argamassa ou concreto”, aponta Lima.

Condições ideais para o CBCA

Para obter bons resultados na produção, a cinza precisa conter um teor baixo de matéria orgânica e possuir uma granulometria fina, semelhante a um pó. “Para ser considerada uma pozolana, ou seja, uma adição em pó que melhora as propriedades do cimento e seus produtos, como argamassa e concreto, a norma brasileira NBR 12653 (Materiais pozolânicos — Requisitos) estabelece os critérios químicos e físicos para o material. Para atender a esses requisitos, temos visto tanto em nossas pesquisas como na literatura, que quase sempre é necessária a realização de uma nova calcinação para retirar a matéria orgânica residual, além de uma moagem para que a cinza alcance os parâmetros desejados de finura”, explica Lima.

Vantagens da Cinza do bagaço da cana

Cinza do bagaço da cana reforça a propriedade pozolânica, aquela que favorece a aderência e o endurecimento da solução.
Crédito: Victor Marcelo Estolano de Lima/UFPE

Lima menciona que existem dois grandes benefícios no uso da cinza como material cimentício: 

- Primeiro, você evita a circulação da cinza do bagaço como resíduo, que pode, na melhor das hipóteses, ser descartado em aterro sanitário. “No entanto, sabemos que o descarte ilegal é uma realidade. Isso ocorre porque a cinza não possui viabilidade como fertilizante para a agroindústria, por isso acaba sendo descartada”, comenta Lima. 

- O outro benefício diz respeito à diminuição de CO₂, quando você substitui o clínquer, que é o principal componente do cimento, pela cinza. “Numa conta grosseira, cada tonelada de clínquer libera cerca de 500 kg de CO2 na atmosfera. Substituir 10% de clínquer pela cinza já economizaria 50 kg de CO2 por tonelada, que numa escala industrial, é muito significativo. Em uma publicação realizada por Fairbairn et al. (2012), a redução de CO₂ causada pelo uso da cinza do bagaço no cimento, considerando a realidade do Estado de São Paulo, variaria entre 19.990 e 182.500 toneladas de CO2”, justifica. 

Viabilidade econômica para uso do CBCA

Do ponto de vista de viabilidade econômica, segundo Lima, ainda faltam estudos que coloquem custo em toda cadeia econômica que seria necessária para o beneficiamento, distribuição e aplicação da CBCA. “Isto já responde pelo fato de apesar de existirem muitas pesquisas na área, não termos conhecimento da utilização da cinza por cimenteiras ou concreteiras, pelo menos na região Nordeste”, afirma Lima.

Da mesma forma, o não-uso da cinza do bagaço ainda pode ocorrer por problemas logísticos. “O ideal é que a usina de cana fique próxima à cimenteira, diminuindo custos com transporte”, conclui Lima.

Entrevistado
Victor Marcelo Estolano de Lima é um dos autores do estudo e Doutorando em Engenharia Civil da UFPE. 

Contato
victor.estolano@ufpe.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Demanda global de areia pode aumentar em 45% e levar à escassez do material

Crescimento da demanda por areia provavelmente será mais significativo em regiões de baixa renda, de acordo com estudo.
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Um estudo da Leiden University, na Holanda, apontou que a demanda global por areia pode aumentar em 45% até 2060. Consequentemente, este alto consumo poderá resultar na escassez do material. Atualmente, a areia é umas das principais matérias-primas da construção civil. Cerca de 32 bilhões a 50 bilhões de toneladas de areia são usadas globalmente a cada ano, principalmente para fazer concreto, vidro e eletrônicos, segundo o estudo “Impacts of Sand Mining on Ecosystem Structure, Process and Biodiversity in Rivers”. 

De acordo com os pesquisadores, o crescimento provavelmente será mais significativo em regiões de baixa renda, como a África Ocidental e Oriental, onde mais de 500% da demanda atual de areia para construção é esperada até 2060, seguida pela região sul da África (419%), Índia (294%) e áreas do sul da Ásia (269%).

Embora pareça um material abundante no planeta, o estudo alerta para o fato de que nem todo o tipo de areia é adequado para construção. É o caso, por exemplo, da areia do deserto, cujos grãos são considerados lisos demais para fazer concreto. Já a areia do mar possui níveis de cloreto muito altos para a maioria dos propósitos de construção. Com isso, a maior parte da areia adequada para a indústria vem de rios. Essa extração de areia e cascalho tem impactos de longo alcance na ecologia, infraestrutura e nos meios de subsistência das pessoas que vivem ao longo dos rios.

