Fôrmas e escoramentos ganham confiabilidade

Norma que recentemente entrou em vigor tende a padronizar uma importante etapa da construção

Fernando Rodrigues, coordenador da ABNT: objetivo da NBR 15696 é minimizar acidentes e retrabalhos em obras
Fernando Rodrigues, coordenador da ABNT: objetivo da NBR 15696 é minimizar acidentes e retrabalhos em obras

Desde 15 de maio deste ano está em vigor a NBR 15696 - Fôrmas e escoramentos para estruturas de concreto - Projeto, dimensionamento e procedimentos executivos. A norma define os procedimentos para todos os tipos de fôrmas, como as de madeira, aço e alumínio. Um de seus méritos é a padronização de critérios de cálculo, de ensaios e de equipamentos.

Além disso, segundo o coordenador da Comissão de Estudos de Fôrmas e Escoramentos do CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), Fernando Rodrigues, a nova norma tende a alavancar esta etapa da construção. “O fato de o setor ter uma norma específica leva os construtores a agregarem técnica e os consumidores a confiarem mais nos processos e empresas que seguem essa norma”, avalia.

A NBR 15696 mudará o status das fôrmas e escoramentos dentro de uma obra. “Esse tema sempre foi tratado sem a técnica necessária de cálculos e procedimentos e, como conseqüência, uma das maiores causas de acidentes em obras”, diz Fernando Rodrigues, que explica que a norma se fazia necessária porque o concreto moldado “in loco” é o sistema mais utilizado no Brasil, por sua flexibilidade e facilidade de execução.

O coordenador da ABNT também esclarece que a norma não veta os sistemas de fôrmas que já tenham sido ou que venham a ser importados. “A NBR 15696 fixa os procedimentos e condições mínimas a serem obedecidas na execução de estruturas de fôrmas e escoramentos, e isso não tem o intuito de restringir nenhum tipo de solução técnica ou de equipamentos. O objetivo é minimizar ao máximo acidentes e retrabalhos em obras”, completa.

A norma também não tem incumbência de influenciar a respeito dos materiais das fôrmas, alumínio, plástico ou madeira, por exemplo. “A norma não tem esse poder nem o direito de indicar a solução A ou B, pois as variáveis e disponibilidades dentro de cada obra são muitas e a melhor opção deve ser estudada caso a caso”, afirma Fernando Rodrigues.

Histórico

O debate em torno da criação da NBR 15696 iniciou-se em 2003, devido a uma demanda de padronização de processos, cálculos, procedimentos e projetos de fôrmas e escoramentos levantados pela ABRASFE (Associação das Empresas de Sistemas de Fôrmas e Escoramentos). Desde então o comitê técnico da ABRASFE trabalhou para fazer um esboço do que seria a primeira norma de fôrmas e escoramentos e, em 2006, foi instalada, dentro do CB-2 da ABNT, uma comissão de estudos para implementar a norma junto a todos os setores envolvidos da construção civil, dentre eles consumidores (construtoras), neutros (universidades e laboratórios) e produtores (fabricantes).

Texto complementar
Para saber como é elaborada uma Norma Brasileira, acesse o link:
http://cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/categoria/normas-abnt/

Email do entrevistado: Fernando Rodrigues: fsantos@ulma.com.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Gestão do Conhecimento

Crise global tende a acelerar processo de mudanças dentro das empresas brasileiras, avalia especialista

Dicionários do mundo corporativo definem Gestão do Conhecimento como “a capacidade da empresa de captar, gerar, criar, analisar, traduzir, transformar, modelar, armazenar, disseminar, implantar e gerenciar a informação, tanto interna quanto externa, permitindo que todos os setores da corporação tenham acesso a ela”.

Sônia Gurgel, presidente do ABRH-PR (Associação Brasileira de Recursos Humanos, seção Paraná)
Sônia Gurgel, presidente do ABRH-PR (Associação Brasileira de Recursos Humanos, seção Paraná)

Disseminada nos Estados Unidos, onde a sigla KM (Knowledge Management) tornou-se o paradigma do setor empresarial, a Gestão do Conhecimento ainda é um tabu no Brasil. O motivo, segundo Sônia Gurgel, presidente do ABRH-PR (Associação Brasileira de Recursos Humanos, seção Paraná), é uma questão cultural. “Boa parte das empresas brasileiras ainda precisa educar seus funcionários e gestores para a questão. E isso deve ser gradativo”, afirma.

De acordo com pesquisa encomendada pela revista HSM Management, e que abrangeu 200 empresas de grande porte no país, entre nacionais e multinacionais, os empresários brasileiros ainda têm a seguinte visão sobre Gestão do Conhecimento: 55,9% a veem como “modelo empresarial”, 18,2% como “uma política da empresa”, 13,3% como “uma filosofia corporativa”, 7,2% como “tecnologia” e 5,4% como “estratégia”.

Na mesma pesquisa, 34% afirmaram que, “no presente”, não pretendem adotar a Gestão do Conhecimento em suas corporações, enquanto 29,6% disseram que se o fizerem a farão “informalmente”, 28,1% pensam em adotá-la “formalmente” e 8,2% não cogitam em nenhuma hipótese adotá-la. “Talvez isso se deva à questão de que a Gestão do Conhecimento é um processo de mudança que afeta também as relações de poder dentro da empresa, além de exigir investimento. Esses fatores são suficientes para tornar moroso qualquer processo de transformação”, avalia Sônia Gurgel.

Porém, a crise econômica global é vista pela especialista como uma oportunidade de as empresas passarem por um processo de reavaliação e adoção de novas tendências. Para ela, fenômenos econômicos de alcance mundial são responsáveis por reestruturações no ambiente de negócios.

No entanto, Sônia Gurgel alerta que o capital humano da empresa é que vai impulsionar as mudanças. “É sempre o capital humano que gera conhecimento e que gera os processos”, diz. Segunda ela, empresas que já adotaram a Gestão do Conhecimento como ferramenta estão alcançando as seguintes conquistas:

* Segurança com relação à continuidade de seus processos estratégicos.
* Maior possibilidade de treinar e desenvolver pessoas.
* Democratização do conhecimento.
* Eficiência.
* Atualização constante do conteúdo.

A expectativa é de que a KM passe, a médio prazo, a ser cada vez mais incorporada pelas empresas brasileiras. Isso se dará na medida em que elas entenderem que o conhecimento é um ativo e não apenas um suporte para a tomada de decisões. “Será um processo natural, como foi no caso das certificações. Hoje, muitas empresas brasileiras são certificadas na ISO 9000, 14000 e 18000. Isso significa que boa parte do conhecimento dessas corporações já está registrada de alguma forma. Basta agora que ele seja disseminado”, observa Sônia Gurgel.

