Uma Língua para todos

Reforma ortográfica padronizou a escrita nos países de Língua Portuguesa, atingindo 210 milhões de pessoas no mundo

Desde 1.º de janeiro a Língua Portuguesa convive com novas regras ortográficas. São mudanças que mexem com o dia a dia de quem convive com as palavras, mas que não precisam ser adotadas abruptamente. Nos próximos três anos, haverá um período de transição. Significa que quem continuar escrevendo regido pelas regras antigas não estará cometendo erros. Essa fase de adaptação termina em dezembro de 2012.

Órgãos governamentais, decidiram manter textos e documentos já redigidos de acordo com as normas antigas. Já o Diário Oficial da União manterá as duas formas nos conteúdos oficiais - editais, portarias, resoluções. O texto será publicado de acordo com a grafia que cada órgão resolveu adotar.

O presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação e do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Godofredo de Oliveira Neto, lembra que é natural esse período de adaptação dos editores. “Por isso se criou o período de transição”, disse. Ele recorda que a lei não prevê nenhum tipo de punição a quem desobedecer as regras no país.

No mundo, a nova ortografia estará atingindo 210 milhões de pessoas. A grande maioria — 190 milhões — vive no Brasil. O presidente da Abigraf Nacional (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e vice-presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), Alfried Karl Plöger, lembra que essas mudanças eram necessárias para que a Língua Portuguesa ganhasse o reconhecimento da ONU (Organizações das Nações Unidas). “A ortografia-padrão facilitará sobremaneira o intercâmbio cultural. Livros de todos os segmentos, documentos e escrituras internacionais, contratos comerciais e textos de todos os gêneros poderão circular livremente entre os países, sem necessidade de revisão. É o que já ocorre com o Espanhol. Além disso, o ensino do Português também será padronizado”, alerta.

Segundo Plöger, as mudanças ortográficas são muito pequenas. “É algo ínfimo ante os benefícios que a reforma trará no aspecto de reconhecimento internacional da língua”. De fato, as alterações atingem menos de 1% das palavras da Língua Portuguesa e padronizam o idioma no Brasil, em Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste, Angola e São Tomé e Príncipe.

Além disso, avalia Alfried Karl Plöger, a reforma ortográfica deverá alavancar a economia na indústria gráfica. “À medida que avance, milhões de exemplares de livros, dicionários, apostilas, manuais e jogos estarão desatualizados. Terão de ser reimpressos, criando uma previsível demanda extra bastante atraente para o setor. Os itens ligados à educação e cultura deverão ser os primeiros a passar novamente pelas impressoras, pois é fundamental que tenham a nova base ortográfica o mais rapidamente possível. A internacionalização também favorece muito o trabalho de pré-impressão, considerando que o fornecimento de serviços para um cliente de Portugal, por exemplo, não exigirá mais a adaptação ortográfica da digitalização dos textos e editoração eletrônica”, assegura.

Fique por dentro das novas regras

HÍFEN
Não se usará mais:

1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r - ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-" - como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"

2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada".

Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc.

• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, panamericano, etc.

TREMA
Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui.

Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas.

Exemplos: Müller, mülleriano.

ACENTOS
Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).

Uma Língua para todos

Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.

Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

- Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

Uma Língua para todos

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece.

Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

- Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).

Uma Língua para todos

- Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Uma Língua para todos

Atenção:

• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3.ª pessoa do singular.

Pode é a forma do presente do indicativo, na 3.ª pessoa do singular.

Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição.

Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.

• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.).

Exemplos:

Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros.

Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba.

Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.

Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.

Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.

Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.

• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

- Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinqüir, etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo.

Veja:

a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.

Exemplos:

• verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.

• verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.

b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas.

Exemplos :

• verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.

• verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y".

GRAFIA
No português lusitano:

- desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo".

- será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil - "erva" e "úmido".

Serviço

A Prefeitura de Curitiba oferece às pessoas com dúvidas sobre a Língua Portuguesa um serviço telefônico chamado de Telegramática. Basta ligar para o número (41) 3218-2425 que os atendentes prestam esclarecimentos na hora.

O atendimento conta com a assessoria de professores e acadêmicos de Letras e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h.

Com a reforma ortográfica, o serviço teve um aumento de 20% na procura. Dos cerca de 5 mil atendimentos por mês, saltou para quase 6 mil. No ano passado, o Telegramática tirou 50.201 dúvidas e atendeu 25.272 pessoas.

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação.


Falta legislação para os emails

Consultor em marketing defende a criminalização de quem faz mau uso da ferramenta e alerta: email não deve ser usado para tomar decisões

Marcelo Peruzzo
Marcelo Peruzzo

A cada dia as caixas de emails estão mais sobrecarregadas, levando as empresas a perderem um tempo precioso. Além dos desagradáveis spams – o lixo eletrônico -, há ainda quem envie mensagens quilométricas que poderiam ser resumidas em pouquíssimas linhas. Tudo isso leva a um questionamento: qual o futuro dos emails? Para o consultor em marketing e comunicação empresarial Marcelo Peruzzo, a transformação da ferramenta passa por uma legislação específica, que criminalize aqueles que enviam email sem permissão. Peruzzo também alerta para o mau uso da tecnologia. “O email não é um ferramenta para tomada de decisões”, alerta. Confira a entrevista:

Quando surgiu, o email parecia que iria agilizar a vida das pessoas. Hoje o que se vê é o contrário. O que aconteceu de errado?

A internet trouxe tantas facilidades que as pessoas perderam a noção do que é pertinente ou não. O email acabou sendo vítima disso. Com a ferramenta não há nada de errado. Ela simplesmente passou a acompanhar a velocidade do ser humano. Há dez anos, quando eu precisava tomar uma decisão, pegava o telefone e ligava. Hoje, por pressão ou outros fatores, as pessoas usam o email para resolver situações pontuais. O problema é que se trata de uma ferramenta com linguagem diferenciada e que muitas vezes o que se escreve é interpretado do outro lado não da forma que se desejava. Aí reside basicamente todo o problema.

A questão é que as pessoas substituíram a comunicação direta pelo email para resolver problemas. É isso?