Um exemplo disso é a mineração de areia no Rio das Pérolas (Zhujiang), na China. Essa atividade na região baixou os lençóis freáticos, tornou mais difícil a extração de água potável e acelerou a erosão do leito do rio, danificando pontes e aterros.

Situação no Brasil

Para Fernando Mendes Valverde, presidente executivo da Associação Nacional de Produtores de Agregados para Construção (ANEPAC), não haverá uma escassez pura e simples, já que o país tem areia em abundância. Em 2020, segundo dados da ANEPAC, houve um consumo de 605 milhões de toneladas de agregados (areia + brita). Em 2021, esse número subiu para 659 milhões. E, segundo Valverde, a expectativa é de um crescimento de 5% em 2022.  

“O grande problema é o quanto a sociedade permite tirar. A questão é que vivemos numa situação de paradoxo. De um lado, há uma sociedade que cria uma demanda cada vez maior. Ao mesmo tempo, ela tenta restringir a atividade”, pontua Valverde.

Para Fernando Mendes Valverde, presidente executivo da ANEPAC, no Brasil não haverá uma escassez pura e simples, já que o país tem areia em abundância.
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No entanto, Valverde acredita que é preciso preservar para o futuro, algo que não tem sido feito. “Se levarmos em consideração a Região Metropolitana de São Paulo na década de 1970, tinha cerca de 140 portos de areia. Hoje se tiver 10 é muito. Foi feito um trabalho pelo Governo do Estado de São Paulo e o Departamento de Produção mineral para tratar da disponibilidade futura de minerais usados para construção. E, dentre eles, notou-se que a areia tinha maior probabilidade de escassez. Não a escassez física, mas limitação de exploração a curto prazo”, explica Valverde.

Na opinião de Valverde, no Brasil, o ideal seria colocar a produção de agregados dentro dos planos diretores municipais como bens de uso e ocupação do solo. “Nas décadas de 70, 80, 90, não foi feito praticamente nada para preservar esses recursos. Seria importante termos um ordenamento territorial do setor. A disponibilidade de recursos e agregados vem decrescendo por falta de planejamento – que é o ordenamento territorial. É preciso criar condições e proteger as áreas atualmente, dentro de uma legislação adequada”, pontua.

Soluções

O estudo da Leiden University propõe algumas soluções para tentar evitar a escassez de areia:

  • Fontes sustentáveis ​​de areia: devem ser identificadas novas fontes passivas de areia que não danifiquem os rios. Estes podem incluir depósitos bloqueados em sedimentos de planície de inundação que podem ser extraídos. Ou a areia presa atrás das barragens pode ser extraída com menos impacto ecológico do que a mineração.
  • Substituição: os governos locais e nacionais e as autoridades de planejamento devem incentivar um maior uso de alternativas à areia, como brita, escória e resíduos industriais (incluindo cobre, cinzas volantes e areia de fundição) e plástico reciclado. 
  • Reuso: materiais à base de areia devem ser reutilizados quando possível. É o caso, por exemplo, de resíduos de demolição e concreto que podem ser triturados e misturados ao cimento. 
  • Redução: cortar a quantidade de concreto necessária em novas estruturas também diminuiria a demanda por areia. Isso poderia ser alcançado usando materiais mais eficientes (como blocos de concreto e painéis de construção impressos com núcleos ocos). 
  • Governo: uma estrutura internacional ou multilateral para regular e controlar a extração de areia deve ser forjada entre as partes interessadas locais, organizações não governamentais, indústria, agentes da lei e governos. Órgãos internacionais devem estabelecer diretrizes globais de boas práticas para extração de areia, identificando onde a extração é e não é sustentável.
  • Educação: governos, cientistas e indústria devem divulgar informações sobre as questões da mineração de areia, incluindo aquelas relacionadas à equidade social, inclusão e gênero. 
  • Monitoramento: um programa global para coletar e compartilhar dados é imperativo para quantificar a localização e a extensão da mineração de sedimentos, bem como as variações naturais do fluxo de areia nos rios do mundo. 