Email: Assessoria de imprensa da ABRH-PR: osnibermudes@brturbo.com.br

Texto complementar

Negócios passam por processo de seleção natural

Empresários estão tendo de se adaptar muito rapidamente às mudanças e vão sobreviver aqueles que adotarem novos métodos de gestão

Moacyr França Filho: Gestão do Conhecimento vem do compartilhar
Moacyr França Filho: Gestão do Conhecimento vem do compartilhar

Para o consultor, Moacyr França Filho, a Gestão do Conhecimento ainda é um assunto bastante distante do dia a dia dos empresários de pequenas e médias empresas. No entanto, o acirramento da competitividade está mudando esse quadro. Ele avalia que cresce a percepção, dentro das companhias, de que é preciso reduzir erros, melhorar o potencial de venda dos produtos e adotar práticas vencedoras. E isso só se consegue compartilhando conhecimento, conforme ele explica na entrevista a seguir. Confira:

O conceito de gestão do conhecimento parte da premissa de que todo o conhecimento existente na empresa, na cabeça das pessoas, nas veias dos processos e no coração dos departamentos, pertence também à organização. A questão que se coloca é como colocar isso em prática?
As empresas diferenciam-se entre si em função do porte, da cultura e do objetivo da sua existência. Temos empresas públicas, de economia mista, de bens de consumo, do sistema financeiro, de serviços, hospitais e isso faz com que não haja uma receita única. Porém, há aspectos comuns dentro do que se está convencionando chamar de Gestão do Conhecimento. Em primeiro lugar, é necessário identificar com clareza os pontos fundamentais da cultura da empresa, o grau de envolvimento e a ética presentes em todas as fases dos processos gerenciais e produtivos. É necessária também, como premissa, que as altas lideranças da organização percebam com clareza que o conhecimento é um ativo de muita importância a ser administrado. Uma vez conhecida a cultura da organização, e havendo disposição real da alta direção em implantar realmente a Gestão do Conhecimento, isso pode ser feito através dos seguintes passos:
* Incluir o assunto na discussão do planejamento estratégico da organização.
* Envolver profundamente RH e TI.
* Adotar metodologias auxiliares, cuja implantação ancoram a Gestão do Conhecimento. Entre elas: Aprendizagem Organizacional e Educação Corporativa, Gestão de Competências, Gestão do Capital Intelectual, Gestão de Processos e Gestão de Relacionamentos.

Boa parte das empresas brasileiras ainda tem uma administração familiar. Como conseguir implantar um programa de gestão de conhecimento em um ambiente desses?
As empresas familiares têm características peculiares, voltadas as nuances da sucessão e associadas à questão competências versus cargos. Quando a empresa cresce e começa a ganhar longevidade, isso tende a se agravar porque a família, em geral, cresce muito mais rápido e a empresa passa a não comportar todo mundo. Se a parte diretora da empresa já está consciente da importância da Gestão do Conhecimento, a implantação pode ser feita nos moldes do que eu citei anteriormente. Caso ainda tenha problemas de sucessão, um bom caminho seria primeiro profissionalizar a empresa.

Não é de hoje que se fala em gestão de conhecimento. No Brasil, o tema já é abordado desde o início da década. Mesmo assim, implantá-lo nas empresas do país ainda parece um tabu. Como romper esse paradigma?
Parte deste paradigma está sendo resolvido de uma forma “Darwiniana”, ou seja, assim como houve uma seleção natural das espécies, com a adaptação de algumas e o desaparecimento de outras que ficaram incompatíveis com a nova realidade, também no caso das empresas está havendo uma verdadeira seleção daquelas que se adequaram aos novos processos de gestão ou não. Nossa experiência, com um grande número de pequenas e médias empresas, é que, quando não há sucesso em conscientizar a parte que detém o poder de decisão da organização, resta pouco a fazer.

Daria para dizer que o empresário brasileiro sabe da importância da gestão do conhecimento, mas tem receio em adotá-la?
Apesar de o empresário brasileiro pertencer a uma classe, antes de tudo ele é uma pessoa. Em virtude das pessoas estarem vivendo mais, percebe-se em parte dos empresários um descompasso entre seus conhecimentos e atitudes e tudo aquilo que o contemporâneo apresenta como necessidades de gestão empresarial. Muitos têm dificuldade de assimilar, na velocidade necessária, as novas necessidades empresariais e as ferramentas mais atuais de gestão. Os empresários na ativa, que tem hoje 55 anos de idade, viram nascer a televisão em preto e branco e conviveram com trens de locomotiva a vapor e telex. Forjaram-se durante anos em uma economia com inflação absurda e agora se encontram num mundo globalizado e dentro de um Brasil com inflação controlada. Percebe-se um forte esforço dessa classe em se atualizar, sendo que alguns conseguem e outros não. É comum em empresas pequenas e médias terem donos que ainda não se adequaram aos princípios elementares da informática atual. O que dizer, então, dos processos mais elaborados de gestão? Eu diria que para uma parte do empresariado brasileiro esse assunto é bastante distante da sua realidade do dia a dia.

Quais os ganhos das empresas que ousaram romper esse paradigma e hoje navegam em um ambiente de gestão de conhecimento?
De cara podemos salientar o aumento da competitividade, pois é impossível dissociar competir e inovar de compartilhar conhecimento. Isso, claro, é o resultado de não se repetir erros, registrar o conhecimento dos colaboradores, registrar as melhores práticas, compartilhar, enfim, o conhecimento gerado dentro da organização. O que se vivencia, hoje, é que a qualidade dos produtos já perdeu a característica de diferencial de venda. Os carros, os alimentos, as ofertas de viagens de férias, os serviços em geral, enfim, todos os produtos acabaram se tornando muito iguais entre si e o que importa é fazer com que o cliente escolha o que é melhor para a organização. Aí é que a interação e o compartilhamento do conhecimento fazem a diferença no resultado.

Qual a assertiva correta: a gestão do conhecimento é que fortalece o capital humano da empresa ou é o capital humano da empresa que vai gerar a gestão do conhecimento?
Na realidade a gestão do conhecimento é uma metodologia que se aplica à totalidade do capital intelectual da empresa, ou seja, tudo que pode estar em desenhos de projetos, memórias de cálculos, fórmulas de produtos, procedimentos escritos, enfim, tudo que puder ser rastreado além daquilo que está na cabeça das pessoas através de suas experiências, conhecimentos e habilidades. A interação desses conhecimentos gera mais conhecimento e fortalece o capital humano que está interagindo. Esse fortalecimento vem do próprio conceito do que significa gestão do conhecimento. Vem do compartilhar.

Uma das maiores queixas dentro das empresas, por parte dos funcionários, é que eles não têm espaço para expor ideias ou temem sofrer algum tipo de constrangimento se o fizerem. A gestão do conhecimento se cria num ambiente desses?
A questão de mapear as resistências e identificar com clareza as razões desse temor ao constrangimento faz parte do processo da implantação. Identificar todas as barreiras e removê-las faz parte de uma mudança de cultura real e tem que ser verdadeira e respaldada pela alta gerência da organização.

Há modelos de boa gestão de conhecimento no Brasil?
No ambiente educacional poderia citar a ESAF – Escola de Administração Fazendária e a Universidade Metodista. No ambiente público, o SERPRO - Serviço Federal de Processamento de Dados, vinculado ao Ministério da Fazenda. No ambiente empresarial, a Natura Cosméticos. E mais: Sabesp (São Paulo), Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Datasul(Incorporada pela Totvs em 2008), citando algumas das mais conhecidas. Deve ser ressaltada a rapidez com que está sendo alterado o quadro empresarial no Brasil. Do que se conhece, e que tem sido muito exposto na mídia, fusões como Sadia/Perdigão, Itaú/Unibanco, Pão de Açúcar/ Ponto Frio tendem a gerar ainda mais transformações nas organizações.

O departamento de recursos humanos de uma empresa tem qual peso na implantação da gestão do conhecimento dentro da companhia?
Gestão do Conhecimento significa, antes de mais nada, trabalhar com pessoas na organização. É fundamental a participação do departamento de RH em virtude de que todo o investimento no capital humano tem de ser incentivado e preservado.
A preparação do elemento humano existente nas organizações, além da metodologia a ser adotada, tem que ter a participação ativa do RH. O próprio RH tem de estar preparado para entender que o conhecimento é regido pela teoria da abundância (quanto mais eu compartilho mais eu tenho), diferente das commodities, que seguem a teoria da escassez.