Exatamente. Observe: quando você está interagindo com uma pessoa por telefone, 90% das dúvidas são solicitadas na hora e a decisão é tomada. No email, não. O email é como um livro em branco pedindo um monte de informações, onde a questão dois torna a questão um irrelevante. Isso acarreta em perda de objetivo e de tempo. A dica que eu dou é que nunca use o email para tomar decisões.

E se enviar email for inevitável?

Escreva, mas antes de mandar reflita sobre a mensagem. Leia de volta e tente resumir aquilo pela metade, e não mande ainda. Leia novamente. Se você mandar um email de primeira, sem fazer ao menos uma releitura, pode ter certeza que fez besteira. Ou cometeu erro de português, ou colocou informação desnecessária, ou cometeu dissonância cognitiva, ou seja, a pessoa vai entender outra coisa e não aquilo que você queria explicar. Isso vai dar retrabalho. Obrigará o envio de outro email para pedir desculpas. As palavras são pertinência e assertividade e os emails não perdoam quando se ignora isso.

Já há quem defenda o fim do email, substituindo-o por uma tecnologia mais segura e direta de comunicação. É por aí o caminho?

Com certeza, a própria ferramenta do email vai se modificar. Hoje mesmo ela já tem mecanismos para detectar spam. Isso, por exemplo, acarretou numa redução das campanhas de email marketing. Há cinco anos elas davam muito mais resultado do que hoje. Por quê? Por que as pessoas já sabem que a mensagem é oferta de alguma coisa ela cai no anti spam. O próprio sistema se sofisticou e continuará evoluindo.

Então quer dizer que a tecnologia do email continuará prevalecendo ou haverá uma mais segura e, sobretudo, que facilite o entendimento da mensagem?

No meu entender, a tecnologia é uma só: legislação. Se ela existir, as pessoas vão entender que mandar email sem permissão, sem autorização prévia, é crime. Só batendo pesado, cobrando multas, tirando a pessoa do ar, tirando links do ar, é que as pessoas vão ter muito mais pertinência de mandar uma mensagem. Isso só vai acontecer a partir do momento em que a legislação se tornar verdadeira no Brasil.

O senhor defende então uma legislação que criminalize quem enviar email sem autorização?

Já há jurisprudência no Brasil sobre isso e há até um marketing específico para essa questão, que é o marketing de permissão. Hoje vivemos no mundo da permissão. Se você não der permissão às pessoas, não tem o direito de ser invadido. E se for, tem o direito de exigir punição a quem fez isso. Como disse, já é jurisprudência no Brasil. Só que as pessoas não conhecem nada e então ficam quietas. Se você mandar um email sem permissão é R$ 450,00 de multa por email enviado. Se for SMS, a multa chega até R$ 4.000,00. Esta transição que nós estamos vivendo, do mundo tradicional para o mundo virtual, exige que logo, logo, essas decisões judiciais sejam regulamentadas e virem lei.

Dicas de como enviar um email

· Procure sempre elaborar emails curtos (até 100 kbytes).

· Coloque sempre o seu nome completo na conta do seu navegador. Isso é importante para que a pessoa que recebe saiba exatamente quem enviou.

· Não abra email que venha com o campo remetente em branco.

· Coloque sempre o assunto. Não envie um email sem o assunto. Alguns filtros eliminam automaticamente emails enviados com o assunto em branco.

· Coloque sempre o assunto de forma clara.

· Só envie anexo quando for estritamente necessário. Hackers costuma produzir vírus que se propagam através de anexos executáveis, com terminações tipo EXE, PPT, ZIP, etc.

· Entre enviar por email um arquivo em Power Point (arquivo PPT) e copiá-lo em CD e enviar por Sedex, prefira a 2.ª opção. Arquivos Power Point são geralmente muito grandes (de 15 a 20 megas, em geral). Prefira também os Correios para enviar relatórios e outros documentos, como manuais e apostilas.

Mensagem instantânea desafia email

Nos países da Comunidade Europeia, as ferramentas denominadas de Instant Messaging (IM), segundo recente estudo da IDC (International Data Corporation), tendem a substituir os emails nas corporações a partir de 2010.

O estudo é baseado em pesquisa que envolveu a participação de mais de dois mil trabalhadores de 17 países e focou a quantificação dos níveis de conectividade laboral hoje em dia, na utilização de dispositivos e aplicações e no seu impacto no crescimento das empresas.

Perto de 16% dos pesquisados já estão “hiperconectados”, ou seja, usam sempre que possível as comunicações instantâneas via dispositivos tecnológicos. De acordo com a IDC, cerca de 36% vão juntar-se a este grupo dentro de pouco tempo.

A IDC verificou que esta hiperconectividade varia de acordo com o setor de atividade. Cerca de 9% dos funcionários do setor da saúde estão hiperconectados. No caso do setor das altas tecnologias, a percentagem aumenta para 25% e para 21% no das indústrias financeiras.

A migração para a hiperconectividade vai dar origem a um “boom” de dispositivos e aplicações de comunicação e novos processos de negócio, estima a IDC. Este “boom” vai aumentar a necessidade de definir estratégias e arquiteturas de comunicações unificadas por parte das empresas – num mundo hiperconectado, a linha que separa as comunicações pessoais das laborais praticamente não existe, de acordo com a IDC.

Dois terços dos pesquisados usam IM para ambos os fins e mais de um terço faz o mesmo com as redes sociais. Isso pode resultar na vulnerabilidade das empresas e em ameaças de segurança aos dados das corporações e, por isso, algumas delas começaram a adotar o uso de comunicadores corporativos, também chamados de messenger corporativo. A diferença destes comunicadores para os comunicadores populares está no controle. O usuário não possui autorização para adicionar contatos e toda a conversa pode ser logada para posterior análise.

O que é IM?

Do inglês Instant Messaging, é uma aplicação que permite o envio e o recebimento de mensagens de texto em tempo real. Através destes programas o usuário é informado quando algum de seus amigos, cadastrado em sua lista de contatos, está online, isto é, conectou-se à rede. A partir daí, eles podem manter conversações através de mensagens de texto as quais são recebidas pelo destinatário instantaneamente. Normalmente estes programas incorporam diversos outros recursos, como envio de figuras ou imagens animadas, conversação em aúdio - utilizando as caixas de som e microfone do sistema -, além de vídeo conferência por webcam.