Entrevistado/ Fonte

Fernando Mendes Valverde é geólogo, graduado em 1972 pela Universidade de São Paulo, com especialização em Economia Mineral pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e Mc Gill University do Canadá. Ocupou os cargos de Diretor do 2º Distrito do Departamento Nacional de Produção Mineral em São Paulo e Secretário Executivo do Pró-Minério – Programa de Apoio ao Setor Mineral da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Foi coordenador do Plano Diretor de Mineração para a Região Metropolitana de São Paulo e do Plano Plurianual para o Desenvolvimento da Mineração Brasileira, relativo às rochas de revestimento. Presta serviços desde 1997 para a ANEPAC - Associação Nacional de Produtores de Agregados para Construção, na qual ocupa o cargo de presidente executivo. 

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Construção modular pode alcançar até 130 bilhões de dólares até 2030

Na construção modular, o uso de recursos naturais, de matérias-primas e de energia é menor, assim como há uma redução das emissões de gases de efeito estufa.
Crédito: Decorlit

A construção modular pode alcançar até 130 bilhões de dólares até 2030, considerando novos empreendimentos nos mercados dos Estados Unidos e Europa. Isto é o que mostra o relatório "Modular Construction: From projects to products", publicado pela consultoria McKinsey. Ainda, o documento aponta que isto geraria uma redução de custos de 22 bilhões de dólares.

Exemplos do uso desta tecnologia não faltam. “Atualmente, ela tem crescido rapidamente na Ásia. Em Singapura, por exemplo, foi erguido recentemente o mais alto empreendimento de construção modular do mundo: o Clement Canopy. Trata-se de um projeto habitacional de duas torres com 40 andares e 140 metros de altura”, comenta Íria Doniak, presidente executiva da Abcic – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto.

Lucas Bonfogo, gerente técnico da Decorlit – Soluções Construtivas, também menciona o uso desta tecnologia na construção de um hotel em Nova York, da rede Marriott, que possui 26 andares. “Eles utilizaram o conceito de simetria para ganho de eficiência e projetaram uma bela arquitetura devido à peculiaridade das estreitas ruas de Manhattan. Além do ganho em tempo, o projeto reduziu em muito as cargas da fundação e o custo estimado da construção, que na alvenaria foi orçado em 100 milhões e este projeto diminuiu 30% do custo, ficando em 70 milhões, contando todos os custos de transporte e instalação”, cita. 

Íria aponta que a construção modular pode ser executada com tipologias distintas, 3D em módulos prontos ou a chamada construção painelizada (com painéis). A 2D é amplamente utilizada na Europa há muitos anos, em especial na Holanda. “São tecnologias já existentes há muitos anos e modernamente chamadas de ‘off site’, pois estão associadas ao conceito de produção em unidades fabris e montagem no canteiro de obras. Sua utilização tem sido catalisada pelas ferramentas da construção 4.0 e pelo uso do BIM”, explica.

Vantagens da construção modular

Na construção modular, é preciso ter um planejamento logístico assertivo para que o transporte e a montagem transcorram de acordo com o previsto.
Crédito: Decorlit

A construção modular é um sistema industrializado e, portanto, tem como benefícios o aumento da produtividade, atendimento de cronogramas ousados, agilidade, diminuição de custos, maior rentabilidade, resultando em empresas mais competitivas e mais eficientes, segundo Íria. 

“Ao realizar a mudança do canteiro de obras para um canteiro de montagem, é possível contar ainda com os benefícios da produção em um ambiente controlado, como qualidade, sustentabilidade, produtividade, eficiência, redução de tempo, melhor aproveitamento dos materiais e um nível próximo a zero de retrabalho”, expõe Íria.

Bonfogo também acrescenta que, com a construção modular, muito do que antes era feito no canteiro de obras sujeito ao sol, chuva e à muitas variáveis, agora ocorre dentro de fábricas e traz um ganho de escala inimaginável ao processo tradicional de construção em alvenaria.

Por fim, uma das principais vantagens é com relação à sustentabilidade. “Ao fabricar na indústria, o uso de recursos naturais, de matérias-primas e de energia é menor, assim como há uma redução das emissões de gases de efeito estufa que são os principais responsáveis pelo aquecimento global, que derivou as mudanças climáticas. Além disso, há a possibilidade do reuso tanto de materiais como de água”, destaca Íria.

Cuidados

Um dos desafios para o uso da construção modular é a logística e transporte. “Por serem produzidos em fábricas, o maior cuidado a se ter seria com o transporte. Existem módulos 2D ou módulos 3D que são como casas totalmente prontas, com acabamento e mobiliário, por exemplo. Então a maior dificuldade é a logística, visto que a estrutura no Brasil em nada ajuda. Portanto, a maior limitação seria quanto ao tamanho para transporte”, alerta Bonfogo.