Quando se pensa em gestão do conhecimento, logo se imagina que isso é coisa para grandes corporações. Pergunto: médias e pequenas empresas também estão abertas para esse tipo de gestão?
A rigor, não há nada que impeça. Na realidade hoje existem duas grandes barreiras para implantação da gestão do conhecimento em pequenas e médias empresas. A primeira é que boa parte dos donos das pequenas e médias empresas tem visão muito própria de gestão, associando o sucesso ou o nível alcançado pela sua organização à sua maneira de pensar, intuindo que não há necessidades de maiores mudanças. A segunda é que em geral os sistemas de informática dessas empresas são muito fragmentados, sendo poucos os que têm um ERP estruturado e operando, e poucos os que têm área de TI implantadas. Assim sendo, uma ferramenta importante na operacionalização da gestão do conhecimento é falha nessas empresas. Há exceções, mas a regra é essa e estamos falando de empresas com faturamento abaixo de R$ 20 milhões de reais por ano.

Uma empresa que tem ruídos de comunicação consegue implantar uma boa gestão do conhecimento?
É bem difícil. Em geral, os ruídos de comunicação são efeitos e não causa. Nas indústrias é muito comum as pessoas sintonizarem a “rádio Peão” quando a empresa não se posiciona claramente em relação aos assuntos de interesse da coletividade da organização. Também esses ruídos fazem parte do inventário inicial de tudo que deve ser corrigido na empresa e que fazem parte do processo de implantação da Gestão do Conhecimento.

O Brasil está muito defasado, em comparação com outros países (EUA e Europa, em especial), no quesito gestão do conhecimento?
Até um ano atrás haveria uma resposta mais assertiva. Nos tempos atuais, onde o furacão financeiro global ainda está em atividade e já fez desabar ícones do calibre de uma GM, dá para dizer que o Brasil está em evolução. O país definiu uma parceria muito grande com a França, voltada para a defesa, e há o retorno de cérebros e executivos, em virtude de terem se extinguido postos no exterior. Enfim, percebe-se uma redefinição do atual quadro. Normalmente os processos de gestão chegavam ao Brasil através das empresas com matriz no exterior (Japão, Estados Unidos e Alemanha). Agora, há a perspectiva de que as economias emergentes, da qual o Brasil faz parte, criem seus próprios modelos de gestão.

Site do entrevistado: www.nivel10consultoria.com.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Analistas veem na construção civil oferta consistente de vagas

Redução dos juros básicos, crédito habitacional farto e o programa Minha Casa, Minha Vida devem estimular setor nos próximos meses

Os sinais de recuperação de atividade e, consequentemente, de oferta de empregos com carteira assinada neste início de ano são mais consistentes na construção civil dentre todos os setores da economia brasileira, na avaliação de especialistas em mercado de trabalho.

Fatores como a redução dos juros básicos, o apetite dos bancos por aumentar sua fatia no crédito habitacional e o programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, devem estimular a construção civil nos próximos meses, com reflexos positivos na geração de empregos. "São fatores que dão ânimo às construtoras para investirem e esperarem bom retorno", afirmou o supervisor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sérgio Mendonça.

O professor da USP, José Pastore, disse concordar que o potencial futuro de crescimento da construção civil é "excelente". "Se os projetos do 'Minha Casa, Minha Vida' realmente saírem do papel, esse setor pode até explodir." Para Pastore, o desenho do programa habitacional é favorável às construtoras porque coloca a Caixa Econômica Federal como intermediária da oferta e da demanda, evitando que as empresas tenham que buscar compradores. "E essa garantia é um grande diferencial", disse.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, comprovam que a construção civil é um dos setores com recuperação mais rápida na geração de ocupações formais de janeiro a abril deste ano, após o tombo de dezembro do ano passado. No entanto, todas as vagas fechadas no último mês de 2008 ainda não foram recuperadas.

No primeiro quadrimestre de 2009, o setor acumulou um saldo positivo entre demissões e contratações de 43.667 postos de trabalho, um pouco mais da metade que os 82.432 empregos perdidos apenas em dezembro. A indústria de transformação, por outro lado, só fechou vagas de dezembro a março, voltando a abrir apenas 183 empregos formais em abril.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Juros da casa própria vão cair mais

Executivo de finanças acredita que em dois meses taxas serão ainda menores, conforme economia for se recuperando

O consumidor interessado em comprar um imóvel financiado deve esperar por pelo menos mais dois meses, na opinião do vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira. Segundo ele, as taxas de juros, que já estão sendo reduzidas pelos bancos, devem cair ainda mais, com a percepção de melhora na economia e com as reduções da taxa básica de juros, a Selic.

Recentemente, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram redução de juros, com condições diferenciadas de acordo com a forma de pagamento das prestações, ou se o interessado é correntista, por exemplo. Bancos privados, como o Bradesco, também estão de olho no mercado. Em maio, a instituição anunciou a ampliação do prazo de financiamento da casa própria de 25 para 30 anos em todas as modalidades previstas no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e reduziu as taxas de juros. Confira dicas do especialista sobre a compra de imóveis financiados.

As condições para a compra de imóveis estão melhorando?
Depois que a crise financeira internacional se agravou, principalmente no período de setembro de 2008 até fevereiro deste ano, os bancos subiram as taxas de juros, encurtaram o prazo de financiamento e passaram a ser mais seletivos. Estavam preocupados com a possibilidade de que a crise pudesse se agravar e levar à inadimplência de seus clientes. Os bancos públicos, pressionados pelo governo, passaram a emprestar mais para compensar a queda na oferta de crédito dos bancos privados. Passado esse momento, os bancos privados perceberam que tinham boas oportunidades pela frente e que os públicos pegaram o espaço deles e voltaram a emprestar. Atualmente, há uma competição maior nesse segmento, o que possibilita aos consumidores melhores condições. Os bancos vêm alongando prazos. Atualmente é possível encontrar prazo de até 30 anos. Tem os bancos anunciando redução das taxas de juros e em algumas situações financiando 100% do valor do imóvel. Entretanto, essas condições tendem a ficar ainda melhores. Mas aquele consumidor que não pode esperar deve ficar atento para não comprometer demais a renda, preferencialmente escolher o sistema Sacre [Sistema de Amortização Crescente] que possibilita pagar a um custo menor. Claro que tem uma desvantagem porque as parcelas inicialmente são maiores. Mas a dívida é amortizada de forma mais rápida. O consumidor deve prestar atenção também que quando vai comprar o imóvel, além dos juros, tem seguros e a Taxa Referencial (TR).

Quanto tempo mais as pessoas que querem financiar um imóvel devem esperar?
As condições de crédito no segundo semestre vão estar melhores. Daqui a dois ou três meses, haverá uma quantidade maior de bancos oferecendo condições melhores, o que possibilita uma competição maior e beneficia os consumidores. Taxas menores, prazos maiores, menor burocracia no sentido de que deve haver uma liberação maior.

Os efeitos da crise no financiamento imobiliário estão passando?
Tenho a convicção de que o pior da crise já passou, o que se reflete na própria atitude dos bancos. Se os bancos acreditassem que a situação estaria complicada, não fariam o que estão fazendo agora. Agregado a isso, temos a Selic sendo reduzida, o que possibilita aos bancos diminuir mais as taxas de juros.