Fonte: Computerworld

Quem é o entrevistado
Marcelo Peruzzo é mestre em Gestão de Negócios pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing pela FAE Business School e analista de sistemas pela Escola Superior de Ensino Empresarial em Informática. Membro da American Marketing Association, em 2006 recebeu o prêmio como melhor professor de marketing da FGV Management. Atualmente é CEO do IP2 Marketing de Resultado, onde gerencia contas nacionais nas áreas de treinamentos e consultoria em Marketing. Também é autor dos livros Os Dez Mandamentos de Deus e os Pecados Organizacionais e Jesus de Gravata.

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação.


Cal Virgem ou Hidratada?

Algumas vezes, a qualidade das argamassas utilizadas na construção civil deixa a desejar pelo uso do tipo errado da cal

Créditos: Engº. Jorge Aoki - Gerente de Assessoria Técnica Itambé

O Óxido de Cálcio (CaO), mais conhecido comercialmente como cal, é um dos materiais de construção mais antigos do mundo. É obtido pela decomposição térmica (calcinação ou queima) de rochas calcárias moídas em diversos tipos de fornos, a uma temperatura média de 900°C. Sua utilização é muito abrangente nos mais diversos segmentos: construção civil, construção de estradas, siderurgia e metalurgia, indústria química, papel e celulose, indústria alimentícia, agricultura, saúde e preservação ambiental.

A chamada cal virgem, também denominada cal viva ou cal ordinária, é o produto inicial resultante da queima de rochas calcárias, composto predominantemente dos óxidos de cálcio e magnésio. Já a cal hidratada, como o próprio nome sugere, é uma combinação da cal virgem com água. Ou seja, CaO + H2O -> Ca(OH)2. Tem propriedades aglomerantes como o cimento, com a diferença de que o cimento, para endurecer, reage com a água e a cal com o ar. É a chamada cal aérea, enquanto o cimento recebe o nome de aglomerante hidráulico.

Mas a dúvida permanece: qual o tipo de cal que devemos usar quando preparamos uma argamassa? A resposta é simples em um primeiro momento: podemos utilizar os dois tipos. Em determinadas regiões do Brasil, a utilização da cal virgem para argamassas de assentamento e revestimento é bem intensa. Em uma primeira etapa, são misturadas a cal, areia fina e água. Essa mistura fica “descansando” por alguns dias, perde trabalhabilidade e depois é adicionada a uma pequena parte de cimento e mais água.

Na realidade, portanto, ninguém usa cal virgem. Podemos comprar uma cal virgem e quando preparamos a argamassa, seja na obra ou em central, estamos hidratando a cal no exato momento da adição de areia e água. Esta reação libera muito calor e uma boa cal, bem calcinada, demora aproximadamente 48 horas para hidratar bem.

Uma grande vantagem quando se compra a cal já hidratada no produtor é justamente a garantia de uma boa e completa hidratação. Além disso, a argamassa preparada com cal hidratada pode ser utilizada logo após a sua mistura. O que pode ocorrer, quando se faz a argamassa com a cal virgem, é fazer a aplicação na obra sem a completa hidratação. As conseqüências são trincas e quedas do material, com muito desperdício.

Lembramos que, qualquer que seja o tipo de argamassa (mista, industrializada ou estabilizada), a escolha correta dos materiais componentes fará a diferença para se obter um produto final de boa qualidade. Em um país de grandes proporções como o Brasil, a regionalização é muito grande e a diversificação dos produtos determina as diversas práticas nas obras. Nesta questão das argamassas não poderia ser diferente. A cal não é disponível em todos os estados e o frete muitas vezes inviabiliza sua utilização. É mais um desafio que os profissionais da construção civil enfrentam, com muita criatividade e adaptação.

Colaboração: Engenheiros Fábio Pini e Alexandre Garay, da Associação Paranaense dos Produtores de Cal

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330 - Tempestade Comunicação.


Passaporte para a qualidade

Selo da ABCP influencia na evolução dos blocos de concreto e paver e ajuda artefatos a ganharem mercado

Arnaldo Forti Battagin
Arnaldo Forti Battagin

Produzidos por uma indústria bastante pulverizada, que abrange desde fábricas de fundo de quintal até grandes empresas, os blocos de concreto e pavers estão atingindo um padrão cada vez mais confiável no país. Boa parte desta credibilidade se deve à preocupação da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) em instituir um selo de controle de qualidade para os produtos, além de trabalhar para disseminar normas técnicas e manter em alto nível a produção dos artefatos.

O selo da ABCP traz vantagens para quem produz e para quem compra. “Ele é o reconhecimento de que aquele produto atende as normas tanto da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) quanto do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Além disso, para o consumidor, trata-se de um comprovante de que o que ele está comprando tem qualidade. No caso de obras governamentais, por exemplo, hoje algumas prefeituras já exigem em suas licitações que o material utilizado pela empresa vencedora tenha o selo”, explica Arnaldo Forti Battagin, chefe dos laboratórios da ABCP.

Outra vantagem, explica Arnaldo Battagin, está no fato de que a aquisição de um produto com selo de qualidade acaba trazendo redução no custo da obra. “Você evita o retrabalho, pois adquire material padronizado, e tem também menos gasto com manutenção. A obra vai durar muito mais”, assegura.
Para conceder o selo de qualidade, a ABCP age com rigor, mas indiscriminadamente. Significa que uma pequena fábrica que queira qualificar o seu produto poderá fazê-lo. A ABCP prestará consultoria, indicando a melhor matéria prima e a forma adequada de fabricação. Também exigirá do fabricante o cumprimento de normas técnicas, como resistência, absorção e retração. “Ao atingir esse nível, a empresa implanta um sistema de qualidade na fábrica e quando se sentir segura convoca uma inspeção oficial. Daí começa um programa de ensaios que vai atestar ou não o produto para receber o selo”, ensina Arnaldo.