Outra questão a ser levada em consideração é que o sistema construtivo deve ser definido durante a fase de projeto a fim de que se extraia o máximo potencial de desempenho e funcionalidade, segundo Íria. Além disso, é preciso se atentar ao fato de que os canteiros de obras passam a ser canteiros de montagem. “Assim, um planejamento de montagem é imprescindível incluindo, obrigatoriamente, também um plano de rigging”, destaca Íria.

Construção modular no Brasil

Será que no Brasil esta tecnologia é utilizada com a mesma frequência que no exterior? De acordo com Íria, o módulo pronto 3D foi muito utilizado no Brasil para banheiros prontos e celas de presídios em algumas regiões do país. Era chamado também de monobloco. “Muitos empreendimentos hoteleiros, principalmente em São Paulo, nos anos 2000 adotavam fachada pré-moldada de concreto, os banheiros prontos (módulo 3D), divisão interna em drywall e estrutura convencional. Era um modelo que imprimia velocidade a este tipo de empreendimento, cujo ‘payback’, ou seja, o rápido retorno do investimento, era fundamental”, conta.

Bonfogo, por sua vez, revela que a pandemia deu uma acelerada no conceito que estava pegando tração no Brasil, mas hoje há casos de prédios construídos dessa forma em Santa Catarina e novos projetos saindo em São Paulo. “Há vários hospitais que foram construídos em tempo recorde, além de residências de campo e casas flutuantes que ganharam inclusive prêmio de arquitetura. Também é possível ver muitos usos comerciais de lojas do tipo franquia, mercados autônomos, e ampliação corporativa de escritórios de empresas”, pontua. 

Entrevistados
Íria Doniak é presidente executiva da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto).

Lucas Bonfogo é gerente técnico da Decorlit – Soluções Construtivas.

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ABCIC - abcic@abcic.org.br
Decorlit – comercial@decorlit.com.br

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Cada emprego direto na indústria do cimento gera 4 novos postos de trabalho

Emprego direto na indústria: Estudo do SNIC aponta que cidades onde foram instaladas fábricas de cimento tiveram crescimento do PIB e de ativos financeiros.
Crédito: WSDOT

O concreto é o segundo material mais consumido no mundo, de acordo com o World Business Council of Sustainability. Consequentemente, isto se reflete também na quantidade de postos de trabalho que ele gera. De acordo com o estudo “Encadeamento da indústria do cimento no Brasil” do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), para cada milhão de toneladas de cimento produzidas no Brasil são necessários cerca de 1200 empregos criados (diretos, indiretos e induzidos). Isso tudo corresponde a aproximadamente R$ 480 milhões em geração de valor (PIB) e arrecadação ao redor de R$ 55,4 milhões em impostos.

O estudo levou em conta o período de 2007 a 2018, analisando dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) e Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), do IBGE. “Neste período, tivemos um grande ‘boom’ de crescimento – que foi entre 2004 e 2014. Depois, também vivenciou uma grande queda no consumo de cimento, que foi de 2015 a 2018. Temos, então, dois extremos. Isso trouxe sustentabilidade aos nossos estudos”, comenta Flávio Guimarães, economista do SNIC.

Estudos de caso

O estudo mostra como se deu a evolução da economia local antes e depois da instalação da unidade, a ampliação dos empregos, o crescimento econômico e a acumulação de riqueza na região

Um dos exemplos analisados foi a cidade de Baraúnas (RN), que teve uma fábrica inaugurada em 2011. “Os dados mostram que, em 2006, era um município onde 51,4% do PIB era proveniente da agropecuária. Em 2016, quatro anos após a instalação da fábrica, o perfil mudou bastante: o setor de agropecuária passou a responder por 8% do PIB, enquanto a indústria ficou responsável por 31%. Além disso, o PIB relacionado a serviços privados subiu de 17% para 31% - isto corresponde aos serviços necessários para atender este novo perfil de população. Neste mesmo período de 2006 a 2016, o número de empregos na cidade subiu de 3.000 para 4.000. Ao mesmo tempo, o PIB da cidade saiu de R$ 400 milhões para quase R$ 700 milhões. Por último, a movimentação bancária no município quase dobrou – foi de R$ 30 milhões para quase R$ 60 milhões. Esses dados mostram o poder de uma indústria em uma localidade”, revela Guimarães. 