Qual é o efeito da Selic nas taxas de juros de financiamento de imóveis?
A Selic é uma taxa de juros que referencia todas as demais. Quando a Selic sobe, todas as taxas de juros sobem. Por se tratar de financiamento de longo prazo e de alto valor, qualquer um ponto percentual de redução da Selic traz um enorme efeito no custo do financiamento de imóveis.

Os bancos estão realmente baixando os juros ou só estão retomando ao patamar anterior à crise?
Aconteceram as duas coisas. Alguns bancos subiram as taxas de juros no momento de crise e agora estão levando as taxas aos patamares que cobravam anteriormente. Mas também tivemos bancos que mantiveram a taxa e agora, acreditando que a economia vai ficar melhor, baixaram os juros. Tanto aquele banco que retornou à taxa anterior como o que reduziu vão continuar reduzindo. A competição está iniciando nesse segmento e vai levar a quedas mais fortes nas taxas de juros.

Qual a diferença entre os sistemas de amortização Price (Sistema Francês de Amortização), Sacre e SAC (Sistema de Amortização Constante)?
Quando você faz um financiamento, paga sempre os juros sobre o saldo devedor. Entretanto, tem alguns tipos de sistema que definem como vai ser amortizada a dívida. Tem o sistema Price, que é o mais conhecido pelos brasileiros, em que você paga parcelas iguais durante o financiamento. Tem o sistema Sacre, que é crescente, adotado pela Caixa, em que as prestações iniciais são maiores e vão sendo reduzidas a cada 12 meses. O SAC, usado tanto pela Caixa quanto por bancos privados, é muito parecido com o Sacre. Com esses dois sistemas, você começa igualmente a amortizar mais no início do financiamento. Para se ter uma idéia, no caso de um financiamento de dez anos, o consumidor que optar pelo sistema Price vai pagar 10% a mais do que pagaria nos outros dois sistemas.

Para quem não tem disciplina para juntar dinheiro, o financiamento pode ser uma boa opção, já que a pessoa terá que reservar os recursos para pagar as prestações?
Em qualquer hipótese é melhor juntar dinheiro para comprar à vista ou para financiar uma parcela menor do valor do imóvel. Assim, o consumidor economiza com juros. Mas para aquele consumidor que não é muito regrado, a melhor indicação é o sistema de consórcio, porque vai ter a obrigatoriedade de pagar todo o mês.

E o financiamento é melhor opção do que pagar aluguel?
Oliveira - Hoje em dia, eu diria que sim. As condições de crédito melhoraram, o que possibilita pagar o mesmo valor de um aluguel. Atualmente, os juros de financiamento estão, em média, entre 0,90% e 1% ao mês. O aluguel corresponde em geral de 0,80% a 1% do preço do imóvel.

Quais são as dicas na hora de pesquisar nos bancos?
Estamos falando que as taxas de juros estão caindo. Mas isso não quer dizer que todas as taxas estejam iguais e que todos os bancos reduziram. Nem sempre que os bancos dizem que reduziram os juros, a redução foi para todas as categorias. Às vezes, caíram para financiamento de dez anos, por exemplo, ou em uma situação em que o consumidor ofereça uma boa entrada. A melhor alternativa é pesquisar muito. O consumidor deve procurar o seu banco e os demais para saber quais são a taxa de juros e os demais encargos. Ele só vai saber onde é mais barato, se fizer uma comparação de custos.

Fonte: Agência Brasil

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Engenharia e Direito tornam-se áreas irmãs

Cada vez mais expostos a leis, normas e códigos, engenheiros mergulham no mundo jurídico para se adequar à nova realidade da profissão

Engenheiros civis são os que mais procuram se especializar em Direito
Engenheiros civis são os que mais procuram se especializar em Direito

Na Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo), um grupo de pesquisadores liderado pelo professor Pedro Luís Próspero Sanchez desenvolveu estudos para aproximar duas áreas aparentemente distantes entre si, mas que, nos dias atuais, se influenciam reciprocamente: Engenharia e Direito. De acordo com o professor, a ideia surgiu a partir da constatação de que, no Brasil, a atividade pericial - que é frequentemente realizada por engenheiros civis -, apresenta uma formação deficiente.

Em 2003, a linha de estudos foi aprovada pela Comissão de Pesquisa da Poli. Em 2004, começaram a ser oferecidas as disciplinas de pós-graduação: Tópicos de Direito Tecnológico, Ciência Forense aplicada a Sistemas de Informação, Fundamentos da Ciência Forense e Metodologia da Prova Pericial.

Atualmente, a equipe é composta por cerca de 20 pesquisadores, mestrandos e doutorandos e atrai profissionais como engenheiros, advogados, auditores, contadores, peritos criminais, policiais federais e professores. Em 2007, o conhecimento da área passou a estar disponível não apenas aos alunos da pós, mas para a estrutura curricular da graduação, com a criação da disciplina Engenharia Legal.

Doutor na área, o professor Pedro Luís Próspero Sanchez concedeu a seguinte entrevista sobre a aproximação entre Engenharia e Direito:

Apesar de os cursos de Engenharia terem disciplinas sobre legislação, jamais se imaginou que o Direito passasse a ser tão requisitado pelos engenheiros, como atualmente, a que se deve isso?
Eu acho que é uma percepção pelo profissional da área tecnológica de que o Direito é que regula a sociedade e é, de certa forma, uma consequência dos valores e dos parâmetros que a sociedade entende como adequados. Então, a percepção do Direito é um elemento importante na profissão do engenheiro. A atividade de Engenharia não acontece assim isolada no vazio, ela depende das relações humanas, ela atende necessidades humanas e, sob este ponto de vista, entender do Direito é essencial.

No caso da construção civil, hoje temos o código do consumidor, que torna o comprador de um imóvel mais protegido de obras defeituosas. Isso também influenciou na aproximação da Engenharia e do Direito?
O código do consumidor na verdade tem a sua influência, porque a Engenharia, de modo geral, e a Engenharia Civil, especificamente, acaba significando uma prestação de serviço, seja para o consumidor diretamente ou para o fornecedor de um produto. Direta ou indiretamente, ela atende ao consumidor. Agora, eu diria o seguinte: o código do consumidor conscientizou a população de que o serviço, o trabalho, o produto têm uma garantia de qualidade, de segurança. Isso levou o engenheiro a ser mais preventivo, até naquilo que concerne às leis que envolvem a construção de um imóvel.

Qual área da Engenharia que mais busca a especialização jurídica?
Na engenharia civil existe um número expressivo de engenheiros em busca dessa formação. Por quê? Existem muitos engenheiros que trabalham como peritos judiciais em avaliação de imóveis. É comum uma construtora erguer um edifício ao lado de casas e isso requer uma perícia preventiva nas residências vizinhas para evitar que se atribuam danos futuros àquela obra. Então, os engenheiros-peritos precisam de uma boa base jurídica para poderem se comunicar melhor com o juiz e com os advogados, para que haja um entendimento melhor sobre o objetivo daquela perícia e qual é a implicação jurídica daquele resultado.