Os testes são realizados em laboratórios da própria ABCP ou aprovados por ela, em parceria com o Inmetro. Caso a fábrica possua um laboratório, ele passará por uma série de ensaios para verificar a compatibilidade dos equipamentos. “Uma vez que eles deem resultado, validamos o que se chama autocontrole integrado, ou seja, a fábrica faz todos os dias um ensaio e quando ela obtém 32 resultados manda para a ABCP. Lá será feito um tratamento estatístico com relação a diversas propriedades, como resistência e compressão, e se estiver em conformidades com as normas concedemos o selo”, revela o chefe dos laboratórios da ABCP.

Em parceria com a Associação Bloco Brasil, a ABCP tem promovido eventos para estimular as empresas a buscarem o selo de qualidade. Hoje, no Brasil, 51 fábricas de blocos de concreto e paver já contam com o certificado e 12 laboratórios estão aptos a realizar os testes.

A vantagem do paver

Multifuncional: adapta-se tanto em calçadas, pátios e estacionamentos

Impermeável: assentados diretamente sobre o solo ou areia, facilita o escoamento da água de chuva

Resistente: o paver é produzido para atingir alta resistência à compressão (35 MPa a 50 MPa), igual ou maior a das estruturas dos edifícios.

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330 - Tempestade Comunicação.


Negligenciar inspeções de obra é cultural no Brasil

Proprietários precisam aprender a conservar as obras. Caso contrário, não haverá lei e nem fiscalização que deem jeito

Flávio Figueiredo: “Aqui se cultua o pensamento do descartável”
Flávio Figueiredo

O engenheiro civil Flávio Figueiredo é integrante das comissões de peritos nomeadas pelos M. M Juízes das Varas da Fazenda Pública de São Paulo. Uma de suas funções é investigar as causas que fazem construções sofrerem danos, e que as levam à interdição. Com conhecimento de causa, Figueiredo defende a tese de que o brasileiro ainda não assimilou culturalmente a importância da inspeção periódica de obras.

Uma das razões, avalia Flávio Figueiredo, se deve ao fato de no Brasil a oferta de imóveis ser muito grande. “As pessoas não têm uma necessidade, como o europeu, por exemplo, de preservar o que é seu, já que não existe mais espaço para as cidades se expandirem. Aqui não, a pessoa deixa que o imóvel se deteriore, pois depois ela compra outro, vai morar em outro lugar, ou seja, não tem aquela cultura”, disse.

O engenheiro completa seu raciocínio com a tese de que não é nem uma questão econômica. “A pessoa dá outra prioridade aos seus recursos, em vez de manter a construção de forma adequada. Prefere comprar um carro novo, por exemplo, do que gastar para preservar seu imóvel.”

Para o engenheiro, esse hábito de não preservar também contaminou a qualidade das inspeções. “O mau hábito de não preservar afetou o hábito de se inspecionar”, teoriza. Ele revela que mesmo em cidades onde a legislação torna obrigatória a inspeção, a reparação do imóvel não é adequada. “As pessoas saem em busca de um reparo barato, apenas para cumprir a legislação. Então a inspeção acaba não cumprindo a sua finalidade, que seria fornecer uma orientação para aquilo que você precisa fazer”, afirma.

Flávio Figueiredo chama a atenção para o fato de a demanda por inspeções periódicas só se tornarem rotineiras quando acontece algum acidente, como o que ocorreu em janeiro em um dos templos da Igreja Renascer, em São Paulo. “Aí você tem uma movimentação no sentido de as pessoas procurarem examinar com um pouco mais de cuidado, pelo menos por um tempo”, disse. O recomendado, alerta o engenheiro, é que se obedeça o prazo entre uma inspeção e outra. “Mas dependendo da situação, da idade do imóvel, é conveniente se reduzir este intervalo”, comenta, fazendo uma analogia: “Se a pessoa espirra uma vez ou tosse uma vez, não é nada. Mas se fica tossindo uma semana, significa que alguma coisa está anormal. Pode ser que não seja nada, mas pode ser que tenha algo sério prestes a acontecer. E é aí que a inspeção é decisiva para se evitar um desastre.”

Sobre a função dos inspetores, Flávio Figueiredo afirma o risco maior é quando a mesma pessoa que faz a manutenção é também a que faz o laudo. “Vejo um conflito de interesses aí”, assegurando que na maioria das vezes a inspeção é ética e profissional. “Via de regra ela é feita de maneira autônoma, com a pessoa contratando uma empresa ou um profissional que esteja devidamente qualificado”, observa. A respeito do fato de algumas construções possuírem ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e mesmo assim serem alvo de desastres, ele explica: “Ela pode ter uma ART para projeto ou uma ART para edificação. Agora, quem está usando o imóvel é que precisa estar atento às suas manifestações. A construção não é eterna e precisa de manutenção. Alguns pontos de manutenção são menos importantes e outros mais”, assegura.

Mandamentos da inspeção de obras

Toda obra tem de ser projetada pensando na manutenção.

Toda obra tem vida útil e a manutenção ou a ausência dela podem abreviar o tempo de vida da construção.

Fissuras, rachaduras, infiltrações, destacamento de revestimento, entre outras avarias, são sinais de que a obra tem alguma patologia.

Uma obra deve perseguir o conceito de sustentabilidade.

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330 - Tempestade Comunicação.


Empresário quer construir cemitério-pirâmide para atrair "turista funerário" ao PR

Créditos: Engª. Naguisa Tokudome - Assessora Técnico Comercial Itambé

Dono de uma funerária e três crematórios no Paraná e em Santa Catarina, o empresário Edson Cooper, 50 anos, acalenta um projeto que começa a se concretizar: construir um cemitério vertical em forma de pirâmide na Grande Curitiba que sirva também de atração turística.

A idéia de Cooper é ambiciosa. A pirâmide será erguida em uma área de 58 mil metros quadrados em Almirante Tamandaré, município da região metropolitana da capital. Depois de três anos e meio, ele conseguiu a licença ambiental e pôs os tratores para limpar a área em que pretende construir a obra.
O projeto elaborado pelo arquiteto Rodrigo Baranczuk (sobrinho de Cooper) prevê uma edificação de 12 andares. No alto, haverá um mirante, também em forma de pirâmide, que abrigará lanchonete e restaurante.

O subsolo da pirâmide será reservado para o museu funerário, que exibirá técnicas de mumificação em cera, oferecida por Cooper aos seus clientes, além da exposição de carros e carruagens funerárias antigos, filmes e atrações cujo tema será sempre a morte. "E não se trata de um tema mórbido", garante Cooper. "50% do turismo no mundo é feito dentro dos cemitérios".