Outra localidade analisada pelo estudo foi o município de Xambioá (TO), que teve uma indústria instalada em 2009. “Neste caso, a indústria saltou de 15% para 47% do PIB. Já a evolução do emprego subiu de 1.000 para 1.500 durante o período. O PIB também saiu de R$ 200 milhões para R$ 400 milhões. Por último, o volume de ativos financeiros também subiu de R$ 100 milhões para mais de R$ 200 milhões”, pontua Guimarães.

Para Guimarães, esses dados reiteram a força do encadeamento econômico da indústria cimenteira retratando efeitos evidentes nas localidades onde as fábricas de cimento foram instaladas como a evolução da economia local antes e depois da instalação da unidade, a ampliação do emprego, o crescimento econômico e a acumulação de riqueza na região.  “É nítido o ganho econômico, social e sustentável de uma fábrica de cimento em uma localidade”, conclui.

Entrevistados
Flávio Guimarães é economista do SNIC

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Assessoria de imprensa – SNIC - daniela.nogueira@fsb.com.br

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Inteligência artificial na construção civil: será que tem futuro?

Para Jean Ferrari, a Inteligência Artificial na construção civil entra como uma aliada na hora de coletar e processar as informações geradas a cada obra.
Crédito: Jean Ferrari

Na construção civil, os investimentos em tecnologia ainda são tímidos. Conforme estudo global da consultoria IDC, em parceria da Autodesk, 58% das empresas do setor de construção ainda estão no estágio inicial da jornada para a inovação, ao passo que 28% estariam no meio do processo de transformação. Apenas 13% podem ser consideradas maduras em relação à adoção de novas tecnologias. Ao mesmo tempo, 72% das empresas de construção ouvidas dizem que esta deve ser uma prioridade para realizar mudanças necessárias aos seus processos, modelos de negócios e/ou ecossistemas. Com isso, será que essa onda pega?

Inteligência artificial na prática

De acordo com Jean Ferrari, CEO da FastBuilt, a construção civil tem usado a Inteligência Artificial de diversas maneiras, desde o atendimento ao cliente por meio de chatbots e assistentes virtuais, que respondem via texto às dúvidas mais comuns e simples dos clientes -, até o planejamento e controle de obras.

“A Inteligência Artificial na construção civil entra como uma aliada na hora de coletar e processar a enorme quantidade de informações geradas a cada obra, demonstrando através de softwares quais são os itens que devem ser observados de forma precisa”, explica Ferrari.

Outra vantagem apontada por Ferrari é a possibilidade de gestão de risco, também por meio de softwares e robôs que verificam o andamento da obra e podem identificar ameaças a serem levadas em consideração.

“A IA ajuda a melhorar processos no controle e segurança, apresentando dados e gráficos para facilitar a visualização. Ela também contribui para dar mais agilidade e previsibilidade à obra. A junção da Inteligência Artificial e a Internet das Coisas também deve ser cada vez mais utilizada, elaborando sistemas que usem o potencial desses dois conceitos para criar respostas inteligentes e sustentáveis para cidades e empreendimentos evoluídos”, destaca Ferrari. 

Ainda, a redução de custos e de tempo também não podem deixar de ser mencionados, visto que a tecnologia pode eliminar processos que demandariam de mais tempo se feitos apenas pela mão humana, e também pode fazer a melhor gestão de materiais e recursos necessários para a conclusão de um empreendimento.

O que ainda falta explorar?

58% das empresas do setor de construção ainda estão no estágio inicial da jornada para a inovação.
Crédito: Envato

Para Ferrari, a produtividade no setor ainda enfrenta algumas lacunas. “O desafio é conseguir extrair mais com os recursos disponíveis, mantendo a qualidade dos produtos e entregas. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) expôs que a mão de obra do setor no Brasil é cerca de 30% menos produtiva que em outras nações pesquisadas e isto pode ser explorado”, afirma.

Alguns dos principais fatores que impactam na produtividade podem ser citados, como retrabalho, ao não contar com mão de obra qualificada; falta de controle no uso da matéria-prima; layout inadequado do canteiro de obras, que não facilita a movimentação de funcionários e materiais; segurança do trabalho e planejamento e controle de obras. “São questões que podem ser solucionadas ao adotar a inteligência artificial para a gestão do canteiro de obras das construtoras”, conclui Ferrari.

Entrevistado
Jean Ferrari é CEO da FastBuilt.

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