O senhor citou a comunicação entre as áreas técnicas e jurídicas. Hoje há muitos ruídos nesta relação?
Na essência a comunicação é inadequada entre o profissional de engenharia e o profissional jurídico. Às vezes, o profissional é extremamente competente, faz um trabalho tecnicamente impecável, mas não consegue passar o significado técnico para uma pessoa que, por definição, é leiga em engenharia civil. No caso, o juiz. Então, o trabalho técnico não pode ser perfeito só para o engenheiro, mas para o juiz. O profissional de engenharia civil tem de saber o que é importante, o que é relevante e qual é o objetivo do juiz. Mas aí existe um problema mais grave, que é o Código Civil. Nele, diz o seguinte: em não havendo alguém com especialização técnica na comunidade - e vai se entender comunidade como a comarca em que juiz tem jurisdição - não precisa. Se formos interpretar a lei como está, ela quer dizer que se lá na comarca não tem engenheiro civil-perito até o farmacêutico serve. E é bem isso que acontece.

Então é o caso de haver uma legislação mais clara quanto a estas questões de perícia?
A legislação atual não entra nas questões técnicas e nem é possível, pois a tecnologia está sempre evoluindo e é muito complicado você engessar em normas legais estas questões. O que é necessário é criar varas judiciais especializadas para o tratamento de matérias técnicas. Hoje, por exemplo, existem varas especializadas em falências, em recuperação de empresas e isso é uma área do Direito Empresarial. Assim como existem varas criminais. Então é preciso criar varas especializadas em tecnologia e, especificando um pouco mais, varas que envolvam questões de Engenharia Civil. Se isso ocorresse, os juízes, que num primeiro momento não têm experiência com o tema, passariam a adquirir experiência e começaria a se criar uma jurisprudência um pouco mais firme, um pouco mais uniforme sobre certos temas. Outra coisa importante é que as escolas de magistratura dessem aos juízes uma capacitação maior sobre questões que envolvem ciência, tecnologia, perícia, o que eles não têm.

Não seria relevante também que advogados e magistrados se especializassem em engenharia para entender da matéria que, por ventura, venham a julgar?
Exatamente. Eu conheço vários engenheiros, em especial os civis, que também são advogados e até alguns anos atrás não conhecia nenhum advogado que também fosse engenheiro civil, por exemplo. Só em 2008 eu conheci dois. Ou seja, engenheiro que depois faz o curso de Direito não é maioria, mas é um fato comum. A gente acha sem grandes dificuldades. Agora, que seja advogado, que tenha feito exame de Ordem (dos Advogados do Brasil), já é mais difícil. Existem muitos engenheiros civis com formação jurídica e destes, cerca de 20% a 30%, são advogados que prestaram exame de Ordem. Mas é raro ver advogados exercendo a engenharia.

* Pedro Luís Próspero Sanchez é engenheiro eletricista, doutor e livre-docente em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. É bacharel em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. É professor livre-docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde lidera a área de ensino e pesquisa em Engenharia Legal, Ciência e Tecnologia Forenses. É coordenador do grupo de Engenharia Legal, Ciência e Tecnologia Forenses da Universidade de São Paulo. Na USP, ministra a disciplina Engenharia Legal, no nível de graduação, e em pós-graduação ministra as disciplinas Tópicos de Direito Tecnológico, Metodologia da Prova Pericial, Fundamentos de Ciência Forense e Ciência Forense Aplicada a Sistemas de Informação.

Email Pedro Luís Próspero Sanchez: pl@lsi.usp.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Da teoria à prática, é hora de gerir resíduos da construção civil

Consultor ambiental avalia que já se perdeu muito tempo para que esse tema seja levado a sério por governos, órgãos ambientais e empresas

Élcio Herbst: “O grande desafio é realizar a separação na própria fonte geradora”
Élcio Herbst: “O grande desafio é realizar a separação na própria fonte geradora”

Administrador de empresas, com especialização em gerenciamento ambiental na indústria, o consultor Élcio Herbst avalia que, com exceção de iniciativas em Curitiba e região metropolitana, a gestão de resíduos de construção e demolição ainda não saiu da teoria nas outras cidades do Paraná. Segundo ele, há uma boa parcela de responsabilidade das prefeituras em pôr em prática a resolução CONAMA 307. Na avaliação de Herbst, faltam incentivos e um atrelamento da situação ambiental à questão social. É o que ele revela na entrevista a seguir. Confira:

Desde julho de 2002 vigora a resolução 307 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que impõe regras para a gestão dos resíduos da construção civil, o que mudou desde então ou as mudanças ainda estão por acontecer?
Apesar da resolução CONAMA 307, o cenário da gestão de resíduos de construção e demolição (RCD) levou muito tempo para ser alterado. Por isso, até hoje, em algumas cidades, tem-se a impressão de que a norma não existe, pois se depara com total descaso diante da geração de RCD, não sendo observada a destinação ambientalmente correta dos diferentes tipos de resíduos que compõem este grupo.

O que emperra a gestão de resíduos da construção civil: os governos, que não estimulam a gestão; os órgãos competentes, que não fiscalizam, ou as construtoras, que alegam gastos extras para viabilizar a gestão?
Na verdade, todos os atores envolvidos têm sua parcela de responsabilidade. Por parte dos governos municipais, muitos não elaboraram leis específicas, conforme preconiza a resolução CONAMA 307, ou seja, o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) não foi trabalhado, aliado às dificuldades de fiscalização pelos órgãos governamentais. Ressalta-se a responsabilidade das prefeituras para o gerenciamento de RCD oriundas dos pequenos geradores, que em muitas situações também foram omissas. Há poucas opções de unidades de processamento dos RCD no Brasil e isso acaba sendo um obstáculo para a destinação correta dos resíduos classe A (resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados), segundo o CONAMA 307, fazendo com que estes materiais sejam dispostos em qualquer lugar, inclusive encostas, beiras de rios, provocando poluição e assoreamento de rios. Além disso, muitas construtoras ainda não descobriram os reais benefícios da aplicação da gestão de resíduos, que além de todos os benefícios ambientais ainda pode resultar em ganhos econômicos, pois a partir do momento que se agrega valor a cada tipologia de resíduo ela passa a sofrer uma destinação mais nobre que o simples ato de aterrar. Nesse âmbito, destacam-se os ganhos com a reciclagem, diminuição de caçambas com resíduos para aterros e principalmente a menor vulnerabilidade dos geradores quanto às possíveis penalizações legais. Infelizmente, muitas construtoras ainda têm a visão errônea de que a questão ambiental, mais especificamente a gestão de resíduos sólidos, é um empecilho a mais no processo de construção.

Em tese, a quais sanções estão propensas as empresas que não fazem a gestão de resíduos?
Dentre os principais mecanismos legais destaca-se a lei 9605/98 (Lei de crimes ambientais), a qual define como responsabilidade administrativa multas que vão desde R$ 500,00 à R$ 2 milhões, dependendo da gravidade do crime. Tem também a responsabilidade criminal, com a reclusão de um a quatro anos - conforme descrito nos artigos abaixo:
Artigo 56 - Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito substância tóxica, perigosa ou nociva ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos.
§ 1 – Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou substâncias referidas no caput, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança.

O que precisa ser feito para tornar viável a gestão de resíduos da construção civil?
Cada ator envolvido (gerador, governo, iniciativa privada) deve fazer a sua parte. Ou seja, as construtoras devem não apenas apresentar seus projetos de gerenciamento de RCD, mas colocá-los em prática, evidenciando as ações de gestão dos resíduos. Por sua vez, as prefeituras, através das secretarias de Meio Ambiente e Urbanismo devem, além de gerenciar os resíduos dos pequenos geradores, lavrar normativas específicas que complementem a resolução CONAMA 307, procedendo a fiscalização dos grandes geradores (construtoras). Todavia, uma questão merecedora de maior atenção diz respeito à utilização do material agregado, oriundo do processamento do resíduo classe A (cimento, argamassa, cerâmicas, etc), que pela falta de demanda vem desestimulando a continuidade da atividade de processamento/reciclagem dos resíduos, assim como desmotiva a abertura de novos empreendimentos no setor. Nesse sentido, faz-se necessário a criação de incentivos para o incremento na utilização dos materiais agregados, destacando-se o papel do governo. Ele poderia captar boa parte desses materiais para utilização em obras públicas. Para permitir esta prática, regras e leis devem ser estabelecidas. A partir do momento que este segmento da reciclagem de RCD for fomentado, haverá maior fluxo de materiais e produtos finais, reduzindo os custos para todos os atores e promovendo o incentivo à destinação correta.