A pirâmide, segundo o empresário, tem capacidade para 35 mil gavetas mortuárias, que podem ser divididas como um grande arquivo.

Cooper pensa em reservar o penúltimo andar do edifício para abrigar uma seção exclusiva, onde serão enterrados músicos, escritores e artistas. Há também o projeto de reservar uma ala somente para as personalidades da vida pública brasileira.

O empresário diz que o projeto foi inspirado em cemitérios famosos como o da Recoleta, na Argentina, e o dos Papas, na Itália, que atraem milhares de turistas todo ano.

O projeto inclui também a construção de um anfiteatro para 500 pessoas, onde serão realizados vários eventos e cursos sobre técnicas de conservação de corpos e cremação.

"O serviço funerário tem ganhado sofisticação e atraído interessados em toda parte. Pretendo exibir filmes sobre a história do sepultamento e promover cursos para agentes funerários", afirma Cooper.

No hall de entrada da pirâmide serão construídas oito salas de cerimônia para os velórios, com espaços para lan houses. Cooper explica que é costume entre os latino-americanos velar o corpo a noite inteira, daí a necessidade de computadores para que os familiares comuniquem-se com os parentes que não puderem comparecer.

Na área externa do cemitério vertical, o arquiteto reservou um espaço para a realização de grandes missas, com capacidade para 5.600 pessoas, e ainda a construção de um Cristo Redentor, cuja altura de 59 metros é quase dois terços maior do que a estátua homônima erguida no Rio no século passado (clique aqui para ler a matéria).

O investimento total para a obra, segundo o empresário, seria de R$ 30 milhões, dos quais R$ 10 milhões seriam captados do BRDE (Banco Regional Desenvolvimento do Extremo Sul) e o restante obtido através do mercado de capitais. "Estou procurando um sócio entre as construtoras para concluir a última fase do projeto. Já tenho a licença ambiental do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e as obras estão em andamento", assinala.

Para garantir o retorno do investimento, Cooper pretende ainda cobrar uma entrada de R$ 10 dos visitantes e ainda oferecer uma gama de serviços aos que se dispuserem a adquirir uma das gavetas do cemitério vertical.

"Há uma certa resistência de minha família em levar adiante o projeto, mas eu tenho fé no investimento e creio que, se concluído, o cemitério vertical será uma atração turística do Paraná só comparável às Cataratas do Iguaçu", exagera Cooper.

 

Referências: Uol Notícias


Logística: o coração da indústria

Ferramenta tornou-se um diferencial na economia globalizada para que a empresa escape da concorrência igual.

Prof. Joaquim Brasileiro
Prof. Joaquim Brasileiro

Nascida na 2.ª Guerra Mundial e propagada com a globalização, a partir dos anos 90, a logística hoje é vital para as empresas. Doutor no assunto, o professor Joaquim Brasileiro, a rotula como “o coração da indústria”. A definição é ampla e as aplicações da ferramenta idem. Mas há um consenso: do chão da fábrica aos governos, ninguém mais vive sem logística. Confira a entrevista:

Como poderíamos definir logística?
A definição de logística passa por algo mais abrangente neste mundo globalizado. Em um nível organizacional, a logística foi criada como uma cópia da 2.ª Guerra a partir das forças armadas americanas. Então, passou-se a entender logística como uma área abrangente que envolve suprimentos, estoques, embalagens. O transporte é um subsistema importante do ponto de vista de custos da logística, mas a melhor definição é que a logística é um subsistema maior com vários subsistemas. Ela passou a ocupar um papel muito importante na economia globalizada porque hoje, a concorrência está muito igual. Os preços estão nivelados e as diferenças estão principalmente nas ferramentas de logística.

Diante deste conceito amplo de logística, como ela pode ser aplicada nas empresas sem perder o foco?
Depende de cada caso, de cada empresa. Se conceituarmos a logística tradicional empresarial como uma logística industrial, ou seja, do chão de fábrica, vamos envolver desde planejamento, controle de produção, área de compras nacionais e internacionais, área de estoque, área de embalagem até área de expedição. No fundo, a logística vai interligar esse leque de áreas que estão interligadas. Costumo dizer que a logística é o coração de uma indústria, pelo fato de que por ela passam diversas informações, diversos controles essenciais no gerenciamento do dia-a-dia da empresa.

Desde quando se passou a ficar atento à logística e perceber que esse tipo de planejamento estava aliado à lucratividade das empresas?

Vamos fazer aqui um recorte histórico da globalização, a partir da queda do Muro de Berlim. Até ali, em 9 de novembro de 1989, tínhamos dois sistemas - o capitalista e o comunista – e vivíamos os efeitos da Guerra Fria, com os Estados Unidos de um lado e a União Soviética de outro. A partir da queda do Muro de Berlim, as fronteiras do conhecimento se abriram. E aí nós estamos falando da implementação da internet e de toda a rede de comunicação que tornou as informações de forma bastante democrática. Com este acesso, as empresas perceberam que havia necessidade de expandir as suas fronteiras, de buscar a instalação de fábricas, sobretudo nos países emergentes, para baratear custos e criar uma melhor rede de distribuição. Então surge a logística, que teve as indústrias automotivas, como General Motors, Ford, Chrysler, Toyota e Honda, como ícones. Elas foram as grandes detentoras do estado da arte na logística empresarial. A partir daí, a concepção de logística se propagou e tornou-se também um grande diferencial na área de gestão de marketing.

O uso da logística como marketing teria banalizado a ferramenta?
Concordo. O termo logística ficou banalizado porque se usa em excesso. É preciso conceituar logística como um grande sistema, com uma cadeia grande de suprimentos. Então, dependendo de cada empresa, vamos precisar de uma logística específica. Isso, obviamente, passa necessariamente pela otimização de resultados. Mas nenhuma logística funciona se a empresa não tiver uma engenharia de produção. É ela quem vai dar a modelagem matemática de otimização, o cálculo de custo para a administração, a área de negócios e outros setores da empresa se apropriarem da logística na questão da gestão da informação, na gestão do conhecimento, ou seja, no gerenciamento.

Quais tipos de empresas estão mais atentas à logística?
Principalmente as empresas automotivas. Desde a percepção do que era logística, a partir da 2.ª Guerra Mundial, elas emprestaram o termo, entre aspas. Elas adaptaram a logística militar nos negócios e fizeram um grande benchmarketing, copiando este modelo que dava certo nas forças armadas americanas. O que se fez na 2.° Guerra? Tinha de se planejar quais os frontes seriam atacados e a partir dali programar a condução dos médicos, do transporte de alimentos, a retirada de feridos, etc. Então, toda esta gama de atividades fazia parte da logística. Recentemente vimos em Santa Catarina o quanto a logística faz falta. Com as enchentes, houve uma avalanche de doações do país todo e eles começaram a perder o controle do material que chegava, a ponto de terem de pedir para interromper as doações. Então, a logística passa pela otimização, pelo controle, pela maximização de resultados com redução de custos. Neste ponto, a indústria automotiva é a bússola dentro do segmento que a gente entende como logística empresarial.

O senhor citou Santa Catarina. Mas não teria faltado logística também aos Estados Unidos, para prever e se preparar para crise?
Sim. Nós podemos fazer uma analogia. Faltou realmente uma logística financeira, afinal ela também vive de controles. Aliás, em administração de empresas ou na área de negócios, gerenciar é ter itens de controle. Realmente o governo norte-americano acreditou demais no próprio sistema que foi criado a partir do Reino Unido e aperfeiçoado pelos americanos, ainda no século XIX. Acreditou demais que as forças de mercado se auto-regulariam e não foi isso o que aconteceu. Houve uma ganância muito grande, que culminou com esta questão da bolha hipotecária. Então realmente faltou controle. Faltaram normas mínimas, como temos aqui no Brasil, onde há leis que punem a especulação. Se as pessoas são presas ou não é outro conversa, mas pelo menos elas têm de responder perante à Justiça. Mas o que nós vimos nos Estados Unidos é que os grandes executivos não foram punidos. Realmente faltou uma logística financeira para se evitar a hecatombe financeira.

Pensando em termos de Brasil, como o país se posiciona em sua logística? Se houvesse um ranking, estaríamos em qual lugar?
Infelizmente estamos ainda muito atrasados na questão da logística. A começar pela nossa infraestrutura aeroportuária, portuária e também rodoviária e ferroviária. Vou dar um exemplo: a nossa malha ferroviária é uma herança do Brasil colonial. Ela não se modernizou e hoje não há conexão entre as linhas férreas entre a maioria dos estados. É inacreditável, mas as bitolas (as medidas dos trilhos) são diferentes de estado para estado. Não há um padrão. Nosso país poderia usar muito mais o modal ferroviário para melhorar sua logística. Nos Estados Unidos, que nós temos como modelo, o modal rodoviário é utilizado até 400 quilômetros, apenas para baldeação. O resto é feito por trem ou avião. Aqui nós usamos o modal rodoviário para tudo. Saímos do Chuí para o Oiapoque, de um extremo a outro do país, com custos altíssimos. Estamos falando de uma frota toda danificada, estradas esburacadas, falta de sinalização, roubos nas estradas. Tudo isso impacta negativamente na infraestrutura logística, que impacta o preço final dos produtos. Diria que o Brasil tem uma infraestrutura logística anacrônica, doente.

Mas como reverter esse quadro?
Acho difícil se fazer algo sem as chamadas PPPs (Parcerias Público Privada). Veja que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dentro do item logística de infra-estrutura, prevê investimento de somente 58 bilhões de reais. Então, pegamos um estudo da OCEPAR (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) que mostra que somente para integrar de forma otimizada a infra-estrutura logística do nosso Estado seriam necessários 65 bilhões de reais. Quer dizer, há um anacronismo bastante grande. Faltam recursos e estes recursos temos que entender que o governo não tem. O governo deve ser um facilitador num processo de licitação através de uma parceria pública privada melhorando os modais hidroviários, ferroviários, rodoviários e aéreos. Veja o caso das estradas. Temos aproximadamente 1,5 milhões de quilômetros de rodovias no Brasil e apenas 160 mil correspondem a estradas pavimentadas - pouco mais de 10%. É muito pouco para um país com estas dimensões.

Como é a área de atuações de profissionais voltados para a logística? Há defasagem no mercado ou o Brasil já produz um bom número de especialistas na área?
Este é um ponto muito importante. Não temos ainda cursos de bacharelado, cursos de quatro anos voltados para a área logística, apenas cursos de dois anos, que formam um técnico médio. O que acontece nas empresas é que os profissionais de logística, quando estão ascendendo, ocupando cargos de direção, procuram cursos de pós-graduação em logística, que nós temos vários. Principalmente cursos de Lato-senso, que duram entre um ano e um ano e meio. Agora, se aquele profissional quer buscar a área acadêmica, ele tem de procurar principalmente os cursos de administração ou os cursos de engenharia de produção, que têm um enfoque maior dentro da logística. Mas, infelizmente, ainda faltam instituições de peso que tenham cursos de graduação na área de logística. Nós temos apenas bons cursos na área de pós-graduação.

Sob o ponto de vista pessoal, o que um profissional precisa seguir para traçar uma boa logística em sua carreira?
Alguns requisitos são básicos, como ter conhecimento de pelo menos dois idiomas. Além disto, é preciso ter flexibilidade para administrar os problemas inerentes à logística. Além da flexibilidade, a comunicação. Comunicação não é só falar, mas saber ouvir para depurar as informações e filtrá-las. Por último, qualificaria a questão da habilidade da área, porque a logística é um setor que precisa resolver problemas.

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação.


Quando imóvel na planta é seguro?

Legislação e iniciativa das construtoras para proteger o consumidor melhoraram a garantia deste tipo de compra.

Luiz Gustavo Salvatico - Plaenge
Luiz Gustavo Salvatico - Plaenge

A crise financeira deflagrada nos Estados Unidos, em função das recontratações de hipotecas – as subprimes -, lançou incertezas sobre o consumidor brasileiro a respeito da compra de imóveis na planta. Com características totalmente diferentes, o mercado imobiliário nacional oferece blindagens mais seguras aos compradores. A começar pela Lei do Patrimônio de Afetação, criada em 2004, que separa o terreno e o prédio construído do patrimônio total da construtora, o que impede que os bens entrem como garantia de dívidas e obrigações vinculadas à empresa.