Se nada for feito, qual o cenário para essa quantidade de lixo oriundo das construções?
Hoje, a parcela de RCD corresponde a mais de 50% do total de resíduos urbanos. Não podemos mais conceber como destino final o aterro para os resíduos de construção e demolição classe A. É preciso prolongar o ciclo de vida dos mesmos, evitando novas áreas para bota-foras ou aterros específicos. O agravante, quando não há um bom processo de gestão, é que juntamente com os resíduos, a princípio considerados inertes, também podem existir outros resíduos com características de periculosidade (exemplo: restos de tintas e produtos químicos), trazendo riscos de contaminação do solo ou do lençol freático, provocando verdadeiros passivos ambientais. O que presenciamos durante muitos anos, e ainda é uma realidade, é o problema do assoreamento dos rios diante de destinações ambientalmente inadequadas.

Algumas prefeituras estão se preocupando e construindo usinas de reciclagem de resíduos da construção. Um bom exemplo ocorre em São Carlos-SP, onde a prefeitura local bancou uma usina e emprega detentos em sua operação. Esse é o caminho?
Por que não? Como já mencionei, as prefeituras são responsáveis pelo gerenciamento de RCD dos pequenos geradores, no âmbito do Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Outras prefeituras também já encontraram alternativas interessantes para promover a logística de transporte e processamento dos resíduos, como é o caso de Belo Horizonte, onde são credenciados transportadores, inclusive carroceiros para o transporte de pequenas quantidades, licenciamento de áreas de transbordo e usinas de processamento. Além das iniciativas das prefeituras, também é necessária a participação da iniciativa privada, criando unidades de processamento para os grandes geradores, desde que o mercado para aplicação dos materiais agregados seja aquecido.

Como estão Curitiba e as principais cidades do Paraná nessa questão?
A Região Metropolitana de Curitiba já dispõe de unidades de processamento de RCD, as quais recebem os resíduos classe A, transformando-os em agregados, tais como areia, pedrisco, brita 0, 1, 2, 3, etc. Isso pode ser reutilizados nas obras, desde que não seja de aplicação estrutural. Em Ponta Grossa também existe uma unidade de processamento de RCD, porém o que se observa na maioria dos demais municípios paranaenses é uma lacuna neste setor, inexistindo usinas para o processamento do resíduo em questão, até mesmo por parte das prefeituras.

Uma alegação de quem recolhe esses resíduos - o pessoal das caçambas - é que junto com os resíduos vêm muito lixo doméstico e outros entulhos. O pessoal vê a caçamba e joga o lixo. Procede isso? Como fazer para evitar que isso ocorra?
Este é um problema cultural e de resolução mais difícil, principalmente quando a caçamba fica exposta e não restrita, onde a própria vizinhança se encarrega de contribuir com diferentes tipos de resíduos, prejudicando todo o processo de separação e reciclagem. Algumas transportadoras adotaram áreas de transbordo onde é realizada uma separação secundária dos resíduos classes A, B, C e, posteriormente, encaminham para o destino final. Porém, não é o ideal. O grande desafio é realizar a separação na própria fonte geradora. Para as obras de maior porte, onde os transeuntes não têm acesso às caçambas, a questão primordial é a realização de treinamentos entre os colaboradores do canteiro de obras, observando que o plano de treinamento deve ser realizado de forma contínua, considerando a rotatividade de pessoal existente no setor de construção. Nos projetos de gestão de resíduos de construção civil, o programa de treinamento deve ser contemplado. Para a elaboração e implementação dos projetos, ou mesmo na realização dos treinamentos, a construtora pode realizar de forma autônoma ou recorrer às empresas que prestam serviços de consultoria ambiental.

Como funciona no exterior a gestão de resíduos da construção civil. Há bons exemplos que podem ajudar o Brasil?
O modelo é a Alemanha, onde existem usinas para o processamento dos resíduos de construção antes mesmo de o Brasil sonhar em lavrar qualquer lei pertinente ao assunto. Além das usinas de processamento de resíduos, lá também é muito comum, e aí inclui outros países europeus, a doação de restos de materiais de construção, os quais são direcionados para centrais de distribuição, com o apelo social. Nesse campo, vale salientar uma experiência iniciada pelo Sistema FIEP no PR (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), que diz respeito à criação de uma bolsa social de materiais de construção civil, com o objetivo de captar materiais e sobras de construções e viabilizar a doação à Instituições carentes. O que se observa em todos os países, é que a situação ambiental vem sempre atrelada à questão social. Isto é uma tendência, um caminho sem volta, rumo ao processo de sustentabilidade das organizações.

Há um ranking ou uma lista positiva de construtoras que já fazem o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil de forma adequada? O senhor poderia citar alguns bons exemplos?
Infelizmente, ainda não são muitas as empresas que implementaram o PGRCC de forma efetiva na Região Metropolitana de Curitiba. Entre 2007 e 2008, o SENAI-PR, em conjunto com o SEBRAE e o Sinduscon-PR, através do programa “Construindo o Futuro”, contemplaram 21 construtoras com consultoria técnica para a elaboração do PGRCC, identificação e avaliação de potenciais receptores de resíduos, elaboração de um manual técnico, bem como treinamentos e ferramentas para uma efetiva gestão dos resíduos. Uma das empresas que vem se destacando em Curitiba é a Construtora Héstia, a qual conseguiu perceber todos os benefícios advindos da gestão de resíduos, no âmbito de uma construção sustentável. Os próprios colaboradores passam a trabalhar de maneira mais positiva em uma empresa que demonstra a responsabilidade sócio-ambiental.

Como órgãos como CREA e Sinduscon avaliam essa questão dos resíduos e o que eles estão fazendo para ajudar a solucionar o problema?
No caso do CREA, este pode estar auxiliando no processo de orientação das empresas, no sentido delas implementarem o PGRCC. No tocante ao Sinduscon, no caso de Curitiba, ele vem participando para repassar as informações para o maior número possível de empresas, através de palestras, cursos, além de firmar parcerias para a elaboração e implementação do PGRCC. Outra questão discutida com o Sinduscon é a possibilidade do sindicato buscar as opções para a destinação dos resíduos sólidos de construção, para minimizar os riscos de co-responsabilidade sobre destinações finais indevidas. Nesse caso, o sindicato faria o papel de intermediação, fornecendo as informações para todos os filiados, a partir das avaliações técnicas (auditorias) junto aos receptores. Outra questão é a necessidade de criar pequenas unidades de transbordo para alguns resíduos críticos, como é o caso do gesso (classe C), permitindo volumes mais expressivos, face às poucas opções de tratamento e que muitas vezes não apresentam viabilidade econômica, em função das gerações em pequenas quantidades e distantes do receptor final.

E as indústrias que produzem material de construção, de que forma elas poderiam ajudar nesse processo?
As indústrias, apesar de ainda não terem a obrigatoriedade de receber de volta parte dos resíduos, inclusive embalagens dos produtos, seria interessante, e até mesmo para fidelização da clientela, praticar a política de recebimento de determinados resíduos, como por exemplo o caso dos resíduos de tintas. Esta política deve ser mais exercitada, pois trás amplos benefícios. Nesse contexto, a política nacional de resíduos sólidos, a qual tramita no legislativo há 15 anos, e que muito em breve, espera-se, seja colocada em prática, trará grandes mudanças na logística reversa dos materiais, estabelecendo as responsabilidades de todos os atores envolvidos no processo. Além disso, outras iniciativas podem estar sendo trabalhadas. Neste caso, São Paulo saiu na frente e lá a indústria cimenteira tornou-se parceira de uma empresa de reciclagem de papel oriundo de sacos de cimento, sendo que a mão de obra é dos detentos de penitenciárias daquele estado. Este projeto é viabilizado através do FUNAP – Fundo de Amparo às Penitenciárias de SP.

Email do entrevistado: Élcio Herbst, especialista em gerenciamento ambiental e atualmente gerente do SENAI-SJP: elcio.herbst@pr.senai.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Características e benefícios da argamassa estabilizada

Produto acrescentou limpeza e organização às obras, além de trazer agilidade e praticidade de manuseio aos trabalhadores da construção

Créditos: Engº. Carlos Gustavo Marcondes - Assessor Técnico Comercial Itambé

A industrialização de argamassas ocorreu na década de 50, mas somente nos anos 70 é que foi introduzida na Alemanha uma tecnologia revolucionária de argamassa pronta, capaz de ser embalada em recipientes e preservar por até 3 dias suas características de uso com a consistência desejada. Esta tecnologia convencionou-se chamar de argamassa estabilizada.

A argamassa estabilizada é uma argamassa úmida que vem pronta para o uso, podendo ser utilizada nas seguintes aplicações:

* Assentamento;
* Chapisco;
* Rebocos e emboços de interiores e exteriores;
* Regularização de pisos;
* Sacadas, soleiras e marquises;
* Rejunte de telhas;
* Enchimento de tubulações;
* Impermeabilização de locais inundáveis.

Normalmente, ela é composta por aglomerantes (cimento e/ou cal), areia, água e aditivos que a mantêm trabalhável, sem prejudicar suas propriedades no estado endurecido. A preparação desta argamassa inicia-se em laboratórios especializados, onde todos os materiais componentes passam por um rígido controle de qualidade e aceitação.

Posteriormente, são feitos diversos ensaios para a obtenção de uma argamassa que apresente as propriedades adequadas para cada aplicação, atendendo os requisitos normativos e a boa prática das obras. A produção é feita por centrais dosadoras e, desta forma, consegue-se obter um rígido controle de qualidade, o que garante a homogeneidade do produto e proporciona acabamentos com maior perfeição, diminuindo assim o risco de surgirem patologias.

Após a dosagem do produto, ele é transportado por meio de caminhões betoneira e colocado em caçambas com capacidade de 1/3 de metro cúbico, que servem para armazenamento e transporte dentro do canteiro da obra. Da mesma forma que o concreto, as principais propriedades da argamassa são controladas na própria na obra. No estado fresco analisa-se a consistência, densidade, ar incorporado e tempo de trabalhabilidade. No estado endurecido, estuda-se a resistência à compressão e aderência.

Dentre os benefícios que podem ser percebidos visualmente em uma obra que utiliza este sistema, podemos citar limpeza e organização, já que sua utilização evita a estocagem e manuseio de cimento, areia e cal na própria obra.

De acordo com o engenheiro Antônio César Lima, da Sial Construções Civis Ltda., o uso deste sistema também é fundamental para obras que necessitam de rapidez na execução. A agilidade e a praticidade de manuseio são algumas vantagens que devem ser observadas, pondera.

Outras vantagens da argamassa estabilizada, quando a comparamos com argamassas convencionais feitas em obras, são:

* Melhor homogeneidade resultando em melhor acabamento;
* Menor permeabilidade;
* Menor taxa de exudação:
* Facilidade carga e descarga;
* Não se faz necessário ter na obra, tomada d`água e eletricidade para instalar equipamentos;
* Maior rendimento do trabalho, por que evita parada da obra para o preparo da mesma;
* Maior precisão do custo da argamassa;
* Menor esforço do pedreiro o que conseqüentemente reduz o risco de problemas laborais;
* Retira do pedreiro a responsabilidade da fabricação.

No entanto, para o aproveitamento de todas as vantagens deste produto, é necessário uma boa informação e assessoramento nas obras. Por exemplo: deve-se cuidar para que a quantidade seja suficiente para uma jornada de trabalho, deixando sempre um estoque para iniciar os trabalhos no dia seguinte.

As peças de alvenaria devem estar na umidade adequada para aplicação da argamassa. Além disso, é preciso atentar para a altura das fiadas no assentamento. Em um mesmo dia não devem ser executadas muitas fiadas, para não correr o risco de amassar o cordão de argamassa das fiadas iniciais. Deve-se curar a argamassa, principalmente quando houver altas temperaturas ou ventos fortes. Em dias de chuva, deve-se suspender a operação quando a parede não estiver protegida, para evitar erosões nas juntas.

Geralmente, os incorporadores de ar e estabilizadores de pega para a fabricação de argamassa estabilizada são fornecidos por empresas de aditivos químicos existentes no mercado brasileiro.

Jornalista responsável - Altair Santos MTB 2330 - Tempestade Comunicação


Dubai terá prédio giratório de 80 andares

Arranha-céu sustentável terá 79 turbinas eólicas para produzir energia entre os andares giratórios

Créditos: Vanda Pereira Cúneo - Assistente de Marketing

Perspectiva ilustra movimento dos andares do Dynamic Tower
Perspectiva ilustra movimento dos andares do Dynamic Tower

O primeiro projeto de um arranha-céu em movimento no mundo será construído em Dubai (Emirados Árabes), em seguida, outro será erguido em Moscou (Rússia). O anúncio foi realizado pelo arquiteto italiano David Fisher, que deixou clara a intenção de levar o projeto para outros locais.

Planta do pavimento residencial Villa
Planta do pavimento residencial Villa

O empreendimento de Dubai foi batizado de Dynamic Tower. O movimento giratório de cada andar ocorre de forma independente e será controlado por voz. Ele terá 80 andares e 420 m de altura. Os primeiros 20 andares serão escritórios. Entre o 21° e 35° pavimentos haverá um hotel de luxo. Os demais andares serão destinados à residências com áreas médias de 124 m². Entretanto, os apartamentos dos dez últimos pavimentos, nomeados de Villas, terão 1.200 m² cada, com a vaga do estacionamento dentro da unidade.

Em Dubai, o Dynamic Group, responsável pela obra, prevê a participação de 600 pessoas na fabricação dos pré-moldados e 60 técnicos no canteiro. Se o empreendimento fosse executado de forma tradicional, a empresa afirma que seriam necessários 2 mil trabalhadores. O empreendimento será entregue em 2010 e o investimento é de cerca de US$ 700 milhões.

O segundo Dynamic Tower está planejado para Moscou e já se encontra em fase avançada de projeto. A pré-estruturação das unidades terá início no 4º trimestre de 2008 e a conclusão da obra está programada para 2010. A construtora é a Mirax Group, administrada pelo construtor internacional Sergei Polonsky. A torre em Moscou será menor que a de Dubai, terá 70 andares e 400 m de altura. A área de 110 mil m² receberá escritórios, apartamentos e penthouses. Neste edifício serão investidos mais de US$ 400 milhões.

Pré-moldados

O Dynamic Tower será montado com peças pré-moldadas, que serão fabricadas na Itália e enviadas aos seus destinos. Essas peças chegarão ao canteiro com acabamento e também com sistemas elétricos e hidráulicos. Os segmentos dos pavimentos serão içados até a posição. O arquiteto italiano estima que a industrialização da construção do projeto provoque uma economia de 20%. "Cada andar do edifício pode ser concluído em apenas seis dias", afirma o arquiteto David Fisher.

A sustentabilidade também é um diferencial no projeto, que embute turbinas eólicas para gerar energia entre cada andar giratório. "O edifício é ecológico e o primeiro projetado para gerar a sua própria eletricidade, bem como para outros edifícios nas mediações", explica Fisher. No caso de Dubai, serão 79 turbinas. O arquiteto italiano pretende executar uma terceira torre em Nova York.

O Brasil também tem um edifício com andares que giram, independentemente, para a esquerda e para a direita. Entretanto, o Suíte Vollard, localizado em Curitiba, é menos complexo. Possui apenas 11 pavimentos.

Planta de um dos andares de apartamentos
Planta de um dos andares de apartamentos

Fonte: (http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/dubai-tera-predio-giratorio-de-80-andares-93971-1.asp)

Jornalista responsável - Altair Santos MTB 2330 - Tempestade Comunicação


Construindo Melhor

Para reparar pequenas trincas (não estruturais) em paredes, segue a dica:

Abra a trinca 2 cm para cada lado e aproximadamente 1 cm de profundidade. Cole ou grampeie uma telinha de nylon (ou similar) no interior da trinca que foi aberta. Prepare uma argamassa com cimento, cal e areia na proporção 1:2:8. Prepare uma mistura de cola branca à água na proporção de 1:3 (cola:água) e adicione na argamassa, até adquirir a consistência desejada. Preencha a trinca aberta com esta mistura e faça o acabamento.

Créditos: Engº. Carlos Gustavo Marcondes - Assessor Técnico Comercial Itambé

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação


Arquitetura inclusiva abre as portas de casa

Brasil começa a descobrir que projetos residenciais precisam pensar nos idosos e nos deficientes

Ana Paula Costa, do IBA: projetos habitacionais não abordam o futuro do morador, só o presente
Ana Paula Costa, do IBA: projetos habitacionais não abordam o futuro do morador, só o presente

O progresso da medicina tem acarretado profundas mudanças no perfil demográfico da sociedade brasileira. Os idosos já representam cerca de 10% da população do país, com aproximadamente 24 milhões de pessoas. Até 2020, estima-se que mais de 30 milhões da população terão acima de 60 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Há ainda 25 milhões de portadores de algum tipo de deficiência, seja física ou mental, que, acrescidos à população idosa, têm estimulado mudanças na construção civil. Para eles surgiu a arquitetura inclusiva, já bem difundida na Europa e em países como Japão, Canadá e Estados Unidos, e que agora ganha espaço no Brasil.
O conceito deste novo segmento da arquitetura é simples: promover a inclusão social no ambiente construído.

Porém, pô-lo em prática requer a quebra de paradigmas no país. Um deles é que a aquisição de moradias no Brasil é baseada no custo, o que relega aspectos como qualidade, durabilidade, adequabilidade e conforto. A fim de mudar essa tendência, o Instituto Brasil Acessível (IBA) tem procurado influenciar os profissionais que desenvolvem projetos. “Eles tem de ser instruídos para instituir a inclusão na construção. Somente os profissionais da área podem mudar essa realidade”, explica a arquiteta Ana Paula Costa, responsável pelo desenvolvimento de projetos do IBA.

Segundo Ana Paula, as edificações públicas e os prédios empresariais, por conta do avanço da legislação, no que diz respeito às normas técnicas, já apresentam uma evolução significativa no aspecto inclusão. O problema maior, revela, está nas residências, sejam casas ou edifícios habitacionais. “O nível de acidentes dentro das residências, por conta do descaso com a mobilidade, é muito alto. Trata-se até de uma questão de saúde pública”, diz.

A mudança, avalia a arquiteta, se dará quando o brasileiro descobrir que sua casa é para a vida toda. “No país, por conta da política de financiamento de moradia, as pessoas têm permanência prolongada na mesma habitação. Mas raramente é levado em consideração o envelhecimento humano e o descompasso que isto pode gerar no uso da casa. Os projetos habitacionais geralmente não abordam o futuro dos moradores, mas apenas seu presente”, diz Ana Paula Costa.

Por isso o IBA passou a difundir o que chama de “casa universal”. A proposta é conceber habitações que acompanhem a pessoa por toda sua vida. Ela prevê a arquitetura inclusiva desde a concepção até a especificação dos componentes da construção, do acabamento e das características da iluminação. Segundo dados, um projeto concebido de forma universal sofre um acréscimo de 1% no valor da obra, enquanto que, se precisar ser adequado depois de construído, esse valor poderá saltar para 25%.

Para o IBA, o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida é uma boa oportunidade para popularizar a “casa universal”. O projeto já foi encampado pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e pode se tornar padrão para outras companhias de habitação. “O mercado está se posicionando neste sentido”, avalia Ana Paula Costa, que vê com otimismo o futuro das habitações populares no Brasil. “Estamos caminhando para, finalmente, ter casas com qualidade de vida”, comemora.

Texto complementar

Os sete princípios da casa universal

1.º) Igualdade de uso

Todos, independentemente do grau de dificuldade de locomoção, devem ter o direito de ir e vir e de utilizar o espaço como os demais. Exemplo: rampa que comece no mesmo ponto que a entrada para os demais moradores da casa.

2.º) Flexibilidade de uso

Dar opções de métodos de uso de espaços e objetos, de acordo com as necessidades do usuário. Exemplo: Colocar campainhas e telefones em alturas que todos consigam tocar.

3.º) Uso simples e intuitivo

Acabar com a complicação desnecessária e permitir que o usuário use a intuição. Exemplo: escadarias com pequenas luzes ao longo dos degraus.

4.º) Informação perceptível

Melhora a legibilidade de informações essenciais. Exemplo: Se há degraus pequenos, sinalizá-los e demarcá-los.

5.º) Pouco esforço físico

Nem todo mundo precisa ser ginasta para poder andar em sua casa. Exemplo: tomadas mais altas que as habituais (45 centímetros em vez de 30 centímetros a partir do chão) e bancos dentro de elevadores empresariais.

6.º) Dimensões e espaços para aproximação e uso

Todos podem ficar confortáveis independentemente do jeito que pegam as coisas. Exemplo: evitar colocar um gabinete fixo debaixo da pia da cozinha ou do banheiro, pois alguém em cadeira de rodas não conseguirá se colocar em frente e utilizar a torneira.

7.º) Tolerância a erros

Chamar a atenção para perigos e prover características de segurança. Exemplo: escadas e anteparos sinalizados em espaços públicos.

O que é o Instituto Brasil Acessível

O Instituto Brasil Acessível (IBA) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), cuja missão é promover a inclusão social por meio do ambiente construído, com atuação direcionada à promoção da educação, do desenvolvimento econômico e social e combate à exclusão, contribuindo para a integração dos indivíduos na plena cidadania.

Email do entrevistado: Ana Paula Costa, responsável pelo desenvolvimento de projetos do IBA: anapaula@brasilacessivel.org.br

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