Com isso, os recursos para a obra ficam protegidos dos efeitos de eventual falência ou inadimplência do construtor. Esse regime é opcional e deve ser instituído através de uma declaração por documentos, firmado pelo incorporador no registro de imóveis e, quando for o caso, também pelos titulares de direitos reais de aquisição sobre o terreno.

A lei permite também que os compradores de unidades do empreendimento possam, em assembléia, nomear e constituir uma comissão de representantes. Ela diligenciará todos os atos necessários para acompanhar e fiscalizar o patrimônio. Isso obriga a construtora a fornecer os livros contábeis, assim como demonstrativos financeiros, cronograma da obra e outras informações consideradas relevantes pelos clientes.

A Lei de Patrimônio de Afetação foi criada para impedir a repetição de prejuízos aos consumidores, como os ocorridos em 1997 com a falência da construtora Encol. A empresa tornou-se inadimplente e paralisou as obras, prejudicando perto de 42 mil famílias em todo o país. Quase mil empreendimentos deixaram de ser entregues e isso levou a um debate no Congresso Nacional, resultando na nova lei.

Na opinião de especialistas em mercado imobiliário, não restam dúvidas de que essa legislação trouxe mais garantias ao consumidor, mas só ela não basta. “Ela aumentou a transparência e conteve a alavancagem em cima das vendas, por exemplo, que algumas construtoras praticavam. Porém, ela não elimina 100% o risco. Primeiro, por que a lei é optativa; segundo, por que ela não é uma garantia total de entrega. Suponhamos que a empresa tenha captado recursos para construir 60% da obra, de onde ela vai tirar os outros 40%?”, alerta Luiz Gustavo Salvatico, gerente regional de Curitiba da construtora Plaenge.

Por isso, Salvatico defende que o próprio consumidor crie seus mecanismos de defesa antes de assinar um contrato de compra de imóvel. “O mais seguro é ele buscar informações a respeito da empresa, através dos órgãos competentes, e verificar a saúde financeira da construtora e seu histórico sobre cumprimento dos prazos e qualidade da obra”, ressalta. Neste quesito, a Plaenge tem um diferencial implantado há 11 anos, que é o Seguro de Entrega da Obra.

Esse tipo de segurança, explica Luiz Gustavo, é único no país, pois só ele abrange todas as obras da construtora. “Há outras empresas que fazem seguro, mas só para determinadas obras”, explica. O Seguro de Entrega da Obra tem a garantia da Sulamerica Seguros, que age em parceria com a Plaenge. “O contrato vale durante todo o período de vigência da construção. Para assegurar essa garantia, a Sulamerica faz uma varredura em todos os demonstrativos contábeis e fiscais, verificando a solvência, a disposição de caixa, ou seja, há toda uma interface financeira que elimina o risco do comprador”, afirma Salvatico.

O Seguro de Entrega da Obra tem registro na SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) e no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Além desta garantia, a Plaenge expõe na obra e em seu site os cronogramas físicos e financeiros da construção. O cliente também pode conseguir cópias da apólice no site da Susep. “O grau de tranqüilidade é grande e isso virou um diferencial para a Plaenge. Transformou-se em um determinante na compra”, explica Luiz Gustavo, que garante: “Comprar imóvel na planta é, sim, um bom negócio.”

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação.


Competição Saudável

Competir sim, perder a ternura e o respeito pela dignidade alheia, jamais.

Jerônimo Mendes
Jerônimo Mendes

O mundo é uma sucessão de cobranças e responsabilidades desde o momento em que ensaiamos os primeiros passos e, da mesma forma, ouvimos os primeiros “nãos”. Com o passar dos anos e o aumento das responsabilidades típicas de cada fase da vida, somos “moldados a ferro e marteladas” como dizia Emerson, o grande pensador americano, ainda que a contragosto.

Invariavelmente, desde cedo aprendemos que o mundo é um campo de batalhas e se dependesse apenas da vontade dos pais seríamos os melhores, os mais fortes, os mais inteligentes, os mais bem-sucedidos. Aliás, ainda que isso não seja verdade, é assim que eles nos tratam até o fim, a despeito de todos os desgostos ou decepções que os filhos possam provocar.

De fato, o mundo é realmente um campo de batalhas onde o mais forte, o mais inteligente, o mais rápido, o mais estudioso ou ainda o mais esperto nem sempre se sobressai. Entretanto, independentemente do que nos acontece, sempre buscamos um lugar ao sol, uma forma de nos destacar, de viver dignamente, de dar um sentido à nossa vida, um norte para as nossas ações e, muitas vezes, diferentes formas de agradar mais aos outros do que a nós mesmos.

O mundo conta hoje com aproximadamente 6,3 bilhões de pessoas. Em 2050 seremos em torno de 9 bilhões de pessoas, segundo os especialistas, todos ávidos por emprego, segurança, saúde, sentido de realização e, principalmente, paz de espírito, sem contar ainda outras necessidades como água, comida e moradia. Os otimistas diriam: Uau! Mais 3 bilhões de bocas para alimentar, roupas para vender, sapatos para fabricar. Os pessimistas diriam: mais 3 bilhões de currículos na praça para tomar o meu emprego.

Considerando a abundância e ao mesmo tempo a escassez de recursos, vivemos uma permanente competição. Em função de tudo aquilo que a mídia nos impõe, do que a família nos cobra e do que a sociedade espera de nós, o básico não basta e para conseguir mais do que o básico, precisamos de mais dinheiro, de mais estudo, de mais reconhecimento, de mais tempo, de levar mais vantagens, o que acirra a competição.

Apesar de todos os revezes, conseguimos sair do chão e podemos até nos orgulhar um pouco, entretanto, nossa mente é traidora e a concorrência é o nosso fantasma. Tudo o que amealhamos parece pouco diante do que ainda é possível conseguir ou se comparado ao que os nossos amigos, irmãos, vizinhos, colegas de trabalho e concorrentes conseguiram em menos tempo do que nós. Como são fantásticas aquelas pessoas que não conhecemos muito bem, diria Milôr Fernandes.

Competição é isso, mais de 6 bilhões de pessoas querendo o mesmo que eu e você: amor, dinheiro, bens materiais, cargos de prestígio, salários milionários, comida, saúde, paz de espírito e reconhecimento. Alguns desejam mais do que uma posição de respeito na sociedade; outros desejam apenas uma sociedade que os respeitem como seres humanos.

Na medida em que mundo evolui, a competição torna-se implacável, dura, chega a ser insana. A tristeza da demissão alheia é ao mesmo tempo a alegria da nossa promoção. Na maioria das vezes não sabemos por que competimos, mas a corrente nos leva e como nossa base espiritual é vacilante, nossa convicção oscila entre a verdade e a opinião alheia. Somos reféns dos nossos próprios desejos ilimitados. Nunca conseguimos domá-los, pois eles sempre nos exigem mais, motivo pelo qual tentamos ir além da nossa capacidade.

Tudo aquilo que fazemos apenas para competir e mostrar aos outros que somos melhores é verdadeiramente inútil. Competição saudável é aquela que não nos afasta da família e dos amigos, que não é construída diante da desgraça alheia, que não sacrifica a nossa liberdade de expressão e de pensamento, que não expõe os nossos instintos mais primitivos.

Por fim, lembre-se, se o sol nasceu para todos, a conquista de um lugar diante dele não significa que os demais estão condenados à escuridão. Competir sim, perder a ternura e o respeito pela dignidade alheia, jamais. Pense nisso e seja feliz!

Jerônimo Mendes
Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas (Vozes)


Casa na fôrma

Baseada em velocidade, custo e qualidade, tecnologia que usa paredes de concreto começa a mudar o perfil habitacional no Brasil

Engenheiro Ary Fonseca - ABCP.
Engenheiro Ary Fonseca - ABCP

Uma nova ordem está se estabelecendo na construção habitacional no Brasil. A aposta é que em 2009 a tecnologia baseada na construção de paredes de concreto para edificações como casas, sobrados e prédios venha a se consolidar no país. Os alicerces estão prontos, graças a um programa denominado de Ativos em Parede de Concreto. Através dele foram detectados os gargalos que impediam o avanço da tecnologia e definidas ações do sistema construtivo para difundir esse tipo de obra.

Tanto na Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), quanto na Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Concretagem (Abesc) e no Instituto Brasileiro de Telas Soldadas (IBTS) - os incentivadores da tecnologia de parede de concreto - criou-se o consenso de que essa é uma alternativa viável para ajudar o Brasil a reduzir seu déficit habitacional, que hoje gira em torno de 8 milhões de habitações. O que os faz pensar assim são os benefícios do sistema, que alia velocidade, custo e qualidade da obra. “As empresas hoje estão procurando soluções mais competitivas, com melhor custo, mais rapidez e prazos menores de conclusão do empreendimento. E essa tecnologia atende essas três demandas”, define o engenheiro Ary Fonseca Jr., gerente de edificações da ABCP e coordenador do programa.

Fonseca esteve à frente de um grupo de estudos para consolidar o Ativos em Paredes de Concreto. “Foi um trabalho de um ano para identificar os principais gargalos que impediam as construtoras de ter confiança em utilizar o sistema. Identificamos esses gargalos e elaboramos o que nós chamamos de ativos para servir de conteúdo para todo o mercado”, definiu o engenheiro, confiante de que o Brasil seguirá o modelo de construção já adotado em larga escala em outros países sul-americanos. “É uma boa alternativa para enfrentar o déficit habitacional.”

A tecnologia utiliza fôrmas, onde são moldadas as paredes de concreto no local da obra. O sistema construtivo pode ser utilizado em casa, sobrados e em prédio de até 30 andares. Ary Fonseca alerta que ele não usa pré-moldados e nem se assemelha ao projeto de casa 1.0, voltado para habitações de baixa renda. “É bom deixar claro que não é uma construção pré-fabricada e nem voltada para casas compactas”, avisa.

No Brasil, o sistema de construção em paredes de concreto pretende atingir a classe média. No ano passado, as construtoras que já aderiram à técnica construíram 10 mil habitações. “Ela pode ser utilizada em alta escala por empresas com grande quantidade de empreendimentos para serem realizados num prazo curto”, diz Ary Fonseca.

Apesar de o número de construções com paredes de concreto proliferar no Brasil, principalmente na região Nordeste, a ABCP não quer estabelecer metas. O objetivo é convencer o mercado de que a tecnologia é confiável. “A demanda é do mercado e as construtoras é que vão decidir utilizar ou não”, afirma Fonseca. Diante do futuro promissor, só há uma certeza: os que aderem à tecnologia – já há 14 construtoras usando o método de construção no país - não pensam em voltar atrás.

50% - Esse é o percentual de redução de tempo de uma obra construída em paredes de concreto.

Tire suas dúvidas:

Quantos países já aderiram à tecnologia?
Colômbia, Venezuela, Peru, Ilhas do Caribe, Trinidad e Tobago, México, República Dominicana e Jamaica.

Quem detém know-how?
A Colômbia usa o sistema há mais de 20 anos. O país construiu uma fábrica de fôrmas, o que barateou ainda mais os preços das obras. A técnica colombiana já é exportada até para a Europa.

Há resistência do consumidor?
As 10 mil obras erguidas no Brasil em 2008, usando essa tecnologia, foram bem aceitas por seus compradores. O custo mais baixo, o bom desempenho técnico e acústico e a qualidade do acabamento conquista os clientes.

As construções em paredes de concreto permitem receber futuras reformas?
Se for uma casa térrea, sim. A tecnologia se adapta a expansões ou reformas como em qualquer outro sistema.

O Brasil tem profissionais especializados neste tipo de sistema?
As empresas que já estão construindo com esta tecnologia estão capacitando os profissionais. A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) também investe na qualificação, assim como a Associação Brasileira de Cálculo Estrutural. Técnicos de outros países vêm frequentemente ao Brasil para dar treinamento. Toda a cadeia envolvida na construção está sendo preparada para utilizar em grande escala o sistema.

Fonte: Engenheiro Ary Fonseca Jr., gerente de edificações da ABCP

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação